quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ao tentar esvaziar cofre, executivo é preso na Suíça

Investigado pela Operação Acarajé, o executivo Fernando Migliaccio da Silva, ligado à Odebrecht, foi preso na Suíça quando tentava fechar contas e esvaziar um cofre num banco em Genebra.

Executivo foi preso tentando limpar cofre

• Migliaccio, ligado à Odebrecht, estava fechando conta em Genebra; presidente da construtora também foi preso

Cleide Carvalho - O Globo

- SÃO PAULO - O executivo Fernando Migliaccio da Silva, ligado à empreiteira Odebrecht, foi preso na Suíça no momento em que tentava encerrar contas e esvaziar um cofre num banco em Genebra. A prisão ocorreu no último dia 17, por ordem do Ministério Público suíço, que investiga as movimentações financeiras da Odebrecht no país. Segundo o Ministério Público Federal, as investigações podem estar relacionadas aos mesmos fatos apurados na Lava- Jato, mas as autoridades suíças desconheciam o mandado de prisão preventiva contra ele que tinha sido expedido no Brasil em 11 de fevereiro, e que deveria ser cumprido na 23 ª fase da Lava- Jato, batizada de Acarajé. O juiz Sérgio Moro vai pedir a extradição do executivo.

No Brasil, Migliaccio é apontado como responsável por empresas offshore e contas que foram usadas pela Odebrecht para pagar propina no exterior. A quebra de sigilo de e- mails usados pelo executivo mostrou que ele tinha poder para administrar duas contas usadas para pagar propina a Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, ex- dirigentes da Petrobras e delatores da LavaJato. Uma das contas é a da Constructora Internacional Del Sur, com sede no Panamá. A outra, da offshore Klienfeld. A Odebrecht nega ter usado contas no exterior para pagar propina.

Os documentos que comprovam a administração das contas por Migliaccio foram obtidos com a quebra de sigilo de dois e- mails usados pelo executivo, um deles da própria Odebrecht. Segundo a PF, os documentos foram digitalizados dentro da empresa. A Klienfeld foi usada para transferir dinheiro ao marqueteiro João Santana e à mulher dele, Mônica Moura.

O casal recebeu o dinheiro por meio da offshore ShellBill, através de um contrato fictício assinado por Marcelo Rodrigues, funcionário de uma corretora. Rodrigues teve prisão temporária decretada segunda-feira, mas ainda está solto. Os advogados dele pediram a revogação da medida, mas o MPF se manifestou contra. A decisão será tomada por Moro.

Migliaccio trabalhou na Odebrecht até o ano passado e, segundo o Ministério Público Federal, foi transferido para os Estados Unidos depois de iniciadas as investigações da Lava- Jato. A Odebrecht pagou todas as despesas e providenciou a obtenção dos vistos.
Apesar de Migliaccio ter se desligado da empresa, o MPF apreendeu documentos que mostram que ele continuou a receber salário. A mudança de Migliaccio teria sido uma das “manobras orquestradas por Marcelo Odebrecht e seus funcionários”, destinadas a dificultar ações de investigação das autoridades brasileiras.

Segundo os investigadores, Migliaccio é dono de uma gama de empresas offshore e tem contas em pelo menos três bancos estrangeiros — PKB, Audi e Barclays —, todos na Suíça. A casa onde Migliaccio mora, na Flórida, foi adquirida por uma das offshores abertas por ele.

Barbosa, interlocutor para políticos
Preso anteontem, o atual presidente da construtora Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, segundo a Polícia Federal, era a pessoa acionada pelo empresário Marcelo Odebrecht para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive apoio financeiro. Barbosa não era o substituto de Marcelo no comando do grupo.

Nas mensagens por celular apreendidas pela Lava- Jato, os investigadores verificaram pelo menos uma referência a um pagamento de R$ 100 mil a uma autoridade com foro privilegiado. Também há conversas em que os pagamentos de propina eram distribuídos por diversos setores da empresa. Segundo despacho de Moro, esse método era usado pelas empreiteiras e chegou a ser detalhado por executivos da Camargo Corrêa, que assinou acordo de leniência.

A troca de mensagem entre Barbosa e Marcelo faz menção a uma “conta pós Itália”, que, segundo despacho de Moro, pode ser uma referência a pagamentos posteriores aos que constam na planilha do “programa italiano”, onde eram anotadas as propinas. A PF afirma que Marcelo Odebrecht sabia dos repasses a João Santana por meio de offshores e teria chegado a orientar dois de seus executivos a fechar contas.

No celular de Marcelo, estava escrito “fechar as contas sob risco”. Segundo os investigadores, o alerta foi dado a Hilberto Silva e Luiz Eduardo da Rocha, funcionários da Odebrecht que tiveram seus nomes usados em contas no exterior. Como Migliaccio, Rocha se mudou para os EUA.

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