sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Estamos numa mudança de época no mundo e no Brasil, e aqui na nossa circunstância isso não foi percebido. Nós entramos num novo tempo com categorias e repertório do tempo velho. Isso levou a essa sucessão de equívocos que paralisam o país. O repertório dominante nesses últimos anos de governo do PT tem sido o nacional popular, com um repertório de um tempo anterior, o qual foi introduzido a partir de 2004, esticado no mandato do presidente Lula e levado às últimas consequências no governo Dilma. Quando o governo dela terminou, olhou-se em volta e ela mesma reparou que aquele repertório estava exausto e procurou mudar a agenda e a perspectiva, mas o cavalo de pau que foi dado deixou não só o partido dela, mas a base aliada e a sociedade, perplexas. Foi uma mudança para a qual não foram dadas as razões, aliás, as únicas razões dadas foram as de que o mundo mudou e nós não.

De modo que estamos politicamente defasados, culturalmente retardados e estamos sem categorias e repertório para enfrentar as novas circunstâncias. Sair disso, a meu ver, implica que se interprete a história do país numa chave nova, que não tenha mais como foco o Estado, a sua capacidade de intervenção de provocar mudança, mas a sociedade. Então, essa foi a questão de fundo que nos trouxe a essa balbúrdia e pandemônio em que nos encontramos.

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Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997);A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012). Entrevista à revista eletrônica IHU (ler na integra no blog de ontem).

Lula afirma que não teme medo de ser preso pela PF

Não temo ser preso, diz Lula em entrevista a TV

Paula Reverbel e Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta (5), em entrevista à rede SBT, que não tem medo de ser preso em consequência das investigações de pessoas próximas a ele em duas grandes operações em curso no país, a Lava Jato e a Zelotes.

"Não temo [ser preso]. "Eu duvido que tenha alguém neste país -do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande- que diga que um dia teve alguma conversa ilícita comigo", afirmou.

Em delação premiada na Lava Jato, o lobista Fernando Soares disse ter feito um repasse de R$ 2 milhões a um amigo do petista, o pecuarista José Carlos Bumlai. Segundo o delator, Bumlai disse na ocasião que o dinheiro seria destinado a uma nora do ex-presidente. O empresário nega a versão do lobista.

Já a Operação Zelotes tem entre seus alvos um dos filhos do ex-presidente, Luis Cláudio, alvo de busca e apreensão em sua empresa. A Zelotes, que apura esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), prendeu o lobista Mauro Marcondes, sócio da Marcondes e Mautoni. E em 2014, o escritório deste lobista contratou a empresa de Luiz Cláudio por R$ 2,4 milhões.

Na entrevista, Lula riu quando o jornalista Kennedy Alencar fez perguntas sobre algumas destas denúncias. O ex-presidente disse que o Brasil vive o que chamou de "República da suspeição", em que pessoas são condenadas pela opinião pública sem necessidade de provas.

Ele foi irônico ao ser questionado se, quando presidente, nunca fora alertado sobre a corrupção na Petrobras revelada pela Lava Jato.

"Eu não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, não fui alertado pela Polícia Federal, eu não fui alertado pelo Ministério Público e eu sou o presidente que mais visitou a Petrobras", declarou. "Essas coisas você só descobre quando a quadrilha cai".

O ex-presidente disse na entrevista que o governo Dilma errou em ao menos dois momentos: ao segurar o aumento do preço da gasolina, em 2012, para evitar a disparada da inflação, e pelo volume de desonerações concedidas a empresas, o que encolheu a arrecadação.

Ele também discordou da maneira como Dilma vem tentando driblar a crise, bastante centrado na defesa da criação de impostos como a CPMF, e disse que, se estivesse no lugar dela, optaria por outro caminho, o da ampliação do crédito.

Lula ainda afirmou que seu antecessor na presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tem "problema de soberba". "O FHC sofre com o meu sucesso".

Questionado sobre uma fala de FHC, que o classificou como um político encantado pelas delícias do poder, Lula citou o escândalo da compra de votos para a emenda que permitiu a reeleição, em 1997.

"Toda vez que ele [FHC] tiver que falar de corrupção, ele tem que lembrar da reeleição de 1997. Ele tem que lembrar que o único mensalão criado, reconhecido inclusive por deputados do DEM, que disseram que receberam [dinheiro], foi o dele", argumentou.

O petista também disse estar disposto a ser candidato à presidência em 2018.

No fim do dia, no encerramento de evento em Brasília, o petista afirmou quenão irá admitir que o chamem de corrupto. "Não vou admitir que corrupto nos chame de corrupto. Todos esses que ficam nos acusando, se colocarem um dentro do outro, não chega a 10% da minha honestidade".

Lula faz pacto para poupar de CPIs filho e ex-ministros

Pacto com Cunha e Renan poupa Lula, seu filho e aliados em CPIs

• Acordo de não agressão firmado entre os aliados do ex-presidente e os dos peemedebistas barra chamados de Luís Cláudio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, Erenice Guerra e Antonio Palocci nas comissões que apuram irregularidades na Receita e no BNDES

Adriano Ceolin, Isabela Bonfim e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atuaram ontem em duas CPIs para evitar convocações de ex-assessores e do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação coordenada ocorre uma semana após Lula pedir ao PT para poupar Cunha de críticas durante a última reunião do diretório nacional, em Brasília.

Segundo fontes do Estado, a blindagem a Lula é o resultado das conversas conduzidas por ele e por outros petistas da confiança do ex-presidente com aliados de Cunha e de Renan nas últimas três semanas. Os dois grupos firmaram um pacto de não agressão que envolve interesses do PT, do PMDB e de vários políticos investigados pela Operação Lava Jato.

A senha para o armistício foi dada pelo próprio Lula na semana passada, quando o petista pediu ao PT que desse amplo direito de defesa a Cunha e aos demais alvos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O presidente da Câmara e Renan são investigados por Janot.

Com a avanço das apurações sobre o entorno do ex-presidente, ele teme que eventuais ataques do PT a Cunha possam ser alvo de revide do PMDB nas duas Casas legislativas. Lula também avalia que Cunha pode aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff para pressionar petistas a defendê-lo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

Como resultado, ontem, na comissão de inquérito do Senado que investiga irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), os governistas liderados por PT e PMDB conseguiram derrubar o requerimento de convocação do filho caçula do ex-presidente, Luís Cláudio Lula da Silva. Ele é dono de uma empresa que apareceu nas investigações da Operação Zelotes, que apura a existência de um suposto esquema criminoso no Carf.

Além do caso de Luís Cláudio, a base governista impediu as convocações dos ex-ministros Erenice Guerra e Gilberto Carvalho – ela comandou a Casa Civil no fim do segundo mandato de Lula e ele foi chefe do Gabinete Pessoal da Presidência (2003-2010) e depois ministro da Secretaria-Geral durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014).

Na Câmara, aliados de Eduardo Cunha foram fundamentais para ajudar o PT a rejeitar a convocação do ex-ministro Antonio Palocci pela CPI do BNDES. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Palocci teria movimentado R$ 216 milhões após atuar com consultor de empresas que firmaram contratos com o banco de fomento.

‘Acordão’. No dia 17 de julho deste ano, Cunha anunciou a criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão como uma resposta ao Planalto e ao PT pelas denúncias contra ele feitas pelo delator Júlio Camargo. Agora, segundo a oposição, houve um “acordão” para poupar Lula e impedir as investigações. “Hoje nós assistimos ao enterro desta CPI. O que vamos fazer aqui?”, disse a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). “O governo veio organizado para derrubar tudo”, afirmou Betinho Gomes (PSDB-MG).

O presidente da Câmara e seus aliados têm reiterado que não há nenhum tipo de acordo com Lula ou o PT. Questionado sobre a vitória do governo na CPI do BNDES, Cunha disse que não acompanhou a comissão. “Não vi o que ocorreu (na CPI), mas na Câmara o espírito não é de constranger nem ele (Lula) nem a família(dele)”, afirmou o deputado.

Em entrevista ao Estado há três semanas, Cunha disse ter se encontrado com o ex-presidente para “falar de política”. A conversa ocorreu em 18 de setembro, em Brasília. O presidente da Câmara também confirmou que sua relação com o governo melhorou após a entrada de Jaques Wagner na Casa Civil, há pouco mais de um mês.

Principal articulador do governo na CPI do BNDES, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) reconheceu que “existe um novo ambiente” na base aliada, principalmente com parlamentares do PMDB. “Aos poucos, estamos conseguindo reconstruir nossa base”, disse. “Hoje tivemos uma boa demonstração disso.”

Apesar de o governo ter tido uma relação tumultuada com o PMDB do Senado no primeiro semestre, a turbulência nunca abalou a proximidade que a cúpula do partido na Casa tem com Lula. Senadores do PMDB e o ex-presidente se reuniram diversas vezes para reclamar de medidas tomadas por Dilma. Ontem, na CPI do Carf, governistas compareceram em peso para ajudar aliados de Lula.

