quarta-feira, 13 de julho de 2016

Oposicionista ganha indicação do PMDB e embaralha disputa na Câmara

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - A candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI) para a presidência da Câmara dos Deputados embaralhou o cenário que antes se desenhava como um embate entre os dois grupos que disputam o protagonismo na base do governo Temer: o centrão, construido pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com legendas médias e pequenas (PP, PR, PSD, PTB, PRB), e a antiga oposição ao PT (PSDB, DEM, PPS e PSB).

A única certeza, por enquanto, é que haverá segundo turno diante do grande número de inscritos, pelo menos 12 - o prazo acaba hoje às 12h. Mas quatro forças disputam para estar na fase final: o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), com apoio do centrão e de Cunha; o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), pela antiga oposição; o segundo-vice-presidente da Câmara, Fernando Giacobo (PR-PR); e Castro.

Ex-ministro da Saúde do governo Dilma e voto contrário ao impeachment da petista, apesar do apoio do PMDB ao afastamento, Castro venceu uma improvável eleição interna no PMDB, um duro recado ao governo Temer sobre a insatisfação da bancada de deputados se sentir preterida por outros aliados nas negociações. Junto com o PT, que lhe dará apoio formal, somam 124 deputados.


Embora o Palácio do Planalto apelasse para o PMDB não concorrer, o partido apoiou por quase unanimidade lançar candidatura própria. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PR), passou para o segundo turno contra Castro pelo critério de idade, mas, identificado pelos pemedebistas como o candidato do Palácio para retirar a candidatura adiante, perdeu por 28 a 18.

Castro mudou o cenário ao consolidar o PMDB, maior bancada, com um candidato próprio, mas é visto no Palácio como adversário do governo, que já escalou deputados para dividir os votos do partido e enfraquecer o ex-ministro de Dilma. "A base do governo já está rachada. o PMDB teria que escolher um candidato, e os outros partidos ficariam chateados", justificou o ex-ministro.

Se o pemedebista chegar ao segundo turno, contudo, terá dificuldades. Vários partidos resistem a que o PMDB concentre, ao mesmo tempo, as presidências da República, do Senado e da Câmara. A vitória do centrão contra essa hegemonia pemedebista já ocorreu com a eleição de Arthur Lira (PP-AL), aliado de Cunha, para presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) contra o candidato pemedebista.

Outro fator de rejeição é o voto contra o impeachment de Dilma. De cara, isso praticamente sacramentou o apoio do PT e suspendeu temporariamente o embarque do PDT na candidatura de Rodrigo Maia, mas também empurrou o PSDB para o centrão. "Não dá para votar em ex-ministro de Dilma que veio na tribuna fazer discurso de que impeachment é golpe", afirmou um tucano. "Prefiro uma manchete 'Câmara elege candidato do Cunha' do que 'Câmara elege candidato do Lula'", disse outro.

Os tucanos devem optar hoje pela candidatura de Rodrigo Maia no primeiro turno, mantendo a aliança no campo formado pela antiga oposição ao PT. O candidato do DEM deve fechar aliança hoje com PDT e PCdoB. Júlio Delgado (PSB-MG), o outro nome no grupo, já reconhece que seu papel no processo de cassação de Cunha provocou muito desgaste na Casa e perda de votos e tendia a retirar a postulação.

Corria por fora em busca do apoio do grupo o deputado Esperidião Amin (SC), ex-governador de Santa Cataria que impressionou bastante os tucanos na reunião da bancada. Sem o apoio de todo o PP, Amin tentava costurar ontem adesão de parte da antiga oposição e investia no PSB.

O cenário também está incerto nos outros blocos que se formam na disputa. Líder do PSD, Rogério Rosso (DF) é o favorito no centrão, aglomerado de partidos que contabiliza quase 220 deputados. Mas o grupo já se divide em várias candidaturas, que os comandantes do bloco se movem para desidratar porque podem dificultar a pretensão de manter o controle da Câmara.

A principal ameaça vem do PR, que lançou Giacobo. Além dos 42 votos do partido, ele conta com aliados em outras legendas por meio dos 72 cargos da segunda vice-presidência da Câmara que distribuiu ao se eleger. A sigla cobra ainda o PT com o argumento que pressionou deputados a votarem contra o impeachment e que apoiam petistas em várias cidades, como São Paulo. Nas contas dos partidos, pode ter mais de 100 votos no primeiro turno.

Os líderes do grupo trabalham para enfraquecer as dissidências. O presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), brigou com Carlos Mannato (SD-ES), que insiste em concorrer e quer os 14 votos do partido. "Não estou te pedindo para tirar a candidatura, estou te pedindo para não passar vergonha", afirmou Paulinho, segundo relatos. Mannato não tirou o registro, mas será pressionado até a hora da votação.

No centrão há ainda Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do presidente do partido, Roberto Jefferson; Beto Mansur (PRB-SP), que recebeu ontem o apoio formal dos 22 deputados do PRB e que votarão em Rosso só no segundo turno; a divisão no PP; e candidaturas em partidos menores do bloco.

Apesar das múltiplas candidaturas, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ontem que o governo trabalha com a ideia de que a base tenha um candidato só até a hora da eleição, às 16h, mas ressaltou que o Planalto deseja que essa tentativa de construir unidade seja feita pelos líderes da base aliada. "Não restringimos a candidatura de ninguém nem apoiamos ninguém, se o governo entrar, só pode perder", disse. (Colaboraram Andrea Jubé e Fábio Pupo)

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