domingo, 19 de junho de 2016

Parando de piorar – Editorial / O Estado de S. Paulo

A economia está parando de piorar. Ainda incerto, este diagnóstico é o mais otimista, depois de dois anos de recessão, num país com mais de 11 milhões de desempregados e pouquíssima esperança de mais contratações nos próximos seis meses. Apesar de todas as más notícias, sinais ainda fracos de estabilização começam a acumular-se. Pela primeira vez desde janeiro do ano passado, empresários industriais mostram algum otimismo quanto à evolução da demanda, segundo sondagem recém-divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De maio para junho melhoraram os principais índices de expectativas – em relação ao volume de exportações, da demanda interna, das compras de matérias-primas e da contratação de empregados. As demissões continuam, mas em maio a redução do nível de emprego nas fábricas paulistas (0,57%) foi a menor do ano, na série com ajuste sazonal, de acordo com números da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


Na maior parte do País a indústria opera com enorme sobra de capacidade. O nível de utilização ficou em 64% em abril e, em maio, 2 pontos abaixo do registrado um ano antes. Mas um animador dado concreto apareceu depois de um longo período de estagnação das vendas e da produção. Os estoques estão praticamente ajustados, isto é, muito próximos do nível planejado pelas empresas. Qualquer melhora na demanda funcionará, portanto, como um estímulo à produção. Como há muita folga, as fábricas poderão atender à nova procura sem precisar de maior capacidade produtiva.

A disposição para investir continua muito baixa. O indicador subiu ligeiramente em maio e atingiu 41,2 pontos, mas qualquer número abaixo de 50 tem um significado negativo. A baixa propensão a aplicar dinheiro em máquinas, equipamentos e instalações é explicável pela enorme capacidade ociosa, pela expectativa ainda muito cautelosa de melhora dos negócios e, naturalmente, pela incerteza política.

Mas a indústria ainda tem bom espaço para elevar a produção sem precisar de maior capacidade. A retomada do investimento fixo dependerá de um cenário econômico e político mais claro e, muito especialmente, do deslanche das concessões na área de infraestrutura. Gastos com ampliação e modernização da capacidade industrial deverão ganhar impulso de modo mais gradual.

Como ocorre geralmente nas fases de recuperação da economia, a expansão do emprego deverá ocorrer depois de uma sensível melhora dos demais indicadores. Dois dos principais indicadores de expectativa dos empresários da indústria estão acima de 50: volume de exportação (52,5) e demanda (51). Abaixo da linha divisória entre o positivo e o negativo continuam as previsões de compras de matérias-primas (48,5) e de aumento do número de empregados (45,3). A maior demora na recuperação do emprego é uma tendência conhecida em todo o mundo. Nas primeiras fases o aumento da produção é conseguido com o pessoal já empregado.

Também a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nos últimos dias alguns dados ligeiramente positivos. O Indicador Antecedente Composto da Economia subiu 2,5% em maio, na quarta alta consecutiva. O Indicador Coincidente, relativo às condições atuais, ficou estável. Os dois dados sugerem, segundo o pesquisador Paulo Picchetti, da FGV, um estancamento da queda. Mas antes de falar de uma reversão do quadro econômico, ressalvou, será preciso avaliar a evolução das condições políticas.

Os primeiros lances da nova política econômica, incluída a proposta de limitação dos gastos públicos, foram bem recebidos pelo mercado. Mas o quadro político ainda é preocupante, embora se considere baixo o risco de um retorno do desastroso governo da presidente Dilma Rousseff. A demora na aprovação de novas medidas econômicas dificulta a restauração da confiança e, portanto, a melhora das perspectivas. Enquanto isso, os sinais de estabilização, mesmo fracos, provavelmente continuarão sendo as melhores notícias.

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