O senador Otto Alencar (PSD-BA)condenou em seu discurso a Polícia Federal por ter intimado o filho do ex-presidente às 23 horas, no dia do aniversário de Lula. “Estamos diante de uma oposição raivosa que quer atingir a imagem de Lula.”

A CPI ainda rejeitou a transferência dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático (mensagens eletrônicas) de Luís Cláudio, bem como de sua empresa, LFT Marketing Esportivo. Senadores da base de apoio ao governo também se posicionaram contra a convocação e quebra de sigilo de Carlos Juliano Ribeiro Nardes, sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes.

‘Não temo ser preso’, diz Lula sobre investigações

Em entrevista, o ex-presidente Lula negou ter tido conversas sobre ilícitos com empresários e disse não temer ser preso.

• Ex-presidente afirma que nunca soube de corrupção na Petrobras

Sergio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO e BRASÍLIA - Ao negar relações ilícitas com empresários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não teme ser preso. Ele declarou que, quando governou o país, nunca foi avisado que havia corruptos na Petrobras:

— Não temo ser preso porque eu duvido que tenha alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande, que diga que um dia teve conversa ilícita comigo — disse o ex-presidente, em entrevista ao “SBT Brasil”.

O ex-presidente acrescentou que tem a “consciência tranquila” e que as acusações contra ele e pessoas próximas são um “problema político”. E criticou as informações divulgadas sobre as investigações:

— Todas as instituições, que são fortes e poderosas, têm que ter muita responsabilidade. É preciso cuidar para não criar uma imagem negativa de uma pessoa. Estamos vivendo a República da suspeição.

“Eu não fui alertado” 
Ao ser indagado se não sabia do escândalo de corrupção na Petrobras, como fez em relação ao mensalão, respondeu:

— Eu não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, não fui alertado pela Polícia Federal, não fui alertado pela Receita Federal ou pelo Ministério Público. Sou o presidente que mais visitou a Petrobras. Nunca ninguém me disse que tinha algum corrupto. Essa coisa você só descobre quando a quadrilha cai ou quando alguém denuncia. Quantas coisas acontecem dentro da sua casa com seus filhos que você não sabe? — disse o ex-presidente.

Ao ser questionado se o pecuarista José Carlos Bumlai pode ter usado o seu nome para facilitar negócios, disse:

— Se ele teve situação indevida, vai ficar provado.

O petista também se queixou de informações na internet sobre o enriquecimento de seu filho Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha.

— Na internet, ele tem avião, a Torre Eiffel, a Casa Branca, todos os bois da Friboi.

Também criticou os delatores da Operação Lava-Jato:

— Nem tudo que o delator fala tem veracidade. É preciso que a gente não dê voto de confiança a um bandido e um voto de desconfiança a um inocente.

Lula ainda foi perguntado sobre os ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o acusou de apelar ao “toma lá, dá cá” quando estava no poder.

— O Fernando Henrique Cardoso, toda vez que ele tiver que falar de corrupção, tem que lembrar da (aprovação da emenda da) reeleição de 1997.

Lula discorda de criação de imposto
O ex-presidente também disse que, se estivesse no governo, seguiria um caminho diferente do escolhido pela presidente Dilma Rousseff, que optou pela criação de imposto, com a volta da CPMF, para tirar o país da crise. — Eu faria crédito. Para o petista, o governo de Dilma errou ao exagerar na desoneração de setores da economia.

Lula também participou ontem da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional em Brasília, onde afirmou que poderá voltar a concorrer em 2018, se os adversários quiserem acabar com conquistas dos governos do PT.

— Estão dando de barato que a Dilma acabou, e agora vamos acabar com Lula porque esse tal de Lula não pode voltar em 2018. Já tenho 70 anos, estou na terceira idade, mas com aparência de 35 anos. (Colaborou Simone Iglesias)

"Estarei em 2018 como cabo eleitoral ou candidato", diz Lula

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que participará da campanha à sucessão presidencial em 2018 como cabo eleitoral ou candidato. Em quase uma hora de discurso no encerramento da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, ele disse que não admitirá o impeachment da presidente Dilma Rousseff nem que "corrupto" o acuse de corrupção. Ele ainda criticou o relator do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR) que sugeriu cortes no programa Bolsa Família.

"Não estou candidato, faltam três anos para as eleições. Mas Deus queira que apareçam no nosso meio três, quatro ou cinco candidatos. Nem que eu tenha apenas um minuto de vida, se estiver concorrendo contra nós um projeto conservador, que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos, estarei na campanha como cabo eleitoral ou como candidato", avisou, à plateia estimada em mil pessoas, que respondeu com gritos de "Lula outra vez".

O ex-presidente disse que é alvo de ataques porque os adversários temem sua candidatura. "Vocês sabem que o momento em que a presidente Dilma tem vivido não é o melhor e os ataques que estou sofrendo não são à toa. Eles estão dando de barato que a Dilma acabou e agora vamos acabar com o Lula porque esse tal de Lula pode voltar em 2018".

Em um momento em que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal intensificam investigações de desvios de recursos públicos em seu entorno, tendo como alvos seu filho, Luís Cláudio Lula da Silva (na Operação Zelotes), e amigos, como o empresário José Calos Bumlai, Lula disse que é mais honesto do que qualquer um que o acusa.

"Não vou mais admitir que corrupto me chame de corrupto. Todos esses que ficam nos acusando, se colocarem um dedo no outro, não dá 10% da minha honestidade nesse país", reagiu.

Ele ironizou o acampamento de manifestantes pró-impeachment diante do Congresso Nacional. "Temos de dizer pra quem quer o impeachment da Dilma que eles têm o direito de querer ter um presidente da República, mas que aprendam a exercitar a democracia e ganhem as eleições".

O ex-presidente ainda criticou o relator do Orçamento de 2016, que sugeriu reduzir a verba do programa Bolsa Família no próximo ano em R$ 10 bilhões. "Por que essa pessoa, ao invés de cortar dos pobres, não propõe cobrar mais dos ricos, taxar as grandes fortunas?"

Durante o discurso, Lula defendeu o seu legado, citando a realização de programas voltados para a população mais pobre como Fome Zero, Bolsa Família e Luz para Todos.

Na abertura do evento, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, saiu em defesa do ex-presidente. "Querem dizer que o senhor é culpado, pois nós achamos que o senhor é culpado, mas de ter tirado o Brasil do mapa da fome, de ter criado o Bolsa Família, de ter reduzido a mortalidade infantil", afirmou.

PF investiga diretor da Oi ligado ao PT

Por André Guilherme e Graziella Valenti – Valor Econômico

SÃO PAULO - José Zunga Alves de Lima, diretor da Oi e sindicalista ligado ao PT, é alvo da Operação Lava-Jato por suspeita de tráfico de influência em 2013, no governo federal, para atender a interesses da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, envolvidas no escândalo da Petrobras. A Andrade esteve no bloco de controle da Oi desde a privatização do sistema Telebrás, em 1998, até setembro deste ano. Em investigação sigilosa, Zunga é descrito como um contato "com trânsito no alto escalão do governo". Em 2008, ele foi indicado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva como conselheiro consultivo da Anatel. Relatório de inteligência mostra o avanço das investigações sobre o que a PF considera a influência de grandes grupos empresariais na política nacional.

Diretor da Oi ligado ao PT vira alvo da Lava-Jato
O diretor da Oi e ex-sindicalista ligado ao PT, José Zunga Alves de Lima, é alvo da Operação Lava-Jato por suspeita de atuar no governo federal para atender a interesses da Andrade Gutierrez e da Odebrecht - empreiteiras investigadas por suspeitas de formação de cartel e corrupção na Petrobras.

Em investigação sigilosa da Polícia Federal (PF), Zunga é descrito como um contato "com trânsito no alto escalão do governo federal".

A PF afirma que "além de diversos contatos com autoridades em nome da Andrade Gutierrez, as quais podem ter sido beneficiadas por repasses ilícitos, dissimulados ou travestidos de doações eleitorais, chama a atenção a intermediação do contato entre Zunga e Benedicto Júnior [presidente da Odebrecht Infraestrutura]", buscando o último resolver um problema relacionado ao Consórcio Mobilidade Bahia".

Zunga é próximo do ex-presidente Lula, que o indicou ao conselho consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2008, como representante da sociedade civil. Em 2010, a Justiça Federal o afastou do conselho por ocupar cargo na Oi.

Segundo a PF, Zunga prestou assessoria à GameCorp, empresa de jogos do filho de Lula, Fábio Luis, o "Lulinha", que recebeu investimento da Oi em 2005.

A Andrade Gutierrez esteve no bloco de controle da Oi, antiga Telemar, desde a privatização do sistema Telebrás (em 1998) até setembro de 2015, quando a tele encerrou longo processo de reestruturação com a dispersão de seu controle acionário - mas ainda é acionista da operadora.

