sexta-feira, 4 de março de 2016

‘ Anestesiado’, governo teme avanço do impeachment no Congresso

• Impacto de delação é maior pela proximidade entre Delcídio e Planalto

Simone Iglesias, Catarina Alencastro Gabriela Valente - O Globo

- BRASÍLIA- A delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), publicada pela revista “IstoÉ”, caiu como uma bomba no Palácio do Planalto. Desde cedo, a presidente Dilma Rousseff convocou ministros e assessores mais próximos para avaliar a extensão dos danos. Dilma e seus auxiliares se mostravam “anestesiados”, nas palavras de um participante da reunião. Segundo relato de ministros, a presidente disse ter se sentido traída pelo senador e avaliou que o impacto das declarações será ampliado pelo fato de Delcídio ser, como disse Dilma, “um dos nossos” — um aliado com acesso livre ao Planalto.

Esta é considerada pelo governo a primeira bala que afeta diretamente Dilma, disparada por um aliado de primeira hora, com trânsito livre no Planalto e no Alvorada, residência oficial. A delação de Delcídio, para o Planalto, coloca mais combustível no pedido de impeachment, que parecia adormecido e até mesmo superado.

— Mesmo que tudo isso seja calúnia, o volume é tanto que não dá tempo de fazer defesa, de contestar as informações, de se opor a tudo. É um sentimento de atordoamento que todos estão sentindo — afirmou um auxiliar da presidente.

Este auxiliar considerou “danosa” a delação, porque será mais um elemento a impedir que o governo reaja política e economicamente, já que será improvável o avanço de propostas no Congresso em meio à crise institucional. Interlocutores da presidente temem, inclusive, que um novo pedido de impeachment seja apresentado pela oposição, com base na acusação de que Dilma teria nomeado o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que ele aprovasse habeas corpus para empreiteiros presos no âmbito da Lava- Jato.

A própria presidente decidiu escalar sua equipe para responder ponto a ponto cada informação publicada. Sua preocupação maior foi quanto à repercussão da matéria e à possibilidade de se transformar num linchamento público.
— (Imagina) a festa que vão fazer em cima disso — reclamou, logo após ter tido acesso à revista.

O governo agiu rapidamente para botar em campo uma defesa tripla: desqualificar Delcídio; criminalizar o vazamento da delação e destrinchar o conteúdo revelado pelo senador. Logo após ser empossado como advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, disse, ainda no fim da manhã, que o ex-líder do governo não tinha credibilidade. No início da tarde, Jaques Wagner (Casa Civil) afirmou que o vazamento foi um crime. Novamente, no meio da tarde, Cardozo assumiu o papel de voltar a deslegitimar Delcídio, dizendo que ele mentiu, e rebateu as informações dadas pelo senador.

No dia em que os dados mostraram o pior resultado do PIB desde 1990, integrantes do governo já admitiam — sob a condição de anonimato — que a melhora da economia só virá após a presidente Dilma deixar o cargo.

— Essa delação do Delcídio complica tudo ainda mais para a economia. Isso tudo só vai acabar quando mudar o governo — comentou uma fonte da equipe econômica.

A leitura de pessoas com acesso à presidente é que ela teria tomado tantas medidas equivocadas que não teria mais condições de consertar os rumos da economia. Uma fonte frisou que cresce entre os técnicos do governo a visão de que a mudança do comando do país seria benéfica:

— Não defendo o impeachment, mas se o TSE cassasse o mandato da presidente, a situação melhoraria.

O clima anda tão tenso no Palácio do Planalto que alguns assessores têm confidenciado a colegas a intenção de deixar o governo.

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