quarta-feira, 9 de março de 2016

A responsabilidade dos líderes pela paz nas ruas – Editorial / O Globo

• O tom agressivo do discurso de Lula, depois de depor na Lava- Jato, amplificado por Gilberto Carvalho, gera temores diante de um domingo de manifestações

Há momentos em que o PT expõe por inteiro as raízes no mundo sindical. É assim no vício do assembleísmo, mas também na agressividade, uma característica do sindicalismo, em todo o mundo. No episódio da chamada condução coercitiva de Lula, para depor sobre os mal explicados sítio de Atibaia e tríplex de Guarujá, emergiu, pelo próprio ex-presidente, essa agressividade.

Temperada — como era de se esperar — por generosas porções de vitimização, outro traço lulopetista. Tudo previsível, conhecendo- se o partido e o ex- presidente. Porém, importa é chamar a atenção que não apenas Lula, mas todos os líderes, da situação e da oposição, precisam contribuir para baixar a temperatura da tensão política. Em especial agora, quando se aproxima um domingo de manifestações, que não podem justificar qualquer ato de violência.

Neste sentido, foi reprovável a primeira reação de Lula, na última sexta- feira, a do depoimento, depois do qual partiu para transformar o diretório do PT em palanque de vociferações. Devidamente registradas pela imprensa que costuma acusar de “golpista”.

O tom agressivo do discurso, de que constou a imagem da perigosa “jararaca” que sobreviveu à investida da Lava- Jato, estimulou de forma quase instantânea agressões na rua, à porta do diretório, a repórteres de meios de comunicação profissionais. Esta será a linha de defesa do lulopetismo? Funcionará ao contrário.

Na segunda- feira, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, o ex- ministro Gilberto Carvalho radicalizou o recado lulopetista com ameaças à Operação Lava- Jato, ou seja, à Justiça, ao Ministério Público e à PF, caso tentem prender Lula: “Espero que não brinquem com fogo.”

E ainda condicionou ao que acontecerá, na evolução das investigações, se no Brasil ocorrerá o descalabro de milícias armadas chavistas à solta nas ruas, praticando justiçamentos.

Mas o Brasil não é a Venezuela, onde as instituições foram quase integralmente aparelhadas pelos bolivarianos. Lula, uma vez, chegou a ameaçar convocar o “exército de Stédile”, do MST. Que fique na bravata, pois não há como fazer o Brasil urbano de 2016 recuar às Ligas Camponesas de Francisco Julião, das longínquas décadas de 50/ 60.

Já foi reiterado por promotores da Operação que o ex- presidente merece o tratamento que a Constituição concede a todo brasileiro. É certo que o status de Lula faz com que a sua condução coercitiva seja intensamente debatida. Porém, foi uma em 117 já executadas. Em 116 não houve este clamor, acima até mesmo da curiosidade em se saber as suspeitas em torno de Lula.

A maneira como transcorre a Lava- Jato, sempre com respeito à lei — tanto que a maioria dos recursos contra atos do juiz Sérgio Moro tem sido rejeitada nas instâncias superiores —, precisa servir de exemplo a líderes de partidos e grupos políticos. Explosões de violência agravarão a crise, o que não interessa ao país.

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