O mesmo relatório menciona também Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura. Segundo a PF, ele procurou contatar José Zunga em busca de auxílio para um "problema" relacionado a uma obra em São Paulo, pelo fato de a Andrade Gutierrez ter enfrentado dificuldade semelhante em empreendimento em Salvador - projeto do Consórcio Mobilidade Bahia, para construção de linha de metrô na capital baiana.

O consórcio é operado pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), empresa de mobilidade urbana que tem Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa em seu bloco de controle, com 20% das ações cada uma. Ao Valor, Zunga negou conhecer ou sequer ter falado com Benedicto da Silva Júnior: "Não conheço ninguém da Odebrecht", disse.

"Na Bahia? Não tenho nada a ver. Não tenho nenhuma ação lá, não interajo com governo. Não atuo em metrô. Sou muito pequenininho para ter envolvimento em negócio desse tamanho. Isso está distante do meu radar de ação, do meu mundo, do meu conhecimento, muito, muito distante."

Zunga fez carreira no sindicalismo no setor de telefonia. Hoje na Oi, o também ex-dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Distrito Federal é originário da Brasil Telecom (BrT), adquirida em 2008.

Consultada, a Oi "informa que o senhor José Zunga está contratado para prestar exclusivamente serviços para o negócio da companhia e desconhece qualquer atuação para terceiros". A nota informa que "a companhia questionou o senhor Zunga pelo fato relatado, o qual ele negou peremptoriamente". Segundo o comunicado, "a Oi desconhece qualquer investigação que relacione o senhor Zunga a qualquer irregularidade. Caso haja confirmação, investigação e eventual comprovação dos fatos relatados, a companhia tomará as providências cabíveis", diz.

A BrT foi uma concessionária com atuação no Centro-Oeste e Sul do país. Era controlada por um consórcio integrado pelos fundos de pensão de empresas estatais Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal), além do banco Opportunity (do empresário Daniel Dantas), do Citibank e da Telecom Itália. Ficou conhecida por protagonizar uma das maiores disputas corporativas do país entre seus acionistas. A aquisição da empresa pela Oi em 2008 demandou alterações na Lei Geral de Telecomunicações (LGT).

O relatório de inteligência policial mostra o avanço das investigações sobre o que a PF considera "a influência de grandes grupos empresariais na política nacional". Há destaque para o fato de as empreiteiras, segundo a PF, terem supostamente redigido memoriais ao então presidente Lula "para que este não esquecesse nenhum detalhe do que deveria ser falado a outras autoridades na defesa dos interesses da Odebrecht". Não fica claro, no documento, se isso ocorreu durante o segundo mandato de Lula ou depois de ele ter deixado o Palácio do Planalto.

Na apuração da PF sobre a suposta atuação de Zunga no governo federal, em 2013, os investigadores relatam a descoberta de outros elos entre as empresas investigadas e agentes públicos.

Entre os suspeitos está ainda Michel Sarkis, ex-executivo da Contax, empresa de teleatendimento que nasceu dentro da Oi. Hoje a empresa de telefonia não possui mais vínculo societário com a Contax - ainda controlada pela Andrade Gutierrez. A reportagem não localizou Sarkis.

Ele foi executivo da Contax de 2000 a 2012, chegando a ocupar a presidência da companhia. Sarkis é classificado como "possivelmente um operador", inclusive por meio da Contax, sustenta a PF. Procurada, Contax disse que não comentaria o caso.

A Lava-Jato observa que, apesar de ligados a empresas distintas, José Zunga e Benedicto da Silva Júnior atuavam no mesmo segmento. A PF diz que ambos trabalharam juntos "comprovadamente" em ao menos uma oportunidade. A conclusão é que eles agiam para auxiliar os dirigentes da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, "na realização dos seus projetos políticos-econômicos".

A Andrade disse que não comenta processos em andamento. A Odebrecht não respondeu até o fechamento desta edição. O Instituto Lula disse que não iria comentar "o vazamento de um suposto documento".

"Nem o papa vai me influenciar", diz juiz

Por Letícia Casado – Valor Econômico

BRASÍLIA - O juiz federal Vallisney Oliveira, que reassumiu como titular da 10ª Vara e passou a comandar a Operação Zelotes, negou ao Valor que esteja encabeçando uma operação para abafar as investigações. "Nem o papa [Francisco] vai me influenciar", disse Vallisney Oliveira na tarde de ontem em seu gabinete, em Brasília. "Não há anormalidade e nem pressão." Vallisney retornou à 10ª Vara anteontem, o que fez com que a juíza substituta Célia Ody Bernardes fosse deslocada de volta para a 21ª Vara.

Na semana passada, Célia decretou as primeiras prisões da Zelotes e autorizou busca e apreensão nas empresas de Luís Cláudio, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A decisão da juíza Célia fez barulho: causou estremecimento na relação entre Lula e a presidente Dilma Rousseff, colocou a Zelotes no foco do noticiário nacional e serviu de bandeira para a oposição no Congresso.

Coube a ela decretar os mandados porque era a responsável pelo caso no momento do pedido feito pelo Ministério Público Federal. O juiz Oliveira estava desde novembro de 2014 a serviço do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele foi convocado para atuar no STJ por seis meses, prorrogados por mais seis em maio. Essa prorrogação poderia ser feita outras duas vezes, de seis meses cada. Antes de Célia, outro juiz, Ricardo Leite, substituiu Oliveira, quase por todo o período e teve atritos com os procuradores do caso.

Oliveira é o juiz titular da Zelotes, cuja investigação começou há mais de um ano - a operação foi deflagrada em março de 2015 - e foi, portanto, o responsável por autorizar, por exemplo, quebras de sigilo fiscal e bancário. "Este processo já era meu, apenas voltei. E voltei não só para ele, para todos os outros. Voltei para a minha Vara."

O retorno de Oliveira uma semana depois da ação dos investigadores que envolveu o filho de Lula politizou a Zelotes. "Não é porque está na mídia que eu voltei. E não afastei e nem tirei ninguém de lugar algum. [A Zelotes] É uma operação antiga e com várias fases."

Ele disse ainda que não conhece políticos, nunca foi filiado a partidos e que é juiz há 23 anos, sendo seis na 10ª Vara.

Sobre o fim de sua convocação no STJ, disse: "Acabou o meu prazo e esse tipo de decisão [estender ou não o prazo] não depende só de mim. Eu sabia que retornaria em 4 de novembro caso a renovação não fosse feita."

Célia não é a substituta natural da 10ª Vara - e, por consequência, tampouco da Zelotes. As diferenças entre Leite, o juiz substituto, e os procuradores culminaram em um pedido de suspeição feito nesta semana: os procuradores querem que ele deixar de atuar na Zelotes em caso de ausência do juiz Vallisney Oliveira.

Ao Valor, Leite disse que sua imagem, e não sua capacidade técnica ou imparcialidade, está prejudicada com o episódio. A richa com os procuradores da Zelotes já existia no ano passado, afirmou, mas aumentou quando Oliveira foi para o STJ e ele assumiu a Zelotes. Segundo Leite, decisões suas - como negar pedido de quebra de sigilo - foram contra a posição do MPF e causaram discussões.

"Eu decretei a prisão [do empresário] Wagner Canhêdo [na Operação Patriota], por exemplo. Não tomo decisões com base no status social do investigado. Acho que se está tentando politizar uma divergência jurídica", disse o juiz.

Em nota, a procuradoria do Distrito Federal afirmou que o pedido de ação de suspeição foi feito com base em critérios "exclusivamente técnicos" e que o juiz Ricardo Leite é "suspeito para julgar a causa, pois perdeu sua imparcialidade".

Evento sobre corrupção causa saia justa entre PT e PSB

• Mulher de Delúbio Soares e vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque participaram de uma mesma mesa de debates sobre o tema no Rio

Constança Rezende - O Estado de S. Paulo

RIO - Um evento sobre corrupção e transparência promovido nesta quinta-feira, 5, no Rio pela Coordenação Socialista Latino-Americana (CSL) acabou em saia justa entre dirigentes do PT e PSB. Após a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, dizer que há uma tentativa de criminalizar o partido e de impedir a presidente Dilma Rousseff de governar, o vice-presidente nacional do PSB, Beto Albuquerque, afirmou que "há uma regra simples de combater a corrupção: não nomeando corruptos para dirigir empresas públicas e ministérios".

Beto Albuquerque foi o candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada no ano passado pela ex-senadora Marina Silva. Mônica Valente é mulher de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT condenado no processo do mensalão a oito anos e 11 meses de prisão, em sentença de 2012. Os dois estavam na mesa principal do evento, realizado em hotel em Copacabana, na zona sul.

No encontro, Mônica criticou os rumos das investigações da Lava Jato. "A partir das investigações da Operação Lava Jato, bandidos confessos vinculados a diversos partidos, inclusive da oposição, que agiam impunemente há décadas, hoje negociam depoimentos em troca de benefícios e não apresentam provas do que dizem", afirmou.

