sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Campanhas e balas – Editorial/ Folha de S. Paulo

Relacionar atividade política com criminalidade tem sido inevitável na atual conjuntura de escândalos. Ainda assim, causa espanto que também casos de homicídio, e não apenas de corrupção, conheçam essa indesejável vizinhança num país em que as rixas de sangue do coronelismo já pareciam fazer parte do passado.

Desde novembro do ano passado, 13 ex-vereadores, vereadores ou candidatos fluminenses foram vítimas de assassinatos em cidades como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Magé ou Nilópolis.

Os eventos não se dissociam da criminalidade endêmica nesses municípios. Paradoxalmente, a fama de associação com o crime organizado e a violência, que cerca toda a região, vinha convivendo com uma gradual melhoria nos registros estatísticos.

De um pico de 70,4 casos de letalidade violenta por 100 mil habitantes, atingido em 2003, a Baixada Fluminense conheceu um processo de decréscimo nos 12 anos seguintes, baixando a 45,4/100 mil no ano passado. "Letalidade violenta", no conceito da Secretaria da Segurança do Rio de Janeiro, engloba homicídios, latrocínios e mortes por policiais.

O fenômeno acompanhou a redução dessas ocorrências no Estado do Rio de Janeiro como um todo. Do auge de 64,8/100 mil habitantes alcançado em 1994, o Estado viu a cifra baixar para 30,3/100 mil (a taxa média nacional era de 28,8/100 mil em 2014).

Todavia, a Baixada Fluminense volta a produzir dados alarmantes. Em julho, segundo o Instituto de Segurança Pública do governo estadual, os homicídios cresceram 30%, em comparação com o mesmo mês do ano passado.

Em 2 de julho, homens com máscaras e luvas, armados de fuzil e pistolas, mataram um candidato a vereador pelo PSL em Duque de Caxias com dezenas de tiros.

O "modus operandi" dos assassinos parece dar razão à principal hipótese das autoridades com relação a vários dos crimes vitimando políticos da Baixada. Acredita-se que por trás dos acontecimentos —possivelmente em 11 deles— estejam disputas entre milícias armadas ou a disputas entre traficantes.

Não é o caso, evidentemente, de incriminar a priori qualquer das vítimas pela violência que sofreram. O prestígio político de esquadrões da morte e de chefes do tráfico é no entanto notório nas grandes regiões urbanas.

Para além dos crimes de colarinho branco, preocupa que a política brasileira passe a conviver também com delinquentes de outro tipo, inimigos políticos sanguinários. É inaceitável que a disputa por votos, nesses casos, seja substituída pela simples troca de balas.

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