terça-feira, 15 de março de 2016

Dilma pode dar a Lula superpoderes no governo

• Investigado na Lava- Jato, ex-presidente seria blindado no ministério

Petista assumiria cargo com delegação para atuar na política e na economia; em depoimento à PF divulgado ontem, ele comparou o tríplex em Guarujá a uma unidade do Minha Casa Minha Vida

Alvo da Lava- Jato, o ex-presidente Lula decide hoje seu futuro no governo Dilma. A ele foi oferecido um superministério com poder para para atuar na recuperação da economia e na articulação política. A ideia ganhou corpo depois das manifestações do último domingo. Lula estaria condicionando sua volta a Brasília a uma guinada na condução da economia. Caso assuma um cargo, ele ganha foro privilegiado, o STF. No depoimento que deu à PF, o ex-presidente comparou o tríplex em Guarujá, reformado por R$ 1 milhão, a apartamentos do Minha Casa Minha Vida. Ontem, o governo anunciou a indicação do subprocurador- geral da República Eugênio Aragão para o Ministério da Justiça.

Lula ensaia volta ao Planalto

• Alvo da Lava- Jato, ex- presidente negocia com Dilma ocupar superministério

Simone Iglesias , Eduardo Barretto , Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Sergio Roxo - O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Brasília para conversar com a presidente Dilma Rousseff sobre sua ida a um superministério político focado em dois pontos: recuperação da economia e articulação política para barrar o avanço do impeachment depois das manifestações do último domingo. Segundo auxiliares de Dilma, o petista apresentará condições para fazer parte da equipe, entre as quais uma guinada na condução da área econômica para agradar à base sindical e de movimentos sociais, o que contraria a política de ajuste fiscal de Dilma. O grande desafio de Lula vir a assumir um ministério é convencer a opinião pública de que não está tentando fugir do juiz Sérgio Moro, na Operação Lava- Jato, para que seu processo seja julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de uma pasta política, Lula avalia também a possibilidade de assumir o Ministério das Relações Exteriores. Uma pessoa próxima ao ex-presidente disse ser uma pasta que promoveria uma melhora na economia de forma mais rápida, atraindo grandes investidores externos. Isso não excluiria suas ações na área de articulação política, nem a possível intervenção na condução econômica do governo. O interlocutor do ex-presidente considerou também que, dentro do Palácio do Planalto, Lula poderia não se sentir confortável. A oposição já afirma que Dilma ficaria como figura decorativa, uma “rainha da Inglaterra”, e Lula tomaria as rédeas do governo.

Interlocutores do ex-presidente disseram que ele se convenceu de assumir um ministério após as manifestações de domingo e da decisão da juíza Maria Priscilla Ernandes, da Justiça de São Paulo, de transferir para Moro a investigação do caso do tríplex, que envolve denúncia e pedido de prisão preventiva.

DEM prepara ação popular
Os líderes do DEM na Câmara e no Senado, Pauderney Avelino ( AM) e Ronaldo Caiado ( GO), já estão com uma ação popular pronta pedindo a suspensão de uma eventual nomeação do ex- presidente como ministro.

— É um escárnio, um tapa na cara do povo. O Lula deve aceitar para fugir do juiz Sérgio Moro e blindar a sua família. Ao fazer isso, o PT se antecipa ao impeachment, porque a presidente Dilma viraria rainha da Inglaterra. Mas isso vai colocar combustível na situação do Palácio do Planalto — disse Avelino.

— Nomear Lula seria uma ação ilícita, espúria, da presidente que dizia que jamais interferiu e nem interferiria na Polícia Federal e no Ministério Público. Se isso se confirmar, vamos entrar com uma ação popular em todos os estados para exigirmos a nulidade deste fato. Diz- se que rico, quando rouba, vai para o ministério. Ele ( Lula) seria réu confesso — afirmou Caiado.

Numa tentativa de descolar a ida de Lula para o governo de suposta fuga das investigações, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) enfatizou que o STF é a instância máxima do Judiciário e também investiga e julga:

— O STF não é Justiça também não? O mensalão não foi julgado lá?

Wagner, que participou da reunião de coordenação política com Dilma e outros sete ministros ontem pela manhã, disse que Lula está sendo perseguido.

— Tem gente babando sangue. Lula virou troféu e por isso o concurso entre o MP de Curitiba e São Paulo.

Ontem, emissários do ex- presidente estiveram no Planalto para pavimentar a conversa com a presidente. Enquanto o ex- chefe de gabinete de Lula Gilberto Carvalho se reunia com Jaques Wagner, o presidente do PT, Rui Falcão, esteve com Ricardo Berzoini ( Secretaria de Governo). Segundo um auxiliar presidencial, a ideia é que Lula assuma um ministério que faça essencialmente articulação política, caso da Secretaria de Governo, ocupada por Berzoini.

— A Casa Civil é hierarquicamente de maior subordinação e tem uma pauta administrativa muito grande. Não é para isso que Lula está vindo. Ele vem para fazer política — diz um auxiliar da presidente.

A pressão para que o ex-presidente assuma o posto aumentou depois das manifestações de domingo, que deixaram o governo nas cordas, na avaliação de petistas. A bancada do PT pretende fazer um apelo para que Lula aceite o convite.

— Acho que é natural ( o apelo). A gente sente isso não só na bancada, mas na base aliada também — disse Vicente Cândido (PT-SP), que esteve ontem com Lula para convidá- lo a uma reunião com os parlamentares do partido, amanhã, em Brasília.

O presidente do PT, que também esteve reunido com Lula ontem, deixou claro que é um entusiasta da ideia de ver o ex-presidente no Ministério.

— A minha opinião é que ele deveria ir ( para o governo), independentemente dos protestos. Mas é uma decisão difícil, que tem que ser muito pensada — afirmou Falcão.

Descontente com os rumos da economia e apesar da pressão do PT pela saída de Nelson Barbosa (Fazenda), Lula não quer, neste momento, que ele seja substituído. Na semana passada, o ministro esteve no Instituto Lula, conversando com o ex- presidente, que ainda o avaliza na pasta. A queda de braço entre o ministro da Fazenda e o PT está cada vez mais forte, com o recrudescimento da crise política.

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