Em entrevista ao Estado após o evento, Albuquerque disse que Mônica fez um discurso de louvação ao PT, que não age como um partido de esquerda. Ele culpou o PT pelo conservadorismo no Congresso Nacional.

"A pauta conservadora do Congresso tem uma boa dose de culpa do governo do PT, que se enfraqueceu e esqueceu de fazer as coisas", disse.

Para o dirigente do PSB, "o PT está pagando um preço muito alto pelas mentiras de 2014". "Ele fez tudo ao contrário do que falou e pagou por ter se envolvido com gente não confiável, que já mostrou na história da república os malfeitos e por permitir que (o senador Fernando) Collor de Mello (PTB) tivesse dois diretores da Petrobrás. Quando se dá chance para o azar, ele pega. E pegou", afirmou.
Albuquerque avisou que o PSB terá candidato nas próximas eleições presidenciais e não descartou seu nome. "Se couber a mim essa tarefa, não tenho nenhum problema em assumir e iniciar do zero a caminhada do PSB, para não ficar refém dessa velha polarização PSDB e PT", disse.

Mônica procurou defender seu partido das declarações do representante do PSB no evento. "As empresas investigadas que fizeram contribuições ao PT - todas elas registradas, conforme a lei - doaram recursos semelhantes e até maiores ao PSDB e aos seus candidatos. Fizeram obras e assinaram contratos com governos estaduais tucanos. Os mesmos criminosos que tentaram incriminar o PT apontaram o dedo para o PSDB, mas, para os cabeças da operação, isso não vem ao caso. O alvo é o PT, apenas o PT", disse ela, para quem, "numa terceira frente, nossos adversários valem-se de um conluio entre a mídia e setores partidarizados do Ministério Público para tentar atingir o ex-presidente Lula".

Segundo a dirigente petista, "Lula tornou-se alvo de uma farsa extrajudicial, que visa a apontá-lo falsamente como suspeito de crimes que jamais foram praticados" e, "numa odiosa inversão de valores, Lula está sendo perseguido por ter trabalhado - como nenhum outro presidente - para ampliar a presença do Brasil e das empresas brasileiras ao redor do mundo".

Picciani vira opção de Dilma na Câmara

• Líder do PMDB já é visto como alternativa para encabeçar uma chapa com o PT caso denúncias inviabilizem permanência de Cunha no cargo

Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na semana em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sofreu outro revés com a divulgação de que contas secretas atribuídas a ele foram bloqueadas na Suíça, o Palácio do Planalto passou a avaliar a hipótese de interrupção do mandato do peemedebista. Em razão das suspeitas e acusações que envolvem Cunha no âmbito da Operação Lava Jato, o governo já acredita na possibilidade de PMDB e PT formarem uma chapa para suceder o deputado fluminense.

No desenho do Planalto, essa composição seria encabeçada por Leonardo Picciani (PMDB-RJ) caso o presidente da Câmara não tenha mais condições de concluir seu mandato de dois anos. A ideia do governo é apoiar uma chapa liderada por um peemedebista não hostil e evitar repetir a derrota para Cunha - que passou a atuar na Casa contra os interesses da gestão Dilma.

Eleito líder do PMDB com apoio do presidente da Câmara, Picciani tem se distanciado de seu correligionário e se aproximado do governo, movimento que se aprofundou durante as negociações para a reforma ministerial anunciada pela presidente Dilma Rousseff na sexta-feira. Apesar de não se dizer governista e negar o afastamento de Cunha, sua movimentação em direção ao Planalto rendeu dois ministérios à bancada do partido na Câmara.

Coube a ele, como líder, indicar os novos ministros da Saúde e da Ciência e Tecnologia.

Picciani afirma não haver qualquer discussão envolvendo a sucessão de Cunha, até porque diz acreditar em sua inocência. Mas afirma que tentar a presidência é um “caminho natural”, mesmo que somente em 2017, quando haverá nova disputa pelo comando da Câmara. “Não é o momento de se falar em candidatura (a presidente da Câmara). Isso vai acontecer com o tempo, naturalmente”, disse Picciani.

Prova. Para o plano governista seguir adiante, porém, avalia-se que ainda falta uma prova inequívoca de crimes supostamente cometidos por Cunha.

“Todo brasileiro tem direito de se defender, ao princípio do contraditório e à presunção de inocência. Tem que ser dada a qualquer um a chance de defesa”, disse o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), em consonância com o discurso da maioria dos líderes ouvidos pela reportagem.

Enquanto a tal prova não aparece, seus aliados e a oposição devem manter o apoio ao presidente da Câmara. Ao seu grupo político, formado por integrantes de diversos partidos e a bancada suprapartidária de evangélicos, ruralistas e da segurança pública, interessa a aliança para manter o avanço de sua agenda na Câmara.

À oposição, a aliança se deve principalmente em razão do processo de impeachment que cabe a Cunha dar seguimento. Pelo roteiro planejado, o peemedebista deve negar o pedido de impedimento da presidente protocolado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior e a oposição apresentará um recurso em plenário. Se houver maioria a favor, o processo será instaurado. Na quinta-feira passada, ele prometeu apreciar todos os requerimentos em “10 ou 15 dias”.

Etapas. Além da prova concreta contra Cunha, Picciani também precisa, segundo interlocutores, avançar mais. Para um deputado do PMDB próximo a Picciani e Cunha, o líder peemedebista está “construindo etapas”. A primeira é sua recondução à liderança em 2016, o que o credenciaria a um projeto maior.

Mas interlocutores de Cunha dizem que Picciani ainda terá alguns obstáculos. O primeiro é administrar uma divisão na bancada, evidenciada na última semana, quando 22 dos 66 deputados peemedebistas foram a público externar posição contrária à ocupação de ministérios pelo partido.
Além de resolver questões internas, enfrentará outras situações externas. Os mesmos interlocutores apontam para a necessidade de Picciani contornar a insatisfação de membros do bloco de 150 deputados formado por PMDB, PP, PTB, PSC, PHS e PEN. Nas bancadas desses partidos, fala-se em destituir o peemedebista da liderança do bloco por causa de sua postura de “só dizer amém ao governo”, segundo um dos líderes do grupo.

“Ele se fortaleceu diante da bancada. Na Casa, é um segundo momento”, disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).

Vice-líder do governo, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) diz não ser momento de preocupação do Planalto com a sucessão de Cunha. “Considero precipitado qualquer movimento de discussão de sucessão. Pode atrapalhar o principal objetivo, que é construir sua base”, afirmou.

Cunha entra em embate com Picciani

Em represália a Picciani, Cunha articula sucessão de líder do PMDB

• Presidente da Câmara se irritou com movimentação do líder do partido para sucedê-lo na Casa

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), irritado com a movimentação do líder do PMDB, Leonardo Piccini (RJ) que já está trabalhando pela sua sucessão no comando do Legislativo, começou a articular a derrubada do deputado peemedebista da liderança da sigla. Na noite de quarta-feira, depois de saber do encontro de Picciani com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, Eduardo Cunha foi ao Palácio do Jaburu, se queixar ao vice-presidente Michel Temer e a outras lideranças do partido.

Embora não esteja ameaçando, neste momento com a liberação do processo de impeachment da presidente Dilma, Eduardo Cunha avisou também que não vai facilitar a vida do governo nas votações que estão para acontecer e que são consideradas fundamentais para o governo garantir o ajuste fiscal, como a DRU e o projeto de repatriação. O Planalto tem grande interesse na aprovação desses dois projetos por considerá-los fundamentais para dar um sinal positivo para o mercado de que conseguiu recompor sua base no Congresso. Só que na quarta-feira, não conseguiu mostrar esta força, antes mesmo das novas promessas de retaliação de Cunha, pelo aceno que está fazendo a Picciani.

"Se ele está trabalhando pela sucessão no comando da Câmara, cargo que não está vago e que só irá desocupar em 2017, é porque não quer permanecer na liderança do partido", desabafou Eduardo Cunha a Temer e aos companheiros de partido. " Então, precisamos começar a tratar da sucessão da liderança dele", emendou Cunha, que lembrou que Picciani está em contato com PP e PR, entre outros partidos da base aliada, para articular esta sucessão no comando da Câmara.

A desculpa oficial para que Dilma atendesse Picciani e seu pai, o presidente da Assembleia do Rio, Jorge Picciani, foi que eles pedem a antecipação de recursos dos royalties de petróleo, recursos que consideram fundamentais para atender os municípios do Rio, em ano pré-eleitoral. Mas Cunha e os caciques do PMDB sabem que Picciani está tentando, na verdade, se projetar nacionalmente e se cacifar para sucedê-lo na Presidência da Câmara. Para conseguir apoio de seus correligionários e garantir votos para a sucessão de Cunha está usando os cargos do Ministério da Saúde, não só em Brasília, como em todo o País, onde emplacou Marcelo Castro.

