quinta-feira, 3 de março de 2016

Dilma/Lula. A economia, o petismo e o foco da Lava-Ato sobre ambos - Jarbas de Holanda

1) A presidente Dilma foi convencida (pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, pelo da Educação e antigo confidente Aloizio Mercadante, pelo banqueiro Luiz Trabuco, com quem acertou a substituição de Joaquim Levy, por Delfim Netto e outros raros emissores de advertências como este que têm acesso a ela) de que seu grande fantasma – o impeachment ¬– poderia tornar-se irresistível se o Executivo fosse incapaz de se contrapor às agudas crises econômica e fiscal com propostas críveis de enfrentamento das causas de ambas. A reforma da Previdência e metas de controle e redução dos gastos públicos, tentadas por Levy e mantidas por Barbosa, são duas dessas propostas. Que precisariam passar a ser defendidas com ênfase por Dilma, mesmo com difícil viabilidade institucional e até se retardadas e obstruídas pelo peso dos petistas no governo. Segundo o cálculo desses conselheiros, tal postura, de par com a incerteza e os riscos do impeachment (a fraqueza da oposição no Congresso, a dependência dela em relação às ambiguidades do PMDB, as ameaças dos chamados movimentos sociais) garantiriam a manutenção do mandato presidencial, facilitada pelo distanciamento do empresariado das demandas sociais e políticas por troca do governo.

2) Mas a sustentação dessas propostas e alguns passos concretos de articulação para levá-las à prática, considerados essenciais para a recuperação de um mínimo de credibilidade da presidente junto aos investidores, internos e externos, chocam-se por inteiro com objetivos e palavras de ordem do lulopetismo – que é alma e o cerne da máquina político-administrativa federal. Objetivos que, sob a dupla pressão dos efeitos sociais do processo recessivo e das investigações da operação Lava-Jato e paralelas, cobram a prioridade do aumento – a qualquer custo – dos gastos estatais e a retomada dos estímulos ao consumo com o financiamento dos bancos públicos. Por isso, rejeitando e denunciando, como antissociais, propostas voltadas ao reequilíbrio das contas fiscais, como a da reforma da Previdência. “Virar a página do ajuste fiscal”, partindo de pronto para a retomada de projetos populistas e o reforço do assistencialismo, é que inspira o “programa emergencial” lançado dias atrás pela direção do PT. E as reações à dupla pressão acima referida são comandadas por um ex-presidente Lula sufocado pela crescente erosão das bases do PT e de sua influência política e social com o avanço das investigações sobre corrupção.

3) A capacidade e a disposição da presidente Dilma de preservar alguma autonomia político-administrativa – inclusive na condução da economia – reduziram-se a quase nada com a rendição ao lulopetismo ao sacrificar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dos poucos de sua própria escolha. O que levou Delfim Netto, em artigo de anteontem no Valor, a dirigir-lhe, ainda, um apelo/advertência: “É hora de enfrentar a esquerdopatia eleitoral oportunista que esconde o corporativismo do PT. É ela que parasita o seu governo e se opõe a mudanças estruturais...”. O sacrifício de Cardozo refletiu, também, outro fator de peso: a subida da rampa do Palácio do Planalto pela operação Acarajé, centrada no publicitário João Santana, marqueteiro da campanha reeleitoral. Esta agora objeto de fortes suspeitas de ter sido financiada com vultosos recursos provenientes de propinas do petrolão. Num contexto em que, de um lado, o atropelamento de algumas reformas propostas pela equipe econômica, pela maior subordinação do governo ao lulopetismo, reforça o fantasma do impeachment (que pode ganhar ampla adesão do empresariado). E, de outro, o fortalecimento da Lava-Jato e das investigações paralelas adensa este fantasma e o seu parceiro – o da cassação da chapa Dilma/Temer, pelo TSE. Fortalecimento nutrido pela decisão, histórica, do STF de autorizar o cumprimento das penas de réus condenados na 2ª instância judicial, pelo forte impacto da operação Acarajé e por novas e importantes delações. Três ingredientes que, robustecidos pelo agravamento dos efeitos sociais da crise econômica, favorecem o sucesso do recomeço das manifestações de rua, no próximo dia 13.

4) Mas esse mesmo contexto tem mais um ingrediente – este muito negativo – política e institucionalmente. Trata-se das reações do ex-presidente Lula diante de atos de autoridades judiciais, policiais e da Receita Federal para apuração de várias denúncias de irregularidades que o envolvem. Reações que vão de ataques verbais a juízes e procuradores e outras autoridades a tentativas de restrição ou cerceamento do papel da Polícia Federal. Propósito traduzido em reiteradas críticas e cobranças ao ex-ministro da Justiça, e que foram responsáveis pelo afastamento dele. E na busca de cerceamento que, dado sua forte influência no governo, poderá estender-se de um remanejamento de delegados até o corte de recursos operacionais do órgão. Mas que, felizmente, se posto em prática, não escaparia a denúncias da imprensa e repúdio do conjunto da sociedade.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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