quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Falta um murro na mesa - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

• Não trocar os fracos desonra Mendonça, Calero, Maggi, Terra

Abaixe-se a ansiedade com o governo Michel Temer. Recomende-se respeitar o estilo pessoal e o modelo congressual próprio de governos erguidos após impeachments: O de Itamar Franco passou por quatro ministros da Fazenda antes de apontar um rumo. Reconheçam-se os resultados concretos, eles existem e já ultrapassaram a cota esperada para qualquer início de gestão, ainda mais uma espinhosa como esta. Feitas todas as ressalvas, a cavaleiro estão os que, com propriedade, se impacientam com a falta de atitude do presidente da República para intervenção nos problemas que se perenizam injustificadamente irresolutos.

Por exemplo: são tratados da mesma forma condescendente os ministros que reconhecidamente vão bem, e são muitos, e os que reconhecidamente vão muito mal. Antes, como interino, Temer não podia e não queria fazer movimentos bruscos, compreende-se. Seja em formação de equipe, seja em planos de governo, é frágil o governo de caráter transitório. Depois de efetivado, o presidente tenta justificar-se em algumas omissões, como o atraso da remessa de reformas ao Congresso, especialmente a da Previdência Social, com o fantasma das eleições municipais. Os candidatos e suas bancadas podem ser empurrados a assumir atitudes contrárias aos programas do governo por populismo e para não dar discurso de palanque a adversários.

Mas há questões urgentes, já melodramáticas, que instabilizam o governo e fazem o presidente parecer ainda a esta altura provisório. Não as enfrenta não se sabe por quê. Não explica nem parece se importar. A troca de dois ministros cuja substituição estava decidida desde agosto é uma dessas nebulosas do universo Temer. A dispensa do ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, estava decidida há duas semanas mesmo sem a transferência da Secretaria de Orçamento para o ministério da Fazenda. Foi renhida a luta dos que pressionam contra o aumento do poder de Henrique Meirelles, o presidente, então, desistiu de dar-lhe o controle sobre o orçamento. Mas o Planejamento ganharia um comando efetivo, corrigindo a estranheza de ter no primeiro escalão um dos líderes da política econômica dos governos petistas. O ministro do Planejamento ainda permanece em regime de fritura constante, consolidado como interino.

Hesitação que não existiu no caso do ex-Advogado Geral da União, Fábio Medina Osório, defenestrado a tempo de evitar maiores estragos que sua personalidade prometia ao governo Temer. Contudo, evitam-se explicações para uma coisa e outra.

É um mistério também a resistência no cargo do ministro da Saúde, Ricardo Barros, do PP. Sua substituição estava decidida, até por comparação com outros ministros que estão desempenhando bem suas tarefas, mas de repente, sem maiores argumentos, lhe foi dada uma sobrevida, na fritura, mas sobrevida.

O presidente do PP, Ciro Nogueira, já procurava definir outra indicação, do próprio partido, sem prejuízo ao equilibrio ecológico do governo congressual. Subitamente a ideia hibernou. No caso, a justificativa é não incomodar o PP em plena eleição municipal, depois da qual o ser ou não ser volta com tudo.

E quem fica mal com a permanência no mesmo balaio governamental dessas nulidades do projeto de salvação nacional? Os ministros bem avaliados, que fizeram mais nos últimos quatro meses do que muitos em anos. Como os da Educação, Mendonça Filho, da Agricultura, Blairo Maggi, do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, da Cultura, Marcelo Calero, esse quase um herói, que precisou enfrentar com coragem o maior aparelhamento de todo o governo, uma ocupação barulhenta, desafiadora e patrulheira, devido ao sensível setor de que trata.

O governo está tropeçando nele mesmo. A santíssima trindade do Palácio do Planalto não relaxa. São amigos, não vão brigar, mas estão trombando e a cada dia Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima tomam decisões que prejudicam o outro. Dia desses o presidente convidou o G8, grupo de políticos que fizeram a vigília do impeachment em diferentes partidos, para um almoço. No dia seguinte, Geddel marcou um almoço do centrão com Temer, chamando ao proscênio políticos detestados no Congresso, como Sandro Mabel. Criou constrangimento que o governo tentava evitar ao manter o grupo de partidos fieis a Eduardo Cunha, já em lua minguante, sob controle.

Não se registrou mais nada além do fato, segundo o governo falso, de que Temer começou a tratar com o centrão da sucessão na presidência da Câmara. Assunto que ainda esfacela a a base aliada amalgamada e sócia.

Os amigos do governo relutam a considerar grave a lentidão de Temer para corrigir erros crassos. Veem problemas, mas de outra natureza. Acham que estão na economia e na comunicação os gargalos desse início.

A recuperação da economia está providenciada, e a medida básica é a PEC 241, do teto do gasto, depois da qual espera-se que o resto venha por gravidade. A comunicação só agora está em pauta. Não aquela do dia a dia, integrada por uma equipe afinada com o presidente, que funciona. Mas a escolha de alguém que faça a estratégia da política de comunicação do governo, que seja porta-voz diário dos atos e explicações sobre tudo e todos. O que não é mais possível é combater o "fora, Temer", com o "bora, Temer".

O jornalista Heraldo Pereira, da TV Globo, foi o primeiro convidado para o cargo e não aceitou. Agora afirma-se que Temer poderá entrevistar-se, na volta dos Estados Unidos, com outros cotados. Sente-se falta de alguém que possa traduzir, diariamente, a situação do governo, o que ele encontrou e o que é preciso fazer. A crítica interna diz que Temer corre o risco de ser uma espécie de governo do Distrito Federal, onde Rodrigo Rollemberg perdeu toda a popularidade em um ano e meio e acabou culpado pelos descalabros da administração petista que o antecedeu e que apoiou por um período. Temer teria que evitar isso, mostrando, sem constrangimentos, o que encontrou e o que é preciso fazer, sob pena de, em pouco tempo, absorver na sua imagem o fracasso alheio. A opinião pública, em pouco tempo, perde a paciência e mistura tudo, e o governo ruim é o que está no cargo, o último.

E por que Temer não tem essa pessoa ainda? Porque, segundo seus amigos, não se sabe se o comunicador-mor será do Padilha, do Moreira ou do Geddel, novamente a santíssima trindade dando as cartas. Ou, como definem com mais clareza, Temer está demorando muito a dar o murro na mesa.

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