sexta-feira, 4 de março de 2016

Oposição quer a renúncia da presidente

• Partidos pedem ‘ gesto de grandeza’ e decidem adicionar acusações de Delcídio ao processo de impeachment

Maria Lima, Isabel Braga, Eduardo Bresciani e Lauro Neto - O Globo

- BRASÍLIA- Após reunião de emergência, lideranças de todos os partidos que integram o bloco de oposição — PSDB, PPS, DEM, PV e SD — decidiram ontem adicionar ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que tramita na Câmara dos Deputados, as acusações do senador Delcídio Amaral ( PT- MS). Os líderes da oposição decidiram também incorporar ao discurso pressão para que a presidente Dilma “pense no país” e renuncie ao mandato para que um governo de transição possa enfrentar a grave crise econômica, política e institucional.

A avaliação dos oposicionistas é que as acusações podem servir de combustível para inflamar as manifestações contra Dilma previstas para o dia 13. Ontem, em sucessivas reuniões desde cedo, integrantes da oposição passaram a traçar as estratégias para usar o material da delação na guerra contra o governo.

Em conversa com senadores, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), se referia aos acontecimentos como “o fim da caminhada”. Os líderes da oposição ficarão de plantão no fim de semana à espera dos desdobramentos.

— Existe uma agenda clamando para ser executada enquanto o governo da presidente Dilma vive a tempestade perfeita. A delação do Delcídio é devastadora. A presidente Dilma precisa ter um gesto de grandeza e renunciar para que, a partir daí, possamos implementar essa agenda de transição, de união nacional, que melhore as contas públicas e estanque o crescimento absurdo da dívida — defendeu Aécio.

Em busca da adesão do PMDB
Na tribuna, outros senadores da oposição se revezaram para pedir a renúncia de Dilma. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB- SP) afirmou que a presidente “tem que sair” e convocou todos os partidos de oposição e o PMDB para participarem da discussão de uma agenda de transição para um pós- Dilma a qualquer momento:

— Eu me dirijo aos meus amigos do PMDB. Será que são sete ministérios sem orçamento, desprestigiados, num governo em crise, será esse o preço, a miserável esmola para sustentar um governo que acabou e que soçobra na lama e que vai arrastar na lama o próprio PMDB?

A estratégia das oposições é atrair o PMDB. Segundo um dos presentes à reunião, a avaliação é que se o PMDB aderir ao “barco da oposição”, fica mais fácil outros partidos da base enfraquecerem Dilma na votação do impeachment.

O presidente do PPS, Roberto Freire (SP) e o líder Rubens Bueno ( PR) defenderam a apresentação de um novo pedido de impeachment com as revelações de Delcídio. Mas os demais líderes consideraram que isso poderia jogar o processo na estaca zero e daria ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), poder de barganha sobre a decisão de acatar o pedido e estabelecer novos prazos. Acabaram concordando com a proposta de Ronaldo Caiado ( DEM- GO) de fazer aditamento, mantendo o processo no mesmo patamar.

— É um caminho mais seguro que não pode ser usado para procrastinar. E temos que tirar o Cunha como personagem do centro do impeachment — avaliou um dos líderes.

O novo advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que não há possibilidade de o pedido de impeachment da presidente Dilma receber novas denúncias, como as de Delcídio.

— Não existe possibilidade de aditamento em pedido de impeachment. Se alguém tentar fazer isso, obviamente incorre numa ilegalidade. Mas vamos aguardar. Não sabemos exatamente nem se há uma delação, se o senador Delcídio afirmou alguma coisa. É muito cedo para se fazer qualquer cogitação — afirmou Cardozo, que substituiu Luís Inácio Adams no cargo.

O coordenador jurídico da oposição, o deputado Carlos Sampaio ( PSDB- SP), também dará ciência ao Tribunal Superior Eleitoral das informações reveladas pela revista. Na Câmara, oposicionistas também subiram à tribuna desde cedo para condenar as revelações de Delcídio. Como no Senado, cobraram que Dilma renuncie ao mandato.

Base aliada vê agravamento da crise
Entre os líderes da base aliada, o sentimento é que é preciso aguardar a conclusão sobre as informações que vieram à tona ontem. Segundo eles, é preciso ver quais são realmente os termos da delação premiada e se ela irá se confirmar. Há a constatação, no entanto, de que há um agravamento da crise política, que poderá refletir também na economia, diante da maior dificuldade para levar adiante as votações no Congresso. Para os líderes aliados, no entanto, ainda é cedo para saber se o sentimento dos deputados em relação ao impeachment — que estava controlado — poderá reascender.

— Para o impeachment, não vejo clima. Mas cresce a crise e isso atinge o país. Agora, é preciso esperar para ver a reação do Ministério Público, do Supremo, eles ainda não se pronunciaram. Vamos ver se são idôneas as informações, que, por enquanto só estão na mídia. Vamos aguardar os novos rumos para reunir a bancada e os partidos — disse o líder do PDT, Weverton Rocha (MA).

Para o líder do PTB, Jovair Arantes ( GO), as novas denúncias reabrem o debate sobre o impeachment na Casa e o sentimento pode se ampliar, dependendo da mobilização de rua no próximo dia 13. A maioria dos líderes aliados aguarda, com cautela, o avanço dos fatos.

— As pessoas já tinham informação anterior de que Delcídio iria fazer a delação. Temos que ver qual é a real delação e como isso repercute na sociedade. Quem vazou? Qual o interesse em jogo? É preciso entender os movimentos. O que sei é que esse povo não vai dormir direito não — disse um dos líderes aliados.

O presidente da OAB, Claudio Lamachia, irá a Brasília hoje para protocolar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um requerimento de acesso à delação premiada de Delcídio. De acordo com Lamachia, se confirmada a interferência de Dilma nas investigações da Lava- Jato, um novo pedido de impeachment poderá ser aberto.

— Se confirmados esses fatos gravíssimos, acredito que a OAB não faltará ao Brasil e tomará as medidas necessárias. Até mesmo a abertura de impeachment — disse Lamachia.

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