sábado, 16 de abril de 2016

FH diz que maior erro político de Dilma ‘não foi dela, foi do governo anterior’

• Ex-presidente prevê ‘probabilidade grande’ de aprovação do impeachment, defende cassação de Cunha e vê ‘compostura’ em Temer

Miguel Caballero – O Globo

RIO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse na noite desta sexta-feira que vê "grande probabilidade" da aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff neste domingo na Câmara dos Deputados. Perguntado sobre qual foi o maior erro político de Dilma na relação com o Congresso para a situação chegar a este ponto, o ex-presidente avaliou que a crise política foi semeada no governo Lula:

— (O maior erro político) Não foi dela. Foi do governo anterior. Uma fragmentação do Congresso enorme, em função de os deputados perceberem que quanto mais partidos há, mais pressão se pode fazer e mais vantagens se pode obter. Quando ela chegou, já era essa a situação, ela não teve forças, talvez tenha até desejado, mas não teve forças para conter — avaliou FH.

Sugerindo cautela, Fernando Henrique avaliou como provável a vitória da oposição neste domingo, mas não quis opinar publicamente se o PSDB deve aceitar compor o ministério de um eventual governo Temer ou apenas apoiá-lo no Congresso.

— Votação no Congresso a gente tem de ser prudente. As indicações, pelo que vi dos vários partidos..., a probabilidade é grande — disse.

— Eventual governo Temer é eventual. Tem de esperar, não dá para discutir isso (participar do ministério) agora — disse FH, antes de dar palestra na "Casa do Saber Rio O GLOBO" sobre a série "Os Inventores do Brasil", que será exibida no Canal Brasil e cujo roteiro ele assina junto do jornalista e colunista do GLOBO Elio Gaspari.

O ex-presidente avaliou que dificilmente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conseguirá se manter na presidência da Câmara dos Deputados por muito tempo. O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda julgará pedido da Procuradoria-Geral da República feito em dezembro para afastá-lo do cargo:

— É uma questão sujeita ao Supremo, que quanto antes decidir melhor. Acho difícil que o deputado Cunha seja capaz de sustentar a posição dele no decorrer do tempo. A probabilidade de que haja uma cassação é grande.


Fernando Henrique afirmou que o PSDB deve apoiar a cassação de Cunha mesmo se ele já estiver afastado da presidência da Casa:

— O PSDB tem de agir de acordo com o que foi descoberto pela polícia, pelo procurador e que a Justiça está encaminhando. Não tem de tergiversar. Havendo erro, tem de cassar. Até agora, o que tem aparecido é que tem muitos elementos consistentes. Se o tribunal considerar réu, acho que o PSDB deve apoiar a cassação — afirmou ex-presidente, lembrado em seguida de que Cunha já é réu no STF.

Sobre a atuação do vice-presidente Michel Temer nestas semanas de tramitação do pedido de impeachment no Congresso, Fernando Henrique fez uma comparação com o ex-presidente Itamar Franco e avaliou que Temer manteve a compostura:

— Os vices normalmente tem que ser recatados. O presidente Itamar não foi alheio também, ninguém fica alheio. Ambos tiveram compostura, mas ambos acompanharam os acontecimentos, porque são políticos — analisou o ex-presidente, lembrando que ele próprio participou da montagem do governo Itamar. — Não quero julgar. Acho que Temer atuou de uma maneira. Eu trabalhei muito de perto com o presidente Itamar durante o impeachment. Ele evidentemente não fazia declarações, mas acompanhava. Numa decisão de impeachment, o vice-presidente tem de ter um ministério pronto, como é que faz? No caso do presidente Itamar, nós começamos (a montagem do novo governo) antes de o impeachment ser aprovado.

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