sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Opinião do dia – José Serra

Compartilho a crescente preocupação de todos com o desfecho da crise. Uma coisa, no entanto, me tranquiliza. À diferença do que muitos dirigentes petistas têm pregado, inexiste risco de retrocesso institucional. O petismo precisa parar de confundir seus delírios autoritários com a História do País, que fez uma escolha inequívoca: a democracia. Por isso mesmo se busca uma forma pacífica, e pacífica será, de se ver livre de um modo de governo que empurra o Brasil para o atraso e a melancolia. Vai passar!
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*José Serra é senador (PSDB-SP). - ‘Vai passar. Que bom!’- O Estado de S. Paulo, 10 de setembro de 2015

Governo reage com resposta improvisada

• Dilma reúne ministros, mas não anuncia medidas concretas

Titular da Fazenda, Levy prometeu enviar mais propostas de ajuste fiscal ao Congresso até o fim deste mês e disse que os brasileiros deveriam encarar aumento de impostos como investimento

Um dia após a Standard & Poor’s rebaixar a nota do Brasil, tirando o selo de bom pagador, a presidente Dilma convocou reunião de emergência para tentar unificar a reação e pediu pressa aos ministros nas sugestões de cortes de gastos, mas não anunciou medidas concretas. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que até o fim deste mês serão enviadas ao Congresso novas propostas para equilibrar as contas e apelou aos brasileiros para que aceitem aumentos de impostos como investimento. Pouco antes da entrevista de Levy, a Bolsa subiu e a alta do dólar perdeu fôlego, na expectativa de que o ministro anunciasse medidas para viabilizar o ajuste fiscal. Mas, diante da falta de ação do governo, o dólar voltou a subir, refletindo a frustração dos investidores.

Após revés, o improviso

• Governo faz reuniões e entrevistas, mas nada de concreto é anunciado depois de rebaixamento

Martha Beck, Catarina Alencastro, Geralda Doca, Danilo Fariello, Cristiane Jungblut, Eliane Oliveira e Washington Luiz - O Globo

- BRASÍLIA- Um dia após o Brasil perder o grau de investimento — selo de bom pagador — dado pela agência da classificação de risco Standard & Poor’s ( S& P), a presidente Dilma Rousseff convocou seus principais ministros para discutir os efeitos desse movimento sobre a economia. Porém, nenhuma medida concreta foi apresentada. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, escolhido porta- voz pelo Palácio do Planalto, só conseguiu dizer que a equipe econômica apresentará, até o fim deste mês, as medidas de cortes de gastos e aumentos de impostos que serão adotadas para reequilibrar as contas e atingir a meta de superávit primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do Produto Interno Bruto ( PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) em 2016. Já o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral ( PT- MS), após se reunir com Levy, disse que o governo anuncia hoje medidas de caráter administrativo, como cortes em contratos de serviços de terceiros, passagens aéreas e diárias.

Segundo Levy, a decisão da S& P de rebaixar o Brasil — resultado de uma combinação entre baixo crescimento, deterioração fiscal e crise política — pode ter sido precipitada, pois o governo está trabalhando para corrigir esses problemas.

— Uma das agências pode ter se precipitado. Quando a gente mostrar que o processo que já estava em andamento vai ter conclusão em algumas semanas, acho que talvez o afã de revisar a nota do Brasil arrefeça entre as outras agências e a própria avaliação do mercado irá se tranquilizar — disse: — A gente sabe que o mercado não se tranquiliza com palavras, apenas com ações. Evidentemente, a gente deve soltar mais ações de cortes de gastos, de aumento da eficiência do setor público e também um fechamento da equação fiscal que garanta a realização da meta de 0,7% do PIB em 2016.

Na reunião, Dilma orientou os ministros a acelerarem propostas de cortes de gastos para que, depois, o governo possa negociar com o Congresso o envio de novas fontes de receita. Além de cortes de funcionários e ministérios, o governo fará um pente- fino em todos os programas sociais e benefícios concedidos para eliminar fraudes e desperdícios. Já os aumentos de impostos devem ser temporários.

Corte de ministérios deve ser anunciado
Também pode ser anunciado nos próximos dias o início dos cortes nos ministérios. Dilma já decidiu que irá manter o status de ministério da Advocacia Geral da União ( AGU), da Controladoria Geral da União ( CGU) e do Banco Central. Ela foi aconselhada sobre a necessidade de blindar os chefes dessas áreas de processos e sinalizar que não serão enfraquecidas. Por outro lado, está avançado, apesar das críticas de setores do PT, a proposta de extinção das Secretarias de Direitos Humanos; de Políticas para as Mulheres e da Igualdade Racial. Elas seriam todas fundidas num único ministério, o Ministério dos Direitos Humanos e Ações Afirmativas.

A proposta prevê ainda o fim da Secretaria de Relações Institucionais ( SRI), da Secretaria de Assuntos Estratégicos ( SAE) e da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Nessa configuração, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) — hoje abrigado na SAE — iria para o Ministério do Planejamento, e a Micro e Pequena Empresa para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Algumas alternativas em estudo envolvem ainda o Ministério do Turismo, que pode ser extinto, restando apenas a Embratur com as incumbências da pasta, ou ser fundido com o Ministério dos Esportes, como já foi no passado. Outra área que pode ser fundida é a Cultura com o Ministério da Educação.

Dilma pediu que a equipe não trate a perda do grau de investimento como o fato mais importante da semana, mas que também não minimize a decisão, porque ela tem fortes impactos no mercado financeiro. O objetivo da reunião, contou um ministro da coordenação política, foi unificar o discurso em torno do tema e ratificar o rumo das políticas em discussão.

Dilma lembrou aos ministros que a S& P chegou a revisar para baixo a classificação dos Estados Unidos em 2011, quando o governo americano enfrentava um embate com o Congresso, que se recusava a elevar o teto da dívida pública. Dilma disse que o presidente Barack Obama reagiu à decisão da agência com naturalidade. Na reunião de ontem, os presentes receberam uma cópia em inglês de um discurso feito por Obama comentando o rebaixamento na ocasião.

Levy também fez questão de falar publicamente sobre o ocorrido nos Estados Unidos e fez um paralelo com o Brasil. Frisou que o movimento da agência ajudou a solucionar o impasse nos Estados Unidos. Assim, o downgrade do Brasil agora pode ter como aspecto positivo a solução para o problema das contas públicas:

— Cada país é um país, mas não é impossível deixar de lembrar o movimento dessa empresa em 2011, nos Estados Unidos. Havia uma falta de disposição do Congresso em aumentar o teto da dívida, o que dificultava o aumento de despesas. Pela falta de clareza, a agência fez uma avaliação política lá, assim como fez no Brasil. Na ocasião, esse movimento catalisou uma dinâmica positiva na economia americana.

O Palácio do Planalto distribuiu um gráfico aos ministros para mostrar que o grau de classificação do Brasil junto à agência era pior na gestão do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso. E, mesmo assim, naquele período não deixaram de chegar investimentos do exterior:

— O investidor vai continuar vindo, até porque os ativos no país estão mais baratos com a valorização do dólar. O realinhamento do câmbio também melhora o perfil das contas externas — disse ao GLOBO um ministro.

O governo busca reduzir em 0,5 do PIB o gasto com despesas discricionárias. Isso faria com que esses gastos passassem de 4% do PIB este ano para 3,5%. Outro gráfico debatido na reunião mostrava que esse indicador já foi de 3% do PIB em 2003 e que, na maioria dos anos, esteve abaixo de 4%.

— Ou seja, 3,5% do PIB não é nada absurdo no cenário atual — acrescentou o ministro.

Adiada pelo governo devido às dificuldades, a terceira fase do Minha Casa Minha Vida sofrerá reajustes nas taxas de juros e irá contar com uma nova faixa de renda intermediária para financiamentos. Os juros vão variar entre 6%e 8% ao ano. Atualmente, as taxas estão entre 5% e 7,16% ao ano. Já a chamada faixa 1,5 oferecerá subsídios para famílias com renda de até R$ 2.350.

As proposta foram apresentadas ontem pelo ministro da Cidades, Gilberto Kassab, durante reunião com representantes dos movimentos sociais e da construção civil. Outra mudança está no limite da renda da faixa 1, que vai aumentar, dos atuais R$ 1.600 para R$ 1.800 por família, sem cobranças de juros e parcelamento de até 10 anos. Na nova faixa criada, os juros serão de 1,5%.

Pagar mais é ‘ investimento que vale a pena’

• Levy diz que Brasil não pode ser ‘ vítima de miopia’ na questão dos tributos

Martha Beck e Eliane Oliveira - O Globo

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy apelou aos brasileiros para que encarem novos aumentos de impostos como um investimento. Ao comentar a perda do grau de investimento pelo Brasil, ele ressaltou a importância do reequilíbrio das contas públicas, que virá de uma combinação de corte de gastos, melhoria da gestão e alta de tributos. De acordo com o ministro, a solidez fiscal evita turbulências eé a base do crescimento da economia. Ele também reafirmou sua permanência no cargo e disse que seu trabalho “ainda não terminou”.

