sábado, 9 de abril de 2016

Delator afirma que campanha de Dilma cobrou R$ 700 milhões de empreiteiras

Ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo delatou, segundo o “Jornal Nacional”, que o então tesoureiro Edinho Silva contou ter pedido às sete empresas com mais contratos com o governo o total de R$ 700 milhões para a campanha de Dilma em 2014. Delatores da Andrade também denunciaram propina para os ex-governadores Sérgio Cabral (RJ), Eduardo Braga (AM) e Agnelo Queiroz (DF), que negam.

Empresa diz que Edinho cobrou R$ 700 milhões

  • De acordo com delação, três ex-governadores teriam recebido propina por obras de estádios da Copa

- O Globo

BRASÍLIA - Novos trechos da delação premiada de dirigentes da construtora Andrade Gutierrez, aos quais o “Jornal Nacional” teve acesso, revelam que o atual ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014, teria dito ao ex-presidente da construtora Otávio de Azevedo que as sete empresas mais beneficiadas em contratos deveriam doar os R$ 700 milhões para ajudar nos gastos eleitorais. De acordo com os depoimentos colhidos, Edinho teria mostrado uma planilha das doações a Azevedo. Nela, uma das sete doadoras apareceria como responsável pelo pagamento de R$ 180 milhões. No Tribunal Superior Eleitoral, a campanha de Dilma declarou ter recebido oficialmente cerca de R$ 350,4 milhões.

Na delação foi registrado que a Andrade Gutierrez já tinha repassado R$ 60 milhões ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto e teve que pagar os R$ 40 milhões restantes a Edinho. O governo sustenta que as doações, devidamente registradas, da Andrade Gutierrez somam cerca de R$ 20 milhões, segundo o advogado Flávio Caetano, coordenador jurídico da campanha à reeleição. Já de acordo com a delação, parte das doações solicitadas para a campanha de Dilma foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, e parte foi feita em caixa dois não declarado.

Os executivos da empreiteira dividiram os temas das delações em seis áreas: desvios em obras da usina de Belo Monte; do Complexo Petroquímico do Rio, Comperj; da Ferrovia Norte Sul; da Usina de Angra 3; em estádios da Copa do Mundo; e em campanhas eleitorais.

Maracanã estaria entre obras com propina
Três ex-governadores, entre eles Sérgio Cabral, do Rio (PMDB), também foram citados na delação como beneficiados por propinas em troca de contratos de obras dos estádios da Copa do Mundo. No caso do Maracanã, o dinheiro teria sido destinado a Cabral, que também recebeu recursos, segundo os depoimentos prestados, por obras no Comperj. Agnelo Queiroz (PT), ex-governador do Distrito Federal, teria recebido desvios da construção do Mané Garrincha, segundo a delação. Da Arena da Amazônia, em Manaus, teria saído propina para o ex-governador Eduardo Braga (PMDB), hoje ministro de Minas e Energia.

Ainda segundo o “Jornal Nacional”, os executivos explicaram também que obras do setor elétrico foram destinadas à Andrade Gutierrez como uma compensação pelo pouco espaço em projetos da Petrobras, dominados por Odebrecht e Camargo Corrêa. No caso da usina de Angra 3, no Rio, segundo os delatores, a propina foi direcionada ao almirante Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, por meio de uma empresa dele, a Aratec, que é investigada por ter recebido da Andrade Gutierrez R$ 4,5 milhões.

Sobre a contratação do ex-presidente Lula para dar palestras, os dirigentes teriam dito que o serviço foi prestado e que não houve qualquer irregularidade, segundo o jornal.

Em nota à TV Globo, Flávio Caetano afirmou que a suposta delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, se confirmada, é mentirosa; que não houve o alegado acordo de pagamento de R$ 700 milhões por sete empresas; e que nenhuma delas doou R$ 100 milhões. Flávio Caetano disse ainda que é mentirosa a afirmação de que a Andrade Gutierrez teria doado R$ 40 milhões. Ele afirmou que a empresa doou, segundo a coordenação de campanha, exatos R$ 20 milhões.

A defesa de Vaccari Neto disse que não há comprovação dos fatos narrados nas delações. O ex-governador do Rio Sérgio Cabral se disse indignado com o conteúdo dos depoimentos envolvendo seu nome. Agnelo Queiroz, ex-governador do Distrito Federal, não quis comentar. Eduardo Braga sustentou que deixou o governo em 2010 e não assinou contratos para construção de estádio.

Lula ironiza conteúdo de delação
O ex-presidente Lula ironizou, ontem à noite, a delação premiada feita pelos executivos da Andrade Gutierrez. Em encontro com estudantes e profissionais da área de Educação, em São Paulo, o petista questionou o fato de a empresa “ter ligação com os tucanos” e disse que o PT precisa aprender a buscar dinheiro no cofre de “dinheiro bom” das empreiteiras.

— Essa empresa é sabidamente ligada aos tucanos. Será que esse PT é tão besta? A empresa tem um cofre de dinheiro benzido, e o PT só vai no cofre podre. O PT precisa apreender a ir só no cofre de dinheiro bom — disse Lula, referindo-se às doações eleitorais feitas pela Andrade Gutierrez também para candidatos de oposição.

O ex-presidente afirmou ainda que as pessoas que vão às ruas se manifestar contra o governo federal não são inimigos: — Eles são apenas desinformados. Ao falar sobre o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministro, Lula revelou que, inicialmente, recusou a oferta com medo de se desentender com a chefe.

— Se Fidel (Castro) e Che Guevara não couberam dentro de Cuba, como eu e a Dilma vamos caber dentro do Palácio? — questionou, em alusão ao fato de Che ter abandonado o posto que tinha no governo cubano depois da revolução comunista.

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