sexta-feira, 11 de março de 2016

Em ‘ estado de alerta’, militantes pressionarão juíza

Movimentos sociais e centrais sindicais decretaram ontem “estado de alerta” em defesa do ex-presidente Lula e planejam ir hoje ao prédio do Tribunal de Justiça de São Paulo, para pressionar a juíza Maria Priscilla a não aceitar o pedido de prisão preventiva. Os militantes acusam o Ministério Público de provocação às vésperas das manifestações de domingo.

Movimentos sociais ficam em estado de ‘ alerta’

• Militantes acusam MP de ‘ incitar ódio’, mas orientam grupos a não ir à rua domingo para evitar provocação

Luiza Souto, Sergio Roxo, Renato Onofre, Fernanda Krakovics, Eduardo Bresciani, Cristiane Jungblut , Isabel Braga e Leticia Fernandes - O Globo

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA- Representantes de movimentos sociais alinhados ao PT decretaram estado de “alerta” e prometem ir hoje ao prédio do Tribunal de Justiça de São Paulo para pressionar a juíza Maria Priscila Ernandes Veiga a não aceitar o pedido de prisão preventiva do ex-presidente. Centrais sindicais e movimentos sociais acusam o MP de “incitar o ódio” e de provocar a militância às vésperas das manifestações pelo impeachment de Dilma, marcadas para domingo.

— A irresponsabilidade desse promotor de São Paulo é digna de livro de ficção. Ele está incitando o ódio. Se tivermos um problema grave no domingo, vai ser responsabilidade dele — afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores ( CUT) no Rio, Marcelo Rodrigues.

Para João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o pedido de prisão preventiva de Lula é uma “provocação”:

— Esse pedido faz parte de uma orquestração, de uma provocação à militância petista. A orientação de não ir para a rua no domingo se mantém. Não vamos cair em provocação.

Em São Paulo, a Frente Brasil Popular, que reúne mais de 60 movimentos sociais, partidos como PCdoB e PT, e centrais de trabalhadores como a CUT, chegou a convocar a militância para um protesto em caráter de “urgência” na noite de ontem, mas o ato acabou esvaziado por causa da chuva. Cerca de 350 membros da Frente já estavam na sede da Apeoesp, sindicato dos professores do ensino oficial de São Paulo, discutindo manifestações a favor do governo.

— Vamos ficar em alerta nos diretórios e nos movimentos sociais para nos mobilizarmos se houver decisão da Justiça. Vamos garantir a nossa resistência — disse Douglas Izzo, presidente da CUT- SP, para quem há uma intervenção política para desconstruir a imagem de Lula.

Representantes da Frente Popular pediram que os militantes não se envolvam em conflitos. As manifestações de apoio à presidente Dilma, que aconteceriam no próximo domingo em, ao menos, sete capitais, foram adiadas para o dia 20.

Em São Bernardo do Campo, em frente à casa do ex- presidente, apenas o ex- metalúrgico Astério Gomes, de 55 anos, se manifestava contra o pedido de prisão de Lula.

Lula não crê em aceitação do pedido
O pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público de São Paulo não teria abalado o ex-presidente Lula, que o considerou frágil, segundo petistas, e não acredita que ele será aceito pela Justiça. A preocupação do ex-presidente, ainda de acordo com integrantes do PT, é que uma iniciativa como essa parta de Curitiba. Em sua passagem por Brasília, anteontem, Lula afirmou, em conversas reservadas, considerar questão de tempo um pedido de prisão contra ele por parte da Operação Lava- Jato.

Segundo petistas que estiveram com o ex- presidente, Lula está preocupado com a possibilidade de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, que comandavam a Odebrecht e a OAS, fecharem acordos de delação premiada. Ainda de acordo com integrantes do PT, Lula não teme a homologação da delação premiada do senador Delcídio Amaral ( PT- SP). Para o ex- presidente, seu impacto será político, mas sem consequência jurídica.

Lula participava de uma reunião com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e outros petistas, em um hotel de São Paulo, quando foi divulgada a notícia do pedido de sua prisão. Entre os presentes, a avaliação foi que a atitude dos promotores seria uma reação à possibilidade de que o ex-presidente aceitasse um ministério no governo. Os aliados mais próximos ainda defendem que Lula assuma um posto no Planalto, não apenas para ter os benefícios do foro privilegiado, mas para cuidar da articulação política e impedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

— A situação é muito difícil. Eles podem morrer abraçados ( caso Lula vire ministro). Mas ela morre nos braços dele se ele não virar. A Dilma precisa da ajuda do Lula neste momento — disse um petista que frequenta o Instituto Lula.

As lideranças petistas desqualificaram o pedido dos promotores paulistas, classificado de “tresloucado” pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que também estava no encontro entre Lula e Barbosa.

— O pedido de prisão preventiva vai na linha do que já vinha sendo feito por esse promotor e seus dois parceiros, que, sem provas, denunciaram o presidente Lula. Estou confiando que a juíza da 4 ª Vara não vai atender a esse pedido tresloucado, sem qualquer fundamento e qualquer base. O presidente está muito tranquilo e nós também — disse Falcão.

O ministro da Fazenda também atacou o pedido do promotor.

— Acho esse pedido sem fundamento. Esse cenário de polarização política atrapalha, mas nós temos que continuar com esse processo de diálogo e construção — afirmou Nelson Barbosa.

Em Brasília, segundo interlocutores do Planalto, há um certo clima de alívio, tamanha a fragilidade das acusações contra Lula.

— É uma denúncia absolutamente inconsistente, e o pedido de prisão beira o ridículo — contou um assessor governista.

O líder do PT no Senado, Paulo Rocha ( PA), afirmou que o promotor Cássio Conserino, autor do pedido, quer “tocar fogo no país”. Rocha disse que o pedido é uma provocação ao PT.

— Não vamos cair numa provocação barata de um procurador que quer tocar fogo no país — disse Rocha.

Viana cobra manifestação do MPF
Já o vice- líder do governo na Câmara, Paulo Pimenta ( PT- RS), alertou para um “grave risco de quebra institucional”. Ele afirmou que Conserino “envergonha o Ministério Público”.

O senador Lindbergh Farias (PT- RJ) também fez ataques ao procurador:

— Esse promotor é um irresponsável. Ele já tinha feito aquela palhaçada de antes de escutar o presidente anunciar na revista Veja que ia denunciar. Ele tá querendo aparecer.

Em discurso no Senado, o vice- presidente da Casa, Jorge Viana (PT- AC), acusou os promotores de fazerem uma “caçada a Lula e à sua família”. Viana cobrou manifestação do Ministério Público Federal sobre as ações de promotores estaduais.

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