sábado, 16 de julho de 2016

Turquia declara fim de tentativa de golpe que deixou ao menos 265 mortos

• Premier acusa PKK e não descarta reintroduzir pena de morte para punir insurgentes

O Globo / Agências internacionais

ANCARA — O governo turco afirmou neste sábado ter conseguido controlar completamente a tentativa de golpe militar que criou um cenário de caos no país desde a noite de sexta-feira. Após o aeroporto de Istambul ter sido fechado na noite passada, os voos estão sendo retomados. Novos tiroteios foram registrados nesta manhã, após confrontos terem feito 265 mortos e 1.440 feridos, segundo o governo — o Exército cita 194 mortos. Na madrugada, os turcos responderam ao pedido do presidente, Recep Tayyip Erdogan, de sair às ruas para resistir. Alguns comandantes militares foram mantidos reféns pelos insurgentes, segundo o ministro turco dos Assuntos Europeus, Omer Celik.

Após, na noite de sexta-feira, militares afirmarem ter tomado o poder para proteger a ordem democrática e a manutenção dos direitos humanos, o primeiro-ministro, Binali Yildirim, chamou os insurgentes de terroristas. Ele acusou o grupo militante curdo PKK de participar da iniciativa contra o governo. Chamando a tentativa de golpe de uma mancha negra na democracia turca, o premier disse que a pena de morte não seria descartada como punição aos rebeldes, embora atualmente não esteja prevista na Constituição.

O Ministério de Interior da Turquia, Efkan Ala, ordenou a destituição de cinco generais e 29 coronéis desde o início da tentativa de golpe. Mais de 2,8 mil militares já foram presos pelas forças de segurança turcas. Além disso, autoridades turcas removeram neste sábado 2.745 juízes dos seus cargos, além de cinco membros do alto conselho judicial do país.

Segundo os militares rebeldes, as tradições seculares do país foram corroídas pelo governo de Erdogan, que tem adotado medidas autoritárias contra a liberdade de imprensa e perseguido jornalistas e juízes. Em comunicado enviado por e-mail e veiculado por canais de TV turcos, os revoltosos anunciaram o toque de recolher e a aplicação da lei marcial. Redes sociais como Facebook e Twitter, e sites como YouTube tiveram as operações suspensas.

"As Forças Armadas Turcas tomaram o controle do país para restaurar a ordem constitucional, direitos humanos e liberdades, o Estado de Direito e a segurança geral que foi danificada”, indicou o comunicado assinado pelo autoproclamado Conselho de Paz na Nação, que disse não permitir “uma degradação da ordem pública na Turquia”.

Mas após horas de combates noite adentro, o premier Binali Yildirim afirmou que a “tentativa idiota” de golpe de Estado fracassara e a situação estava “amplamente sob controle”, com Erdogan — que conclamou a população a ir às ruas para apoiá-lo, num discurso transmitido pelo software FaceTime.

O presidente, que estava de férias fora do país, voltou às pressas a Istambul. No aeroporto de Atatürk, ele desembarcou na madrugada de sábado sob os clamores de uma multidão que protestava contra os insurgentes.

Imagens mostravam militares sendo detidos por outros membros das forças de segurança. O general Zekai Aksakalli, comandante-geral do Exército, declarou à TV local que as forças especiais estão a serviço do povo.

— Houve um ato ilegal por um grupo dentro do Exército que agiu fora da cadeia de comando. — disse o premier à rede NTV. — O governo eleito pela população continua no poder. Este governo só sairá quando as pessoas disserem isso.

O principal líder da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, do Partido Republicano do Povo, afirmou que o país já foi alvo de “uma grande quantidade de golpes” e expressou apoio ao presidente:

— Todos devem saber que o Partido Republicano do Povo é devoto à permanência de nossa democracia.

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