domingo, 27 de março de 2016

Governo Dilma teme um 'efeito manada' entre os partidos

Dilma teme que PP, PR e PSD sigam PMDB na debandada do governo

Daniela Lima, Débora Álvares, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados da presidente Dilma Rousseff temem um "efeito manada" sobre a base do governo caso o PMDB confirme o rompimento com o Planalto em reunião de seu diretório nacional na próxima terça (29). Os mais afetados tendem a ser PP, PR e PSD.

O governo dá como certa a saída do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, da base. Nas contas do Planalto, a ala rebelde do partido é agora majoritária e deve sacramentar a ruptura da aliança com o PT.

Juntos, PP, PR e PSD somam 121 deputados. Seus líderes têm dito que não veem sinal de reação de Dilma diante da crise.

Dirigentes nacionais dessas siglas têm sido pressionados por parlamentares a deixar o governo.

Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) recebeu recados de que sua bancada não está disposta a ir para o sacrifício por Dilma.

Segundo seus aliados, ele chegou a informar o Palácio do Planalto sobre esse movimento.

O relato é que Nogueira afirmou que poderia reunir cerca de 30 dos 49 votos para Dilma na Câmara, "mas só se fosse para vencer".

A fala mostra que, com o agravamento progressivo do desgaste do governo, as chances de segurar aliados na base de Dilma Rousseff é cada vez menor.

Outro sinal desse distanciamento é o recente encontro do presidente nacional do PSD, o ministro Gilberto Kassab (Cidades), com o vice-presidente Michel Temer, principal beneficiário do impeachment de Dilma.

O Planalto recebeu a informação com alarme. O PSD, fundado por Kassab em 2011, nasceu governista, mas já dava sinais de distanciamento no Congresso.

Hoje, segundo integrantes do partido, cerca de 70% da bancada é a favor do impeachment.

Dentro do PMDB, a leitura é que a ala que resiste ao afastamento do Planalto perdeu força nos últimos dias, especialmente após a decisão do diretório do Rio de Janeiro de romper com o PT. Até então, esta era a seção da sigla mais próxima de Dilma.

O próprio Planalto admite que, nesse cenário, a "possibilidade de negociação por meio das lideranças partidárias está cada vez mais restrita" e será preciso apostar nas conversas de varejo, cercando individualmente nomes que possam se aliar ao governo contra o impeachment.

Há ainda uma tentativa de atrair siglas nanicas, oferecendo a elas cargos de segundo escalão.

Um exemplo dessas tratativas deve ser oficializado na próxima semana, quando um nome do PTN, que tem 13 deputados, deve ser alçado à presidência da Funasa (Fundação Nacional de Saúde). O cargo ficou vago após a demissão de um afilhado do vice Michel Temer.

Com essa manobra, aliados de Dilma conseguiram uma promessa de que 10 dos 13 deputados do PTN votarão contra o impeachment.

Apesar da ofensiva, o próprio governo admite que a capacidade de segurar aliados com a oferta de cargos está limitada. Dois fatores contribuem para isso. Primeiro, a perspectiva de poder de Temer, que já discute um futuro governo. Depois, o fato de que Dilma teria que sobreviver pelos próximos dois anos com baixa popularidade e sob pressão das ruas.

Lula em baixa
Combalido pelas últimas acusações de envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também está com capacidade de mobilização política em baixa.

O próprio PMDB deu demonstrações disso. Procurado por duas vezes, Temer se esquivou de encontrar o petista. Já o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), recusou-se a participar de conversa entre Lula, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente José Sarney.

Considerado por muito tempo o "último bastião da governabilidade" de Dilma, Renan avisou a seus aliados que não está mais disposto a fazer uma defesa pessoal da presidente. Centrará seu discurso na defesa da legalidade e da democracia –e só.

Com o afastamento dos líderes políticos, aliados dizem que Lula deve ajudar na "marcação homem a homem" no plenário da Câmara, para tentar garantir ao governo o mínimo de 171 votos necessários para barrar o impeachment. O embate na comissão especial, que antecede a apreciação do caso pelo plenário, já é dado como causa perdida.

Nessa fase preliminar, a principal aposta do governo é a judicialização da denúncia para tentar ganhar tempo para convencer os deputados.

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