— Se você pagar 0,5% a mais e o PIB ( Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país) começar a crescer 0,5% mais rápido porque as pessoas não têm tanta insegurança, é investimento que vale a pena — disse o ministro, acrescentando:

— Nosso esforço adicional é para garantir que o Brasil seja um país seguro para investidores, trabalhadores e famílias. Uma condição fiscal sólida permite que o câmbio não tenha volatilidade excessiva e evita que a inflação se desgarre. A solidez fiscal é a base do crescimento.

O ministro disse que o Brasil não pode ser “vítima de uma miopia” na questão dos impostos e que o setor produtivo já sinalizou que entende esse tipo de medida como uma necessidade do país:

— Eu tenho ouvido de empresários que eles estão dispostos e que essa estratégia que estamos desenhando responde à necessidade do Brasil. (...) Você quer ir do ponto A para o ponto B. Você tem que mostrar como você vai chegar lá e esse como é uma combinação de cortes de gastos e, se precisar, pedir à sociedade, às empresas e às famílias que elas também façam um esforço adicional para ajudar o Brasil.

Embora não tenha apresentado nenhuma medida concreta, o ministro disse que o governo está empenhado em resolver o déficit de R$ 30,5 bilhões previsto na proposta orçamentária de 2016 — que foi a gota d ´ água para o rebaixamento do país — e em atingir a meta de superávit primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do PIB fixada para o ano que vem. No entanto, ressaltou, o Executivo não tem como fazer isso sozinho:

— O governo não chega sozinho no 0,7%. Ele só vai chegar lá se a sociedade entender a importância de a gente ter as contas fiscais em ordem. O nosso trabalho, com agência de rating ou sem agência de rating, é botar a casa em ordem para as pessoas poderem trabalhar, as empresas poderem contratar e as famílias poderem ter tranquilidade.

Perguntado se ainda ficará no cargo diante do rebaixamento, o ministro deixou claro que não é sua intenção deixar a pasta.

— Não acredito que meu trabalho de recuperação fiscal já esteja completo. Eu teria alívio, mas não é essa minha avaliação.

Corrida contra o tempo

• Aumenta pressão para governo fazer ajuste fiscal e evitar corte de nota por outra agência

Rennan Setti, Henrique Gomes Batista - O Globo

- RIO, SÃO PAULO e WASHINGTON- O rebaixamento da nota de crédito do Brasil, que perdeu seu selo de bom pagador conferido pela agência Standard & Poor’s ( S& P), aumentou a pressão do mercado financeiro e de empresários para que o governo promova um ajuste fiscal efetivo. 

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, frustrou as expectativas ao não anunciar, ontem, medidas concretas para reequilibrar as contas públicas. Levy corre agora contra o tempo para apresentar uma solução enquanto o país ainda detém o chamado grau de investimento pelas outras duas grandes agências, Fitch e Moody’s. Se perder a chancela de outra agência, o Brasil ficará fora do mapa de grandes fundos de investimentos globais, que só aplicam em países com o selo de bom pagador conferido por pelo menos duas das três grandes classificadoras de risco.

A reação ao rebaixamento não veio apenas do mercado financeiro. Em nota conjunta da Fiesp e da Firjan, os empresários de São Paulo e Rio criticaram a “inação do governo diante da deterioração crescente do quadro econômico no país”.

O câmbio também reagiu ao downgrade, chegando a disparar 2,9% e atingir R$ 3,908, cotação que não era registrada durante uma sessão desde 23 de outubro de 2002. O salto logo nos primeiros minutos de negociação obrigou o Banco Central ( BC) a leiloar US$ 1,5 bilhão aos bancos com o compromisso de recompra no ano que vem, operação conhecida como leilão de linha. A atuação do BC ajudou a conter parte da valorização da moeda, aliada à esperança dos investidores de que Levy faria um anúncio importante. Durante esses momentos de expectativa, o dólar chegou a reduzir a valorização para apenas 0,92%, a R$ 3,833. No fim do dia, porém, a divisa fechou com alta de 1,36%, a R$ 3,850. A Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa), por sua vez, chegou cair 2,3%, mas encerrou em queda de apenas 0,33%, com o índice de referência Ibovespa aos 46.503 pontos.

— A fala do Levy foi um pouco frustrante, já que nada de concreto foi anunciado. Na verdade, o único favorecido foi ele próprio, que ganhou tempo para apresentar uma solução — disse Raphael Figueredo, da Clear Corretora.

De qualquer forma, o comportamento do mercado surpreendeu positivamente quem esperava um tombo nas ações e uma disparada do dólar. Para analistas, isso prova que, na realidatário de, o Brasil já vinha sendo tratado como país de grau especulativo pelos investidores.

— Parte do efeito do rebaixamento já vinha sendo incorporado à Bolsa e ao câmbio. Até porque o mercado financeiro já tinha certeza de que haveria rebaixamento, a única surpresa foi o momento. Mas a tendência é, sem dúvida, de piora. O governo continua incapaz de se articular para implementar novas medidas sobre o Orçamento. Assim, o dólar certamente ultrapassará os R$ 4 — avaliou Daniel Weeks, economista da gestora Garde Asset.

Indicador de risco supera o da Rússia
Mas o risco associado ao Brasil, medido pelo contrato de cinco anos de credit default swaps ( CDS, espécie de seguro contra calote) chegou a disparar 14,5%, atingindo os 428 pontos. No fechamento, ficou em 390 pontos, alta de 5%. Com isso, o risco brasileiro superou o da Rússia, de 379 pontos, país que tem a mesma nota pela S& Pe é alvo de embargo econômico. A piora na percepção dos investidores, segundo analistas, decorre da dificuldade que a crise política impõe à realização do ajuste fiscal.

— O Brasil está tendo de resolver problemas fiscais muito importantes em um momento político muito complicado. Os dois problemas se retroalimentam, e isso vai levar a uma contração da economia neste ano muito, muito forte e que deverá gerar uma contração também no ano seguinte — afirmou Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo MoneInternacional ( FMI).

Alberto Ramos, diretor para América Latina do banco Goldman Sachs, criticou as medidas adotadas até agora para sanear as contas do governo:

— A grande dificuldade é que até agora não há nada para mostrar de muito significativo em ajuste fiscal, a não ser um arrocho nos investimentos e um aumento da carga tributária. O pouco do ajuste fiscal que vimos até hoje tem sido de péssima qualidade.

Na sua opinião, as agências de risco e os agentes financeiros se ressentem de uma falta de plano de médio e longo prazos para tornar a situação fiscal do país realmente sustentável. Por isso, a aposta dos especialistas é que o Brasil também será rebaixado pelas outras agências. A previsão é que a Fitch seja a primeira a agir — mas o país ainda deve manter o grau de investimento nessa agência, porque sua nota está dois degraus acima do nível especulativo. Na Moody’s o Brasil está na última nota do grau de investimento, mas, como a agência fez uma alteração em agosto, o país deve ter alguns meses até a próxima revisão.

— O fato de a S& P ter rebaixado o Brasil menos de dois meses ( após a mudança de perspectiva para negativa) reflete a deterioração fiscal acentuada do Brasil e a dinâmica política. Dada essa singularidade, as outras agências podem seguir o movimento — avaliou Clemens Nunes, da FGV- SP.

Colaborou Ana Paula Ribeiro

Congresso espera governo dar o primeiro passo contra crise

• PT cobra agilidade e diz que não penalizará quem ganha salário- mínimo

Isabel Braga - O Globo

- BRASÍLIA- Parlamentares da oposição e da base aliada estão em compasso de espera, não querem dar o primeiro passo e cobram que o governo assuma as medidas que devem ser tomadas para superação da crise econômica após o rebaixamento da nota do país. Para a oposição, o governo mostra mais uma vez a falta de rumo ao não apresentar medidas concretas de corte nos gastos. Em uma clara demonstração do quão difícil será aprovar as medidas de ajuste no Congresso, o próprio PT cobra agilidade no anúncio das medidas para cobrir o rombo de R$ 30,5 bilhões no orçamento, mas avisa que não serão aceitas alternativas que penalizem os que ganham menos, como não reajustar o salário-mínimo em 2016 ou fazer cortes em programas sociais.

— Quem tem benefícios tributários tem mais margem de gordura que os que ganham pouco. Não dá para concordar que uma pessoa que ganha salário mínimo não tenha reajuste no ano que vem — disse o vice- líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini ( SP). — Seria criminoso, são 60 milhões de brasileiros. Prefiro uma medida tributária que atinja um milhão, dois milhões de brasileiros do que 60 milhões.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho ( PE), diz que a oposição está disposta a discutir uma agenda de superação, desde que o governo apresente propostas viáveis.

— Não dá só para transferir a conta para o trabalhador e o setor produtivo. Miopia é o ministro Levy imaginar que a solução para a crise fiscal brasileira deve ser via aumento de impostos.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), diz que, se o governo quiser cooperação do Congresso para aprovar medidas impopulares, deve começar anunciando cortes profundos. Ele lembra que há 15 dias a presidente Dilma Rousseff anunciou o fim de 10 ministérios e até agora nada foi confirmado:

— Foi em decorrência dessas posições imprecisas e vagas que o Brasil perdeu o grau de investimento. Enquanto o governo ficar no campo da mera intenção, o Congresso não será sensível a aumento de carga tributária.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), disse que falta credibilidade ao governo para propor novos impostos transitórios:

— O brasileiro já tem o trauma dos provisórios que viram definitivos. Ninguém vai acreditar. A CPMF foi criada como transitória em 1993 e durou até 2007.

