quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Dilma: só no mundo medieval se faziam acusações sem provas

• Cardozo diz que Moro lhe garantiu que ex-presidente não é investigado

Fernanda Krakovics - O Globo

Em sua visita ao Equador, perguntada sobre a Lava- Jato, a presidente Dilma mostrou irritação: “Ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova é de quem acusa.” - QUITO- Perguntada sobre a 22 ª fase da Lava- Jato, que se aproxima do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva (apesar de não citálo em momento algum), a presidente Dilma Rousseff afirmou que, ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova, atualmente, é de quem acusa.

Etapa da operação realizada ontem investiga se um prédio no Guarujá ( SP), no qual Lula teria um apartamento, foi usado pela OAS para lavar dinheiro.

— Acho que foi a partir da Revolução Francesa, se não me engano foi com Napoleão, que, ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova é de quem acusa. Daí, o inquérito, toda a investigação. 

Antes você provava assim: eu dizia que você era culpado e você lutava comigo. Se você perdesse, você era culpado. Houve um grande avanço no mundo civilizado, a partir de todas as lutas democráticas — disse a presidente, em entrevista ontem, ao deixar a cúpula de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

Dilma ficou irritada ao ser indagada sobre a avaliação de que a nova fase da Lava- Jato, realizada ontem, chega perto do ex-presidente Lula.

— Se alguém falasse a respeito de qualquer um de nós aqui, que a nova fase da Lava- Jato levanta suspeita sobre você, e você não soubesse qual é a suspeita e de onde é a suspeita, você não acharia extremamente incorreto do ponto de vista do respeito? — questionou.

Perguntada ainda se a Lava- Jato afeta a economia, respondeu: — O FMI acha. Na semana passada, a presidente disse ter ficado “estarrecida” com relatório do FMI que piorou a perspectiva da economia brasileira em 2016 e apontou, entre os motivos, a continuidade das investigações da Lava- Jato.

Em Brasília, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou de “especulações indevidas” as análises de que a fase de ontem da Lava- Jato mira o ex- presidente Lula.

— Até onde sei, essa investigação está sob sigilo. Apenas posso dizer de situações que são públicas. Recentemente, o juiz Sérgio Moro disse que o ex-presidente Lula não é investigado, e eu não recebi nenhuma informação de qualquer ato investigativo em relação a essa pessoa do juiz Sérgio Moro. O ex-presidente não está sendo investigado, e nem me parece que tenha sido determinada qualquer medida na investigação de hoje (ontem) — afirmou Cardozo.

Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que a nova fase da Lava- Jato é mais uma tentativa de atingir Lula, e petistas próximos ao ex-presidente a interpretam como estratégia para desgastar a imagem dele.

O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que há uma “obsessão” em criminalizar Lula.

— Ele já disse que não é dele o apartamento, que ele pretendeu e depois desistiu de comprar. Eu acho só que as pessoas têm que aguardar um pouquinho as investigações antes de colocar os carimbos. (...) Isso vale pra todo mundo, para o pessoal que é do meu lado, para a oposição. Então, ele é uma figura, evidentemente, que tem uma liderança bastante sólida no país, é uma referência, um nome superconhecido, oito anos presidente. Então, virou objeto de desejo — disse Jaques Wagner.

Líderes da oposição dizem que a operação é mais um passo no fechamento do cerco a Lula.

— O objetivo é o tríplex da família. E Lula não nasceu ontem e sabe disso. Essa investigação vai produzir consequências políticas profundas. Vai colocar sob impasse definitivo a relação de Lula com Dilma — diz o senador José Agripino Maia (DEM). (Colaboraram Eduardo Bresciani, Sérgio Roxo e Maria Lima)

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