quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Para analistas, Dilma quis deixar versão para a História

• Presidente não pretendeu mudar votos de senadores, dizem

Fábio Vasconcellos* - O Globo

-BELO HORIZONTE- Cientistas políticos reunidos ontem em Belo Horizonte para a abertura do 10º Congresso Anual da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) consideraram positiva a participação da presidente afastada, Dilma Rousseff, na sessão de segunda-feira do Senado. Avaliam que ela construiu o discurso com o objetivo de marcar seu papel no processo, e não de reverter votos, uma vez que o quadro já está consolidado.

Presidente da ABCP, o cientista político Leonardo Avritzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse que o julgamento do impeachment assumiu um caráter mais político do que jurídico-legal, o que tornou difícil reverter votos. Mas a mensagem de Dilma, segundo ele, levou questões importantes à opinião pública:

— (No julgamento político) Não é muito relevante se as “pedaladas” existiram ou não, se são crimes de responsabilidade ou não, se o TCU foi um tribunal político ou não. A presidente apresentou uma mensagem muito clara em relação a uma série de questões que não seriam as mais adequadas num sistema político: uma oposição que nunca aceitou a eleição de 2014; um conjunto de deputados que não apoiaram a estabilização econômica; e um conjunto de conflitos muito fortes que não são adequados para a gestão do país e do sistema político. Uma mensagem para colocar a posição dela mais para a História do que para reverter votos.

Já o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná Adriano Codato considerou que Dilma conseguiu ampliar o discurso sobre “golpe”. Sua participação, contudo, foi um esforço de Sísifo, segundo ele:

— Acho que foi um esforço de Sísifo, de empurrar uma pedra para o alto da colina e vê-la descer, porque ninguém ali estava para ser convencido. O que estava em debate não era uma questão contábil ou se havia pedalada ou não. Acho que ela fez um bom papel. O discurso de abertura foi bastante convincente. Mas, depois de 12 horas, os argumentos se perdem.

O professor criticou a participação dos partidários da presidente na sessão do Senado:
— Enquanto a antiga oposição foi bastante firme, a maioria dos partidários da presidente foi muito retórica. Quem já estava convencido de que ela deveria ficar não precisava daquelas palavras, e quem não estava queria ouvir outra coisa.

* Fábio Vasconcellos viajou a convite da ABCP

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