Levy chama de ‘política’ ação da S&P e sugere mais imposto

• Para ministro, rebaixamento da nota do Brasil foi ‘precipitado’ e não se pode ter ‘miopia’ em relação a tributos

Um dia após o Brasil perder o selo de bom pagador,o ministro Joaquim Levy(Fazenda) tentou tranquilizar o mercado e disse que haverá um pacote de medidas até o fim do mês.O governo quer evitar que as agências Fitch e Moody’s sigam a Standard &Poor’s no rebaixamento da nota brasileira.Para ele,a decisão da S&P foi “precipitada” e“ política”. Sem apresentar medidas concretas, o ministro afirmou que o governo cortou R$ 80 bilhões neste ano e sugeriu alta de tributos. “Não devemos ser vítimas de miopia na questão dos impostos porque vamos fazer esforço adicional. Precisamos garantir que o País seja seguro para empresas investirem.” Apesar da pressão do Planalto, Levy teria convencido ministros de que agora é cedo para novo pacote e o mercado “não se tranquiliza com palavras, mas ações”. Após o dólar disparar, o Banco Central interveio e a moeda fechou a R$ 3,862.

• Ministro da Fazenda chamou de ‘precipitada’ e ‘política’ a decisão da S&P de tirar o grau de investimento do Brasil, mas afirmou que a perda do grau de investimento pode ‘catalisar uma dinâmica positiva’; segundo ele, um pacote de medidas virá até o fim do mês

Levy fala em imposto e corte de gasto para impedir novo rebaixamento

João Villaverde - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia depois de ver o Brasil perder o selo de bom pagador, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, veio a público para tentar tranquilizar o mercado. Ele traçou um plano de ação para evitar que as agências internacionais de classificação de risco Fitch e Moody’s sigam a Standard &Poor’s no rebaixamento da nota de crédito brasileira. O ministro garantiu que fica no cargo e não apresentou nenhuma medida concreta, embora tenha sinalizado novos aumentos de impostos e defendido cortes de despesas.O pacote de medidas, segundo ele, virá até o fim do mês.

Segundo o Estado apurou, houve pressão do Palácio do Planalto para que algo fosse anunciado, como fez o governo há um mês com os planos de reduzir dez dos 39 ministérios. Na ocasião, a crise tinha sido deflagrada pela saída do vice Michel Temer da articulação política e o anúncio do plano foi visto como uma saída para criar uma agenda positiva. Ontem, o líder do governo no Senado, Delcí-dio Amaral (PT-MS), anunciou que o corte de ministérios terá início hoje.

Foi Levy quem teria convencido os demais ministros, na reunião de ontem da coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, que era cedo para um novo pacote de medidas. O momento era de traçar toda a “estratégia fiscal” do governo para os próximos meses, sem detalhar medidas ainda em preparação. O sinal foi traduzido em uma frase do ministro da Fazenda durante sua entrevista de ontem: “O mercado não se tranquiliza apenas com palavras, mas com ações”

‘Decisão precipitada’. Levy chamou de “precipitada” e “política” a decisão da S&P, mas afirmou que a perda do grau de investimento pode catalisar uma dinâmica positiva. “Talvez o afã de revisar a nota do Brasil arrefeça entre as outras agências e também a própria avalia- ção do mercado que irá se tranquilizar”, disse

“Uma das agências pode ter se precipitado, na medida que mostrarmos que o processo já em andamento terá conclusão.” E reiterou: “Vamos mostrar uma equação fiscal que garanta a meta de 0,7% do PIB no ano que vem”. O governo estuda uma série de medidas, entre elas a elevação da Cide, a contribuição sobre a gasolina,além de outros impostos como o IOF, sobre operações financeiras, e o IPI, para a indústria.

Levy afirmou que não pode haver “miopia” na questão dos impostos, indicando claramente que haverá aumento de tributos. “Se tiver que pagar um pouquinho de imposto para sermos vistos como País forte, as pessoas entenderão”, afirmou. Levy também foi enfático ao dizer que o governo cortou R$ 80 bilhões em gastos públicos, principalmente com investimentos, neste ano.

O governo também enviará projetos de lei ao Congresso para alterar regras de benefícios públicos – única forma legal de reduzir um gasto obrigatório. O ministro citou o “seguro defeso”, concedido a pescadores, mas também serão incluídas medidas para reduzir o gastos do governo com aposentadorias e pensões do INSS.

Levy defendeu entusiasticamente o projeto de lei de “regularização” do dinheiro não declarado mantido por brasileiros no exterior, enviado ontem ao Congresso. O dinheiro arrecadado vai para fundos públicos que ajudarão os Estados na reforma do ICMS,principal tributo estadual

Segundo Levy, a reforma do ICMS dará “muito mais competitividade” às empresas e ao setor público. Ele considera a reforma do ICMS e a simplificação do PIS/Cofins, impostos federais, como prioritários na estratégia fiscal que será implementada pelo governo nas próximas semanas.

Governo quer criar tributo sobre transação financeira

Por Claudia Safatle, Thiago Resende e Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - Alegando dificuldades para cortar despesas, o governo estuda criar um novo imposto, a partir de conversas com o setor financeiro, para aumentar as receitas e cobrir o déficit primário das contas públicas em 2016, um dos fatos que levaram a agência Standard & Poor's a retirar o grau de investimento do Brasil.

O plano é instituir um tributo temporário sobre a intermediação financeira, com base de tributação semelhante à da extinta CPMF. A diferença é que haveria um sistema de alíquotas decrescentes ano a ano até chegar a zero. Nesse meio tempo, o governo viabilizaria a redução dos gastos públicos.

Ontem, um dia depois de a S&P decretar o rebaixamento do "rating" do país e de a presidente Dilma Rousseff assegurar ao Valor compromisso com a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, concedeu uma entrevista muito aguardada pelo mercado, mas não anunciou nenhuma medida, seja proposta de aumento de impostos ou corte de gastos. Sua fala foi considerada "frustrante".

Levy gostaria que o governo fizesse cortes drásticos no Orçamento, mas a presidente Dilma Rousseff resiste. Ela olha item por item da proposta orçamentária para o próximo ano e não vê o que eliminar. "Como contingenciar R$ 64 bilhões, hein? Como?", indagou Dilma na conversa com o Valor, mencionando os gastos obrigatórios por lei (77,4% do total) e enfatizando a necessidade de aumento de impostos, tal como sugerido pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Os números mostram que, mesmo com o corte de R$ 80 bilhões que Levy assegurou ter sido realizado no Orçamento deste ano, a despesa total da União em 2015 está maior que a de 2014. De janeiro a julho, aumentou 0,4% em termos reais, enquanto a receita caiu 3,6%.

Hoje, o governo anunciará medidas administrativas, como o corte de cargos comissionados. No Congresso, negocia levar adiante proposta que acaba gradualmente com a dedutibilidade da distribuição de lucros na forma de juros sobre capital próprio (JCP). Além disso, planeja reduzir os repasses ao "Sistema S" e taxar, com Imposto de Renda, aplicações financeiras como as letras de crédi-to imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA), hoje isentas.

Dilma busca nome fora do PT para substituir Mercadante

• Petista avalia que precisa de 'movimento de impacto' para retomar governabilidade

Dilma tenta reagir e procura substituto para Mercadante

• Segundo assessores, ela percebeu que precisa fazer movimento de impacto

• Um novo ministro da Casa Civil precisaria ser alguém com boa receptividade na base aliada e na oposição

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após o rebaixamento do Brasil pela agência internacional de classificação de risco Standard & Poor's, a presidente Dilma Rousseff começou a cogitar mudanças no coração do seu governo, indo em busca de um substituto para o chefe da Casa Civil, o petista Aloizio Mercadante.

O ministro foi um dos principais defensores da ideia de apresentar ao Congresso uma proposta de Orçamento com previsão de deficit de R$ 30,5 bilhões, movimento que ampliou desconfianças do mercado sobre o governo e precipitou a perda do selo de bom pagador que o país tinha.

Dilma busca um nome que atue como espécie de "primeiro-ministro" e que não seja filiado ao PT. Segundo assessores, ela percebeu que precisa fazer um movimento de impacto, com ressonância política, para tentar sair da grave crise que paralisa o governo.

Ela cogita até alguém de fora da política, mas com receptividade na base aliada e na oposição, tentativa de melhorar a governabilidade e evitar novas derrotas no Congresso.

Não é a primeira vez que se especula sobre a saída de Mercadante. O ex-presidente Lula defendeu há meses para Dilma sua substituição por Jaques Wagner, hoje na Defesa.

O PMDB, do vice, Michel Temer, também já pediu a saída de Mercadante, alegando não ter bom entendimento com ele, que é considerado voluntarista e centralizador.

