sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A eleição invisível – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A eleição deste domingo não definirá apenas os novos prefeitos. Os brasileiros também escolherão mais de 57 mil futuros vereadores, que terão direito a ocupar gabinetes, nomear assessores e ser chamados de "excelência" pelos próximos quatro anos.

Os vencedores serão selecionados entre 463 mil candidatos —um universo tão grande que supera a população de seis capitais. Apesar dos números superlativos, a disputa é quase invisível. Não há debates na TV, e a cobertura jornalística acaba dominada pela corrida às prefeituras.

Neste ano, a escolha do eleitor ficará ainda mais difícil. A campanha encurtou, o dinheiro desapareceu e os aspirantes à vereança perderam espaço na propaganda obrigatória. As mudanças na lei tendem a beneficiar quem já é conhecido ou tem o apoio de máquinas, como igrejas e sindicatos.

O clima de desilusão com a política também aumentou o desinteresse pela eleição dos vereadores, que não chega a ser uma novidade. Isso alimenta um círculo vicioso em que as cadeiras ficam com gente que está na disputa para fazer negócios.

Quem anda decepcionado com os nossos representantes ainda tem tempo para buscar um bom candidato. Além de propor leis, o vereador é responsável por fiscalizar os gastos municipais, tarefa que ganhou importância diante da penúria geral das prefeituras.

A indiferença do eleitor é um combustível para a ineficiência dos legislativos locais. Neste mês, a Folha mostrou queum em cada três projetos aprovados pelos vereadores paulistanos trata de homenagens, como nomes de ruas e títulos de cidadão.

Dos cinco candidatos mais votados em 2012, quatro usaram a Câmara como trampolim político. Dois viraram deputados estaduais, um se elegeu deputado federal e o outro é candidato a vice-prefeito. O único a disputar outro mandato troca votos por verbas para times de várzea —e já está com a reeleição garantida.

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