sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Busca por trabalho cai e evita alta maior do desemprego

Por Camilla Veras Mota e Robson Sales – Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - A menor procura por trabalho nos últimos meses tem segurado o aumento do desemprego medido pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e é apontada por economistas como a principal razão para a alta mais modesta da taxa em janeiro, de 6,9% para 7,6% - ainda assim, a maior para o mês desde 2009.

A população economicamente ativa (PEA), variável que reflete a dinâmica dos trabalhadores ativos no mercado, recuou em três dos últimos quatro meses, na comparação com o mesmo período do ano anterior, 0,3% no mês passado. A taxa de atividade, outra maneira de acompanhar esse movimento, chegou a 54,8%, o menor nível desde abril de 2002. Para especialistas, o cenário pode indicar um aumento do desalento no país, quando as condições econômicas desestimulam a busca por novas vagas.

As variáveis de ocupação e renda, por outro lado, continuam sinalizando a continuidade do ajuste que começou no ano passado. O volume de trabalhadores empregados nas seis principais regiões metropolitanas encolheu 2,7%, no confronto com janeiro de 2015, queda semelhante à registrada em dezembro.

O rendimento médio, por sua vez, recuou 7,4% em termos reais, maior retração desde dezembro de 2003, levando a remuneração média a R$ 2.242,9. Com o corte de empregos, a massa salarial recuou 10,4% sobre janeiro de 2015.

Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, o avanço menor do contingente de desempregados, de 42,7%, contra 61,5% em dezembro, na comparação com o igual intervalo de 2014, pode estar relacionado ao aumento da população em desalento.

Um indício nesse sentido é o crescimento da participação dos trabalhadores que se declararam inativos ao IBGE, mas que disseram estar disponíveis e que gostariam de trabalhar, de 7,3% em janeiro do ano passado para 8% do total da população não economicamente ativa (Pnea), o maior nível desde junho de 2013. Mesmo com essa "ajuda", o nível de desocupação da PME, ela acrescenta, caiu ao menor nível desde junho de 2007, 50,7% da população em idade ativa (PIA). O total de desempregados chegou a 1,88 milhões.

"A PME vem dando sinais de aumento do desalento desde o fim do ano passado", observa Fabio Romão, da LCA Consultores, referindo-se ao comportamento negativo da PEA. O economista pondera que o ritmo forte de demissões em janeiro, que levou a ocupação a ceder 2,7% sobre o mesmo mês de 2015, provavelmente não foi pior por conta da desaceleração dos cortes no comércio e nos serviços em relação ao último trimestre do ano. Os dois setores, depois de reduzirem o estoque de funcionários em 2,4% e 2,2% nesse período, diminuíram a ocupação em janeiro em 0,6% e 2%, nessa ordem. "Isso pode estar ligado ao número menor de temporários contratados no fim do ano passado."

Adriana Beringuy, técnica do IBGE responsável pela pesquisa, chama atenção para o número ainda expressivo de dispensas na indústria e na construção civil. Após enxugarem os quadros de funcionários no ano passado em 5,5% e 3,5%, respectivamente, os dois setores cortaram mais 8,5% e 2,2%, nessa ordem, do total de trabalhadores. Na comparação com janeiro do ano passado, o emprego informal recuou 7% e o com carteira, 2,8%. O serviço por conta própria, depois de aumentar 2,1% no ano passado, avançou 0,3%.

O comportamento atípico da PEA levou o Bradesco a calcular uma taxa de desemprego "filtrada", que exclui as volatilidades dessa variável. Sob esse critério, o desemprego cresceu de 8,1% em dezembro pra 8,3%, ilustrando, na avaliação da equipe do banco, "mais fielmente a dinâmica atual do emprego", segundo relatório.

"O mercado de trabalho continua a se deteriorar, tanto em quantidade, no emprego, quanto em preço, nos salários", comenta o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, chamando atenção para a contração expressiva dos salários no mês passado, de 7,4% em termos reais.

A retração mais intensa que o esperado levou Romão, da LCA, a revisar a projeção de queda da renda média real do ano de 1,8% para 2,5%. O comportamento só não deve ser mais negativo, ressalta, porque a inflação, que subiu mais que o antecipado em janeiro - e pode explicar em parte esse recuo mais forte dos salários em termos reais -, tende a desacelerar durante o ano e fechar 2016 em 7,4%, conforme as estimativas da consultoria.

Thais, da Rosenberg, pondera que o desempenho já deve ser melhor em fevereiro, uma vez que o indicador de renda deve incorporar o efeito do aumento do salário mínimo, que cresceu mais de 10% em termos nominais.

Na comparação com dezembro, o desemprego manteve-se estável no Rio e em Porto Alegre, em 5,1% e 5,9%, respectivamente, cresceu de 5,9% para 6,9% em Belo Horizonte, de 7% para 8,1% em São Paulo, de 10% para 10,5% no Recife, e recuou em Salvador, de 11,9% para 11,8%. Quatro das seis capitais assistiram a uma retração da força de trabalho, no confronto com janeiro do ano passado. As exceções foram Recife e São Paulo, com altas de 2,2% e de 0,6%.


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