domingo, 27 de março de 2016

PT perde prefeitura de Niterói e metade da bancada na Alerj

• Operação Lava-Jato e crise no país trazem onda de desfiliações no Rio

Fernanda Krakovics - O Globo

Desgastado pela Operação Lava-Jato e às vésperas das eleições municipais, o PT do Rio perdeu sua maior prefeitura, Niterói, com a desfiliação, semana passada, do prefeito Rodrigo Neves, pré-candidato à reeleição. Entre as baixas também está um dos símbolos do partido, o deputado estadual e ex-ministro Carlos Minc. A bancada petista foi reduzida à metade na Assembleia Legislativa e as prefeituras caíram de onze para sete.

Aliados de Neves, que ingressou no PV, afirmam que o crescente “sentimento antiPT” em Niterói, conforme aumenta o cerco da Lava-Jato sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo Dilma Rousseff, foi decisivo para a decisão do prefeito.

O descolamento, porém, não deve ser total. A tendência é que o PT apoie a reeleição de Neves, que está sendo chamado por adversários de “candidato melancia: verde por fora e vermelho por dentro”.

O processo de distanciamento entre Neves e o PT vinha desde 2014, quando ele apoiou a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) em detrimento da candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Após o anúncio da desfiliação, o nome de Neves apareceu esta semana em planilha apreendida pela operação Lava-Jato com o presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior. Ele teria recebido R$ 500 mil para a campanha de 2012. O repasse não consta em sua prestação de contas.

Neves afirmou, por meio de nota, “que não tem, nem teve, qualquer relacionamento pessoal ou institucional com representante da empresa mencionada e que não há nenhuma obra na cidade que tenha a presença ou a participação da Odebrecht”. Ele disse ainda que todas as doações para a campanha de 2012 foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Ainda de acordo com a nota, houve doações legais feitas ao diretório nacional do PT e repassadas à campanha de Neves como cinco doações nos valores de R$ 475 mil cada. “Ao repassar os recursos à campanha, eram descontadas as tarifas bancárias e administrativas retidas pelo diretório nacional”, afirma a nota.

Ex-ministro de Meio Ambiente do governo Lula e filiado ao PT desde 1989, Minc entregou sua carta de desfiliação no último dia 17.

No documento, Minc afirmou que, apesar dos avanços, como a redução da pobreza, “cometemos muitos erros, na política, na ética, na economia”. O deputado diz ainda que a atual situação tem criado “impasses e isolamento” que prejudicam o exercício de seu mandato. “Temos que ficar mais tempo nos defendendo e explicando do que atuando por nossas bandeiras históricas”, afirmou o ex-petista em trecho do documento.

O deputado Luiz Sérgio (PTRJ), que é da corrente majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil, considerou um erro a decisão dos correligionários. Para ele, Minc continuará identificado com o PT, mesmo deixando o partido.

Luiz Sérgio tentou minimizar ainda o impacto da crise política nas eleições municipais. Para ele, o eleitor de Niterói levará mais em conta as obras realizadas por Neves do que seu partido político.

— Lamento porque, nos momentos difíceis, os bons combatentes não abandonam a trincheira — disse Luiz Sérgio.

Após a desfiliação de Minc, o presidente estadual do PT, Washington Quaquá, disse que aguardaria o fim do prazo legal para mudança de partido para comentar as desfiliações:

— Vamos aguardar o resultado das deserções para eu poder fazer uma avaliação política dos impactos positivos e negativos — disse Quaquá.

Após a saída de Neves, o presidente estadual do PT foi procurado novamente, mas não retornou. Candidatos nas eleições deste ano têm até dia 2 de abril para se filiar a um partido

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