sexta-feira, 11 de março de 2016

O pior dos mundos - Nelson Motta

• Hoje na democracia brasileira qualquer um é livre para usar a mídia que quiser para dizer o que quiser. Difícil é encontrar quem ouça

- O Globo

O que é pior: mais 34 meses de Dilma, entregar o poder a Michel Temer e à bandidagem do PMDB, ou o TSE impugnar a chapa e empossar Eduardo Cunha presidente da República, para convocar novas eleições em três meses? Sim, Cunha presidente, mas, caso seja preso antes, seremos presididos por Lewandowski ou Renan, se ainda estiver solto.

É uma escolha que Sofia não desejaria ao seu pior inimigo, já que a terceira opção embute o alto risco de, movido pelo ódio aos políticos, o povo, e um bom marqueteiro, elegerem um demagogo moralista como Jânio Quadros ou um farsante carismático como Collor. Ninguém merece. De novo.

Sim, é verdade que foi nos governos petistas, ou apesar deles, que a Polícia Federal e o Ministério Público cresceram em eficiência e independência, desvendando o mensalão e a Lava- Jato — com a ajuda dessa mesma mídia, que deu publicidade e profundidade às investigações. Como disse o juiz Sérgio Moro, a operação Mãos Limpas na Itália só resistiu porque teve na mídia uma aliada fundamental, mantendo as investigações acesas e o público atento e indignado.

Mesmo se dizendo criticado e difamado pela mídia, Lula saiu do governo com o PIB crescendo 7,5% e com a aprovação de 83% dos brasileiros, apesar do mensalão. Então, que poder teria essa tal de mídia de formar opinião contra ele? Ninguém ligava para o que ela dizia?

Mas, com inflação alta, recessão dolorosa e escândalos de corrupção em série, a mesma mídia é acusada de cúmplice da crise, de sabotar o governo, de tentar derrubar a presidente, de perseguir Lula e o PT, pelos 10% de aprovação de Dilma. Quem mudou, a mídia ou Lula?

Por que todas as tentativas de rádios, jornais, televisões, revistas e sites “de esquerda” que, mesmo com fartas verbas públicas, jamais conseguiram fazer sucesso popular nem conquistar um mínimo de prestígio? “O Pasquim” foi a última exceção, há 45 anos, na ditadura. Hoje é o site “O Antagonista”, de oposição, com 113 milhões de visualizações mensais.

Na democracia brasileira, qualquer um é livre para usar a mídia que quiser para dizer o que quiser. Difícil é encontrar quem ouça.

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