O que mais irritou Cunha foi saber que a presidente Dilma e outros ministros teriam manifestado preferência por Picciani na sucessão da Presidência da Câmara e demonstrado que farão uma espécie de vista grossa a essa mobilização, já que o Planalto não quer e não pode se envolver diretamente nesta questão. Além disso, o Planalto sabe que uma discussão sobre sucessão na Câmara, neste momento, pode ajudar a complicar a já conturbada relação com Cunha, que em vários momentos ameaça desencadear o processo de impeachment contra a presidente Dilma.

Cunha e Picciani, que antes eram próximos, se afastaram definitivamente depois que o líder peemedebista começou as articulações para sucedê-lo e começou a procurar o governo para se apresentar como um dos articuladores da legenda. Ao mesmo tempo, Picciani procurou o vice-presidente tentando uma reaproximação, tendo em busca o futuro, que defende que poderia conduzi-lo à presidência da Câmara.

Irritado, Cunha defende saída de Picciani da liderança do PMDB

• ‘Se o Planalto prefere meu nome, não tenho o que fazer’, diz líder

Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- Irritado com a articulação do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para deflagrar o movimento para sucedê-lo — o que fragiliza sua posição política — o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu trabalhar para substitui-lo na liderança do PMDB. Em conversa na noite de quarta-feira, no Palácio do Jaburu, com o vice-presidente Michel Temer e outros peemedebistas, Cunha defendeu a escolha de um outro deputado para o lugar de Picciani.

— Se ele está disposto a discutir outro cargo, não quer ficar na liderança, está na hora de pensarmos em um substituto para a liderança do PMDB — disse Cunha, segundo um interlocutor.

Na Câmara, Cunha reagiu com ironia às articulações. Ao ser questionado sobre conversas tidas por Jorge Picciani, pai do líder, na véspera com a presidente Dilma Rousseff, o ministro Ricardo Berzoini (Governo) e o assessor especial Giles Azevedo, reveladas pelo GLOBO, Cunha disse que Picciani deve aguardar.

— Em 2017, ele que se candidate — alfinetou Cunha.

Picciani negou que esteja tratando da sucessão e diz que estão tentando intrigá-lo com Cunha, o que reafirmou pessoalmente ao próprio presidente:

— Se o Planalto prefere meu nome, não tenho o que fazer. É uma avaliação deles. Eu não trato desse tema, não há como discutir sucessão de cargo que não está vago. É uma tentativa de fazer intriga com Cunha. Alguns, por razões torpes tentam fazer isso em desfavor do presidente.

Secretário de Paes cotado para 2016 assume agressão à ex-mulher

• Pedro Paulo convoca a imprensa para pedir desculpas a Alexandra Marcondes em caso que envolve violência e traição

Clarissa Thomé - O Estado de S. Paulo

RIO - Secretário de Coordenação do Governo do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), Pedro Paulo Carvalho admitiu ontem ter agredido a ex-mulher Alexandra Mendes Marcondes, quando ainda eram casados, em 2010. Pedro Paulo, nome preferido por Paes para disputar pelo PMDB a prefeitura do Rio em 2016, pediu desculpas e atribuiu o caso a um “descontrole” do casal.

“Essa semana, ela esteve de forma espontânea no Ministério Público fazendo um depoimento de que deseja, que é o desejo da nossa família, que esse episódio seja arquivado como foi arquivado no âmbito da Vara de Família. A partir dessa manifestação, achei que era de bom tom fazer esse depoimento, pedir desculpas publicamente. Não nego o erro que cometi”, afirmou o secretário, em entrevista coletiva na prefeitura, depois de encontro com representantes de camelôs.

Pedro Paulo evitou comentar se o episódio poderá afetar a campanha à sucessão do prefeito Eduardo Paes, seu amigo pessoal. “Não vou fazer dessa discussão uma discussão eleitoral. Se os adversários, se os partidos quiserem discutir isso, vamos fazer o enfrentamento no momento adequado”, disse.

A agressão ocorreu em fevereiro de 2010. Em depoimento à Polícia Civil, na ocasião, Alexandra disse que voltou mais cedo de uma viagem e encontrou roupas íntimas femininas em seu apartamento. Ao confrontar o marido, relatou ter sido derrubada no chão e agredida com chutes, socos e empurrões. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que ela teve um dente quebrado. 

Outro laudo informa que Pedro Paulo sofreu arranhões e tinha marcas avermelhadas. Ele não quis dar sua versão da briga. “Eu não vou fazer daqui uma discussão pericial. O laudo que ela teve e o que eu tive. Isso está nos autos. É um episódio superado. Muitas vezes acontecem nos lares desentendimentos e erros.

Não vou fazer aqui uma discussão se ela me agrediu, se eu me defendi. Não cabe aqui dizer o que aconteceu, qual foi o nível desse descontrole.”

Lei Maria da Penha. Para Pedro Paulo, o caso não se enquadraria na Lei Maria da Penha, que pune a violência doméstica, porque foi um “episódio isolado”. “Eu cometi um erro, traí a minha mulher. Imagina o calor dessa discussão. Associar isso à violência doméstica repetitiva, de um comportamento violento, eu não admito.”

Pedro Paulo diz que episódio com ex-mulher foi uma briga de casal

• Alexandra afirmou ao Ministério Público que houve ‘agressões recíprocas’

Giselle Ouchana e Alessandra Duarte - O Globo

O secretário de Governo do Rio, Pedro Paulo, pré-candidato do PMDB à prefeitura em 2016, disse ontem que o episódio com sua ex-mulher, em 2000, tratou-se de uma briga do casal. Ele classificou o episódio como um momento de “descontrole” diante de uma traição descoberta por Alexandra Marcondes Teixeira.

— Foi um episódio familiar, de descontrole nosso, um momento difícil da nossa separação, em que nos descontrolamos e chegamos a ter alguma agressão — disse, ressaltando que ela esteve no Ministério Público e pediu que o caso fosse arquivado. — A partir desse depoimento dela, achei que era de bom-tom pedir desculpas publicamente. Não nego o erro que cometi.

Na terça-feira, Alexandra confirmou ao Ministério Público ter sido agredida por ele em 2010, mas disse que o que houve foram “agressões recíprocas”. Advogado de Alexandra, Paulo César Fabra Siqueira afirmou ao GLOBO que a declaração dada agora ao MP “prevalece” sobre qualquer outra.

Em 2010, à Polícia Civil, ela disse ter sido agredida por Pedro Paulo com socos e chutes. O inquérito está com o procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira, que poderá arquivar o caso ou enviá-lo à Procuradoria-Geral da República, pois Pedro Paulo, deputado federal licenciado, tem foro privilegiado.

No último dia 16, a assessoria de Pedro Paulo enviou ao GLOBO documento que teria sido assinado por Alexandra e no qual ela afirma que suas acusações não passaram de “invenções”. No dia 23, Fabra Siqueira afirmara, segundo a “Folha de S.Paulo”, que sua cliente declarava “nunca ter assinado documento com esse teor”. Ontem, no entanto, ele disse ao GLOBO que não poderia falar sobre esse documento:

— Não vi (o documento), não posso dizer se é verídico ou não. O que acompanhei foi a ida dela ao MP, em que ela disse não desejar desdobramento do caso.

Segundo o advogado, ao MP sua cliente não comparou a agressão sofrida por ela com a sofrida por Pedro Paulo. Siqueira também disse não ter visto os laudos de 2010 do Instituto Médico-Legal — que apontaram que Pedro Paulo tinha esfoliações provocadas por unhas, Alexandra tinha equimoses e escoriações em diversas partes, como rosto, pescoço, braço e perna, além de “edema traumático” na mão esquerda.

Sobre o entendimento de que o Ministério Público pode agir, o advogado de Alexandra disse ser uma tese “possível”. Perguntado se o caso se enquadrava na Lei Maria da Penha, disse: “não sei”.

Já ao ser perguntado se a projeção de Pedro Paulo não constrangeria Alexandra, Siqueira disse que não:
— A projeção política do Pedro Paulo é do Pedro Paulo, não dela.

Pedro Paulo disse que não faria do caso uma “discussão de eleição”. O “descontrole”, para ele, não se enquadraria na Lei Maria da Penha por ter sido episódio único:

— Associar isso a ato de violência doméstica, continuado, de comportamento violento, em hipótese alguma posso admitir, porque não é a minha atitude.

O MP não se pronunciou. (Colaborou Maria Elisa Alves)

Norte e Nordeste desaceleram e deixam de "segurar" queda do PIB

Por Tainara Machado e Eduardo Campos - Valor Econômico

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Após anos com crescimento superior à media nacional, o Norte e o Nordeste deixaram de impulsionar a economia brasileira e apresentam retração da atividade em linha com o restante do país, segundo dados divulgados pelo Banco Central no Boletim Regional.
Enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 1,4% no trimestre encerrado em agosto, na comparação com o período terminado em maio, feitos os ajustes sazonais, a economia do Norte teve contração de 1,5% e a do Nordeste, de 0,9%, na mesma comparação. No ano passado, o IBC-Br caiu 0,2%, mas essas duas regiões apresentaram avanço ainda superior a 2%, de certa forma "imunes" a desaceleração da economia, já visível no ano passado.

