sexta-feira, 10 de junho de 2016

A Câmara que se lixa – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Em 2009, o deputado Sérgio Moraes, do PTB gaúcho, atraiu holofotes ao defender um colega acusado de desviar verba de gabinete. Questionado sobre as críticas, ele deu de ombros: "Estou me lixando para a opinião pública".

Sete anos depois, Moraes continua na Câmara. Também continua se lixando para o que os outros pensam dele. O petebista é um dos integrantes do Conselho de Ética que devem votar a favor da absolvição de Eduardo Cunha na próxima terça-feira.


Nos últimos dias, a Lava Jato se moveu novas peças para encurralar o correntista suíço. Em Brasília, o procurador Rodrigo Janot pediu sua prisãopreventiva por obstrução da Justiça. Em Curitiba, o juiz Sergio Moro recebeu denúncia contra a mulher dele, Cláudia Cruz, por lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

A residência oficial da Câmara passou a ser habitada por dois réus: Cunha, processado no Supremo, e Cruz, na 13ª Vara Criminal do Paraná.

A nova denúncia acusa a ex-apresentadora de torrar cerca de R$ 3 milhões em artigos de grife no exterior. Segundo os procuradores, a gastança com bolsas, sapatos e vestidos foi bancada com propinas do petrolão.

Para Moro, Cunha e a mulher "são verdadeiros titulares das contas secretas no exterior". Em nota, o deputado disse que os milhões na Suíça "nada têm a ver com quaisquer recursos ilícitos ou recebimento de vantagem indevida".

O peemedebista tem repetido que vai escapar da cassação. O presidente do Conselho de Ética afirma que o governo interino "entrou no jogo" para salvar seu mandato. A maioria deve ser assegurada com o voto de Tia Eron, deputada do PRB baiano eleita pela máquina da Igreja Universal.

A blindagem tende a não durar muito, porque as condenações de Cunha e da mulher parecem ser questão de tempo. A Câmara ainda pode evitar o vexame de absolvê-lo, mas parece estar se lixando para a opinião pública e para a Justiça.

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