Segundo relatos de interlocutores, a própria Dilma avalia que ele falhou em negociações estratégicas no início de seu segundo mandato.

Uma das principais reclamações de aliados de Temer é que as discussões para distribuição de cargos paravam quando chegavam na Casa Civil. Recentemente, a indicação para uma vice-presidência da Caixa gerou atrito entre o vice e Mercadante.

Ministros ouvidos pela Folha dizem, porém, que Mercadante não sai do governo. Deve ele ser transferido para outra pasta na reforma que Dilma promete. Em agosto, o Planalto anunciou a redução de dez ministérios e o corte de cargos comissionados.

Além disso, ponderam os auxiliares de Dilma, a presidente já mudou de ideia outras vezes sobre a situação de Mercadante e nada impede que isso aconteça novamente, ainda mais em um momento de instabilidade.

A ideia é que o novo ministro da Casa Civil consiga "passar segurança ao meio político" e montar uma estrutura burocrática que ajude o governo a melhorar a gestão e a relação com os aliados.

No Congresso, as movimentações pelo impeachment da presidente ganharam força com o recrudescimento da crise econômica a partir da perda do selo de bom pagador pelo Brasil.

Dilma enfrenta processos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que pedem a cassação de seu mandato, e a análise das contas de 2014 pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que também serve de munição para quem defende o impedimento.

Improviso e descoordenação marcam resposta do governo ao rebaixamento

Vera Magalhães - Editora do Painel – Folha de S. Paulo

O 11 de Setembro de Dilma Rousseff chegou dois dias antes, quando a Standard &Poor's tirou do Brasil o selo de bom pagador –atingindo em cheio as torres política e econômica do governo.

O que se seguiu foi um show de improviso ainda maior que o visto desde a segunda posse da presidente.

Joaquim Levy deu duas entrevistas em menos de 24 horas para não anunciar nenhum corte imediato de gastos do governo federal. Em vez disso, acenou com mais impostos e uma pauta que depende da não-existente colaboração do Congresso.

Foi uma fala "naive", justamente de quem se espera pulso para comandar a economia. O ministro repetiu que a sociedade –já pressionada por queda de renda, desemprego e inflação– não se furtará a uma dose maior de sacrifício para ajudar o país a atingir o superavit fiscal.

Para piorar, o ex-presidente Lula disparou que a avaliação das agências de risco não vale nada –o oposto de quando se regozijava de as mesmas agências promoverem o Brasil em seu governo– e se contrapôs ao abatido Levy e a novas medidas de ajuste.

E onde está Dilma diante de tamanha descoordenação? Reuniu sua equipe para pedir "pressa" em cortes que ninguém sabe quais serão e na reforma administrativa anunciada há semanas e que até hoje não veio à luz.

Alheia à gravidade do quadro, a presidente negou que a situação seja catastrófica. Seu entorno já não disfarça que duvida da capacidade da petista de indicar o caminho para contornar as crises.

Mais: resiste em mudar o núcleo político do Palácio do Planalto, condição exigida tanto por Lula quanto pelo PMDB para continuar a lhe dar (alguma) sustentação.

Enquanto isso, no Congresso, avança a articulação pró-impeachment, com participação de siglas da base e assistida em silêncio pelo vice Michel Temer, potencial beneficiário da saída de Dilma.

Ministros atônitos apostavam no anúncio de medidas concretas nesta sexta, o 11 de Setembro real. Quais? Em que áreas? Palacianos e vizinhos não faziam a menor ideia.

O dramático é que se cristaliza na base aliada, na oposição, no Judiciário e no empresariado a convicção de que talvez já seja tarde demais para salvar o edifício.

PT já admite queda de Dilma

• Para líderes do PT, queda da presidente Dilma Rousseff em 2015 passou de possível a provável

Mônica Bergamo – Folha de S. Paulo

Papo sério
Ministros, deputados e senadores do PT já consideram não apenas possível mas provável que a presidente Dilma Rousseff seja afastada do governo num processo de impeachment ainda neste ano. O clima é de abatimento.

Rito
Pelo monitoramento do PT, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rejeitará pedidos de impedimento, inclusive o de Helio Bicudo. Deputados da Frente Pró-Impeachment, com 280 votos, recorreriam ao plenário e, com maioria simples, votariam pela admissibilidade do impeachment, primeiro passo para o afastamento de um presidente.

História
Um senador do PT observa que foi a partir da aprovação da admissibilidade do impeachment de Fernando Collor que "as pessoas começaram a acreditar e tomaram as ruas do país" para derrubá-lo do poder, em 1992. O mesmo poderia acontecer com Dilma Rousseff.

Empurrão
Nesse clima de pressão máxima, o impeachment seria então apreciado na Câmara. Como o voto é aberto, até mesmo parlamentares de oposição que são contra o afastamento se veriam forçados a votar a favor.

Trânsito
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) não anda nada feliz com esse eventual desfecho para a crise, em que vê o dedo de Aécio Neves (PSDB-MG). Ainda que vença a disputa interna para ser candidato do PSDB em 2018, o governador terá dois opositores fortes: Michel Temer, que substituiria Dilma na Presidência, e Lula, na oposição e livre para atirar.

Em delação, 'Baiano' acusa PMDB do Rio

Acusado de ser um dos principais operadores do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, o lobista e agora delator Fernando Soares, o "Baiano", já mencionou aos investigadores da Lava-Jato os nomes de três líderes do partido no Rio: o governador Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. Os três teriam, supostamente, se beneficiado de propinas desviadas de contratos com a petroleira. "Baiano" indicou, ainda, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como beneficiários do esquema. Procurados, Pezão, Cabral e Picciani negaram envolvimento no caso. O advogado de Cunha disse que não se manifestaria e a assessoria de Renan não respondeu à indagação do Valor.

Delação de Baiano atinge PMDB do Rio e Renan

Por André Guilherme Vieira, Cristian Klein e Renata Batista - Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - Acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) como um dos principais operadores do PMDB na área Internacional da Petrobras, o lobista e agora delator Fernando Antônio Falcão Soares, o "Fernando Baiano", já mencionou aos investigadores da força-tarefa da Operação Lava-Jato os nomes do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, do ex-governador fluminense e padrinho político de Pezão, Sérgio Cabral, e ainda o do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Jorge Picciani - todos do PMDB do Rio - como supostos beneficiários de propinas desviadas de contratos com a petrolífera.

Baiano indicou ainda o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como alguns dos que teriam se beneficiado do desvio de dinheiro da Petrobras. Cunha foi formalmente acusado pela PGR por corrupção e lavagem de dinheiro e descrito como "sócio oculto" do lobista. Renan é alvo de investigação por suspeita de corrupção que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

As menções aos políticos do PMDB foram feitas por Baiano durante as negociações que antecederam o acordo assinado com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e antecipado na quarta-feira pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Para ter validade e permitir uma investigação, as declarações do novo delator terão de ser formalizadas em termos de depoimento que serão prestados em Curitiba.

Preso preventivamente há 10 meses, desde a deflagração da fase Juízo Final da Lava-Jato, em novembro de 2014, Baiano relutava em fechar delação premiada porque temia retaliações à sua família e buscava ampliar a redução de suas penas em troca do acordo.

O lobista se comprometeu a apontar documentos e a indicar evidências que comprovem as suspeitas de financiamento ilícito de campanhas eleitorais do PMDB em 2010 e 2014, e de caixa dois, que recaem sobre parte do PMDB. Ele também entregará documentos bancários sobre suas contas mantidas em offshores no exterior.

Baiano explicará ainda quais eram seus interesses na Transpetro, subsidiária para áreas de Transporte e Logística da Petrobras comandada pelo PMDB ao menos desde 2004, quando o agora ex-presidente Sérgio Machado chegou ao comando indicado por Renan Calheiros. Machado entrou no radar da Operação Lava-Jato em agosto do ano passado, quando o ex-diretor de Abastecimento da petrolífera e também delator, Paulo Roberto Costa, afirmou que recebeu R$ 500 mil em dinheiro vivo do então presidente da Transpetro, em 2012. Os valores seriam pagamento de propina por fretamento de navios, intermediado pela área de Abastecimento. No balanço do ano passado, a Transpetro reconheceu um desfalque de R$ 256,6 milhões em seu caixa, por decorrência dos desvios descobertos pela Lava-Jato.

Fernando Baiano, (que segundo o MPF intermediou conjuntamente com o também lobista Julio Camargo propina de US$ 5 milhões destinada a Eduardo Cunha), comprometeu-se a pormenorizar a sistemática de atuação de outros lobistas na estatal, como o empresário Jorge Luz e o filho dele, Bruno, apontados pelo MPF como operadores de propinas. Baiano teve "as portas abertas na Petrobras" por Luz, o pai, segundo uma fonte com acesso às investigações. No entanto, ambos acabaram se desentendendo, apurou a investigação. O MPF do Rio também busca costurar um acordo de colaboração com Jorge Luz, apontado pela Lava-Jato como um dos operadores mais antigos na área Internacional da petrolífera, desde 1986.

