sábado, 30 de julho de 2016

Lula: ‘Duvido que tenha alguém mais cumpridor da lei que eu’

• Ex-presidente nega interferência na Lava-Jato e se diz cansado de denúncias

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Sem entrar no mérito da decisão do juiz da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem já estar cansado das denúncias contra ele. Afirmou duvidar que alguém seja mais cumpridor da lei do que ele. E explicou que, antes de comentar, vai avaliar do que se trata a denúncia aceita pela Justiça.

— Eu não quero falar dos meus problemas pessoais para não transformá-los em coletivos. Mas, enquanto estou aqui conversando com vocês, eu fiquei sabendo que foi aceita uma denúncia contra mim por obstrução da Justiça. Eu não conheço a notícia, vamos ver o que é — disse Lula, em palestra na Conferência Nacional dos Bancários, em São Paulo.

Em nota, a defesa de Lula disse que o petista “jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos da Lava-Jato”.

“Lula já esclareceu ao procurador-geral da República, em depoimento, que jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à LavaJato. A acusação se baseia exclusivamente em delação premiada de réu confesso e sem credibilidade, que fez acordo com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão domiciliar. Lula não se opõe a qualquer investigação, desde que realizada com a observância do devido processo legal e das garantias fundamentais”, diz a nota.

“Cansei”
Sobre as investigações que têm como foco o sítio em Atibaia e o tríplex no Guarujá, Lula afirmou que não cabe a ele provar que não é dono das propriedades. Relatório da Polícia Federal mostra que o petista e a sua mulher, Marisa Letícia, orientaram as obras da cozinha do sítio.

— Eu não ia tocar no assunto, mas eu já cansei. Não tenho que provar que eu não tenho apartamento. É a imprensa que acusou, são o Ministério Público e a Polícia Federal que dizem que eu tenho e precisam provar. Eles é que têm que apresentar documento de compra, pagamento de prestação, algum contrato assinado. Porque, se não tiver, em algum momento eles vão ter que me dar de presente uma chácara e um apartamento — afirmou.

Lula voltou a criticar os vazamentos das investigações da Lava-Jato e disse que o julgamento precipitado feito pela imprensa aumenta a vontade dele de brigar. E mais uma vez indicou que pode ser candidato à Presidência em 2018.

— Eu tenho 70 anos de idade e tenho muita vontade brigar. Se o objetivo de tudo isso é tirar o Lula da campanha de 2018, não precisa fazer isso, porque a gente pode escolher um outro companheiro com mais qualidade. Agora, essa provocação me dá uma coceira. Achar que vou ficar quieto por conta de ameaça, eu não vou. Duvido que tenha alguém neste país que seja mais cumpridor da lei do que eu, duvido que tenha alguém que respeita mais as instituições do que eu — disse o petista.

Antes do discurso de Lula, o presidente da CUT, Vagner Freitas, chamou o relatório sobre o sítio de Atibaia de denúncia “idiota e requentada”.

Na palestra, o ex-presidente novamente voltou a dizer que o país é alvo de um golpe.

— Estamos sendo vítima de um golpe parlamentar.

Reação à imprensa
O ex-presidente ainda criticou a imprensa por divulgar as informações sobre as investigações da Lava-Jato.

— A única coisa que eu quero é respeito e que a imprensa não faça o julgamento pelas manchetes. A única coisa que eu quero é que não haja vazamento mentiroso sobre pessoas inocentes. Contra isso vou brigar até o último dia da minha vida.

Mais tarde, ao participar do congresso da Juventude Socialista (UJS), entidade ligada ao PCdoB, Lula não falou diretamente sobre o fato de ter se tornado réu.

O presidente da UJS, Renan Alencar, defendeu Lula e disse que a “direita tenta criminalizar o ex-presidente”. O público gritou em coro: “O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. Como se estivesse em campanha, o petista carregou bebês e posou para fotos com a bandeira de Cuba.

Também presente ao ato, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afilhado político de Lula, defendeu de forma indireta o padrinho da aceitação da denúncia por obstrução da Justiça. Ao entregar um livro sobre a África produzido por alunos da rede municipal de ensino, Haddad, que é candidato à reeleição, disse:

— Cada vez que ele é agredido, tenho vontade de dar um presente para ele. Então, trouxe um hoje.

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