domingo, 24 de abril de 2016

O PSDB no seu labirinto - Bernardo Sorj

• O Brasil precisa, mais do que nunca, de partidos com propostas claras, que apresentem à população uma visão de seus objetivos atuais e do futuro que desejam alcançar

- O Globo

O TSE está debruçado sobre o processo de cassação da chapa Dilma/Temer. A ação foi pedida pelo... PSDB. É possível participar de um governo Temer quando o PSDB considera que tanto ele como a presidente Dilma foram eleitos numa campanha onde foram utilizados recursos ilegais? O PSDB participaria de um governo que inclui um acordo — implícito ou explícito — que permitiria a manutenção do deputado Cunha na presidência da Câmara, quando eles defenderam “veementemente” seu afastamento?

Os cidadãos podem reagir espontaneamente de forma indignada ou revoltada frente aos fatos políticos. Partidos e políticos não podem. Não que não tenham direito a ter emoções. No caso do PSDB a lista de mágoas frente às atitudes dos governos do PT é longa, e justificada. O PT pediu várias vezes o impeachment de FHC, repetiu ad nauseam que ele havia deixado uma herança maldita e denunciou, sem fundamento, que queria privatizar a Petrobras e o Banco do Brasil, só para mencionar alguns episódios marcantes. Mas partidos políticos têm a responsabilidade de agir a partir da razão e comunicar sua visão da realidade e propostas aos cidadãos.

Neste último ano, temos vistos partidos e políticos com estratégias claras. O objetivo do PT foi mobilizar apoios através de uma narrativa política, que se concentrou na luta “contra o golpe”. Isto lhe permitiu se refazer de um processo de esfacelamento e jogar embaixo do tapete os processos de corrupção no qual está envolvido e a inépcia da presidente Dilma, indicada por Lula. Se o impeachment avançar pode iniciar uma campanha por eleições já, que vai ao encontro de boa parte da opinião pública. O Temer operou para chegar à Presidência da República e o deputado Cunha para se safar no processo do Conselho de Ética.

E o PSDB? Atirou e continua atirando para todos os lados. Não comunica ao público qual é sua visão da situação atual e como pretende agir, não somente reagir. Por momentos parece que a participação no governo Temer, se houver, é uma questão de quais postos vai ocupar. Seus líderes agem em função da maximização de seus interesses pessoais. A maioria de seus militantes envia mensagens pelas redes sociais em ritmo de vendeta. Narrativa política? Nenhuma.

O Brasil precisa, mais do que nunca, de partidos com propostas claras, que apresentem à população uma visão de seus objetivos atuais e do futuro que desejam alcançar. No momento o PSDB parece perdido num labirinto. Não é bom para o país.

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Bernardo Sorj é sociólogo

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