A negociação que levou Baiano a se tornar delator durou meses e voltou à estaca zero em pelo menos duas oportunidades. Para obter eventual benefício de redução de pena, como consequência do acordo de delação, Fernando Baiano terá de apresentar provas documentais e indicar situações que, efetivamente, auxiliem os investigadores a comprovar os delitos.

Ao Valor, o governador Luiz Fernando Pezão negou qualquer envolvimento com Fernando Baiano. "Falo por mim e pelo Sérgio [Cabral]. Não o conheço e nunca estivemos com ele". Pezão disse considerar "estranho" a divulgação das informações sobre a delação de Baiano um dia depois que a Polícia Federal arquivou, por falta de provas, investigação por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro contra ele, Cabral e o ex-chefe da Casa Civil do Rio de Janeiro, Regis Fichtner.

Em delação premiada, Paulo Roberto Costa afirmou ter repassado R$ 30 milhões a título de caixa-dois para a campanha de reeleição de Cabral em 2010. O processo tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que irá decidir sobre o arquivamento do caso.

Em nota, Sergio Cabral afirmou: "Não conheço Fernando Baiano nem o ex-diretor da área Internacional da Petrobras", referindo-se a Nestor Cerveró e a Jorge Zelada, ex-executivos da petrolífera presos e processados por crimes de corrupção.

Também por meio de comunicado enviado pela assessoria de imprensa, Jorge Picciani disse: "Não conheço, não sei quem é, nunca estive sequer no mesmo lugar, nunca falei com esse senhor de nome Fernando Baiano". E acrescentou: "Também não conheço nenhuma pessoa da área Internacional da Petrobras e jamais indiquei qualquer nome para o governo federal". O presidente da Alerj do Rio ressaltou que "qualquer notícia envolvendo meu nome e o de Fernando Baiano carece de fundamento, constituindo-se numa irresponsabilidade".

Procurado por meio da assessoria de imprensa, o senador Renan Calheiros não se pronunciou até o fechamento dessa edição. O advogado de Eduardo Cunha, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, disse que não comentará o caso até apresentar a defesa do presidente da Câmara ao Supremo. A Transpetro informou que não se pronunciaria sobre o assunto. A defesa do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado não foi localizada pela reportagem.

Lula ataca ajuste que Dilma tenta emplacar

• Ex-presidente desdenha da perda do selo de bom pagador pelo Brasil

• Petista disse a amigos que 'falará mais o que pensa' quando entender estar sendo ignorado pela presidente

Mariana Carneiro – Folha de S. Paulo

BUENOS AIRES - O ex-presidente Lula demonstrou nesta quinta (10) estar em desacordo com as medidas de ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.

"Me assusta muito a visão de todos aqueles que, ao primeiro sintoma de uma crise, começam falar em ajuste. Ajuste significa corte de salários, corte de emprego, significa voltar ao patamar de miséria que você estava [antes] para poder recuperar a economia. A mim, não agrada", disse ele, durante um seminário em Buenos Aires.

"Todas as experiências de ajuste que foram feitas levaram os países à perda de postos de trabalho e ao empobrecimento da população."

Programas de ajuste, disse, só fizeram aumentar as dívidas dos países que tentaram implementá-los: "A Grécia tinha dívida de 84% e hoje é 186% [do PIB]", exemplificou.

O petista afirmou que o bom funcionamento da economia e o aumento do crédito dependem da confiança.

"Em economia não existe mágica, existe uma palavra chamada confiança e credibilidade. E se ela existir entre governantes e governados, tudo fica mais fácil", completou.

Lula está na Argentina a convite de uma fundação controlada pelo governador Daniel Scioli, que concorre à presidência com o apoio de Cristina Kirchner.

Também nesta quinta, o ex-presidente afirmou que a perda do selo de bom pagador pelo Brasil "não significa nada": "Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer".

O discurso destoa do que ele afirmou quando a mesma Standard &Poor's foi a primeira das três agências de risco mais importantes a dar ao Brasil o grau de investimento, em 2008, durante seu segundo mandato.

À época, Lula disse que o país vivia um "momento mágico": "O Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passou a ser merecedor de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava", afirmou na ocasião.

Segundo interlocutores, Lula "falará mais o que pensa" daqui por diante. Há alguns meses, amigos disseram ter ouvido do petista que ele dirá o que pensa toda vez que entender que está sendo ignorado por Dilma.

Conforme relatos, Lula está insatisfeito com a falta de rumo do governo, o que, segundo ele, causa desânimo na sociedade.

Colaborou Natuza Nery, de Brasília

Juristas unem pedidos de impeachment

Após rebaixamento do País, parlamentares pró-impeachment fazem ato na Câmara

• Evento marca o lançamento de site com petição pública para recolher assinaturas e incentivar a abertura no Congresso de um processo de afastamento de Dilma Rousseff

Carla Araújo e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

Um grupo de parlamentares que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff oficializou nesta quinta-feira, 10, no salão verde da Câmara dos Deputados, o lançamento de um site com uma petição pública para recolher assinaturas e incentivar a abertura de um processo de impeachment no Congresso.

Com miniaturas de pixulecos, o boneco inflável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário, e balões pretos também com a imagem do boneco, os parlamentares discursaram e disseram que o ato de hoje quer "resgatar a esperança" e "demonstrar a indignação" com o que chamaram de "desgoverno" do PT.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), disse que vai iniciar um "amplo convencimento" dos parlamentares para conseguir o maior apoio possível para o impeachment. "Hoje nasce o movimento suprapartidário pró-impeachment na Câmara Federal", disse. "Nós não somos os protagonistas desse movimento, os verdadeiros protagonistas são os movimentos de rua, a sociedade civil organizada que numa demonstração de indignação com esse governo corrupto e mentiroso deixou claro para nós deputados que não suportam mais três anos e meio de governo do PT e da presidente Dilma", afirmou.

O deputado peemedebista Jarbas Vasconcelos (PE) disse que é importante que seu partido, hoje fundamental para a base de apoio do governo, tome consciência de que é preciso dar exemplo para outras bancadas. "Ou ela sai, renuncia, ou ela cai", disse.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), lembrou o impeachment do ex-presidente Fernando Collor e disse que assim como na ocasião, quando o PT apoiava a medida, o movimento de hoje é "uma ação democrática".

O líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), afirmou que há argumentos para pedir o afastamento de Dilma e afirmou que o momento é "histórico" e disse que a eleição presidencial foi caracterizada pela "fraude e mentira". "A campanha de Dilma foi financiada com recursos do petrolão", em referência ao escândalo que apura suspeitas de corrupção na Petrobrás.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também participou do evento e disse que a população não quer mais "pagar as contas do governo". "Essa Casa hoje passa a ter uma sintonia fina e direta com a população e o Senado vai receber a abertura e autorização do processo de impeachment", afirmou. Caiado disse ainda "ter certeza" de que ao tirar a presidente Dilma e o PT do governo, o Brasil vai se recuperar rapidamente da crise econômica. "Em um curto espaço de tempo, em um ano, podem ter certeza", disse.

O líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), também reforçou o discurso de que o movimento está criando um dia histórico e disse "que começou hoje o processo de afastamento de Dilma". A presidente do PTB, Cristiane Brasil (RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), disse que está na hora de "virar a página". "Estamos aqui para responder o anseio da sociedade. Não queremos a troca de poder, queremos é devolver a esperança de um futuro melhor para os brasileiros", disse.

A deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) também discursou e fez um apelo à presidente Dilma Rousseff: "Se a senhora, presidente Dilma, tem amor pela pátria, deixe esse governo. Opte pelo povo brasileiro e deixe de optar pelo PT", disse.

No encerramento do ato, os parlamentares cantaram o Hino Nacional e gritaram "Brasil, Brasil" e "Fora Dilma". Eles ainda assinaram uma bandeira do Brasil.

O site. O portal abre com a seguinte mensagem: "Assine o abaixo assinado pelo impeachment de Dilma". A página virtual traz a íntegra do pedido de impeachment apresentado pelo jurista Hélio Bicudo, fundador do PT. Na peça apresentada, Bicudo cita as "pedaladas fiscais", a Operação Lava Jato e a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras para afirmar que Dilma cometeu crime de responsabilidade. O jurista também lembra que o vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, solicitou à Procuradoria-Geral da República apuração sobre eventuais crimes eleitorais.

O site estimula que internautas compartilhem fotos em que apareçam pedindo a saída de Dilma Rousseff da Presidência. E traz uma sessão chamada "compartilhe os fatos na rede", com três imagens. Na primeira, uma frase de Hélio Bicudo: "Golpe será permitir que o estado de coisas vigente se perpetue". Na outra, há uma foto da presidente e a frase "Mentiu na campanha. Estourou as contas públicas para ganhar eleição. Se beneficiou de esquema corrupto. Merece continuar? Não". No terceiro, a frase é a seguinte: "Se até um fundador do PT pede impeachment de Dilma, é porque o governo não tem nenhuma condição moral de continuar".

O movimento, que reúne deputados de PSDB, PPS, DEM, SD, PSC, PTB e até partidos da base, como PMDB e PSD, tem também perfil no Twitter e página no Facebook.

