segunda-feira, 9 de maio de 2016

Temer ainda não tem equipe para assumir governo

• Só ministros da área econômica e do Palácio devem ser anunciados

Maior dificuldade do vice é atender todas as demandas de partidos aliados e do próprio PMDB numa eventual gestão

A apenas dois dias da decisão do Senado sobre o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer enfrenta dificuldades para montar um eventual Ministério e, segundo relatos de aliados, a tendência é que, caso assuma, ele anuncie apenas alguns nomes na economia e no Palácio do Planalto. As demandas dos partidos, inclusive do PMDB, já o fizeram desistir da meta de reduzir o número de ministérios de 32 para cerca de 20. Ele chegou a afirmar, em entrevista, que cortaria apenas três ministérios. Nos últimos dias, porém, uma configuração intermediária, com cerca de 25 pastas, entrou em discussão.

Negociação emperrada

• Com problemas para atender a todos, Temer tende a anunciar, no início, só alguns ministros

Júnia Gama e Fernanda Krakovics - O Globo

-BRASÍLIA- As dificuldades do vice-presidente Michel Temer para formar um eventual Ministério são tamanhas que a tendência, segundo relatos de aliados, é que ele anuncie apenas os nomes que comporão o núcleo duro de seu governo, na economia e no Palácio do Planalto, caso eventualmente assuma o governo se o Senado aprovar o afastamento da presidente Dilma Rousseff nesta semana. A sessão que analisará a saída temporária da petista por até 180 dias começa na próxima quarta-feira.

Desde a aprovação do processo de impeachment na Câmara, em 17 de abril, o peemedebista tem negociado com partidos a escolha de ministros, e as demandas já o fizeram desistir da meta de reduzir o número de ministérios de 32 para cerca de 20. Ele chegou a afirmar, em entrevista, que cortaria apenas três ministérios. Nos últimos dias, porém, o vice estaria tentando montar, junto a seus auxiliares, uma configuração intermediária, com cerca de 25 pastas.

Aliados pressionam por mais espaço
Segundo relatos de aliados, o movimento surgiu da avaliação de que a manutenção de quase todos os ministérios, após ter anunciado que haveria um enxugamento, pegou muito mal politicamente, e demonstraria falta de firmeza do vice em suas decisões. Pesa contra uma redução maior a imensa dificuldade para acomodar as demandas de todos os partidos que devem fazer parte de sua base no Congresso. Alguns não se contentam com a perda de espaços que atualmente ocupam no governo Dilma, e outros querem se ver mais representados de forma direta no hipotético novo governo.

Se a tendência se confirmar, Temer deve anunciar no início de um eventual governo o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda; o senador Romero Jucá (PMDB-RR) no Planejamento; Eliseu Padilha na Casa Civil; Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo; e Moreira Franco em uma secretaria especial ligada à Presidência para tratar de privatizações. Caso adote essa solução, o vice corre o risco de ter que manter ministros de Dilma. Temer tem dito que pouco até o momento foi definido e que há muita especulação sobre o Ministério.

Dificuldades com o próprio PMDB
Por enquanto, Temer está “maturando” a percepção de que é preciso fazer uma redução no número de vagas, de acordo com seus interlocutores. Na sua própria legenda, há um xadrez delicado, e ele encontra dificuldades para agradar a todos. A bancada de deputados do PMDB contava com três ministérios: Desenvolvimento Social para Osmar Terra (RS); Esporte para Leonardo Picciani (RJ); e Aviação Civil para José Priante (PA). Mas, ontem, aliados do vice afirmaram que ele estaria retomando a ideia de incorporar a Aviação Civil ao Ministério dos Transportes, já prometido a Maurício Quintella (PR-AL). Ao saber da possibilidade de recuo, peemedebistas se queixaram:

— O problema não é enxugar Ministério, e, sim, a pressão do PR para ficar com Aviação Civil. Se a bancada não ficar com essas 3 pastas, vai ter chiadeira — disse um deputado do PMDB.

Na noite de ontem, o vice recebeu em sua residência oficial Henrique Meirelles, Jucá, Padilha, Moreira e Geddel. Nessa reunião, a solução estudada para reduzir o tamanho do Ministério era tirar vagas de notáveis no primeiro escalão para atender os partidos aliados. Um exemplo disso é a escolha do deputado Ricardo Barros (PP-PR) para a Saúde. Temer desejava ter o médico Raul Cutait no cargo, mas o PP resistia.

Segundo auxiliares, nessa reunião Meirelles falou sobre as diretrizes da política econômica que deseja implementar e estabeleceu que, provavelmente, haverá apenas a divulgação das linhas gerais para a condução da política econômica, sem o anúncio de medidas específicas, nos primeiros dias após o eventual afastamento de Dilma.

A principal preocupação de Temer com relação ao futuro próximo é com a economia, hoje marcada por recessão, desemprego e falta de confiança no Brasil. A prioridade de Meirelles é sinalizar ao mercado que o novo governo estará comprometido com ajuste fiscal gradual, que permita colocar a dívida pública em trajetória de queda. O ex-presidente do BC já indicou que esse processo será lento, diante dos sucessivos rombos nas contas públicas.

Também caberá a Meirelles decidir quem assumirá o BC no lugar de Alexandre Tombini. A equipe atual do BC deve ser mantida pelo menos até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os nomes mais cotados para integrar a diretoria do banco são os do ex-diretores da instituição Afonso Bevilaqua, Ilan Goldfjn e Mário Mesquita.

Na noite de sábado, Temer recebeu o senador José Serra (PSDB-SP) em SP, para conversar sobre a participação dele no Ministério. Havia acordo para Serra se tornar ministro de Relações Exteriores numa pasta turbinada por comércio exterior. Mas o desenho foi rejeitado pelo setor produtivo. Segundo relatos, Serra teria demonstrado insatisfação com isso e sinalizado preferir então o Desenvolvimento. A conversa sábado, segundo auxiliares de Temer, foi para reafirmar o convite ao tucano para o Itamaraty.

Além de Serra, Bruno Araújo (PSDB-PE) também deve integrar a cota do PSDB no Ministério de Temer, com a pasta de Cidades. Outro nome que passou a ser cogitado foi o do senador Tasso Jereissati (CE) para o Desenvolvimento.


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