sexta-feira, 10 de junho de 2016

Temer diz a aliados que governo não é uma ‘ação entre amigos’

• Presidente interino nega interferência para favorecer Cunha

Isabel Braga, Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Um dia depois de integrantes da base aliada de Michel Temer e da oposição criticarem a interferência do governo para salvar o mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o próprio presidente interino entrou em campo ontem para tentar descolar sua imagem da suposta movimentação. Pela manhã, Temer recebeu líderes dos partidos aliados e afirmou que seu governo não é uma “ação entre amigos”. Com isso, negou qualquer interferência no processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara.

Segundo seus assessores, Temer ficou incomodado com a desconfiança de partidos aliados. A pedido dos partidos, Temer recebeu os líderes de PSDB, DEM, PSB e PPS, e fez questão de tratar do assunto na conversa. O líder do DEM da Câmara, Pauderney Avelino, contou o que ouviu de Temer:

— O presidente disse que não há qualquer interferência do governo na questão de Cunha com o Legislativo. E mais, ele tem dito, e me autorizou a dizer, o seguinte: o governo dele não é ação entre amigos. Ele é presidente da República e está imbuído do propósito de reconstruir o país e trazer a normalidade política para o país. Foi esse o tom da conversa.

Reuniões dos ministros mais próximos a Temer — Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) — com o ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio), que é presidente licenciado do PRB, às vésperas da votação no conselho, levantaram as suspeitas de ação do Planalto a favor de Cunha. Com o placar muito apertado no Conselho de Ética, o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) é considerado decisivo na votação do parecer que pede a cassação de Cunha. Os ministros alegam que a conversa com Pereira foi para discutir o preenchimento de cargos.



Líderes cobram saída de Maranhão
A suspeita de interferência do Planalto também foi discutida em reunião de líderes da base aliada com o ministro das Cidades, Bruno Araújo, na liderança do governo na Câmara. Os líderes defenderam uma solução definitiva para dois problemas que provocam instabilidade política num momento em que o governo precisa aprovar medidas cruciais para sair da crise econômica e política: a cassação de Cunha no Conselho de Ética e a substituição do presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA).

Bruno Araújo disse que sua pasta não tem interferência política, mas afirmou acreditar que o Planalto saberá administrar o impasse.

— Minha pasta não tem atuação no Congresso Nacional, mas eu confio que os ministros Geddel e Padilha vão administrar esse problema da melhor forma possível — disse Araújo.

Membro do Conselho de Ética, o deputado tucano Nelson Marchezan Júnior (RS) disse que, na sua avaliação, Temer está acuado:

— Devido ao cenário político, infelizmente o governo Michel Temer não está agindo como o povo esperava. E isso vai ser assim até a votação final do impeachment. Uma parte do grupo de apoio de Cunha coincide com o grupo de apoio de Michel Temer, que está acuado. Está todo mundo acuado, e o governo, muito pressionado.

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), negou interferência do governo para salvar Cunha:

— Essa questão do deputado Eduardo Cunha cabe ao Poder Legislativo. Não tem nenhuma ingerência ou atuação do governo nesse sentido.

Ontem, não houve quorum na Comissão de Constituição e Justiça para leitura do parecer sobre a consulta que poderá beneficiar Cunha na votação em plenário de seu processo de cassação. A leitura foi adiada novamente para a próxima semana. (Colaboraram Leticia Fernandes e Renan Xavier, estagiário sob supervisão de Paulo Celso Pereira)

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