Empresário diz que doações oficiais ocultaram propinas para o PT

• Augusto Mendonça, do Grupo Setal, que fez delação na Lava Jato, confirmou ao juiz federal Sérgio Moro que valores repassados ao partido eram pagamentos da corrupção na Petrobrás

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

O empresário Augusto Ribeiro Mendonça, do grupo Setal, voltou a afirmar nesta quinta-feira, 10, à Justiça Federal, em Curitiba, que fez doações oficiais ao PT que serviram para ocultar propina. Delator da Operação Lava Jato, ele foi ouvido na ação penal em que são réus o presidente da Andrade Gutierrez e executivos do grupo.

“Foram feitas doações oficiais ao PT a pedido do Renato Duque”, afirmou Mendonça. Duque era o diretor de Serviços da Petrobrás sustentado no cargo pelo PT, em especial pelo ex-ministro José Dirceu.

Ele confirmou cartel e combinação de divisão de contratos entre empreiteiras.

Na semana passada, o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, confirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro também ter feito doações ao partido que ocultaram propina. O empresário fechou acordo de delação premiada, no mês passado, com a Procuradoria-Geral da República.

Mendonça, ouvido nesta quinta-feira na Justiça Federal, havia entregue os recibos de doações partidárias e eleitorais feitas por suas empresas para o PT entre 2008 e 2012, que ocultaram valore desviados da Petrobrás.

O tesoureiro petista João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque – presos pela Lava Jato – teriam sido as peças centrais da lavagem de dinheiro, que transformava recursos ilegais em legais dentro do sistema oficial de repasses para partidos e campanhas.

Mendonça, Vaccari e Duque são réus em outro processo criminal da Lava Jato, em fase final, que envolve o suposto pagamento dos R$ 4 milhões ao PT. No material estão quatro recibos emitidos pelo PT de doações para o Diretório Nacional do partido de R$ 500 mil, em 2010. O valor repassado em 7 de abril, quando era dada a largada para a campanha da presidente Dilma Rousseff, foi o mais alto doado dentro de uma lista de 24 repasses partidários e de campanha listados pelo delator.

Doações. São quatro recibos, com números sequenciais, datados de 7 de abril de 2010. Três com valores de R$ 150 mil e um de R$ 50 mil.

Os valores teriam sido desviados de duas obras de refinarias (Repar, no Paraná, e Replan, em Paulínia). Foram beneficiados: o Diretório Nacional, o Diretório da Bahia, o Diretório Municipal de Porto Alegre e o Diretório Municipal de São Paulo.

Por meio de quatro empresas de Mendonça foram feitas 24 doações eleitorais para o PT. Primeiro executivo a fazer delação com a Lava Jato, em 2014, Mendonça confessou que pagou propinas “acertadas com Renato Duque” em forma de doações.

O empresário e operador de propinas Augusto Mendonça afirmou à Lava Jato que fez “supostas ‘doações’, que eram pagamentos de propina, a pedido de Renato Duque e com o auxílio de João Vaccari”.

“Cada pagamento era deduzido do montante de propina devido. O momento das propinas e os valores eram indicados por Renato Duque, enquanto as contas e Diretórios do PT que recebiam os pagamentos eram indicados por João Vaccari”.

Lula tenta não perder as ruas

Por Raymundo Costa e Marli Olmos - Valor Econômico

BRASÍLIA e BUENOS AIRES - O receio de perder as ruas, em sua maioria já em poder da oposição, é o que orienta o comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao atacar o ajuste fiscal. Até agora, sua ênfase está no incentivo ao consumo para a retomada da atividade econômica, conselho que tem repetido por mais de uma vez à presidente Dilma Rousseff.

Ontem, em Buenos Aires, Lula voltou à carga. "Me assusta a visão de que ao primeiro sintoma de crise se fale em ajuste", que traz "perda de salário, de emprego e miséria". Segundo ele, todas as experiências nesse sentido "levaram os países ao empobrecimento".

As declarações de Lula repercutiram no PT, onde a primeira avaliação foi de que o ministro Joaquim Levy venceu o embate interno sobre a condução do ajuste. A perda do grau de investimento deixou a presidente e outros petistas encurralados e sem outra alternativa de curto prazo. Para o presidente do PT, Rui Falcão, a solução é uma só: "Mais receita do que cortes" - sinal de que o embate interno ainda não acabou.

O partido teme uma grande derrota nas eleições municipais de 2016 e tenta de todas as formas reduzir o dano causado pelo ajuste fiscal e pela Lava-Jato.

Petistas temem "perder as ruas"
O receio de perder as ruas, já em sua maioria em poder da oposição, levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a defender um ajuste fiscal menos rigoroso. Até agora, a ênfase de Lula era no incentivo ao consumo para a retomada da atividade econômica, conselho que repetiu por mais de uma vez à presidente Dilma Rousseff. Ontem, em palestra feita em Buenos Aires, capital da Argentina, Lula fez críticas ao ajuste, que em sua opinião traz perda de salários, de empregos "e miséria".

As declarações de Lula em Buenos Aires tiveram repercussão no PT, onde a primeira análise foi de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi o vencedor do embate interno sobre a condução do ajuste. A perda do grau de investimento, segundo petistas, deu mais gás a Levy e deixou a presidente e outros petistas encurralados e sem outra alternativa de curto prazo. Para o presidente do PT, Rui Falcão, a solução é uma só: "Mais receita do que cortes", disse. Ou seja, o embate interno ainda não acabou.

As manifestações favoráveis ao governo animaram Lula, o PT e o Palácio do Planalto, muito embora tenham levado menos pessoas às ruas que os protestos contrários ao governo. Segundo estimativas das polícias, mais conservadores que às dos organizadores, os atos convocados pelo PT reuniram pelo menos 75 mil pessoas em 23 Estados.

Num momento em que a popularidade da presidente está abaixo de 10%, segundo os institutos de pesquisa, a resposta dos manifestantes foi considerada boa pelos petistas. O partido teme sofrer uma grande derrota nas eleições municipais de 2016 e procura de todas as maneiras reduzir os danos provocados pelo ajuste fiscal e pela Operação Lava-Jato, o megaesquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Na avaliação do PT, é sua base social que impede o avanço dos adversários no projeto de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cerca de dez mil pessoas atenderam a convocação para as manifestações no Rio, o suficiente, segundo um senador petista ouvido ontem pelo Valor, para assustar setores empresariais e de alta classe com a hipótese de "venezuelização" do país.

Não teria sido outro o motivo, segundo o mesmo senador, que levou entidades de classes empresariais e banqueiros a se manifestar favoravelmente à manutenção da presidente Dilma Rousseff. Mas tudo isso pode se esfarelar se o PT perder as ruas, que já foram majoritariamente ocupadas pela oposição - dias antes, os atos contrários ao governo Dilma levaram cerca de 900 mil pessoas em mais de 200 cidades às ruas.

Na primeira manifestação realizada após a eleição de Dilma Rousseff, na eleição de 2014, chegou a se calcular em 1 milhão o número de ativistas apenas na Avenida Paulista, em São Paulo. O protesto seguinte contou com menos gente, ainda assim considerados grandes, sobretudo nas grandes cidades.

O PT avalia que será praticamente dizimado nas capitais e nas maiores cidades, nas próximas eleições, e apostará suas fichas nos municípios menores e mais pobres, nos quais tem se mostrado forte eleitoralmente, nas últimas eleições.

Nas conversas com Dilma, o ex-presidente Lula tem aconselhado a combater a recessão com investimentos. Desde ontem, com o discurso na Argentina, reforçou a ênfase no aumento de impostos e na manutenção de investimentos. No Senado, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) condenou a ideia de se ampliar as faixas do Imposto de Renda, o que atingirá o eleitorado de classe média do PT, e fez duas propostas, já discutidas com o governo, para combater o déficit.

A primeira é a retomada, a partir de 2016, da tributação sobre lucros e dividendos, com uma alíquota de 15%, "e a eliminação da figura dos juros sobre o capital próprio, criado em 1995 a pretexto de atrair capitais e estimular os investimentos privados. Apenas com essas duas medidas, diz Lindbergh Farias, "podemos arrecadar até R$ 60 bilhões".

Roberto Freire - Dilma teme o povo

Um muro metálico instalado para isolar os cidadãos durante o desfile pelo Dia da Independência, na última segunda-feira (7), representa com precisão a que ponto chegou o isolamento de Dilma Rousseff e de um governo rejeitado pela esmagadora maioria dos brasileiros. O fiel e decadente retrato do Sete de Setembro presidencial mostrou ao país uma chefe de governo que já não governa, uma líder sem autoridade, uma comandante que já não comanda coisa alguma e tem medo do povo.

A estrutura formada por placas de aço, apelidada de “Muro da Vergonha” pelas pessoas que tentavam e foram impedidas de acompanhar a parada cívico-militar em Brasília, foi construída sob medida com o intuito de preservar Dilma de vaias, panelaços e qualquer tipo de manifestações que se tornaram corriqueiras nos últimos tempos. Trata-se, afinal, uma presidente que não pode sair às ruas ou se pronunciar sem ouvir em alto e bom som a indignação dos brasileiros contra o estelionato eleitoral do qual foram vítimas.