Concentrada no Sudeste em 2014, a recessão se disseminou pelas demais regiões neste ano, com desempenho ruim tanto da indústria quanto do comércio. No Sul, por exemplo, o índice de atividade econômica desacelerou de uma alta de 0,9% em 2014 para queda de 0,1% até maio e contração de 2,8% nos três meses encerrados em agosto. No Sudeste, o IBC-SE encolheu 0,8% no trimestre encerrado em agosto, melhora em relação à queda de 1,3% vista até maio.

A economia que vem, de certa forma, se sustentando melhor é a do Centro-Oeste, que apoiada no agronegócio teve a menor contração entre as cinco regiões pesquisadas, com queda de 0,6% até agosto, ante retração de 0,7% nos três meses encerrados em maio.

O Banco Central agrega informações sobre a produção industrial, varejo, serviços e criação de empregos, entre outros indicadores, para compor o quadro de atividade regional. Para a autoridade monetária, a recessão atual reflete especialmente os impactos do patamar reduzido da confiança dos agentes econômicos, intensificados pelos efeitos de eventos não econômicos, além dos desdobramentos do processo de ajuste da economia do país. Dentro desse contexto, diz, "as economias regionais repercutiram com intensidades distintas os impactos do atual ciclo, conforme características estruturais próprias".

No Nordeste, a redução do comércio e da produção industrial teve desdobramentos sobre o mercado de trabalho, com saldo negativo de 42,9 mil vagas formais até agosto, ante criação de 48,9 mil postos de trabalho em igual período de 2014.

Para Paulo Neves, economista da LCA Consultores, a redução da renda disponível no Nordeste teve efeito direto sobre a desaceleração da economia local. Para ele, a região foi bastante afetada pelo realinhamento de preços, com aumento das tarifas de energia, e pelo aumento do desemprego, o que se refletiu sobre as vendas no varejo, que caíram 3,7% no trimestre encerrado em agosto.

Já o Norte sofre com os efeitos do arrefecimento da atividade no polo industrial de Manaus, segundo o BC. A região teve queda de 2,7% da produção industrial, acima da média nacional (-2,3%).

Segundo o BC, a retração da indústria abrange todas as regiões, exceto o Centro-Oeste, onde o aumento da atividade nas fábricas foi favorecido pelo desempenho da indústria alimentícia. A região também registrou o menor corte de empregos formais (5,3 mil) no trimestre, resultado favorecido pela criação de vagas na agropecuária. Para Neves, já no ano que vem a economia da região deve se estabilizar, diante da perspectiva de ganhos na balança comercial com a desvalorização do câmbio.

Reajustes encolhem, mas dissídios também

Por Camilla Veras Mota – Valor Econômico

SÃO PAULO - A paralisação dos petroleiros, que tem ganhado proporções desde domingo, vai na contramão da dinâmica das campanhas salariais observadas neste ano. Mesmo diante da piora das condições da economia, os Tribunais Regionais do Trabalho estão recebendo menos dissídios coletivos, inclusive de greve, quando observado o movimento do ano passado. As categorias com data-base no segundo semestre, muitas tradicionalmente bem organizadas do ponto de vista sindical, têm fechado com muito custo reajustes que cobrem pelo menos a inflação acumulada - pagos, muitas vezes, em mais de uma parcela.

Seis dos principais TRTs do país receberam pelo menos até setembro 521 dissídios coletivos, volume inferior ao acumulado no mesmo período do ano passado, 539. Com exceção de São Paulo e Minas Gerais, as regiões do Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina e Campinas não autuaram mais dissídios do que em 2014.

"É mais difícil fazer greve e paralisação quando o emprego está em risco", afirma o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina, José Álvaro Cardoso. Apesar da ponderação, o economista se disse surpreso com o balanço do TRT do Estado, já que o Dieese orienta, esgotadas as possibilidades na mesa de negociação, que os trabalhadores levem as campanhas a dissídio. Os tribunais do trabalho, via de regra, garantem pelo menos os índices de inflação.

José Silvestre Prado, coordenador de relações sindicais do Dieese, ressalta que os sindicatos seguem brigando pelos aumentos. O esforço, contudo, se divide com as discussões para garantir o emprego, já que, em muitos setores, as dispensas superam as contratações.

Além do volume menor de reajustes com ganho real, tendência que já aparece no balanço das campanhas do primeiro semestre, devem crescer neste ano os casos de parcelamento, quando o aumento é pago em partes, e de escalonamento, quando os percentuais variam entre as faixas salariais. Em 2003, ano também adverso para o mercado de trabalho, essas modalidades apareceram em 30% das negociações, diz Prado.

Algumas das grandes categorias com data-base no segundo semestre, que somaram ganhos reais expressivos nos últimos anos, têm conseguido negociar pelo menos os índices de inflação, mas não sem alguma dificuldade. Após 21 dias de greve, os bancários aceitaram no último dia 26 proposta de 10% feita pela Febraban.

Com data-base em novembro, os metalúrgicos da Força Sindical em São Paulo, cerca de 250 mil apenas na capital, fecharam acordo em apenas 1 dos 8 grupos que a central representa - o único cuja entidade patronal acenou com percentual que cobrisse pelo menos a inflação. A campanha dos metalúrgicos representados pela federação da CUT, a FEM, também continua para alguns grupos. As negociações já fechadas garantiram o INPC de 9,88% até setembro, mês da data-base. Para muitos trabalhadores, entretanto, ele será pago em duas vezes.

Os químicos de São Paulo, categoria que conta 165 mil trabalhadores no Estado, fecharam acordo que garantiu a inflação acumulada até outubro - pouco mais de 10% - em apenas uma rodada, algo atípico, afirma Sergio Luiz Leite, presidente da Fequimfar. "Acho que os trabalhadores não quiseram correr o risco de entrar em uma greve longa", pondera. Nos últimos dez anos, as convenções coletivas registraram ganhos reais entre 1,5 e 2 pontos percentuais.

A categoria comemorou o pagamento do reajuste integral, diz o sindicalista. Os trabalhadores do setor sucroalcooleiro, também representados pela Fequimfar, negociaram em maio o INPC de 8,34%, pago em "duas ou em até três vezes", a depender da empresa.

Garantido o pagamento "extra" de R$ 2 mil no cartão alimentação e manutenção de benefícios, os funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aceitaram em setembro reajuste de 6%, inferior à inflação de 9,9% acumulado no período. Na base dos metalúrgicos do Sul Fluminense, o acordo ainda foi melhor do que o fechado entre algumas montadoras: reajuste zero, com compensação via abono e PLR. "A gente abriu mão de algumas coisas para garantir o emprego", diz Bartolomeu Citeli, diretor de comunicação da entidade.

Os casos não são isolados. A mediana dos reajustes registrados no Ministério do Trabalho mostram que os acordos não têm ganhos reais há três meses. O levantamento é feito pela plataforma salarios.org.br, que acompanha as negociações mês a mês.

O desembargador Rafael Pugliese, do TRT de São Paulo, relata ter se deparado com um número crescente de reajustes escalonados na seção de dissídios coletivos - que continua, segundo ele, usando a inflação como parâmetro para estabelecer os reajustes quando não há acordo entre as partes, mesmo com a escalada nos índices de preços. O tribunal está entre os poucos que receberam número superior de ações em relação a 2014.

Centrais sindicais vão se reunir para discutir propostas para enfrentar a crise econômica

Por Renata Batista e Robson Sales – Valor Econômico

RIO - As seis centrais sindicais reconhecidas, incluindo Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical, realizarão plenária conjunta na segunda-feira para discutir uma proposta de saída para a crise econômica. É a primeira vez que isso acontece e, de acordo com Clemente Ganz Lúcio, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a principal preocupação é o impacto da Operação Lava-Jato sobre empresas e emprego.

Segundo o economista, ainda "falta institucionalidade "aos órgãos envolvidos nas investigações de corrupção no Brasil para lidar com instrumentos como os acordos de leniência, o que coloca em risco mais empregos. Por isso, embora haja preocupação com a situação de toda a indústria, as centrais devem dar prioridade aos setores de petróleo e gás, naval e construção civil.

