terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PF diz que Lula deve ser investigado

•Delegado fala em 'possível envolvimento em práticas criminosas' na relação com a Odebrecht

Relatório da PF afirma que o ex- presidente Lula precisa ser investigado, “com parcimônia”, pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. Documentos apreendidos na Odebrecht, segundo a PF, mostram valores associados à inscrição “Prédio IL”, que, para os investigadores, seria Instituto Lula. Os valores seriam referência a R$ 12,4 milhões supostamente gastos em obras. No celular de Marcelo Odebrecht havia menção a “prédio novo”. Em nota, o Instituto Lula argumentou que em 2010, “ano indicado na planilha” apreendida, a entidade ainda não existia.

PF aponta ‘ possível envolvimento’ de Lula em ‘ práticas criminosas’

• Relatório liga gasto da Odebrecht a instituto do ex- presidente, mas diz que pode haver equívoco

lávio Freire, Tiago Dantas - O Globo

 SÃO PAULO-Relatório da Polícia Federal diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser investigado “com parcimônia” pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. O documento, revelado durante a 23 ª fase da Operação Lava- Jato, coloca sob suspeita o financiamento de obras do prédio do Instituto Lula, em São Paulo, feitas pela Odebrecht.

Segundo a PF, R$ 12,4 milhões foram gastos na obra. Ao analisar documentos apreendidos na empreiteira, a polícia identificou como sendo Instituto Lula a sigla “IL”, que aparece em uma planilha. Diz o texto dos investigadores: “Em relação à anotação ‘ Prédio ( IL)’ e ao valor a ela referido de R$ 12.422.000,00, (...) a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica faça referência ao Instituto Lula”.

“O possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional”, diz o relatório.

A sigla “IL” aparece em planilha criada em 2 de agosto de 2010 por Maria Lucia Guimarães Tavares. De acordo com a PF, a administradora tinha um telefone criptografado para conversar com Marcelo Odebrecht e auxiliava o presidente da empresa “nas suas práticas criminosas”. O documento foi salvo pela última vez em 31 de julho de 2012 por Fernando Migliaccio da Silva, administrador de contas offshores.

Chamou a atenção dos investigadores a indicação na planilha que o valor foi dividido: três parcelas de R$ 1.057.000, e outras de R$ 8.217.000 e 1.034.000.

“Valores ‘ quebrados’ foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de percentuais — no caso dos contratos da Petrobras — e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas precisamente”, afirma o texto.

Os policiais dizem que, seguindo essa lógica, “caso a rubrica ‘ Prédio ( IL)’ refira- se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”. Mas o texto alerta que as conclusões “podem estar equivocadas” e sugere que o depoimento de pessoas investigadas nesta fase da operação possa ajudar a revelar o significado de cada uma das anotações.

Os investigadores tentaram cruzar a planilha com informações encontradas em blocos de notas do celular de Marcelo Odebrecht. Não há nenhuma menção à sigla IL, mas a palavra prédio aparece algumas vezes. Em 22 de outubro de 2010, há uma referência a “prédio novo”, mas sem detalhes do que poderia ser. A outra citação é de 9 de janeiro de 2013.

Por fim, a PF afirma que “a investigação não se presta a buscar a condenação e a prisão de ‘ A’ ou ‘ B’. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. (...) Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada”.

Em nota, o Instituto Lula refutou as acusações: “O Instituto Lula ( IL) foi fundado em agosto de 2011, na mesma casa onde antes funcionava o Instituto Cidadania, ao qual sucedeu, e antes desse o IPET ( Instituto de Estudos e Pesquisas dos Trabalhadores). A sede fica em um sobrado adquirido em 1991. Em 2010, ano indicado na planilha, o Instituto Lula não existia ainda. Tanto o Instituto Lula quanto o Instituto Cidadania não construíram nenhum prédio”.

A Odebrecht disse que não conhece os termos do inquérito e que não poderia se manifestar.

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