Como se não bastasse ter isolado a população e restringido os lugares nas arquibancadas para convidados, Dilma não teve coragem de convocar a tradicional cadeia de rádio e televisão, por meio da qual os presidentes da República historicamente se dirigem à nação em datas comemorativas. O Planalto optou apenas por veicular nas redes sociais um vídeo curto com um depoimento de Dilma, sem alarde, para que os panelaços não se repetissem, o que dá a dimensão do acuamento do atual governo.

Nunca antes neste país, como costuma dizer Lula, um “muro da vergonha” separou os cidadãos do presidente do país na parada de Sete de Setembro. Reeleita graças às mentiras, aos ataques desqualificados contra os adversários e ao dinheiro sujo desviado da Petrobras, Dilma enganou a população e agora não tem grandeza moral para olhar nos olhos dos brasileiros. Não se trata de esboçar um pífio “mea culpa” sem nenhuma convicção ou de jogar sobre os ombros do Congresso Nacional a responsabilidade por encontrar uma solução para o descalabro nas contas públicas – mas de reconhecer que se perderam as condições políticas e a credibilidade necessárias para governar.

Sob o comando de Dilma e do PT, a população continuará não se sentindo representada. Por mais que se construam muros de proteção, a presidente da República jamais estará a salvo dos protestos cada vez maiores e que pedem a intervenção constitucional do impeachment. Como se viu no Sete de Setembro, mesmo impedidas de assistir ao desfile, muitas pessoas mandaram seu recado por meio do já tradicional Lula inflável batizado de “Pixuleco”, desta vez acompanhado por um outro boneco que retratava Dilma com um nariz de Pinóquio – uma alusão provocativa às mentiras contumazes contadas pela presidente.

A experiência histórica ensina que muros são bons quando derrubados, jamais quando construídos. Não é erguendo barreiras, afastando a população ou se encastelando no Palácio do Planalto que Dilma Rousseff conseguirá recuperar a credibilidade e a autoridade moral que se esvaíram em meio ao descalabro e à corrupção sem fim do lulopetismo. O Brasil acordou e está de pé para exigir outros caminhos. Somente um novo governo será capaz de derrubar os muros da vergonha e fazer ruir o castelo de cartas construído pelo PT nos últimos 13 anos.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Merval Pereira - Quem te viu, quem te vê

- O Globo

A 1 º de maio de 2008, escrevi uma coluna intitulada “O moderno e o arcaico” para festejar a obtenção do grau de investimento pelo Brasil da agência de risco Standard & Poor’s. Naquele momento, comemorava- se o fato de que “a política econômica do governo Lula, baseada no tripé regime de metas de inflação, austeridade fiscal e câmbio flutuante, tendo ficado demonstrado que é de longo prazo, deu as condições para a decisão da agência de risco Standard & Poor’s de promover o país à condição de ‘ investment grade’ anunciada ontem”.

Embora a decisão tenha um cunho estritamente financeiro, comentava na ocasião, pois leva em conta apenas se um país tem condições de pagar suas dívidas, “ela tem sem dúvida um significado institucional importante, destacado em vários pronunciamentos dos porta- vozes da agência”.

Até mesmo o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes — hoje considerado um adversário pelo PT —, exaltava o aspecto político de uma decisão eminentemente financeira, pois “ela representa o reconhecimento de que estamos em um processo democrático maduro, em que as instituições funcionam”.

O presidente Lula aproveitou a ocasião para repetir uma frase do regime militar, e comemorou: “Ninguém segura o Brasil”. Em outra ocasião, pareceu mais centrado e disse que “temos que ter uma euforia comedida, porque o jogo tem muito tempo pela frente, e nós sabemos que estamos construindo um processo de macroeconomia neste país, que vai levar algum tempo ainda para a gente poder estar se consolidado definitivamente como uma grande nação e uma grande economia”.

Para Lula, o grau de investimento representava “uma vantagem extraordinária neste mundo globalizado”. O presidente recorreu na ocasião a uma de suas tradicionais metáforas, comparando a figura de dois trabalhadores. Um deles é um homem comportado, que cuida da família, paga o aluguel e não tem vícios. “Esse é o investment grade”, explicou Lula a seus seguidores.

O outro recebe o dinheiro, torra tudo em mesa de jogo ou bebe demais, e está quebrado. “Então, era assim que era o Brasil. O Brasil estava quebrado, não tinha credibilidade”. O moderno e o arcaico do título da coluna de 2008 analisava justamente as visões conflitantes dentro do PT a respeito da economia brasileira.

A continuidade da política econômica foi citada por FH na ocasião para criticar a tentativa de petistas de tentar um 3 º mandato para Lula. O tucano dizia que o país já alcançara desenvolvimento político para ter políticas públicas de interesse nacional e apartidárias, e não dependia de um líder específico.

Naquela ocasião, assim como agora, o que impedia uma aproximação de partidos da mesma origem social- democrata como PT e PSDB era uma visão de Estado que, ontem mesmo, Fernando Henrique relembrou na conversa que tivemos no lançamento de seu livro “A miséria da política”, no Rio. O PT tem visão do papel do Estado que é de “aparelhamento”, potencializado pela ocupação da máquina pelo espírito do sindicalismo que domina o governo.

Essas visões conflitantes fizeram com que a reforma do Estado, iniciada no governo FH, com a redução da máquina pública e a valorização das chamadas “carreiras de Estado”, fosse vista pela gestão Lula como um “desmanche” da máquina pública, o que provocou a mudança de rumo, com o aumento de mais de 200 mil cargos no funcionalismo público e um aumento de gasto com servidores acima do crescimento da economia.

Curiosamente, na mesma ocasião acontecia em Minas uma aproximação entre o governador Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel, com a finalidade de sinalizar a possibilidade de união de políticos de partidos diferentes, mas com pontos de vista coincidentes, que permitisse vislumbrar um futuro governo formado por forças políticas com visões modernas de atuação política e da gestão pública.

Os dois consideravam que a união do PT com o PSDB seria necessária para aprovar no Congresso as reformas estruturais de que o país precisa para crescer com segurança, entre elas as da Previdência, tributária e política.

Essa aproximação, no entanto, foi vetada pela direção nacional do PT na ocasião, e o que prevaleceu de lá para cá foi o aprofundamento de uma política estatizante que abandonou aos poucos o tripé que sustentava a economia, para adotar um populismo econômico que nos levou à atual situação de perda do grau de investimento pela mesma agência Standard & Poor’s.

Mas, para o Lula de hoje, isso não tem a menor importância.

Eliane Cantanhêde - Infinita capacidade de errar

- O Estado de S. Paulo

O rebaixamento da nota do Brasil pela agência Standard & Poor’s é daquelas coisas que todo mundo e todo o mundo já esperavam, mas, na hora que acontecem, viram um deus nos acuda. O mercado reage, o Planalto finge que foi surpreendido e a oposição alardeia que “o governo acabou”, como praticamente comemorou o senador Aécio Neves.

Entre esses polos, desenrola-se o jogo puramente político, em que os atores decoram o script que lhes convém e não o que combina melhor com os interesses do País. Acuada e impotente, a área econômica registra o golpe dentro dos gabinetes e tenta providenciar explicações e novas medidas diante dos microfones.

Numa reunião de emergência, a presidente Dilma Rousseff subestimou (mais uma vez) o tamanho da encrenca: “Não é catastrófico”. O ex-presidente Lula deu de ombros: “Não significa nada”. O ministro Joaquim Levy tirou o corpo fora: “Foi uma avaliação política”.

Do outro lado, as ações da renúncia e do impeachment dispararam na Bolsa política. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros prevê uma “pressão insuportável” dos empresários e a renúncia de Dilma. Os líderes do assanhadíssimo grupo suprapartidário pró-impeachment já contabilizavam ontem à tarde 280 dos 347 votos necessários na Câmara para afastar a presidente.

É ou não de tirar o fôlego? Dilma parece empurrar seu governo ladeira abaixo, esforçando-se ao máximo para errar: Orçamento de 2016 com rombo de bilhões de reais, o balão de ensaio da CPMF, a tentativa de subir o IPI, o IOF e a Cide via decreto, Levy admitindo mexer no Imposto de Renda. Com o controle da montanha-russa nas mãos, o PMDB avisa: sem corte de gastos antes, nada de aumento de imposto. Faz sentido...

Com políticos, empresários, estudantes, donas de casa, profissionais liberais e todo o resto tendo ataques de perplexidade ou de cólera, só faltava cutucar a área militar com vara curta. Como revelou a repórter Tânia Monteiro, não falta mais. Certamente guiado por algum gênio do mal, o Ministério da Defesa fez publicar no Diário Oficial da União uma portaria tirando poder dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica sobre o pessoal militar para transferi-lo ao ministro Jaques Wagner, do PT.

O, ou a, gênio do mal caprichou na dose. A iniciativa é atribuída à secretária executiva da Defesa, casada com o segundo homem do MST, o “exército do Stédile”. A publicação no DO foi três dias antes da maior festa militar do ano, a parada de Sete de Setembro. E a assinatura eletrônica foi do comandante da Marinha, na condição de ministro interino, mas ele diz que nem sequer foi consultado. Um desastre.

É assim que Dilma vai se isolando mais e mais, sem apoio popular e cercada por um PMDB guloso, um Lula assustado, um Congresso hostil e o setor privado se desgarrando. E, além do desgaste da imagem do Brasil no exterior, ainda cria encrenca desnecessária justamente com as Forças Armadas.

Trancada no Planalto com Aloizio Mercadante e Edinho Silva, a presidente parece sentada nos escombros da economia, da política, da cúpula histórica do PT – e com a Lava Jato a mil por hora. Sem querer cortar gastos e sem força política para aumentar a receita, vai ter de fazer as duas coisas e pode até enxugar o Minha Casa, Minha Vida, que é o que restou do maravilhoso mundo das campanhas e vem justificando as viagens dela pelo País.

Goste-se ou não do deputado Eduardo Cunha, é dele a definição perfeita e acabada do governo Dilma Rousseff: “É o Maquiavel às avessas”. Maquiavel ensinava que o mal se faz de uma vez e o bem, a conta-gotas. Dilma faz o mal a conta-gotas e o País continua aguardando para saber qual o bem que ela é capaz de fazer. Inclusive, ou principalmente, a ela própria.

Hélio Schwartsman - Encrenca federal

- Folha de S. Paulo

O Brasil sob Dilma 2 está ficando muito parecido com o Oriente Médio: quem aposta no pior cenário nunca perde dinheiro.

A sucessão de trapalhadas políticas da presidente, com destaque para a apresentação de uma proposta orçamentária com deficit primário para 2016, foi finalmente recompensada com a retirada do selo de bom pagador pela Standard &Poor's (S&P). Como esperado, a manhã de ontem foi de muito nervosismo nos mercados, com dólar e juros subindo fortemente e a Bolsa despencando.

Se há um lado bom no rebaixamento, é que, ao nos brindar com o gostinho do que acontecerá caso o governo e o Congresso deixem que o mercado proceda ao ajuste em vez de eles mesmos o operarem, oferece uma chance para que os atores políticos se mexam e algo aconteça.

É claro que ninguém gosta de cortar aposentadorias e programas sociais. Mas, insisto, se o governo não apresentar um projeto coerente e crível que faça com que o Estado brasileiro caiba no PIB, o mercado deverá lançar o dólar e os juros nas alturas e lá mantê-los, o que inviabilizará o controle da inflação e aprofundará ainda mais a recessão. Obviamente, quem mais perde nesse cenário são os mais pobres, que acabariam ficando não só sem os benefícios mas também sem seus empregos.

O caminho para resolver a encrenca fiscal é conhecido. Passa por uma combinação de cortes de despesas (inclusive as obrigatórias) e aumento de impostos. A dificuldade para fazer passar um plano com essas características é que ninguém mais acredita no governo, que, diga-se, deu todos os motivos para a desconfiança.

O fato, porém, é que algo precisa ser feito já, ou os efeitos da crise serão piores do que o estritamente necessário. A urgência implica que não dá para excluir o Planalto das negociações. Qualquer iniciativa para afastar a presidente levaria meses, durante os quais as coisas se deteriorariam ainda mais.

César Felício - Brasil, pátria educadora

• Dilma vai tentar provar que é possível sangrar por três anos

- Valor Econômico

Calibrar a negação da realidade com a administração das expectativas da população é uma tarefa básica de todo governante em início de um mandato, ao tomar posse. Em um ambiente de competição democrática, mascaram-se os fatos durante a campanha eleitoral. É preciso alertar aos circunstantes que haverá uma correção de rumos ao se começar os trabalhos de um governo, sem admitir a fraude do ano anterior.

No instante em que se cruza de forma definitiva uma fronteira, depois da qual o governo de turno estabelece a sua marca na história, convém revisitar a carta de intenções.

No caso de Dilma, boa parte de suas vicissitudes na opinião pública se deve ao seu erro de dose. A presidente carregou na mão para se reeleger e deu uma pedalada política ao não ser clara sobre o ajuste que já estava em curso no momento em que fez a proclamação solene: "gostaria de anunciar agora o novo lema do meu governo: ele é simples, é direto e é mobilizador. Reflete com clareza qual será nossa grande prioridade e sinaliza para qual setor deve convergir o esforço de todas as áreas do governo. Nosso lema será: BRASIL, PATRIA EDUCADORA!" Assim mesmo, com letras maiúsculas, de acordo com a versão disponível no site do Palácio do Planalto.

O contingenciamento na área da educação anunciado ainda em maio e os corte pela metade nas metas do Pronatec até 2018 e das dotações para o programa "Ciência sem Fronteiras", duas iniciativas expressamente mencionadas no discurso de posse, colocam uma sombra sobre a consistência da visão estratégica do governo como um todo.

Ao mencionar um ajuste fiscal, frisou no discurso de 1º de janeiro que não estava disposta a fazer qualquer sacrifício para um ajuste nas contas públicas, mas fazê-lo com o menor sacrifício possível para a população e derrotar "a falsa tese que afirma existir um conflito entre a estabilidade econômica e o crescimento do investimento social". Oito meses depois, se torna mais evidente a dificuldade presidencial em dar o sinal de alerta. Ficava tácita, em sua dubiedade, a divisão existente dentro da própria equipe do governo.

Não houve o alerta contra o "fantástico caso da jabuticaba", mencionado na entrevista da presidente publicada ontem no Valor. Dilma, a confuciana que prefere o "caminho do meio", queixou-se das "despesas discricionárias não contingenciáveis" em saúde, educação, Bolsa-Família e benefício aos servidores, no relato da jornalista Claudia Safatle.

Dezesseis anos antes, o então presidente Fernando Henrique Cardoso também fez promessas vãs em seu discurso de posse no segundo mandato, ao proclamar não ter sido eleito para ser o gerente da crise, mas para superá-la. Disse isso no mês em que trocaria três vezes de presidente do Banco Central, perdendo sua popularidade para sempre. Mas, de todo modo, alertou que ia chover. No sentido metafórico, claro, já que o governo foi imprevidente em relação à estiagem que levou ao apagão de 2001. Disse que não hesitaria em fazer o que fosse preciso para por fim ao tormento do déficit público. "É melhor o remédio amargo que cura a doença do que a febre crônica que compromete a saúde do organismo". Doença alguma foi curada, mas Fernando Henrique não falseava quando avisou: "A taxa de desemprego poderá elevar-se."

Essa dissociação entre a Dilma que buscava votos em 2014 da atual sepulta qualquer possibilidade de recuperação em sua imagem. Perde-se a alma quando o único objetivo é se seguir vivo. É algo que congela a presidente nos 7% que tanto a incomoda, segundo a entrevista de ontem. Sua honradez pessoal, fator incontroverso, é seu principal ativo para permanecer no cargo. "Não devo nada, não fiz nada errado", sentenciou. Não há, por ora, no TCU, no STF ou no TSE elementos que a desmintam.

Há outro ativo, secundário, que ainda a preserva: está evidente que o vice-presidente Michel Temer não empolga a elite empresarial e nem política como alternativa. O vice aumentou seu protagonismo fora de Brasília e os empresários demonstraram interesse em ouvi-lo, mas entregar o poder ao PMDB não é algo que comove, sobretudo entre os setores que estavam mais atentos ao risco de um rebaixamento de crédito do país, como o feito anteontem.

Salvo no caso das medidas provisórias que afetavam diretamente direitos trabalhistas, onde a resistência maior partia do PT, esteve no PMDB o principal muro de contenção a cada passo do ajuste proposto pelo ministro da Fazenda. Há dúvidas sobre o papel de liderança de Temer em relação a Renan Calheiros e Eduardo Cunha.

Dois manifestos empresariais já foram divulgados, deixando óbvio que se vive um clima de sucessão presidencial antecipada. Um terceiro está em gestação na Sociedade Rural Brasileira, envolvendo o agronegócio. A depender da vontade do presidente da instituição, Gustavo Diniz Junqueira, será mais uma agenda na praça, disponível a quem tiver força para efetivamente governar.

A hipótese Temer ganha alguma força no Congresso, onde ontem houve o lançamento na Câmara da petição virtual pelo impeachment. Falar no processo de afastamento regulado pela Lei 1.079 é abrir caminho para o pemedebista. Quando há um mês o ar começou a se tornar rarefeito em Brasília, a iniciativa dos deputados da oposição foi propor a antecipação das eleições, um modo de dizer que não é apropriado o vice substituir a presidente.

Um eventual governo Temer depende da conjunção de dois fenômenos raros: a unificação do PMDB e do PSDB em torno de um propósito comum. São duas siglas com tendência quase irresistível à falta de solidariedade entre seus membros.

Dilma tem a seu favor a ausência de elementos concretos que a incriminem e a debilidade de seus adversários as limitações do partido que controla toda a linha sucessória. Vai tentar provar, com razoáveis chances de êxito, que é possível sangrar por três anos e meio.