quinta-feira, 19 de maio de 2016

Serra: política externa não servirá a partido

Em seu primeiro discurso no Itamaraty, José Serra criticou a política externa sob o comando do PT e disse que a diplomacia brasileira voltará a servir ao país, e não a um partido. Serra divulgou diretrizes para o ministério, entre elas maior atenção a acordos bilaterais. Na OEA, representantes de EUA e Argentina rejeitaram a tese de golpe no Brasil.

Serra: ‘Política externa jamais será regida por valores de um partido

• Tucano toma posse e promete aproximação com grandes blocos comerciais fora da América do Sul

Maria Lima e André de Souza - O Globo

-BRASÍLIA- Na única cerimônia de transmissão de cargo na Esplanada antes do julgamento final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o novo ministro das Relações Exteriores, José Serra, atacou a direção do Itamaraty durante os governos do PT. Sem citar nomes, ele disse que a diplomacia brasileira voltará a servir ao país, e não ao governo ou a um partido.

Serra anunciou ainda um pacote de diretrizes para a política exterior que sinaliza com maior atenção aos acordos bilaterais e aumento da parceria com os grandes blocos comerciais fora da América do Sul. Ele recebeu o cargo do exministro Mauro Vieira, o último do governo da presidente afastada Dilma Rousseff.

— A diplomacia brasileira voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior. A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido — disse Serra em seu discurso.

Segundo ele, o presidente interino Michel Temer “teve a paciência” de revisar e aprovar as linhas da nova política externa brasileira. A despolitização e despartidarização do Itamaraty foram a diretriz número um das dez apresentadas por Serra. Nos governos do PT, sob o comando do assessor para Assuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia, o eixo da política externa, segundo críticos, teria se voltado para parceria com os chamados países alinhados com o chavismo, como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e a Argentina da era Kirchner. Isso, segundo Serra, trouxe imensuráveis prejuízos aos interesses nacionais e uma paralisia do comércio exterior.

Serra mandou um recado ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, ao dizer que o Itamaraty estará atento à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime político, em consonância com as obrigações assumidas em tratados internacionais e também em respeito ao princípio de não ingerência. MAIS NEGÓCIOS COM PAÍSES RICOS Também avisou que dará destaque para o tema ambiental; atenção aos acordos bilaterais com outros países; à parceria com a Argentina para recuperação e aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, bloco integrado por Chile, Peru, Colômbia e México; e ao fortalecimento dos negócios com os países ricos.

O substituto de Marco Aurélio na assessoria de Assuntos Internacionais será o diplomata Fred Arruda, que servia em Londres. Serra vai reforçar a área de formulação de políticas de comércio exterior com a criação de dois cargos de secretário-geral: um específico para a área, que deverá ser ocupado pelo embaixador Marcos Galvão, e outro para cuidar da administração da Casa, que continua com o embaixador Sérgio Danese.

O chanceler disse que as negociações, infelizmente, não vêm prosperando com a celeridade e a relevância necessárias, e o Brasil manteve-se à margem da multiplicação de acordos bilaterais de livre comércio, como o tratado do Pacífico. Mesmo não tendo vingado a tentativa de extinção do Ministério da Indústria e Comércio para que a área de comércio exterior fosse anexada ao Itamaraty, Serra deixou claro que essa será sua menina dos olhos, para ajudar na recuperação da economia e na geração de empregos.

— O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o bilateralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso, para recuperar oportunidades perdidas — disse Serra.

Volta ao centro do poder
Com o salão lotado de diplomatas e políticos tucanos e de outros partidos, Serra foi aplaudido principalmente ao prometer que o Itamaraty voltará ao centro do poder.

Ele também afirmou que resolverá as agruras dos que estão sem receber recursos até para pagar o aluguel em postos no exterior. Serra iniciou gestões junto à área econômica para liberação de cerca de R$ 800 milhões para recuperar as finanças do Itamaraty. Há casos de diplomatas com até quatro meses de aluguel atrasado no exterior.

— Eu saúdo os muitos colegas de ministério em nome do ministro Romero Jucá, que, quis o destino, vai ter um papel junto comigo fundamental para a recuperação das finanças do Itamaraty. Creio que os outros ministros entenderão por que escolhi o ministro Jucá para representá-los nesta saudação — disse Serra, atraindo aplausos e risos dos diplomatas e servidores.

O presidente do PSDB, Aécio Neves, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, o governador do Paraná, Beto Richa (PR), e outros tucanos prestigiaram a solenidade. Serra assumiu o mesmo cargo que o ex-presidente Fernando Henrique teve no começo do governo de transição do ex-presidente Itamar Franco, antes de ser catapultado para o Ministério da Fazenda e, depois, à Presidência da República. O novo chanceler deixou claro que não pretende ter passagem apagada pelo Itamaraty.

Nenhum comentário: