terça-feira, 28 de julho de 2015

Opinião do dia - Almir Pazzianotto Pinto

Não faltaram advertências. A crise em que estamos envolvidos foi antecipada por vozes previdentes ao longo de mais de dez anos.

Anestesiada pelo discurso lulopetista, a Nação rola ladeira abaixo, embalada por mentiras que a levaram a se convencer da força mágica das palavras.

Para se desenvolver, enriquecer, subir de condição de vida, avançar escala social, bastaria, segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), adotar o endividamento como estilo de vida. A economia subdesenvolvida ganharia corpo e solidez sem necessidade de trabalho persistente, mas à força de esbanjamento de dinheiro público, criação de ministérios inúteis, multiplicação de partidos e sindicatos, eleições de picaretas, propinas e trambiques, culminando com a exaltação da ignorância e do ridículo.

Os resultados estão aí, e será impossível revertê-los dentro do atual cenário político.

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Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. 'Recessão, crise, impeachment'. O Estado de S. Paulo, 27 de julho de 2015

Aécio diz que Dilma constrange governadores ao tentar encontro

• Tucano convocou indignados para protesto e disse que só quer ser presidente pelo voto

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse nesta segunda-feira que a única responsável se, por alguma decisão institucional não conseguir concluir o mandato, é a própria presidente Dilma Rousseff, e não a oposição. Ao retornar a Brasília, ele criticou a tentativa do PT e da presidente de “dividir sua crise” com os governadores, ao constrangê-los a participar de uma "reunião desnecessária", na próxima quinta-feira, para discutir o projeto de reforma do ICMS.

Na próxima semana o PSDB começa a veicular inserções de 30 segundos convocando “os indignados” com a crise, a participar da manifestação nacional marcada pelos movimentos de rua, para o dia 16 de agosto.

O tucano negou que haja divisão no PSDB sobre o destino da presidente, se deveria ser afastada por impeachment, cassação do diploma da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou se ela deve cumprir seu mandato até o fim. Aécio disse, entretanto, que o PSDB não pode desconhecer a realidade das ruas e a indignação da sociedade.

Segundo Aécio, apesar de se aproximar dos movimentos de rua para a manifestação que se anuncia gigantesca, o PT e o governo erram o alvo ao culpar a oposição por um eventual impedimento da presidente Dilma.

— O que vai acontecer depende mais do governo e do PT do que dos partidos de oposição. O que queremos é que as instituições funcionem e façam o seu trabalho. Eu digo uma coisa: se um dia eu tiver a oportunidade de ser presidente da República, será unicamente pelo caminho do voto, não por outra saída qualquer. Mesmo porque ninguém conseguirá enfrentar a profunda crise que atravessamos se não for legitimado pelo voto. Para nós o calendário de 2018 sempre foi o mais adequado, mas a presidente Dilma só agrava a situação a cada dia, o que deixa a incerteza de cumprir seu mandato até o final — disse Aécio.

Julgamento de contas no TCU
Ele criticou a condução dada ao processo das contas da presidente que serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pelo advogado geral da União, Luís Inácio Adams, pela presidente e seus ministros. Chamou de “patética” a entrevista de Adams dizendo que o julgamento tem de ser técnico, mas afirmou que “por debaixo dos panos” estão constrangendo os ministros e os governadores para agirem politicamente para impedir a reprovação das contas.

— O constrangimento chega ao inimaginável de ameaças veladas e de trazer a Brasília os governadores para dar apoio a presidente Dilma para tirar uma fotografia e simular apoio por uma coisa com a qual não tem nada a ver. Essa reunião é uma busca de socorro de alguém que quer que lhe joguem uma boia salva-vidas. O que a presidente tem é de fazer um mea-culpa para ver se recupera um pouco da credibilidade que ainda lhe resta — criticou Aécio.

O presidente do PSDB diz que é natural que governadores se reúnam com a presidente para discutir problemas administrativos. Mas nesse caso, a reunião de quinta-feira não passa de uma tentativa de “cooptar” apoios de setores da oposição, o que seria uma clara demonstração de fragilidade do governo.

'FH deu o tom certo'
Sobre os recados dados pelo Planalto de busca de um pacto pela governabilidade com as oposições, Aécio disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o tom certo: não se dá socorro para salvar o que não deve ser salvo. Ironizando, Aécio disse que o PT trava uma disputa desleal com o PSDB, porque faz mais oposição ao governo Dilma do que todos os partidos de oposição juntos.

— Fernando Henrique deu o tom certo: quem pariu Mateus que o embale. Não nos culpem . A instabilidade que atravessam é obra desse governo. Isso não é mais um governo. É um arremedo de governo e o desfecho da presidente Dilma é responsabilidade exclusiva dela, não das oposições — disse Aécio, completando.

— Não se conversa com quem não se confia. E nós não confiamos no PT.

Com um levantamento das pedaladas fiscais, Aécio mostrou que entre setembro, antes das eleições, e dezembro, depois de reeleita, a presidente Dilma e a equipe econômica esconderam um buraco de R$100 bilhões nas contas do governo.

— Isso é fraude. A presidente Dilma não deu a população brasileira a oportunidade de fazer sua escolha com base na realidade que eles esconderam — disse Aécio, comparando as pedaladas e maquiagem fiscal aos crimes de colarinho branco.

— Se o presidente de um banco pega o dinheiro dos correntistas para pagar suas contas ele vai preso. Isso é muito fácil de ser compreendido. Se eles não forem responsabilizados por isso vamos voltar ao tempo das republiquetas — disse.

Inserções do PSDB na TV vão estimular participação em marcha

• Propagandas também serão usadas para mostrar unidade do partido

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, disse nesta segunda-feira que está discutindo com os líderes dos movimentos de rua como participar da manifestação nacional do dia 16 de agosto. Na próxima semana, o PSDB vai veicular inserções no rádio e TV estimulando “os cidadãos indignados” com a crise política e econômica a irem para as ruas externar sua indignação. Ele disse que, desta vez, pode participar como cidadão, não como presidente do PSDB, o que deve ser feito também por lideranças de todos os partidos de oposição. As inserções também serão usadas para mostrar a unidade do partido, com falas do governador Geraldo Alckmin, Fernando Henrique, José Serra e outros tucanos.

Segundo Aécio, as inserções vão ser usadas para mostrar que o PSDB não busca alianças com o PT, mas sim com a sociedade, que a aliança do partido será com movimentos populares representativos da sociedade.

— O PSDB não vai ser o protagonista dessa manifestação do dia 16, mas vai participar como um segmento da sociedade. Nas inserções, vamos dizer que os que estiverem indignados ou arrependidos ao voto do passado, aos que cansaram da mentira e da incompetência que nos trouxeram para o isolamento no qual nos encontramos, que devem participar da marcha do dia 16. Vamos estimular a participação dos nossos companheiros. Se decidir, vou como cidadão — disse Aécio.

O tucano disse que nas primeiras manifestações houve uma resistência à participação de políticos, mas que de, lá para cá, as coisas evoluíram e ele está se aproximando das lideranças dos movimentos que preparam a nova marcha.

— Há movimentos distintos. Uns pedem impeachment, outros até intervenção militar. Nosso apoio a marcha e aos movimentos busca uma saída dentro da ordem democrática. Tenho conversado com os líderes dos movimentos. Se desconsideramos que existe essa realidade da indignação da sociedade, vamos ficar a margem. As cobranças são enormes — disse Aécio.

Ele disse que a tentativa de lideranças do PT de se aproximar das oposições só serviu para mostrar que precisam se aproximar mais ainda de setores da sociedade, do qual o PSDB é hoje o maior porta-voz.

— Em torno do quê o ex-presidente Lula discutiria com o ex-presidente Fernando Henrique? Só se for para ele fazer um mea-culpa e assumir a responsabilidade por tudo que aí está. Ou então querem é criar um pano de fundo para mostrar que somos todos iguais. Mas nós não somos iguais ao PT. Nossa aliança é com o povo — disse Aécio.

O presidente do PSDB admitiu que os parlamentares tucanos se aliaram ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na votação de pautas que interessavam ao partido e ao país. Mas negou que o PSDB tenha apoiado a eleição do peemedebista, pois apoiou a candidatura do deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

— O fato concreto é que houve uma convergência de interesses na pauta da oposição . Mas o presidente Eduardo Cunha vai ter que se explicar — disse Aécio.

PSDB usará inserções na TV em apoio a protestos contra Dilma

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

• Esta será a primeira vez que o PSDB se manifesta de uma maneira mais ostensiva a favor da realização dos protestos; nos outros dois atos que aconteceram este ano - 15 de março e 12 de abril -, o partido e suas lideranças deram um apoio mais tímido

BRASÍLIA - O PSDB vai usar as inserções a que tem direito na TV para chamar a população a ir às ruas contra o governo nos protestos marcados para o dia 16 de agosto. Uma das bandeiras dos manifestantes é o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Segundo o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), o conteúdo das propagandas de 30 segundos que irão ao ar na próxima semana atende a uma cobrança dos eleitores do PSDB, que pedem uma aproximação maior da legenda aos movimentos que organizam os atos.

"Se nós simplesmente desconsiderarmos que elas (as manifestações) existem, estaremos fugindo da realidade. Nós vamos estar com inserções a dez dias de uma movimentação que mobiliza a sociedade. A cobrança dos nossos eleitores é enorme pela vinculação cada vez maior do partido", disse Aécio.

Esta será a primeira vez que o PSDB se manifesta de uma maneira mais ostensiva a favor da realização dos protestos. Nos outros dois atos que aconteceram este ano - 15 de março e 12 de abril -, o partido e suas lideranças deram um apoio mais tímido aos atos.

Até o próprio Aécio, que não participou das outras edições, cogita ir à próxima. "Estou avaliando, desta vez, com mais possibilidade. As lideranças do PSDB não se furtarão a estar presentes em uma manifestação que ganha corpo", disse.

O tucano foi muito criticado por grupos, como o Movimento Brasil Livre (MBL), que pedem o impeachment da presidente, por não levantar essa bandeira. Desde o início do ano, o PSDB tem adotado uma postura de cautela ao tratar do assunto. Com o agravamento da crise, porém, diversas lideranças da sigla voltaram a defender a tese do impedimento abertamente.

"Amigos, no dia 16 de agosto vamos voltar às ruas não mais para protestar. Agora vamos pedir o impeachment de Dilma, responsável maior por um governo corrupto, mentiroso e incompetente", postou no Facebook o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), líder do PSDB na Câmara.
Nesta semana, a sigla vai usar as inserções na TV para mostrar a união entre as principais lideranças tucanas, um tema sempre controverso dentro do ninho tucano. "Temos que demonstrar que somos um conjunto de pessoas, que podem divergir em determinas questões, mas que estão absolutamente sintonizadas com o sentimento das ruas, com as mudanças que têm de ocorrer", disse Aécio.

Além de Aécio, serão protagonistas das peças os principais nomes do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador José Serra (SP).

PSDB convocará para manifestações contra o governo, diz Aécio

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou nesta segunda-feira (27) que o PSDB fará inserções de rádio e televisão para convocar as pessoas a participarem das manifestações contra o governo marcadas para 16 de agosto. Apesar de afirmar que o partido não deve ser protagonista dos protestos, o tucano diz que a legenda também não pode se omitir neste momento.

Segundo o senador, as propagandas do partido apelarão para a indignação dos cidadãos em relação às ações do governo. "Aqueles que estiverem indignados ou até mesmo arrependidos mas, principalmente, cansados, devem sim se movimentar, ir às ruas", disse.

As inserções começarão a ser veiculadas nesta semana. Na primeira fase, o PSDB mostrará suas principais lideranças, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o senador José Serra (SP). Mesmo com a movimentação interna de integrantes da legenda em torno de possíveis candidaturas à Presidência, Aécio afirmou que a estratégia inicial será mostrar um partido unido.

"Nosso esforço nessa relargada será mostrar uma grande sintonia entre as principais lideranças do PSDB. Temos que estar sintonizados com as ruas e com a população cada vez mais indignada com o que está acontecendo", disse.

"Somos hoje porta-vozes do sentimento de indignação, do sentimento de frustração da sociedade brasileira e até de decepção de eleitores do próprio PT. Nossa aliança tem que ser com a sociedade", completou.

A partir da próxima semana o partido começará a fazer as convocações nas propagandas. Apesar do envolvimento direto nos atos, Aécio diz que a sigla não quer ser protagonista. No entanto, diferentemente das primeiras manifestações contra o governo, diz que agora há uma convergência entre a sociedade e os políticos.

"O PSDB deve participar como uma parcela da sociedade, jamais como protagonista dessas manifestações. Até porque, quanto mais da sociedade elas forem, mais legítimas e representativas elas serão. Mas o PSDB não se furtará, as lideranças individualmente, a estar presente na manifestação que ganha corpo", disse.

"As coisas avançaram e acho que hoje já começa a ter um encontro entre as representações políticas, institucionalizadas, com os movimentos das ruas e isso é bom, é positivo. Vamos estar na dosagem certa", completou. Segundo Aécio, outros partidos de oposição também deverão fazer convocações.

Criticado por não ter participado de outras manifestações anti-governo, Aécio afirmou que ainda não decidiu se irá na próxima. "Meu cuidado maior é que, a partir do momento em que eu disser que eu vou, isso dá uma impressão de que é um movimento de partido e não é. Se eu decidir ir, vou como cidadão", afirmou. "Se simplesmente desconsiderarmos que elas existem, acho que estamos fugindo da realidade. A cobrança dos nossos eleitores é enorme. O que estou tendo é cuidado para manter o equilíbrio", completou.

Crise de confiança
Aécio afirmou ainda que o governo passa por uma "grave crise de confiança" e que Dilma precisa admitir que mentiu durante a campanha eleitoral de 2014 e que errou na condução da política macroeconômica do país para reconquistar a credibilidade do seu governo.

O tucano criticou também a estratégia de reunir os governadores do país com a presidente para discutir pautas federativas como uma tentativa de Dilma de demonstrar que tem apoio. Para ele, o encontro soa como um "pedido de socorro".

"O encontro de governadores com o presidente da República é natural em qualquer democracia. É absolutamente republicano. Mas tentar cooptar setores da oposição, na verdade, é uma demonstração muito clara da fragilidade do governo e será absolutamente inócua", disse.

A intenção do governo era convidar também governadores da oposição para participarem de uma reunião que estava sendo articulada para acontecer na próxima quinta-feira (30), em Brasília. O encontro seria uma tentativa de selar uma espécie de "pacto pela governabilidade".

A petista já avalia, no entanto, dividir o encontro em viagens pelo país. Segundo o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), a dinâmica pode tornar o diálogo entre os Estados e o governo federal mais eficaz, já que cada região tem seus interesses e demandas específicas.

Não vou recomendar que os governadores deixem de aceitar um convite da presidente. Os governadores terão toda a liberdade para ir. O que o PSDB não está disposto é ajudar a salvar, e vou repetir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, aquilo que não deve ser salvo", disse. Para Aécio, Dilma constrange os governadores com o convite e diz que a reunião é desnecessária.

Pedaladas
O tucano criticou também a condução que o governo tem dado em relação àanálise das contas de 2014 que será feita pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Ele afirma que o Planalto exige uma decisão técnica mas faz gestões políticas junto à Corte.

Na semana passada, a equipe de Dilma entregou ao TCU a defesa do governoem relação às contas de 2014, inclusive no que diz respeito às chamadas "pedaladas fiscais". Por meio das manobras, o governo usou bancos públicos, como a Caixa, para pagar benefícios sociais como Bolsa Família e seguro-desemprego em momentos de falta de recursos no Tesouro Nacional.

"Uma coisa são atrasos eventuais nos pagamentos. Mas ter como estratégia planejada transferir as responsabilidades do Tesouro para as instituições financeiras, você registrar isso como créditos a receber do governo, e isso ficar lá permanente, isso é lesar o artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal", disse.

Para Aécio, a defesa do governo em relação às pedaladas fiscais se assemelha aos argumentos usados pelos petistas na defesa da Petrobras. "Eles dizem que, se outros já roubaram antes, então nós também podemos roubar. E aí institucionalizam a corrupção", afirmou.

Após a decisão do TCU, seja ela pela aprovação ou rejeição, as contas serão analisadas pelo Congresso. No entanto, desde 1983, os congressistas não analisam contas do governo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já organizou as contas pendentes e promete colocar algumas em votação na primeira semana de agosto, quando acaba o recesso parlamentar.

Há, no entanto, uma possibilidade de que as contas de 2014 sejam votadas antes das demais. Regimentalmente, os partidos podem pedir a inversão da pauta de votação para votá-la antes das demais. Especula-se que, se isso acontecer, as demais contas podem continuar esquecidas.

Para Aécio, a inversão da pauta não representará nenhum problema mas defendeu que o ideal é que o Congresso vote todas as contas pendentes. "Não vejo que há polêmica nas contas passadas", disse.

Caso haja a rejeição do balanço contábil de 2014, setores contrários ao governo poderão usar a decisão para pedir o impeachment de Dilma. Aécio, no entanto, afirmou que não acredita neste caminho e espera chegar ao comando do país "pelas urnas". "O que vai acontecer com a presidente depende mais dela do que da oposição. [...] Quando eu tiver a oportunidade de ser presidente, isso acontecerá pelo voto. Para nós, o calendário de 2018 sempre foi o calendário normal", disse.

PSDB vai usar horário de TV para apoiar manifestações anti-Dilma

Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em uma mudança de postura, o PSDB vai convidar a população a participar das manifestações de rua contra a presidente Dilma Rousseff. A convocação será realizada na semana anterior aos protestos, por meio das inserções comerciais do partido na televisão, que começam nesta terça-feira. A primeira etapa dos comerciais será utilizada para mostrar unidade das principais lideranças do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (SP), o senador José Serra (SP) e o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG).

"Nosso esforço nessa relargada no segundo semestre é mostrar uma grande sintonia entre as principais lideranças do PSDB. Mostrar que somos um conjunto de pessoas que podem divergir em determinada estratégia, mas absolutamente sintonizados com o sentimento das ruas", disse Aécio nesta segunda-feira em Brasília.

O presidente do PSDB disse ainda não ter decidido se participará das manifestações por temer passar a impressão de tratar-se de um movimento partidário.

Mas afirmou que o PSDB vai estimular a participação de suas lideranças e das pessoas "indignadas" ou "arrependidas" do voto em 2014. "Estamos fazendo isso acessoriamente. Não assumindo a paternidade ou o protagonismo das manifestações. Mas, se nós desconsiderarmos que elas existem, estaremos fugindo da realidade. Estaremos com inserções a dez dias das manifestações. A cobrança de eleitores ligados a nós é enorme", disse.

Presidência
O tucano voltou a dizer que o debate sobre o impeachment depende das ações do governo e que "o que vai acontecer em relação à presidente Dilma dependerá mais dela e do governo do que das oposições".

Aécio aproveitou para dizer, pela primeira vez, que só considera legítimo um presidente eleito pelo voto popular. "Eu, pela primeira vez, digo que, se um dia tiver oportunidade de ser presidente da República, será pelo voto. Não será por outro caminho."

Cunha
Com relação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador definiu como "aproximação de pautas e de interesse" o que existe entre o PSDB e o deputado, citado por um delator como envolvido no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na operação Lava-Jato.

Para Cunha, PT deveria discutir afastamento de Dilma antes do dele

Gustavo Uribe, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em mais uma crítica direta ao PT, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta segunda-feira (27) que o partido deveria discutir o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) antes de sair em defesa de sua saída temporária da presidência da Casa Legislativa.

Em entrevista coletiva após almoço com empresários em São Paulo, o peemedebista rebateu discurso pregado por lideranças petistas em seminário estadual do partido promovido neste final de semana em Minas Gerais, que teve a presença do presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Em uma provocação, o presidente da Casa Legislativa sugeriu ao partido que inclusive adote a tese do impeachment da petista.

"Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment", recomendou.

Segundo o deputado federal, a defesa de seu afastamento por dirigentes petista o deixa satisfeito, uma vez que considera a legenda sua inimiga.

"O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado", afirmou.

O peemedebista disse que não pretende se afastar do comando da Casa Legislativa e ressaltou não estar preocupado com a hipótese de perder apoio na Câmara dos Deputados em decorrência de depoimento do lobista Júlio Camargo de que teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Volume morto
Mais cedo, durante o encontro com empresários, Cunha já havia criticado o governo e a presidente. Segundo ele, o PT, "para a sociedade, já baixou do volume morto" e tem impopularidade maior do que a da mandatária do Planalto.

A análise é uma referência a declarações feitas em privado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reveladas, no início deste mês, pelo jornal "O Globo". Na ocasião, ao falar sobre a crise política que o partido atravessa, Lula disse que ele e Dilma estavam "no volume morto".

"A impopularidade do PT consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff hoje", disse Cunha. "Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser", concluiu.

O encontro foi organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Antes da chegada de Cunha, dez jovens protestaram contra ele em frente ao hotel onde aconteceria o evento.

O presidente da Câmara, que recentemente declarou ser, pessoalmente,oposição ao governo, voltou a atribuir ao poder Executivo a aparição de seu nome na investigação da Operação Lava Jato.

Temor
Cunha se definiu como vítima de um ataque "com as digitais bem definidas". "Quis ser independente de um poder Executivo que todo mundo sabe que não me engole, todo mundo sabe que não quis que eu fosse presidente, que não se conformou com aquilo que foi feito e que, de certa forma, teme a continuidade do nosso trabalho", afirmou.

Questionado sobre um possível processo de impeachment da presidente, o peemedebista fez questão de afirmar que terá uma posição equilibrada e que o assunto é complexo e com reflexos penosos para o país.

"Vou tratar a todos [os pedidos de impeachment de forma técnica, sob a ótica jurídica", disse.

O presidente da Câmara, no entanto, voltou a criticar o ajuste fiscal proposto pelo governo –nas palavras dele, "pífio"– e apostou que o as metas de economia para pagamento da dívida pública não serão cumpridas.

Para Cunha, haverá um agravamento do cenário e as propostas do governo até agora são insuficientes. Ele vê risco de rebaixamento das notas de crédito do Brasil e afirma que o cenário é de insegurança para o empresariado.

Covardia
Logo no início de sua fala, Cunha tratou sobre as especulações de que poderia se recolher diante das acusações de envolvimento na Lava Jato. "Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco", afirmou. "A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar", concluiu.

Apesar de ressaltar que seu rompimento com o governo é "pessoal", ele disse acreditar que hoje, no PMDB, os favoráveis à saída do partido da aliança que sustenta a gestão Dilma Rousseff são maioria na cúpula da sigla. O PMDB tem o vice-presidente da República, Michel Temer.

Pedidos de impeachment com fundamento terão acolhimento, diz Cunha

José Roberto Castro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Em almoço com empresários em São Paulo, presidente da Câmara afirmou que solicitações serão analisadas sob a ótica jurídica

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira, 27, que os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff que tiverem fundamento terão acolhimento.

"Os (pedidos de impeachment) que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento", afirmou peemedebista durante um almoço promovido por empresários do Lide, em São Paulo. Cunha disse ainda que o impeachment é "um processo complexo" e que tem de haver base para um pedido.

Ele afirmou também que sua posição sobre a abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff "não mudou uma vírgula" e que todos os pedidos serão analisados de maneira técnica.
"Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Recurso eleitoral porque você não se satisfez não é a melhor maneira", afirmou peemedebista durante um almoço promovido por empresários do Lide, em São Paulo.

Rejeitada em abril por Cunha, a proposta de pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso deve voltar para agenda do Legislativo após o recesso. Depois de romper oficialmente com o governo no dia 17, o peemedebista decidiu tirar os pedidos da gaveta e pediu que seus autores ajustassem os documentos dentro das exigências regimentais. O procedimento é incomum. Quando as petições não se enquadram no formato, elas normalmente são remetidas direto ao arquivo. A iniciativa foi a senha para que os grupos de oposição à presidente Dilma Rousseff selassem um pacto informal de não agressão com o presidente da Câmara.

Cunha disse ainda que o impeachment é "um processo complexo" e que tem de haver base para um pedido. Ele disse que pediu que fosse feito um saneamento de premissas nos requerimentos recebidos. "Os que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento", disse Cunha.

Covardia. O peemedebista afirmou ainda que seu rompimento pessoal com o governo não significa que ele usará a Casa para atuar contra o governo. Cunha reclamou do que chamou de "covardia" do governo contra ele nas acusações da Lava Jato, mas disse que seu compromisso é conduzir a Câmara mantendo o equilíbrio e atuando institucionalmente e com independência.
"Não está no nosso horizonte fazer com que nosso País incendeie. Nesses dias difíceis, pode faltar incendiário, o que não pode faltar é bombeiro", disse o presidente da Câmara, afirmando que sempre estará na posição de bombeiro. Cunha recordou a votação expressiva que teve na eleição para a presidência da Câmara para dizer que não se sente no direito de usar o cargo para atuar contra o governo.

Pedaladas. Cunha tentou explicar o processo de julgamento das contas do governo Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União e lembrou que o órgão foi criado para assessorar o Poder Legislativo. Para ele, é o Congresso quem dará a palavra final sobre o parecer que será dado pelo Tribunal.

Cunha reforçou que estava fazendo a explicação para que as pessoas "não se decepcionassem" com a tramitação do processo das contas no Legislativo. "As pessoas estão criando expectativa como se TCU condenasse o governo, não é isso. É um parecer. A palavra é do Congresso", disse o peemedebista.

Cunha: Pedido de impeachment não será tratado como recurso eleitoral

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira que os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff não “podem ser tratados como recurso eleitoral”.

“Eu não mudei minha opinião. Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Não podemos transformar o Brasil numa republiqueta, que não é”, afirmou o Cunha ao responder a uma pergunta de um empresário durante evento na capital paulista.

“O impeachment é decisão política. Não é um processo simples. Tem que ter base legal para isso. Vou tratar todos (os pedidos) de forma técnica”, declarou o pemedebista, acrescentando que dará andamento aos processos caso haja fundamento jurídico.

O presidente da Câmara enfatizou que sua decisão de virar oposição não irá interferir nos processos que tramitam na Câmara e pedem o afastamento da presidente Dilma. Além disso, ressaltou que não pediu o apoio de nenhum parlamentar para segui-lo em seu posicionamento.

Cunha, que rompeu com o governo há dez dias, justificou a postura e voltou a acusar o Executivo pela citação do seu nome nas denúncias de corrupção investigadas no âmbito da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

“Fui vítima de uma violência com as digitais bem definidas. Não podia me acovardar e não reagir. Ce rtamente teria uma (denúncia) atrás da outra (caso não reagisse).” Questionado sobre quem teria incluído seu nome nas investigações, Cunha citou o Executivo ao declarar que o Planalto tentou evitar sua eleição para a presidência da Câmara e a continuidade de seu trabalho à frente da Casa.

As declarações motivaram aplausos da plateia, composto por 502 empresários, segundo a organização do evento.

Cunha diz que PT está abaixo do ‘volume morto’

• Presidente da Câmara diz que rompeu com o governo ‘como reação a uma covardia’

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO — O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), centrou suas críticas ao governo Dilma Rousseff e ao PT e disse que o partido, para a sociedade, está “abaixo do volume morto”. A declaração foi dada nesta segunda-feira em um almoço com empresários de São Paulo, e faz uma referência à declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho em um reunião fechada e revelada pelo O GLOBO.

— Se a frase do ex-presidente Lula é de que o PT está no volume morto, acho que para a sociedade ele já baixou do volume morto. O que precisamos fazer é ver para o futuro. E o futuro passa por esse debate todo que estamos fazendo, que a gente possa construir soluções que esteja em consonância com a sociedade. E não fazer do congresso e do governo apenas uma pauta ideológica, corporativa e partidária — afirmou o presidente, que foi aplaudido.

Cunha também disse que a impopularidade do PT “consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff“.

— Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser.

O presidente da Câmara também afirmou que seu rompimento político com o governo foi “reação a uma covardia” e voltou a afirmar que seu posicionamento é pessoal.

— Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco. A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar. Fui vítima de uma violência com as digitais definidas. Não podia me acovardar e não reagir — disse Cunha, em referência a sua investigação na Operação Lava-Jato, por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

Questionado pelo presidente do grupo Lide, João Dória, sobre a quem pertenciam essas digitais, respondeu: - Basicamente, foi uma interferência do Poder Executivo, que todo mundo sabe que não me engole.

Cunha acusou ainda o governo de “estimular a criação de partidos artificiais para tumultuar”, referindo-se à recriação do PL com a ajuda do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD).
Na entrevista coletiva, dada após o almoço, Cunha não respondeu os questionamentos sobre sua investigação na Lava-Jato e disse que foi orientado pelo seu advogado a não comentar o assunto.

Questionado sobre críticas de lideranças petistas no seminário estadual do PT de Minas Gerais, que ocorreu neste final de semana, Cunha rebate provocando dizendo que o partido poderia adotar a tese do impeachment de Dilma.

— Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment — ironizou.

Para ele, seu afastamento ser defendido por dirigentes petistas é motivo de satisfação, já que considera a sigla como adversária.

— O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado — disse Cunha, que não considera a hipótese de se afastar da presidência da Câmara durante as investigações da Lava-Jato.

O lobista Júlio Camargo disse em depoimento que Cunha teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Impeachment
Cunha voltou a falar que um impeachment de um presidente da República não é um processo simples, mas disse que os que tiverem fundamento terão andamento na Casa.

— Os (pedidos de impeachment) que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento — disse o presidente da Câmara.

Ele também disse que sua posição sobre o assunto “não mudou uma vírgula” desde que o tema foi colocado em debate por grupos que promoveram manifestações e se reuniram diversas vezes com o presidente da Câmara.

— Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Recurso eleitoral porque você não se satisfez com aquele que foi eleito não é a melhor maneira. Não podemos transforma o Brasil num republiqueta, que não é.

Cunha fez questão de detalhar o trâmite de um processo de impeachment no Congresso para os empresários convidados do Grupo Lide.

— O impeachment é uma decisão política. Não é um processo simples. Tem que ter base legal para isso. Vou tratar todos (os pedidos) de forma técnica.

Apesar de reconduzir o impeachment na agenda do segundo semestre da Casa, Cunha disse que seu papel é de “bombeiro” e não de “incendiário”.

— Não está no nosso horizonte fazer com que nosso país incendeie. Nesses dias difíceis, pode faltar incendiário, o que não pode faltar é bombeiro.

Crise econômica
Ainda em ataque ao governo, Cunha criticou o ajuste fiscal que, para ele, leva à retração da economia. Para ele, as crises política e econômica “vão perdurar por muito tempo” ainda e que “não é com esse ajuste que (a crise) vai melhorar”.

— Quanto mais se ajusta, mais cai a arrecadação e de mais ajuste é preciso.

O presidente da Câmara chamou, ainda, de medidas “pífias” do governo contra a crise e disse que o atual ambiente no país contribui para a queda no grau de investimento.

— O pior desastre é o Brasil perder o grau de investimento. Nada é tão ruim que não possa piorar.

O peemedebista também considerou “nula” a possibilidade de o país atingir a meta de superávit primário de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Ele declarou que depois do recesso de julho, colocará em pauta a reforma tributária. Os deputados, de acordo com o presidente, vão apreciar um texto elaborado por uma comissão especial que aglutinará várias propostas em tramitação na Câmara.

— Hoje, só tem três maneiras de fazer [a reforma tributária]: a União paga a conta, São Paulo perde dinheiro ou o contribuinte paga a conta. Temos de achar uma alternativa.

Protesto
Dez pessoas do movimento Juntos, formado pela juventude do PSOL, estão reunidos em frente ao hotel onde o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), participa no começo da tarde desta segunda-feira de um almoço com empresários.

Para Camila Souza, de 24 anos, representante do movimento, é “inadmissível” que um político investigado por corrupção continue presidindo a Câmara.

— As políticas defendidas por Cunha são contra a juventude. A redução da maioridade, as falas dele contra a mulher, contra o aborto e contra o movimento LGBT. Nós pedimos o afastamento imediato dele porque é inadmissível que um político com as acusações que ele enfrenta na Lava-Jato continue como presidente da Câmara — afirmou.

O Juntos acompanha Cunha em todas as suas agendas pelo país e estiveram nas manifestações contra o deputado federal dentro da Câmara no debate sobre a redução da maioridade penal.

Após o almoço, o presidente da Câmara tem encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes.

Dilma cobra reação de ministros contra impeachment

Dilma exige que ministros enquadrem bancadas para barrar impeachment

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Planalto reage ao movimento do presidente da Câmara, que anuncia disposição de analisar pedidos de impedimento na Casa; senador Aécio Neves (PSDB), líder da oposição, afirma que partido utilizará inserções na TV para dar apoio formal a protesto marcado

A presidente Dilma Rousseff cobrou nesta segunda-feira, 27, de 12 ministros que mobilizem as bancadas de seus partidos para impedir que propostas pedindo o seu afastamento do cargo contaminem a pauta do Congresso a partir da próxima semana, quando terminar o recesso parlamentar. Com receio de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), admita a tramitação dos pedidos de impeachment antes mesmo dos protestos marcados para 16 de agosto, o governo iniciou uma estratégia para pôr um freio de arrumação na base aliada.

Em reunião com o vice-presidente Michel Temer e os ministros, na tarde de ontem, Dilma pediu ajuda para garantir apoio político no Congresso e evitar as manobras de Cunha, que rompeu com o governo após o lobista Júlio Camargo, delator da Operação Lava Jato, acusá-lo de receber US$ 5 milhões em propina. Dilma disse no encontro que o caso de corrupção na Petrobrás, revelado pela Lava Jato, provocou instabilidade política e econômica. Segundo dois ministros ouvidos pelo Estado, a presidente observou que, por causa da sucessão de escândalos, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu um ponto.

A preocupação de Dilma é com o agravamento da crise em agosto, quando o Congresso retoma suas atividades, e com os protestos de rua pelo impeachment convocados em todo o País que ontem ganharam o apoio formal do PSDB, principal partido de oposição. Segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), os tucanos vão utilizar inserções partidárias de TV na próxima semana para estimular a participação popular nos atos pró-impeachment.

Ao falar sobre os planos do governo para superar dificuldades, Dilma reforçou o pedido para que ministros conversem com deputados e senadores dos partidos aliados com o objetivo de impedir, também, a votação da chamada "pauta-bomba", que aumenta as despesas e coloca sob risco o ajuste fiscal. Ela chegou a citar o projeto que foi obrigada a vetar, aumentado os salários do Judiciário em até 78,5%.

Na quinta-feira, Dilma vai se reunir com 27 governadores, em mais uma tentativa de obter sustentação política. "Se esperar só da União, não há solução. Eu acho que os governadores serão bons articuladores, especialmente em benefício dos Estados", comentou Temer, após a reunião de ontem. "Quando se tem aumento de despesas na área federal, isso repercute em cascata nos Estados. De modo que eles serão bons aliados."

Novo tom. Dez dias depois de romper formalmente com o governo, Cunha disse ontem, durante um almoço com empresários em São Paulo, que vai tratar "de forma técnica e jurídica" os pedidos de impeachment que foram protocolados na Câmara e que, nos casos em que houver fundamento, os pareceres serão acolhidos.

O discurso do peemedebista aos empresários reunidos pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) marca uma mudança de tom em relação às suas intervenções sobre o tema. Durante um evento organizado pelo mesmo grupo em abril, na Bahia, Cunha rechaçou prontamente a ideia de acolher os pedidos de impeachment contra a presidente.

Naquela ocasião, o PSDB ensaiava apresentar um pedido em conjunto com as demais siglas de oposição. "O que vocês chamam de pedalada é a má prática de se adiar investimento para fazer superávit primário. Isso vem sendo praticado nos últimos 15 anos sem nenhuma punição", afirmou.

Nesta segunda, diante da mesma plateia, o discurso foi outro. "Vamos tratar tudo e todos de forma técnica e jurídica.

Havendo fundamento, o processo será analisado." Em um sinal de que poderia usar o impeachment como mais uma forma de desgastar o governo, Cunha encaminhou ofício para que todos os responsáveis pelos pedidos apresentados até o começo do recesso adequassem seus documentos às normas do regimento. O procedimento não é usual. Normalmente, os pedidos fora do formato exigido são imediatamente arquivados.

Aos empresários, entretanto, o deputado afirmou que não pretende "incendiar" o cenário político. "Eu vou separar muito bem isso. Vou ter até uma cautela, para não antecipar meu julgamento, ou parecer que qualquer tipo de posicionamento tem a ver com a mudança do meu posicionamento político, que eu anunciei publicamente", disse. "O impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral", concluiu.

Dilma agora responsabiliza Lava-Jato por queda do PIB

Na conta da Lava-Jato

Simone Iglesias, Luiza Damé e Catarina Alencastro – O Globo

• Ao pedir empenho de ministros para domar a base, Dilma culpa investigação por queda no PIB

BRASÍLIA - Após meses culpando a crise internacional pela retração da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou ontem a Operação Lava-Jato por causar este ano a queda de um ponto percentual no PIB. A avaliação foi feita na reunião com 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer, encarregado da coordenação política, ontem à tarde, quando Dilma cobrou apoio no Congresso.

O comentário, segundo dois ministros presentes à reunião, ocorreu logo após explanação do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sobre o cenário econômico e as perspectivas "sombrias", se as medidas de ajuste fiscal não forem aprovadas no Congresso.

- Para vocês terem uma ideia, a Lava-Jato provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro - afirmou a presidente.

Dilma não detalhou o cálculo, mas disse que a crise afetou a economia:

- Em condições normais, a reação seria mais ágil. Mas, em função das consequências para (...) o setor do petróleo, foi prejudicial (para a economia) - concluiu.

Dilma cobra fim de traições na base
A situação econômica foi apresentada para frisar a necessidade de o Congresso aprovar as medidas econômicas apresentadas pelo governo. Dilma convocou a reunião para cobrar de ministros indicados pelos partidos aliados que seus parlamentares votem a favor do governo.

Dilma se mostrou insatisfeita com o grau de infidelidade da base, que levou a seguidas derrotas na Câmara e no Senado no primeiro semestre. Por isso, pediu "rapidez" e "responsabilidade" nas votações e determinou aos ministros que procurem os deputados e senadores de suas relações para influenciá-los a votar a favor do governo.

Do PMDB, participaram Eliseu Padilha (Aviação Civil), Kátia Abreu (Agricultura), Edinho Araújo (Comunicação Social) e Hélder Barbalho (Pesca); do PSD, Gilberto Kassab (Cidades) e Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa); do PCdoB, Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia); do PTB, Armando Monteiro (Desenvolvimento); do PRB, George Hilton (Esporte); e do PR, Antonio Carlos Rodrigues (Transportes).

O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ambos do PT, também participaram. Dilma quer que esse grupo reduza ao máximo as dissidências.

- Foi uma reunião para dar um freio de arrumação nas relações com as bancadas. O recado aos ministros foi duro, porque o governo não pode deixar a economia sair do controle. É preciso compromisso dos partidos aliados, que eles impeçam uma pauta-bomba na Câmara e no Senado com medidas que aumentem as despesas - disse uma fonte do governo.

O mapa da infidelidade será distribuído por Padilha aos ministros que estiveram ontem com Dilma. Esse levantamento servirá como base para as negociações, principalmente para a distribuição de cargos no governo.

O GLOBO revelou sábado levantamento do governo, mostrando o índice de infidelidade por partido. O que mais traiu na Câmara foi o PP e, no Senado, o PRB. O segundo mais infiel nas duas Casas foi o PDT. Ontem, os ministros do PP, Gilberto Occhi (Integração Nacional), e do PDT, Manoel Dias (Trabalho), não compareceram à reunião, assim como Henrique Alves (Turismo), considerado muito próximo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os três tinham agendas fora de Brasília durante a reunião.

Antes desse encontro mais amplo, a presidente já havia se reunido de manhã com seu núcleo de coordenação política. Escalado para falar pelo governo, Eliseu Padilha disse, ao comentar a baixa popularidade da presidente, que o governo está se esforçando para entender o momento político e econômico. Segundo ele, embora o governo esteja adotando medidas para reativar a economia, essa percepção demora a chegar à sociedade.

- Vivemos um momento político e economicamente com algumas interrogações. O governo está fazendo o máximo para decifrá-las - afirmou.

Vídeos de Dilma nas redes sociais
Sobre o rompimento de Eduardo Cunha com o governo, Padilha disse confiar que ele manterá o equilíbrio institucional que o cargo exige. Ainda precisam ser votadas propostas do ajuste fiscal, como o projeto elevando a tributação de empresas sobre a folha de pagamentos das empresas, que precisa passar pelo Senado. Outro tema relevante para o governo é a prorrogação da Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que lhe permite usar livremente até 20% das receitas das contribuições sociais, exceto as previdenciárias.

Ao fim do dia, Temer disse apostar no "espírito público" dos parlamentares para desarmar a chamada pauta-bomba que está sendo montada por Cunha.

- O objetivo da reunião é exatamente fazer a integração dos ministros e do Executivo com o Congresso. Toda a pauta da reunião foi exatamente esta: temos que dialogar com o Congresso. Essa foi a tônica da primeira reunião (coordenação) e da reunião agora à tarde - afirmou Temer.

Numa ofensiva de mídia e de aproximação com o Congresso, Dilma marcou um jantar para a próxima segunda-feira, no Palácio da Alvorada, com todos os deputados, senadores e presidentes dos partidos aliados. Serão cerca de 400 convidados. Paralelamente, começarão a ser divulgados nas redes sociais vídeos gravados sábado. Em cinco filmes de 30 segundos a um minuto, Dilma fala sobre as crises políticas e econômicas, intolerância, as Olimpíadas de 2016, o plano de exportações e o desemprego.

O governo cogitou ontem cancelar a reunião com os governadores, agendada para quinta-feira. Dilma não gostou da interpretação de que, no encontro, pediria que os governadores influenciassem suas bancadas para aprovar suas contas de 2014, que estão sendo questionadas no Tribunal de Contas da União (TCU), entre outras razões, por causa das "pedaladas fiscais". Porém, no fim da tarde, um auxiliar presidencial garantiu que a reunião está mantida.

Dilma também pretende anunciar no encontro que não vetará a proposta que permite aos estados usar parte dos depósitos judiciais como receita. A medida dará fôlego aos estados. O governo conta com a pressão dos governadores para ajudá-lo a articular propostas de interesse do Planalto.

Dilma diz que Lava-Jato tirou um ponto percentual do PIB

- Valor Econômico

BRASÍLIA - Durante reunião com 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer, nesta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou a Operação Lava-Jato por parte da queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Ao discorrer sobre as dificuldades econômicas que o país enfrenta, a presidente citou a operação da Polícia Federal, dizendo que esta provocou uma queda de um ponto percentual no PIB. O comentário, segundo um ministro que estava na reunião, ocorreu logo após uma longa explanação de Nelson Barbosa (Planejamento) sobre o cenário econômico e as perspectivas “sombrias” se as medidas do pacote de ajuste fiscal não forem aprovadas pelo Congresso.

“Para vocês terem uma ideia”, começou a presidente, “a Lava-Jato provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro”. Dilma não deu detalhes do cálculo e, em seguida, emendou a necessidade de apoio da base aliada no Congresso aos projetos encaminhados pelo governo.

A presidente convocou a reunião para cobrar de ministros indicados pelos aliados que seus parlamentares votem a favor do governo, especialmente nas matérias econômicas. Dilma mostrou-se insatisfeita com o nível de infidelidade da base, que levou a seguidas derrotas na Câmara e no Senado no primeiro semestre.

Dilma pediu “rapidez” e “responsabilidade” nas votações e determinou aos ministros que procurem os deputados e senadores de suas relações para influenciarem a favor do governo. Dilma chamou ao seu gabinete o vice, Michel Temer, e 12 ministros: Eliseu Padilha, Kátia Abreu, Edinho Araújo e Hélder Barbalho, do PMDB; Gilberto Kassab e Afif Domingos, do PSD: Aloizio Mercadante e Nelson Barbosa, do PT; Aldo Rebelo, do PCdoB; Armando Monteiro, do PTB; George Hilton, do PRB; e Antonio Carlos Rodrigues, do PR. A presidente quer que este grupo “fidelize” os parlamentares que estão sendo parceiros e que busque reduzir ao máximo as dissidências nas bancadas.

“Foi uma reunião para dar um freio de arrumação nas relações com as bancadas. O recado aos ministros foi duro porque o governo não pode deixar a economia sair do controle. É preciso compromisso dos partidos aliados e que eles impeçam uma pauta bomba na Câmara e no Senado com medidas que aumentem as despesas”, disse uma fonte do governo.

A fonte revelou no sábado levantamento feito no Palácio do Planalto, mostrando o índice de infidelidade por partido. O que mais traiu o governo na Câmara foi o PP e, no Senado, o PRB, em ambas as Casas, seguido pelo PDT. O PMDB, partido do vice, Michel Temer, e com sete ministros, os senadores do PMDB traíram o Planalto em mais da metade das votações: 52,33%. Os deputados foram levemente mais fiéis. Opuseram-se em 43,88% das votações. Os ministros do PP, Gilberto Occhi (Integração Nacional), e do PDT, Manoel Dias (Trabalho), não compareceram, assim como Henrique Alves (Turismo) considerado no Palácio do Planalto muito próximo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
(Agência O Globo)

Presidente critica defesa pública de diálogo com FHC

Andréia Sadi, Marina Dias, Mariana Haubert e Valdo Cruz - Folha de S. Paulo

Menos de uma semana após ministros do PT apoiarem uma aproximação entre governo e oposição, a presidente Dilma Rousseff criticou a ideia em reunião fechada, nesta segunda-feira (27).

Em encontro com sua coordenação política, Dilma classificou a defesa pública do diálogo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de "absurda".

Ninguém citou nominalmente Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa), mas o recado foi dirigido à dupla, que apoiou publicamente na semana passada a ideia de uma conversa entre o ex-presidente Lula e Dilma com FHC.

Como a Folha revelou, Lula autorizou amigos em comum a procurar Fernando Henrique e propor uma conversa entre os dois sobre a crise política.

O objetivo imediato da aproximação seria buscar conciliadores que pudessem frear os líderes oposicionistas que defendem o impeachment de Dilma. Além de FHC, Lula também procurou o senador tucano José Serra (SP).

As declarações irritaram dirigentes petistas, principalmente após o ex-presidente tucano vir a público dizer que não é hora de conversar com o governo e que nenhuma agenda que não fosse pública pareceria "conchavo".

O senador e presidente do partido, Aécio Neves (PSDB-MG), endossou nesta segunda (27) a posição de FHC.

"Em torno do que o ex-presidente Lula quer discutir com o ex-presidente FHC? Só se for para ele fazer um mea-culpa e assumir a responsabilidade por tudo o que está aí. Ou então querem é criar um pano de fundo para mostrar que somos todos iguais ao PT. Não somos. Nossa aliança é com o povo", disse.

Ele sinalizou ainda que não há espaço para este tipo de diálogo no momento. "Não se conversa com quem não se confia e nós não confiamos no PT", disse.

Dívida pública avança 3,5% em junho e chega a R$ 2,58 trilhões

- Folha de S. Paulo

• Apenas em juros, foram acrescidos R$ 23,4 bilhões no total

A dívida pública federal, que inclui os endividamentos interno e externo do gover- no, registrou avanço de 3,50% no mês de junho na comparação com maio e chegou a R$ 2,583 trilhões.

O número leva em consideração a soma das dívidas contraídas pelo Tesouro Nacional com a venda de títulos públicos para financiar os deficit no Orçamento.

A emissão de títulos superou os resgates em R$ 64,06 bilhões. Houve também acréscimo de R$ 23,4 bilhões da dívida em juros.

O estoque da dívida interna aumentou 3,81%, somando R$ 2,462 trilhões em junho. Já a dívida externa apresentou retração de 2,35%, totalizando R$ 121,28 bilhões no período.

As instituições financeiras continuam com a maior parte dos papéis emitidos, com 26,51% do total. Logo atrás estão os fundos de investimento, com 19,82%.

Já o volume de investidores estrangeiros que possuem títulos do Tesouro no mercado interno caiu, ao passar de 20,8% em maio para 20,04% em junho.

Na composição da dívida interna, a parcela dos títulos com remuneração prefixada subiu de 43,54% para 44,05%. Já a participação de títulos indexados a índices de preços caiu de 34,57% para 34,23%. Títulos remunerados por taxa flutuante fecharam junho em 21,14%, queda de 0,13 ponto percentual.

Merval Pereira - Sem punição?

O Globo

Ao comentar com ironia a pressão para que deixe a presidência da Câmara dos Deputados se for denunciado pela Procuradoria-Geral da República, o deputado Eduardo Cunha deu uma boa demonstração de como os valores éticos estão em desuso na nossa política diária.

Cunha já havia anunciado que não renunciará mesmo que seja denunciado, o que demonstra, por si, o desprezo que nutre pelas aparências. É verdade que hoje em dia é difícil até mesmo um japonês fazer o harakiri devido a desvios morais, mas não precisa exagerar.

Caso seja denunciado por corrupção, Eduardo Cunha tem a obrigação de abrir mão da presidência da Câmara, ou pelo menos se licenciar do cargo, para não desmoralizar ainda mais a instituição, e para poder se defender das acusações. Não basta dizer-se perseguido pelo Palácio do Planalto, até mesmo porque uma perseguição política não tem o dom de tornar culpados inocentes.

Seus adversários podem estar se aproveitando da fragilidade de sua posição para tentar desmoralizá-lo, mas esta é a parte do jogo que é lícita. Para provar que o jogo pesado do governo é mais profundo, isto é, que a denúncia de que recebeu milhões de dólares em suborno é forjada, Eduardo Cunha precisará fazer mais do que simplesmente gritar contra uma suposta armação política.

Terá que provar sua inocência, mostrar ao eleitorado que merece estar na presidência da Câmara. O Brasil já esteve mais sintonizado com os valores morais, mesmo em situações políticas degradadas como as de agora. Políticos poderosos como Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, o próprio Renan Calheiros, já se sentiram constrangidos em situações políticas adversas e abandonaram os cargos, impossibilitados de nele permanecerem pela própria pressão de seus colegas, pressionados, por seu lado, pela opinião pública.

Hoje, o mesmo Renan, embora esteja sendo investigado em várias frentes, não se sente pressionado a deixar o cargo. Mudaram os tempos. Cunha ontem observou que o PT teria que ter os mesmos princípios "para todos os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment", ironizou.

Raciocínio perfeito, se não fosse a negação, pelo absurdo, do comportamento correto que os políticos deveriam ter. Cunha exige do PT comportamento que para ele é despropositado, pois se acha perfeitamente adequado à presidência da Câmara mesmo que seja denunciado por corrupção.

Da mesma maneira, o presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz, nem pisca diante da denúncia de que seu filho Tiago Cedraz faz advocacia administrativa no órgão que integra e hoje preside. O bom senso, se não a boa educação cívica, exigiriam que o filho andasse a léguas de distância do TCU, mas, pelo que consta, o presidente Cedraz nem esboçou um gesto simbólico de colocar o cargo à disposição para tentar obter o apoio dos colegas.

Simplesmente não cogitou nenhuma atitude, porque já não há constrangimento em manter as posições como se nada estivesse acontecendo. No Brasil, parece que, se você não se mexe quando denunciado, tudo acabará sendo esquecido, um novo escândalo tomará o lugar do antigo.

Instalou-se no país uma tal selvageria na gestão da coisa pública que temos 10% do Congresso investigados, o que transforma todos os gatos gordos em pardos, dificultando a profilaxia necessária. Em outros tempos, e também tempos bicudos em termos morais, pelo menos as comissões de Ética da Câmara e do Senado já estariam discutindo a questão, nem que fosse para manter as aparências.

Hoje, os presidentes de Câmara e Senado se sentem em condições de ditar a agenda do país, e ainda colaboram para que a presidente da República pose de inatacável. Cunha e Renan se dizem vítimas de um complô palaciano. E Dilma se diz vítima de políticos inescrupulosos e de um Tribunal de Contas sob suspeita.

Quando todos são culpados, ninguém é punido. Será que o país aguenta?

Bernardo Mello Franco - O procurador na igreja

- Folha de S. Paulo

Aos 35 anos, o procurador Deltan Dallagnol é um dos principais personagens da Operação Lava Jato em Curitiba. Nesta segunda, ele falou sobre o petrolão em um espaço diferente: uma igreja batista na Tijuca, zona norte do Rio.

Cerca de 200 pessoas foram ouvi-lo, entre fiéis e pastores evangélicos. Antes de falar, o procurador, que tem mestrado em Harvard, foi apresentado como "servo" e "irmão". De terno e gravata, discursou do púlpito, citou a Bíblia e disse acreditar que Deus colabora com a Lava Jato.

"Dentro da minha cosmovisão cristã, eu acredito que existe uma janela de oportunidade que Deus está dando para mudanças", afirmou.

"Amém", respondeu a plateia.

"É isso aí. Deus está respondendo", devolveu Dallagnol.

O procurador pediu assinaturas para uma campanha do Ministério Público Federal que tenta endurecer leis contra a corrupção. Em tom pastoral, ele comparou a tarefa dos investigadores à de Neemias, personagem do Antigo Testamento que reconstrói os muros de sua cidade.

"Neemias agiu. Se nós queremos mudar o sistema, precisamos orar, agir e apoiar medidas contra a corrupção", disse. "O cristão é aquele que acredita em mudanças quando ninguém mais acredita. Nós acreditamos porque vivemos na expectativa do poder de Deus", prosseguiu.

Antes de participar de uma oração coletiva, Dallagnol pediu que os fiéis sigam a página do movimento "Mude – Chega de corrupção" em uma rede social. A página é mantida pelo pastor Marcos Paulo Ferreira, da igreja que ele frequenta em Curitiba.

Animado, o pastor anunciou uma série de mobilizações em agosto. A lista inclui uma "pregação contra a corrupção" no dia 16, data escolhida para as manifestações contra a presidente Dilma Rousseff e o PT.

Questionado pela coluna, Dallagnol não quis opinar sobre os protestos de rua. "Não somos contra nem a favor do impeachment. A gente não se manifesta sobre isso", afirmou.

Luiz Carlos Azedo - Faltou combinar com os chineses

- Correio Braziliense

• A aposta na parceria com a China para retomar os investimentos, principalmente em infraestrutura e na área de petróleo, subiu no telhado

Quando lançou seu novo programa de concessões em infraestrutura — na verdade um plano requentado, no qual o mirabolante projeto de construção do trem-bala Rio-Campinas-São Paulo foi substituído pela ferrovia transcontinental ligando o porto de Santos ao Pacífico, via Peru —, a presidente Dilma Rousseff apostava todas as fichas no ingresso maciço de investimentos chineses no Brasil.

A parceria foi acertada com o primeiro-ministro Li Keqiang, durante sua recente passagem por Brasília, na qual assinou 35 acordos de cooperação em oito áreas que envolvem investimentos de US$ 53 bilhões. Só com a Petrobras, foram assinados três atos de cooperação, no valor de US$ 7 bilhões.

Mas parece que faltou combinar com os investidores chineses. Ontem, a bolsa de valores de Xangai caiu mais de 8%, com a confiança ainda impactada pela queda da atividade industrial daquele país. Essa foi a maior baixa desde fevereiro de 2007. Em consequência, as bolsas asiáticas fecharam em queda.

A bolsa de Xangai reflete a desaceleração da segunda maior economia do mundo, que é o maior parceiro comercial do Brasil. Resultado, aqui a moeda norte-americana avançou 0,5%, fechando a R$ 3,3640 na venda. É a maior cotação desde 28 de março de 2003, quando o dólar encerrou a sessão a R$ 3,3757. No mês de julho, o dólar acumula alta de 8,2%. Neste ano, a moeda já avançou 26%.

A economia chinesa é uma referência para quem investe em emergentes. Se a bolsa lá piora, o investidor também fica com um pé atrás para investir no Brasil. Nos últimos 20 anos, a economia brasileira passou por mudança estrutural na sua relação com o mundo.

Assim como o eixo do comércio mundial se deslocou do Atlântico para o Pacífico, a China desbancou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil. Muito da bonança que o país viveu durante o governo Lula se deve à expansão da economia chinesa. Agora, tudo mudou.

A China, porém, enfrenta uma forte crise no mercado financeiro, que muitos suspeitam ser uma bolha que mais cedo ou mais tarde explodiria. A queda de ontem em Xangai atingiu especialmente as empresas de corretagem, como a Industrial Securities e Dongxing Securities, que perderam 10%, o máximo possível em um dia de cotação.

As empresas especializadas em estradas também, como a Hubei Chutian Expressway e Shandong Hi-Speed, que perderam igualmente 10%. A bolsa de Xangai caiu 30% nas últimas três semanas, acumulando perdas de mais de US$ 3 trilhões. Para se ter uma ideia, isso significa 10 vezes o PIB da Grécia.

Aposta duvidosa
Em Wall Street, investidores aguardam a reunião do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que pode dar novo passo em direção à elevação da taxa de juros norte-americana. Uma decisão nesse sentido pode ser um tsunami para a economia brasileira, cada vez mais vulnerável.

É aí que a flexibilização do ajuste fiscal aprovado pela presidente Dilma Rousseff na semana passada pode ser um desastre. A promessa de que duraria um ano de sacrifícios, com a retomada do crescimento em 2016, foi para o espaço. O ajuste deve durar pelo menos três anos e, talvez, até quatro.

Fala-se em recessão também no próximo ano, por causa da alta dos juros para conter a inflação. A aposta de uma parceria com a China para retomar os investimentos, principalmente em infraestrutura e na área de petróleo, era o cenário mais robusto que a presidente Dilma Rousseff tinha para estancar a recessão. Essa alternativa subiu no telhado.

Com o agravante de que as exportações de commodities de minério e produtos agrícolas para a China — até então uma variável confiável diante da posição do Brasil na nova divisão internacional do trabalho — também deverão sofrer consequências se a economia chinesa desacelerar ainda mais.

Na realidade, estamos diante de duas graves ameaças externas — a elevação dos juros nos EUA e a crise de financiamento da China —, com agravamento de mazelas crônicas da economia brasileira em razão de uma política desastrada de expansão do consumo sem elevação da produtividade, que dá sinais de recidiva porque a presidente Dilma retomou as rédeas da equipe econômica.

A volta da inflação crônica, os novos aumentos de impostos, os juros na Lua, a recessão, a corrupção incruada e crise ética mostram o esgotamento simultâneo de um modelo de governo e de desenvolvimento que se sustentava no poder do Estado brasileiro. O atual governo, que tem apenas seis meses, não quer implementar uma nova agenda de reformas estruturantes. E se quisesse, com a desmoralização política que sofreu, não teria condições de fazê-lo. Ou seja, está num beco sem saída.

José Serra - Vuvuzela no Copom?

- Folha de S. Paulo

• Ao alardear seu voto sobre o aumento dos juros, diretor do Banco Central põe a imprensa dentro da sala do Copom e fere a independência do órgão

O diretor da área externa do Banco Central, Tony Volpon, na semana passada, cometeu a grave bobagem de antecipar a analistas de mercado e à imprensa seu voto na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que começa nesta terça-feira (28).

"Eu, pessoalmente, vou votar para o aumento de juros até que a nossa projeção esteja de uma maneira satisfatória apontando para o centro da meta", disse após evento em São Paulo, segundo o jornal "Valor Econômico". Esse vazamento subverte o rito de definição da taxa básica de juros e deve ser condenado.

O Copom não é lugar para amantes da vuvuzela. Justificativas posteriores baseadas em teorias arcanas ou "eu quis dizer outra coisa" não cabem. No comitê, criado no governo Fernando Henrique Cardoso, a ideia é que seus membros decidam seus votos com base na exposição técnica do estafe do banco.

Os diretores devem entrar na reunião do Copom sem qualquer decisão –isso garante, em tese, que o voto do colegiado será técnico, sem influência prévia de mais ninguém. Não se trata de um formalismo. É uma das formas de garantir a independência do órgão.

Ao alardear seu voto, o diretor põe a imprensa dentro da sala do Copom. E se algum deles divergir publicamente do colega? Vão debater previamente no Jornal Nacional?

Além disso, adiantar o voto mexe nos valores dos contratos de juros futuros. Para os grandes operadores, isso pode significar ganhos elevados. A ideia do Copom sempre foi a de evitar qualquer risco desse tipo. No governo FHC era proibido discutir matéria do comitê antes da reunião e, uma vez votada, era imediatamente divulgada pelo Sisbacen, o sistema de informações do Banco Central. Ou seja, possibilidade zero de vazamento.

O Senado é o órgão responsável pela aprovação dos diretores e pelo acompanhamento da política monetária. Por isso pedirei que o Senado e a Comissão de Assuntos Econômicos da Casa se pronunciem sobre o episódio e sobre o mérito da decisão que o BC venha a tomar.

Como o diretor do banco alardeou, o resultado mais provável da reunião do Copom será mais um aumento dos juros básicos da economia: 0,25 ou 0,5 ponto percentual. Se será uma ou se será outra é a chique controvérsia do momento.

Tenho reparos a qualquer elevação agora da taxa Selic. Os quatro principais fatores que costumam justificar a elevação dos juros hoje estão ausentes: economia aquecida, inflação de demanda, estresse no balanço de pagamentos e baixo diferencial de juros com o exterior.

Infelizmente, na atual quadra, é o contrário: 325 mil empregos formais foram destruídos no trimestre abril/junho, reforçando a queda do PIB, que vai atingir 2,5% neste ano.

A inflação continuou pressionada, sim, mas em razão da inevitável (e saudável) desvalorização do real e do efeito da correção de tarifas e preços administrados, que foram segurados na marra nos últimos anos. O deficit externo em conta corrente vai baixar devido ao câmbio e à retração da economia, sem contar que a distância entre os juros brasileiros e externos já é abissal.

Pior ainda, cada novo aumento de um ponto da Selic eleva as despesas do governo em R$ 15 bilhões (anualizados)! Meio ponto a mais custa R$ 7,5 bilhões. Um quarto, R$ 3,75 bilhões. Mixaria, pensaria o diretor do BC que abriu seu voto.

A triste realidade é que, hoje, juros em alta deprimem ainda mais a atividade econômica e a arrecadação. Do outro lado, aumentam as despesas. Turbinam, assim, o deficit público e o desajuste da economia, além de inibirem o investimento produtivo.

De fato, a política do Banco Central desestabiliza a relação dívida/PIB: essa proporção chegará a dois terços no final do ano. Os custos da dívida vão subir, isto é, a despesa de juros chegará a 8,5% do PIB –a maior do mundo!– e o deficit público agregado (nominal) totalizará 8,35% do PIB no fim deste ano!

É esse o deficit que importa: não adianta o primário descer pela escada e o nominal subir pelo elevador.

Por fim, nem todos perdem com aumentos desnorteados dos juros básicos. Há quase R$ 900 bilhões em operações compromissadas –dívida realizada pelo Banco Central com o mercado financeiro para controlar a quantidade de dinheiro da economia. Além de R$ 500 bilhões de dívida atrelada à Selic. Todo esse passivo de prazo curtíssimo e custo enorme para o Estado traz, sim, ganhos siderais para os que estão do outro lado, e são pouquíssimos.

Os juros são instrumento poderoso de controle da inflação. Mas, se usados com inépcia, terminarão por quebrar o país.
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José Serra é senador pelo PSDB-SP. Foi ministro da Saúde e do Planejamento e Orçamento (governo FHC), prefeito de São Paulo (2005-2006) e governador de São Paulo (2007-2010)

Angela Alonso - Procuram-se líderes

Valor Econômico

• Atirador de pedras em 1992, PT agora é notória vitrine

Explicar é, muitas vezes, reduzir o novo ao conhecido. A conjuntura política brasileira vem sendo lida assim, com remissão a dois outros contextos de crise, ainda nítidos na memória das gerações mais velhas e algo edulcorada na dos que ingressam agora na política.

Uma conjuntura é relativamente recente, a do impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Há quem veja paralelismos entre o que se passa e o que então se passou: a crise econômica, a baixa popularidade de presidente em início de mandato e sua incapacidade de comandar a base governista no Congresso.

E, embora o protagonista seja distinto, há vários personagens repetidos. Encontram-se, porém, em posições invertidas. Caso de Aloizio Mercadante, que se esmerou em levantar provas de corrupção contra Collor e companhia, e que neste momento opera como bastião do governo. O PT, que, numa grande revanche da derrota eleitoral de 1989, foi o maior atirador de pedras em 1992, ora comparece como notória vitrine.

Quem também trocou o lado foram Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O primeiro ascendeu na carreira, catapultado por sua intimidade com Collor e conseguiu proeza de tirar o chapéu: sobreviveu politicamente ao escândalo de 1992 e à crise que o removeu da presidência do Senado em 2007, para conseguir se abancar de volta no comando da mesma casa legislativa, de onde se lança a fiador das instituições nacionais. De Cunha já se falou tanto, que mal sobra o que dizer, mas não custa lembrar que um ponto alto de seu currículo foi a função de aprendiz de feiticeiro de PC Farias, o operador da rede de corrupção no entorno da administração Collor.

Se os personagens adotaram novos papéis, o drama se afigura distinto. Dilma está no fundo do poço, mas não é Collor. Tem um partido forte, enraizado, o que Collor não tinha. E, pelo menos por enquanto, conta com apoio da maior parte dos governadores. O que falta a Dilma, como faltou a Collor, é o massivo apoio das "ruas".

Nisso a conjuntura atual reverbera outra, a do pré-golpe de estado de 1964. A analogia apareceu até no Zorra Total, programa humorístico de grande audiência, na noite do último sábado. Por razões que a razão desconhece, o show, até então politicamente insosso, pôs a boca no trombone e o dedo na ferida. Simulando os festivais de MPB dos anos 1960, apontou homologias entre protestos de hoje e os que antecederam o golpe de 1964: a ojeriza dos "coxinhas" aos socialmente ascendentes (a "classe C"), a adesão ao modelo norte-americano de consumo (a elite social promete fugir para Miami, se perder a luta política), a reabilitação dos militares como guardiões da ordem social.

O que os humoristas deixaram de apontar talvez seja a maior afinidade entre os dois contextos, a polarização política. O clima de tudo ou nada, a radicalização de posições, que se prolonga além de debates sobre questões institucionais. Está, por exemplo, nas paixões exacerbadas no que toca à moralidade pública - a segurança dos "cidadãos de bens" contra "meliantes de menor", a liberdade sexual versus os bons costumes -, noutra coincidência com os anos 1960.

Esta simplificação extrema da política dificulta a negociação de saídas para o impasse. Nem mesmo a conversa entre dois ex-presidentes, que há pouco parecia a normalidade de uma democracia civilizada, cogita-se como possível.

Os contextos de crise política são propícios para o nascimento ou a consolidação de lideranças. Até aqui esta crise malogrou em parir líderes nacionais. Ao contrário, como apontei acima, repete personagens. A elite política brasileira denota dificuldade de se renovar. Nos grandes partidos, PT, PSDB, PMDB, os donos da bola são os que estão em campo desde o fim da ditadura - ou, no máximo, seus filhos e netos, como Aécio Neves.

Os jovens que chegam agora à política parecem surdos aos chamados desta velha geração e insubordinados ao seu comando. Desde que se tornou governo, o PT viu mobilizações mais à esquerda irem fugindo da sua zona de influência, como em junho de 2013, e o principal partido de oposição, o PSDB, não soube, não pôde, ou não conseguiu se assenhorar das manifestações de março de 2015, que tenderam à direita.

De seu lado, o PMDB, que tanto relevo teve noutra crise, a da redemocratização, fala por vozes bem menos respeitáveis que a de Ulysses Guimarães. Eduardo Cunha tentou, como Collor em 1992, puxar para si o comando das ruas. Seu pronunciamento na TV, entretanto, mostrou que o passado de radialista em nada o habilitou para as outras mídias. Como Collor, Cunha não achou o povo - e nem sequer o teleprompter.

Agosto promete ser de mau agouro para o governo. Agendam-se manifestações pró-impeachment. Serão grandes? Inexperientes em organizar protesto, assunto no qual o PT tem doutorado, os novos manifestantes podem encontrar o mesmo anti-clímax do pronunciamento de Cunha. Mas ainda se entrarem para o rol dos gigantescas, como os de junho de 2013 e os de março de 2015, as manifestações carecerão de parte do enredo, crucial no Fora Collor: os nexos entre a mobilização popular e o sistema político. Não há à vista líderes que transitem bem nas duas arenas e funcionem como ponte entre elas.

Por isso, pode ser que os protestos, ainda se enormes, tragam seu presságio também para a oposição, à qual falta, como ao governo, uma varinha mágica para dirigir o descontentamento. Junho de 2013 atesta que manifestações de rua desconectadas de instituições e partidos podem se voltar contra todos os políticos. O feitiço pode acabar vitimando o aprendiz de feiticeiro.
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Angela Alonso é professora livre-docente de sociologia da USP, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)