terça-feira, 12 de julho de 2016

Crise na União Europeia expõe limitações dos bancos centrais – Editorial / Valor Econômico

Os últimos dias foram marcados no cenário internacional pela preocupação com os desdobramentos da crise provocada pelo resultado do plebiscito no Reino Unido, que aprovou - supreendentemente - a saída do país da União Europeia. Multiplicam-se os alertas dos especialistas sobre os riscos para a economia mundial, a começar pela perspectiva de um crescimento econômico ainda mais modesto do que se imaginava anteriormente. Também foram muitas as iniciativas de governos para tentar reduzir os perigos da fase difícil que se avizinha, expondo, por sua vez, as dificuldades das autoridades monetárias em encontrar ferramentas eficazes para atuar junto ao sistema financeiro. Um dos instrumentos colocados em xeque são as intervenções dos bancos centrais nos mercados de câmbio.

Numa dessas medidas preventivas, para evitar o estrangulamento financeiro da economia do Reino Unido, o Banco da Inglaterra anunciou que vai permitir aos bancos a liberação de 5,7 bilhões de libras para crédito. Esses recursos, obtidos com a interrupção da formação do "fundo anticíclico", devem se traduzir em empréstimos de até 150 bilhões de libras (R$ 650 bilhões).


Ao longo da campanha do plebiscito sobre a União Europeia, o presidente do banco central britânico, Mark Carney, alertou que sair do bloco representava o maior risco doméstico à estabilidade financeira. "Alguns desses riscos começaram a se cristalizar", disse ele na semana passada.

Paralelamente a essa iniciativa, bancos centrais de países da Europa e da América do Sul responderam ao abalo provocado pelo referendo do Reino Unido recorrendo à intervenção no mercado cambial. Dados do banco central suíço ressaltam os esforços que os dirigentes dos BCs têm feito para evitar que suas moedas se valorizem demais, num momento em que a maioria desses países parece preferir um câmbio mais fraco.

A eficácia das intervenções cambiais, no entanto, tem diminuído, numa época em que taxas de juros negativas e compras de títulos de dívida em larga escala surgiram como a arma preferida dos bancos centrais para enfraquecer suas moedas e, assim, dar impulso a suas economias por meio de um aumento das exportações e da inflação.

O grau de utilidade dessa política de intervenção tem sido debatido há décadas. Quando um banco central interfere nos mercados para enfraquecer a moeda local - às vezes seguindo instruções do Ministério da Fazenda do país - normalmente ele compra ativos em moeda estrangeira.

Não são apenas as economias desenvolvidas que estão usando essas táticas. Como se sabe, o Banco Central do Brasil também voltou a intervir no mercado para tentar reduzir a alta do real, após a cotação do dólar ter caído a seu nível mais baixo nos últimos 11 meses. Ao longo da semana passada, o BC fez leilões de contratos de swap cambial reverso, um derivativo que tem o efeito de sustentar o dólar.

Ao contrário do que ocorreu na Suíça e na Dinamarca, a alta do real não foi resultado de fluxos de capital de investidores procurando proteção, mas das altas taxas de juros, que tendem a elevar a demanda global por ativos de um país. Idealmente, a intervenção tem um efeito duplo. A compra ou a venda de moedas em si afeta a cotação. E, simbolicamente, o poder do banco central de imprimir dinheiro de forma ilimitada envia um forte sinal aos investidores de que eles correm o risco de ter grandes prejuízos apostando contra o BC.

Esse efeito é amplificado quando os países unem forças. Em meados dos anos 80, grandes economias realizaram uma ação coordenada para enfraquecer o dólar e fortalecer o iene, num momento de crescente sentimento protecionista nos Estados Unidos. Essa era de ações coordenadas praticamente terminou

Economistas dizem que o poder das intervenções foi enfraquecido depois que os bancos centrais ampliaram o leque dos ativos que compram. Nos últimos anos, o Federal Reserve, nos EUA, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão compraram trilhões de dólares, euros e ienes em títulos de dívida de governos e outros bônus para aumentar a oferta de moeda e reduzir as taxas de juro de longo prazo.

Bancos centrais também têm disponibilizado empréstimos de longo prazo para instituições financeiras a juros baixíssimos. Com essas vastas somas de dinheiro no mercado, intervenções cambiais de economias menores podem conseguir, no máximo, manter a situação estável por algum tempo.

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