sábado, 23 de janeiro de 2016

Celso Ming: Déficit de explicação

- O Estado de S. Paulo

A inflação continua avançando, resistente e espalhada, como nessa sexta-feira, 22, mostrou o IPCA-15. O Banco Central (BC) terá de dizer agora o que vai fazer para domá-la – se é que esse ainda é o objetivo.

Ao tomar a decisão, que contrariou disposição anterior, de manter os juros básicos (Selic) nos 14,25% ao ano, o Banco Central fez algumas apostas, todas elas centradas na hipótese de que a inflação voltará a declinar em nível, abrangência e velocidades suficientes para convergir para a meta de 4,5% ao fim de 2017.

A mais importante dessas apostas é a de que a queda das cotações das commodities e o enfraquecimento da economia global contribuirão decididamente para derrubar os preços internos. Está no comunicado divulgado após a reunião do Copom de quarta-feira que a Selic permaneceria onde estava “principalmente” pelas incertezas manifestadas pela economia externa.

Para levar a sério essa desculpa esfarrapada do Banco Central para não fazer o que avisou que faria, o que poderia contribuir para isso seria a derrubada dos preços internos dos combustíveis de modo a realinhá-los aos preços internacionais. Mas a hipótese de reduzir em – digamos – 10% os preços da gasolina e em 20% os do diesel está descartada porque a decisão do governo é não atrapalhar a recomposição do caixa da Petrobrás.

Também é improvável que a queda dos preços das demais commodities tenha força suficiente para neutralizar a inflação por aqui. De fator externo que talvez pudesse controlar a inflação sobra a queda dos preços dos produtos importados. No entanto, a alta do dólar no câmbio interno parece impedir esse efeito.

Restam portanto os fatores baixistas internos. A queda da demanda e a grande ociosidade do setor produtivo seriam os principais. No entanto, apesar do aumento do desemprego, da queda acentuada das vendas do comércio e da retração da produção, não se vê recuo da inflação.

O Banco Central poderia argumentar que isso é questão de tempo e que os juros estão suficientemente altos para produzir esse resultado, que sempre demora para chegar. Mas não dá para desprezar o sinal em sentido contrário que vem do Ministério da Fazenda, que é o de baixar novos pacotes de estímulo ao consumo.

Além disso, a política fiscal decididamente não ajuda. O equilíbrio das contas públicas neste ano é altamente precário. Baseia-se na receita de um imposto que não existe (a CPMF), cuja aprovação pelo Congresso é duvidosa – para dizer o mínimo. Além disso, a forte indexação também faz o jogo contrário.

O resumo da ópera é o de que o Banco Central avisa que não está mais disposto a usar o único instrumento de que dispõe para produzir a convergência da inflação para a meta. E se está mesmo obedecendo a instruções superiores, pode estar colocando em prática decisão de governo que é dar prioridade ao avanço do consumo e não ao combate à inflação.

De todo modo, na próxima quinta-feira, quando da divulgação da Ata do Copom, esperam-se não apenas justificativas definitivas sobre a súbita reviravolta na execução da política de juros, mas também manifestação sobre o que o BC espera da inflação “no horizonte relevante para a política monetária”.

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