"A ideia é atuar em duas frentes: na mobilização dos trabalhadores e na construção de acordos com o empresariado. A percepção das centrais é que não temos chances se não construirmos uma aliança mais ampla", disse Ganz Lúcio, que participou de debate sobre novas e velhas políticas industriais e de inovação, durante o seminário Desenvolvimento Produtivo e Inovativo, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Para o economista, o movimento sindical errou nos últimos anos ao não colocar na pauta de discussão com o governo e o empresariado a necessidade de uma política industrial que permitisse ao país ingressar na nova fase da indústria, marcada pela inovação. Empresários e trabalhadores se acostumaram, segundo ele, a buscar soluções junto ao governo. "Uma estratégia de desenvolvimento industrial não pode ser a soma das nossas demandas corporativas e empresariais", disse.

"Esperamos que essa possibilidade de aliança possa encontrar no governo ambiente para construir uma política. Precisamos avançar na cultura política de pactuação e construção de acordos. Há resistência no setor sindical, mas a maior resistência ainda é no setor patronal", afirmou Ganz Lúcio.

Outros participantes do seminário manifestaram preocupação com os efeitos da Lava-Jato sobre a política industrial. O economista José Eduardo Cassiolato, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), criticou o que chamou de "criminalização" do esforço de internacionalização de empresas brasileiras.

David Kupfer, também economista da UFRJ, avalia que falta legitimidade, no atual momento do país, para que o setor industrial tenha qualquer tipo de ativismo. "Estamos em um momento muito difícil, com uma política macro hostil e uma política industrial inexistente. A política industrial brasileira está destroçada. Nenhuma decisão é capaz de se legitimar", disse.

Inflação no ano chega a 8,52%, a mais alta desde 1996

• Combustíveis foram o principal responsável pela alta de 0,82% do IPCA em outubro, diz IBGE

Por Andrea Freitas – O Globo

RIO - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,82% em outubro, acelerando frente ao 0,54% registrado em setembro, quando ficou em 0,54%. É a maior taxa para meses de outubro desde 2002 (1,31%). O resultado divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE também ficou acima do 0,42% registrado no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, chegou a 9,93%, o mais alto desde 2003. E, no ano, soma 8,52%, o maior patamar desde 1996, quando o índice ficou em 8,70%.

— O resultado geral do Brasil em 12 meses quase encostou nos dois dígitos, foi por um triz. Olhando individualmente os estados, cinco deles já ultrapassaram os 10% e a população está sendo mais penalizada pela inflação — diz Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Segundo ela, o índice chega a dois dígitos até o fim do ano:

— O que ainda se espera por vir, para novembro, são altas em alguns itens monitorados, e o que mais tem impacto é o da energia elétrica. Os dois dígitos já estão muito próximos e vai depender do resultado dos dois últimos meses, que no ano passado foram muito altos. Que números serão trocados pelos do ano passado?

O resultado de outubro ficou acima das expectativas. O Bradesco, por exemplo, esperava avanço de 0,80%, puxado pela elevação dos preços de alimentação e pelo reajuste dos combustíveis.

— Em setembro do ano passado, taxa chegou a 6%, em julho chegou a 9% e parece que está gostando, porque é o quarto mês que está nessa casa. E está namorando com 10% — afirma Eulina.

Os combustíveis foram o principal responsável pela alta de 0,82% do IPCA em outubro, com um impacto de 0,30 ponto percentual, sendo responsável por 37% do índice. A gasolina subiu em média 5,5%, com impacto de 0,19 ponto percentual na taxa. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada é de 17,93%.

— Faltam só dois meses para terminar o ano e o resultado está aí, o IPCA ficou em 0,82% e foi dominado pelos transportes que é o segundo grupo de maior peso logo depois dos alimentos. É a sobrevivência, a alimentação e o transporte para trabalho escola — explica a coordenadora do IBGE.

O etanol subiu ainda mais: 12,29%, mas como tem participação menor no orçamento familiar, contribuiu com 0,10 ponto percentual. O diesel registrou alta de 0,15%, com elevação de 3,26% nos preços.

O reajuste do preços dos combustíveis fez o segmento transportes ter o maior resultado de grupo em outubro, com alta de 1,72%. Passagens aéreas (4,01%), pneu (0,94%), ônibus intermunicipal (0,84%), conserto de automóvel (0,69%) e acessórios e peças (0,46%) também puxaram o resultado para cima.

Alimentação
O grupo alimentação e bebidas registrou a segunda maior alta no IPCA de outubro, com 0,77%. Enquanto Belém registrou a maior variação, de 1,61%, o Rio de Janeiro teve a menor, de 0,28%. A alimentação fora de casa variou 0,93%, acima dos alimentos consumidos em domicílio, com 0,68%. Assim, nos últimos 12 meses, esse grupo acumula elevação de 10,39%.

No mês, a maior alta em alimentos foi do frango inteiro, que acelerou de 1,45% em setembro para 5,98% em outubro. Em 12 meses, a elevação já chega a 9,33%. O açúcar subiu 4,43% e o alho, 4,12% no ano, sendo que este último acumula elevação de 41,83%, A cerveja registrou alta de 4,06% no mês, enquanto o arroz subiu 3,77%.

— No geral, a gente tem pressão do câmbio, das chuvas e da exportação, porque com o dólar mais alto as commodities ficam mais caras aqui e estimula as exportações — comenta Eulina.

No grupo habitação, que variou 0,75%, o botijão de gás foi o destaque, com alta de 3,27% mesmo após ter subido 12,98% em setembro. Em dois meses, a elevação é de 16,67% devido ao reajuste de 15%nas refinarias autorizado pela Petrobras a partir de 1 de setembro.

— Quando a gente olha em 12 meses, habitação lidera com 18,25% seguido por alimentação com 10,39%. Os dois respondem juntos por 53,07% do resultado em 12 meses — explica a gerente.

Energia elétrica
Já a energia elétrica, que também compõe o grupo habitação, registrou alta de 0,87%, seguida por mão de obra para pequenos reparos (0,58%), aluguel (0,57%) e artigos de limpeza (0,41%).

Nos demais grupos pesquisados pelo IBGE, os destaques de alta ficaram com excursão (2,70%), plano de saúde (1,06%), empregado doméstico (1,30%), telefone fixo (0,86%) e celular (0,50%).

Das 13 regiões analisadas pelo IBGE, seis registraram variação em outubro acima da média nacional de 0,82%. A mais alta ficou com Brasília (1,24%). O Rio de Janeiro registrou a menor taxa, de 0,49%. No acumulado em 12 meses, cinco locais já superam os dois dígitos, sendo que Curitiba (11,52%) e Goiânia (11,19%) passaram da casa dos 11%. Em São Paulo, o IPCA nesse período é de 10,4%, enquanto no Rio é de 9,90%.

Eulina explica que a situação no país hoje é bem diferente da de 1996, único ano em que a inflação entre janeiro e outubro ficou acima da deste ano:

— Ainda existia processo de desindexação, era muito perto do início do Plano Real. Não tem comparação, são contextos muito distintos. Este ano são índices monitorados, que não têm como ser substituídos, o que se pode fazer é economizar. A pressão agora é de energia, alimentos e combustíveis.

INPC
Segundo Eulina, em 12 meses, o INPC passou dos dois dígitos este mês, chegando a 10,33%. Isso significa, afirma ela, que a população de renda mais baixa que tem os alimentos com maior participação está sofrendo mais.

— O gás de cozinha também pesou muito, por causa do botijão, assim como alimentos, transportes e energia.Os alimentos pesam 30,31% no INPC enquanto no IPCA o peso é de 24,92%.

Prévia
O IPCA-15 de outubro, considerado a prévia da inflação oficial, ficou em 0,66% — a maior taxa para o mês desde 2002, quando ficou em 0,90%. A taxa acumulada de janeiro a outubro, de 8,49%, foi a mais alta para o período desde 2003 (9,17%). Já a inflação acumulada nos últimos 12 meses, de 9,77%, foi a maior já registrada desde dezembro de 2003 (9,86%).

A meta de inflação do governo é de 4,5%, podendo variar dois pontos para cima ou para baixo. Mas economistas ouvidos pela pesquisa Focus realizada semanalmente pelo Banco Central acreditam que o índice de preços só vai voltar ao centro da meta após 2018. A expectativa, de acordo com a sondagem divulgada na última segunda-feira, é que 2015 termine com uma inflação de 9,81%. Em 2016, o IPCA ficaria um pouco acima do teto, em 6,58%, e encerraria 2017, em 5,16%. Em 2018, a taxa seria de 4,90%.

Fernando Gabeira - Memórias da salvação

- O Estado de S. Paulo

Outro dia, escrevendo sobre o comício das diretas em Caruaru, lembrei-me de que no palanque estavam Collor e Lula, entre outros. Naquele momento não poderia prever ainda a importância que ambos teriam no processo democrático. Collor, o caçador de marajás, preparava sua cruzada contra a corrupção. Lula, encarnando a esquerda, falava de ética na política. Ambos os projetos, destinados a combater a corrupção, foram tragados por ela, sem distinção ideológica.

