quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Nova fase da Lava-Jato investiga condomínio relacionado a Lula

Por Carolina Leal* e Letícia Casado – Valor Econômico

Curitiba e Brasília - A Polícia Federal deflagrou ontem a 22ª fase da operação Lava-Jato, batizada de Triplo X, com seis mandados de prisão temporária e 15 de busca e apreensão, mirando na construtora OAS e na empresa panamenha Mossack Fonseca - responsável por abrir offshores que seriam usadas para lavar dinheiro e promover transações imobiliárias para ocultar o repasse de propina a envolvidos na Lava-Jato.

Um dos alvos é o condomínio Solaris, no Guarujá, onde são investigados apartamentos em nome de parentes do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de um triplex pertencente à offshore Murray, uma das que foram constituídas pela empresa Mossack Fonseca.

O condomínio teve sua construção iniciada pela Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), da qual Vaccari já foi diretor, e depois foi transferido à empreiteira OAS, e é o mesmo em que a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tido a opção de compra de um triplex. A suspeita dos investigadores é de que o prédio tenha servido como canal para pagamento de propina.

"Temos indicativo de que todos os apartamentos do condomínio, ou a maioria, podem ter sido usados para lavagem de dinheiro oriundo de corrupção em empresas estatais", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Embora tenha destacado que o ex-presidente Lula não é alvo da operação, a PF diz que a investigação agora envolve todo o condomínio.

No caso do ex-tesoureiro do PT, as investigações constataram indícios de irregularidades em imóveis pertencendo à esposa e à cunhada de Vaccari. A esposa dele, por exemplo, declarou à Receita Federal ser proprietária de um apartamento no condomínio, mas o imóvel não foi identificado nas matrículas do empreendimento - em uma delas, quem consta como proprietária do apartamento é uma funcionária da OAS. Ontem, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da construtora, e também na Bancoop e na Mossack Fonseca.

A Mossack Fonseca surgiu nas investigações porque ao menos quatro investigados na Lava-Jato teriam usado offshores abertas pela empresa para lavar dinheiro. Em recente delação premiada, Roberto Trombeta, apontado como operador das construtoras OAS e UTC, relatou que usou uma offshore constituída pela empresa para repassar cerca de US$ 8 milhões ao doleiro Alberto Youssef, a mando da OAS .

Dentre as seis pessoas que tiveram a prisão temporária decretada ontem, está a publicitária Nelci Warken, que já prestou serviços para a Bancoop e seria a responsável por operar a offshore Murray, dona de um triplex no Solaris, que não é o mesmo relacionado à família do ex-presidente. Segundo a Polícia Federal, ela teria usado offshores abertas pela Mossack Fonseca para promover transações imobiliárias envolvendo 14 imóveis. Para os investigadores, tudo indica que ela é "laranja" de uma outra pessoa, a quem se referiria em ligações telefônicas interceptadas pela polícia apenas como "nosso querido amigo".

Além de Warken, foram presos temporariamente Ricardo Honório Neto, sócio-proprietário da filial da Mossack Fonseca no Brasil, e Renata Pereira Brito, também ligada à empresa. Outras três pessoas ainda não tinham sido localizadas pela polícia: o venezuelano Luis Fernando Hernandez Rivero; Ademir Auada, responsável pela abertura de várias offshores em nome da empresa; e Maria Mercedes Riano Quijano, apontada como a pessoa que coordenava o escritório da companhia no Brasil.

"Fica evidenciado que a Mossack Fonseca participava de um grande esquema de lavagem. Oferecia seus serviços para os mais diversos esquemas, inclusive sendo alvo de outras operações em andamento", afirma o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Para o delegado Igor Romário de Paula, o envolvimento da empresa na operação pode abrir "inúmeros outros casos dentro da própria Lava-Jato e fora dela".

Tanto os investigadores quanto o juiz Sergio Moro, em despacho determinando as prisões, ressaltaram uma troca de e-mails em que integrantes da empresa conversavam sobre destruir documentos que pudessem servir de provas para a polícia. "A integridade das práticas comerciais [da Mossack Fonseca] não é exatamente uma prioridade na representação da empresa no Brasil", afirmou o juiz Sergio Moro no despacho. Para a PF, tudo indica que mais nomes da política podem aparecer no esquema. Procurada, a UTC não quis comentar e a OAS não retornou a pedidos de esclarecimento. *Especial para o Valor

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