terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Opinião do dia: Dora Kramer

Depois de encerrar 2015 fazendo um balanço do ano completamente distante da realidade, a presidente Dilma Rousseff inicia 2016 com projeções cujas realizações estão muito acima de suas reais possibilidades. Dilma fala como se ainda tivesse cacife suficiente para fazer e acontecer, e não fosse uma governante desprovida de apoio até entre seus aliados formais.

Na entrevista que deu na última quinta-feira, a presidente vendeu terrenos na lua: decretou o fim de uma crise que ganha fôlego a cada revelação da Operação Lava Jato, prometeu reduzir uma inflação de trajetória ascendente, manifestou confiança na volta de um imposto (CPMF) repudiado no Congresso e na sociedade e, por fim, anunciou que vai “encarar” a reforma da Previdência, coisa que nem Lula conseguiu no auge da popularidade e da força política.

Isso tudo sem levar em conta o ano eleitoral em que a tendência é o aumento dos conflitos políticos e uma considerável redução na disposição dos partidos de confrontarem o eleitorado dando sustentação a medidas que não sejam do gosto popular. O PT, os movimentos sociais e os sindicatos se contrapõem abertamente a Dilma nas ações necessárias na busca do equilíbrio fiscal.

E se os representantes do que ainda restaria de sustentação ao governo não têm intenção de contribuir para a realização das projeções presidenciais, muito menos o farão seus adversários oficiais. De onde seria conveniente que Dilma desviasse a cabeça do mundo da lua e pusesse os pés no chão.
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Dora Kramer, jornalista, ‘Terrenos na lua’, O Estado de S. Paulo, 10.1.16

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