Leio no New York Times que dois políticos do Estado de Albany serão julgados nos próximos dias: Dean Skelos e Sheldon Silver. As acusações soam familiares: enriquecimento ilícito, propinas mascaradas em doações legais, parentes envolvidos. A matéria diz que a cultura da corrupção em Albany será julgada com os dois políticos. Acredito que sim, mas acho difícil suprimir uma cultura apenas com um veredicto.

Albany ainda tem uma pressão corretiva nacional. No caso brasileiro, não se trata apenas da cultura de um Estado da Federação: é de todo um país.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu administrar a corrupção em seu governo, no sentido de que não evitou os escândalos; mas realizou seus objetivos. Ele próprio, porém, admite um problema sistêmico, a julgar pela sugestão que fez a Dilma e Lula numa viagem à África do Sul. Argumentando com a rejeição popular ao processo político tradicional, propôs uma urgente mudança.

Hoje, confrontados com todo o material que a Operação Lava Jato e outras investigações revelaram, estamos diante de uma situação singular: corrupção alarmante e grave crise econômica.

Diante da inflação e do desemprego crescente, que afetam todos nós, os políticos responsáveis acham que é preciso conversar, buscar uma saída antes que tudo seja engolfado por uma crise social. No entanto, nenhuma conversa, por mais produtiva que seja, pode deixar de lado que a cultura da corrupção está sendo julgada no Brasil. O veredicto final não resolverá o problema, mas certamente será um passo decisivo, tão importante para completar a democracia brasileira como foi aquele momento na década de 1980, quando lutávamos por eleições presidenciais diretas.

Embora a corrupção fosse tema de Collor em 1988 e de Lula em 2002, a revolução nas comunicações, a presença da internet, o avanço dos órgãos investigativos, a cooperação internacional, tudo isso converge agora para fortalecer a transparência. E enfraquecer os salvadores.

Diante da experiência fracassada de Collor e do PT, talvez fosse oportuno refletir sobre a frase de Cioran: a certeza de que não existe salvação é uma forma de salvação, é mesmo a salvação. As pesquisas, todavia, indicam um ângulo favorável aos salvadores. O PT é naturalmente rejeitado pela maioria, mas os opositores também registram altos índices negativos. Uma terceira força, vinda de fora, teoricamente, poderia derrotar a todos.

Na minha opinião, os políticos estão sendo julgados por todos esses anos de democratização, mas também, e sobretudo, por como se comportam no momento em que escândalos e crise econômica se entrelaçam.

Um exemplo da luta contra a cultura da corrupção se dá em torno de um instrumento legal, a delação premiada. É apenas uma lei que reduz penas se a pessoa disser a verdade e reparar seu crime, no caso, devolvendo o dinheiro.

Dilma combateu a delação premiada com uma emoção de esquerda. Lembrou-se dos que delataram os militantes nos anos de chumbo. Suprimiu um pequeno detalhe: que foram torturados para dizer a verdade.

Lula chamou a delação premiada de mentira premiada. Responde com uma piada nervosa diante de tantas evidências de que os depoimentos são verdadeiros. Ignorou que a Lava Jato, com 33 delações premiadas e três acordos de leniência, devolveu R$ 2,4 bilhões ao País.

Existe nas ruas uma certa hesitação em colaborar com a polícia. As expressõesalcaguete e dedo-duro têm uma conotação negativa. Tiradentes, com a figura parecida com a de Cristo, teve seu Judas em Joaquim Silvério dos Reis. Para quem vê a democracia apenas como uma etapa é fácil confundir a polícia com repressão política; afinal, todas as instituições visam a preservar o sistema.

Com um viés de esquerda, foi possível transitar de uma luta pela ética na política para defesa da cultura da corrupção. Os empresários querem business as usual, as figuras que sobraram do palanque das diretas ainda devem ter conversas necessárias e a própria crise econômica pode ser superada num par de anos. Mas a sociedade, além das aflições da crise econômica, sente-se lesada por um governo quadrilheiro, desapontada com uma oposição hesitante.

A fratura não se fechará enquanto o problema em torno do crime e castigo não for resolvido. Isso pode consolidar os laços da sociedade com as instituições e, quem sabe, capacitá-la a empurrar os políticos para a frente, apesar deles.

Das diretas para cá o clima se degradou. Hoje vemos Lula movimentando fortunas na conta bancária, casa de campo, tríplex, exigindo menu de travesseiro. Ninguém imagina que tudo aquilo daria tanto dinheiro aos salvadores: Collor com seus carros de luxo, Lula faturando milhões com suas aulas magnas e, no fundo, a sirene do camburão.

Collor e o PT são dois momentos do processo. Seu fracasso precisa ser levado em conta na tentativa de recomeçar. Mais do que discursos e promessas e uma certa ingenuidade diante da fraqueza humana, será importante a transparência, apoiada em novas leis e no fortalecimento das instituições que investigam o poder político.

O governo elegeu-se com verba de corrupção, descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, manteve um esquema de rapina na Petrobrás. Enquanto estiver no poder, o relógio do recomeço está desligado. Não adianta tocar para a frente, como se não tivesse acontecido. Nem mantê-lo desligado até 2018. Não se para o tempo. No máximo, é possível ganhar horas com o fuso horário, como o deputado do PT que virou dono de um apartamento em Miami.

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Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - Explicação cega

- O Globo

O Brasil de hoje (ou de sempre?) está tão bizarro que o deputado Eduardo Cunha pode escapar da condenação por quebra de decoro parlamentar devido a uma engenhosa montagem financeira que protegeu seu dinheiro ilegal no exterior.

Como está sendo processado por supostamente ter mentido na CPI da Petrobras ao afirmar que não tinha contas no exterior, Cunha não se preocupará, neste primeiro momento, em se explicar sobre os outros crimes que presumivelmente cometeu, como sonegação fiscal e evasão de divisas, além, claro, da acusação mais grave, a de que recebeu propina do dinheiro desviado da Petrobras.

A explicação para o depósito de US$ 1,5 milhão feito por um envolvido na Lava-Jato é tão bizarra quanto a situação em si: Cunha diz que não sabe por que esse dinheiro foi depositado, e imagina que seja uma dívida paga pelo filho de um deputado já falecido, a quem emprestara o dinheiro.

O advogado Marcelo Nobre, que defende Cunha no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, explica didaticamente por que seu cliente não faltou com a verdade. “Ele não tem contacorrente em outros países, e isso é absolutamente simples de entender. Eduardo Cunha, na verdade, faz parte de um truste, de um fundo, do qual é tão somente beneficiário. Ele não sabe onde esse fundo tem contas, onde aplica o dinheiro, ele não administra nada”.

Por essa descrição, o presidente da Câmara tem na verdade um “blind trust”, e aí a situação começa a ficar grotesca. Um “blind trust” é aquele administrado sem que os beneficiários tenham interferência nas aplicações, geralmente utilizados por políticos e outras personalidades que querem evitar conflitos de interesse entre suas atuações no setor público e os investimentos dos fundos. Daí o nome, algo como uma carta branca para os administradores do fundo.

O ex-ministro da Justiça do governo Lula Marcio Thomaz Bastos colocou todo seu dinheiro em um “blind trust” quando se tornou ministro, justamente para evitar mal-entendidos. O “blind trust” é muito útil também para os que querem manter sua fortuna protegida dos bisbilhoteiros.

Resta saber qual é o caso de Cunha: ou tentou esconder o dinheiro num “blind trust”, ou, pelo contrário, procurou evitar conflitos de interesse dando a terceiros a administração desse dinheiro que, alega, ganhou fora da política, em negócios de exportação.

Cunha manteve seu dinheiro administrado por um “blind trust” e, portanto, não precisava ter uma conta pessoal num banco estrangeiro. Tudo deve estar em nome de empresas ligadas ao “trust”, inclusive os cartões de crédito que serviram para pagar as aulas de tênis na Flórida e outras despesas suas e de sua família.

Com essa explicação, ele pretende safar-se da perda de mandato no Conselho de Ética da Câmara, o que é muito possível. As manobras políticas que Cunha domina tão bem poderão, no entanto, prejudicá-lo. O relator escolhido, deputado de primeiro mandato Fausto Pinato, do PRB, só entrou na Câmara graças à votação de Celso Russomanno, a grande estrela do partido da Igreja Universal.

Candidato novamente, desta vez à prefeitura de São Paulo, Russomanno como sempre começa liderando as pesquisas. Não vai querer logo na largada aparecer como o protetor de Eduardo Cunha.

De qualquer maneira, na Câmara, Cunha ainda tem margem de manobra. Mais difícil será provar a origem lícita dessa dinheirama que está no exterior sem ser declarada oficialmente. Sobretudo convencer a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal de que o dinheiro depositado em sua conta por um dos intermediários das falcatruas da Petrobras na verdade não tem nada a ver com elas, mas com uma antiga dívida paga em nome de um defunto.

Mas, se o projeto do governo de repatriação do dinheiro no exterior for aprovado pelo Congresso, Cunha poderá legalizar seu dinheiro sem maiores problemas.