domingo, 17 de janeiro de 2016

Eleição Rio: Pedro Paulo tenta tirar candidatura da UTI

• Na disputa pela prefeitura do Rio, secretário aposta na recuperação de hospitais para melhorar imagem

Juliana Castro, Marcelo Remigio - O Globo

Empenhado em deixar para trás as notícias de agressão à ex-mulher que fragilizaram sua précandidatura à prefeitura do Rio, o secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), se lançou em nova estratégia, vista por muitos, inclusive aliados, como arriscada. Principal padrinho de Pedro Paulo, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) designou o secretário no último dia 5 para coordenar a municipalização dos hospitais estaduais, numa tentativa de dar ao afilhado político a imagem de bom gestor e proporcionar a ele maior visibilidade. O trabalho do secretário tem sido explorado nas redes sociais e em entrevistas.

Os próprios peemedebistas avaliam que essa é uma estratégia de alto risco, por se tratar de uma área altamente sensível em qualquer governo. Há quem diga que, como Pedro Paulo tem que se desincompatibilizar até abril para concorrer à prefeitura, resta pouco tempo para fazer um trabalho perceptível aos olhos da população e que motive os eleitores a votarem no candidato do PMDB. E qualquer erro na administração das novas unidades da rede de saúde municipal, ou falta de soluções para problemas herdados do governo do estado, poderão provocar um estrago ainda maior na pré-campanha.

Além do risco de erros, Pedro Paulo ficou suscetível a protestos, como o que aconteceu no último dia 11, quando funcionários do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste, gritavam “Lei Maria da Penha”, enquanto ele concedia entrevista a jornalistas — uma referência à violência cometida contra a ex-mulher de Pedro Paulo, Alexandra Marcondes. Ela registrou dois boletins de ocorrência, em 2008 e 2010, em que o acusou de agredi-la.

Fotos ao lado de pacientes
As redes sociais do pré-candidato deixam clara a tentativa de associá-lo à imagem de homem capaz de levar à frente a transição na Saúde. Desde o dia 5, foram cerca de 60 postagens no Facebook sobre a municipalização de hospitais do estado, o tema mais explorado no perfil. São fotos de visitas a hospitais, conversas com pacientes e abraços em idosos e crianças.

A exposição nas redes sociais já rendeu críticas ao pré-candidato. Uma internauta publicou, em um comentário, que o secretário estava se aproveitando da desgraça dos outros. O perfil de Pedro Paulo respondeu: “Estamos cumprindo com as nossas obrigações e é importante que as pessoas sejam informadas desse processo com transparência e com informações detalhadas”. No Instagram, foram postadas cerca de 50 fotos sobre a municipalização de unidades de saúde.

— Hoje em dia, a juventude vai em um restaurante e posta o que está comendo, onde está comendo, e vivem com exposição. Se o jovem é assim, você imagina um cara que é candidato? — defende Carlos Alberto Muniz, da executiva estadual do PMDB.

Os perfis de Pedro Paulo trazem ainda fotos com a família, em contraste com o noticiário recente dos casos de agressões. O secretário aparece ao lado da atual mulher, dos filhos e da mãe. O marqueteiro da pré-campanha do peemedebista, Renato Pereira, não quis falar de estratégias para o candidato.

Em reunião recente com caciques do PMDB, Paes comunicou que vai levar à frente a candidatura de seu braço direito, neutralizando a resistência de aliados como Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio. Ao seu grupo, o prefeito do Rio tem dito que não existe outro nome de confiança que possa continuar seu trabalho. Caso novo candidato seja escolhido, afirmam interlocutores, Paes deixaria de mandar para ser mandado, e isso ele não quer.

Além da Saúde e do investimento pesado nas redes sociais, incluindo vídeos com entrevistas de Pedro Paulo e propaganda institucional da prefeitura, o secretário assumiu os chamados “pedidos de varejo”. É ele quem recebe solicitações de asfaltamento de rua, colocação de quebra-molas e até credenciais para os desfiles das escolas de samba. As conversas com os partidos para a manutenção da chapa que elegeu Paes foram arrastadas para março, quando se fecha a janela para troca de legenda.

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