sexta-feira, 3 de julho de 2015

Opinião do dia – Fernando Gabeira

Dilma faz saudações à mandioca, como se o ridículo fosse o mais leve fardo que pudesse carregar. Lula esbraveja contra o PT, como se fosse um observador de outro planeta. Vai chegar o momento de discutir o País e alternativas diante da crise. Está demorando. O minuto de silêncio pelo funeral do PT se estende além da conta. Já sabemos quem pagará o enterro e as flores. Arruinado, o Brasil precisa recomeçar.

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*Fernando Gabeira é jornalista. Quem pagará o enterro e as flores? O Estado de S. Paulo, 3 de julho de 2015.

Cinco delatores já disseram que doação oficial era propina

Delações cruzadas

Renato Onofre – O Globo

  • Cinco delatores dizem que propina era paga por meio de doações legais, revela cruzamento

Lava-jato

SÃO PAULO - As investigações da Operação Lava-Jato já contam com 18 colaborações premiadas. Um levantamento feito pelo GLOBO no que foi revelado dos depoimentos em troca de redução de pena - parte de acordos autorizados pela Justiça - revela que muitas informações dos delatores são confirmadas por outros, ajudando o avanço da produção de provas sobre o esquema de desvio de recursos da Petrobras para executivos da estatal, políticos, empresários e lobistas.

Uma das revelações é o suposto pagamento de propinas relacionadas a contratos da estatal por meio de doações eleitorais legais. Pelo menos cinco delatores confessaram à Justiça que abasteceram campanhas com recursos declarados à Justiça Eleitoral em troca de vantagens na Petrobras. O dono da UTC e coordenador do cartel das empreiteiras investigado pela Lava-Jato, Ricardo Pessoa, foi o último dos delatores a confessar esse artifício para abastecer campanhas do PT, PMDB e PSDB.

As coincidências ainda reduzem dúvidas sobre a prática de cartel, que ainda não foi denunciada pelo Ministério Público à Justiça, a utilização de consultorias para disfarçar propinas e, principalmente, o vício de licitações, contratos e aditivos na estatal. Dos primeiros acordos, do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, ao mais recente, do lobista Milton Pascowitch, as narrativas tendem a coincidir, embora existam contradições.

Costa e Youssef, por exemplo, divergem em pelo menos oito pontos. Entre eles, sobre um repasse de R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff em 2010, a pedido do ex-ministro Antonio Palocci. A defesa dos executivos e empresas exploram essas contradições e combatem a legitimidade da delação. Até a presidente Dilma já criticou dizendo: "não respeito delator".

Colaborador afirma que Odebrecht pagou us$ 4,8 milhões de propina

Tiago Dantas – O Globo

• Comissões teriam sido pagas no exterior; empreiteira nega

CURITIBA - O Ministério Público Federal (MPF) acusa a Odebrecht de utilizar contas bancárias sediadas em paraísos fiscais no exterior para pagar cerca de US$ 4,8 milhões de dólares em propinas distribuídas a três ex-diretores da Petrobras entre 2007 e 2010. Os procuradores chegaram ao montante analisando documentos fornecidos pelo delator Rafael Ângulo, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef. Ambos foram presos pela Operação Lava-Jato.

Teriam sido beneficiados pelos pagamentos, de acordo com a investigação, o ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e o ex-gerente Pedro Barusco. Em documento protocolado ontem na Justiça Federal, o MPF não relaciona os pagamentos a contratos mantidos entre Petrobras e Odebrecht.

Ângulo já havia contado aos procuradores que, a mando de Youssef, levava para o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar o número das contas onde deveriam ser feitos os depósitos. Em troca, ele pegava de volta documentos que comprovavam o pagamento, chamados Swifts . Alexandrino participava dessas reuniões, segundo a acusação do MPF, a mando do presidente da Odebrecht S.A., Marcelo Odebrecht, que foi preso no último dia 19.

Foi a partir da apreensão desses recibos que a força-tarefa da Lava-Jato pode chegar a três empresas estabelecidas em Antígua e Barbuda, no Caribe, e que seriam utilizadas pela Odebrecht para fazer pagamentos ilícitos: Trident Inter Trading, Klienfeld Services e Intercorp Logistics. Foram rastreados 20 depósitos a contas mantidas também no exterior por Duque, Paulo Roberto e Barusco.

Os procuradores utilizam o relatório das contas bancárias para justificar o pedido à Justiça para manter presos preventivamente quatro executivos da Odebrecht. Além de Marcelo e Alexandrino, também estão na carceragem da PF de Curitiba Rogério Araújo e Márcio Faria. Segundo o MPF, se estivessem soltos os executivos poderiam movimentar as contas e dificultar o rastreamento do dinheiro.

Cunha e PMDB já defendem que Temer deixe articulação política

Simone Iglesias, Luiza Damé e Isabel Braga

• Dilma chama vice ao Alvorada e Mercadante divulga nota com elogios

BRASÍLIA - Um dia após a divulgação da pesquisa Ibope que mostrou que a gestão da presidente Dilma Rousseff tem a pior avaliação dos últimos 25 anos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu ontem explicitamente que o vice-presidente Michel Temer, que é de seu partido, deixe a articulação política do governo. Deputados e senadores peemedebistas veem na saída de Temer da articulação política uma forma de se descolar do governo, que está com o prestígio em queda. Há uma avaliação no PMDB de que, além da popularidade baixa de Dilma, Temer está enfrentando muitas dificuldades para cumprir o que combinou durante as votações das medidas do ajuste, e isso afeta um dos maiores trunfos do PMDB - a fama de cumprir acordos políticos.

- Michel Temer, que entrou para tentar melhorar essa articulação política, está claramente sendo sabotado por parte do PT. Acho até que, a continuar desse jeito, o Michel deveria deixar a articulação política - disse Cunha.

Argumentos pelo rompimento
A favor do afastamento, o PMDB tem dois argumentos: a falta de poder do vice para cumprir os acordos políticos da articulação, e a conclusão da votação do ajuste fiscal, que supostamente concluiria uma etapa decisiva na relação do governo com o Congresso.

Outro fator que pesa entre os que defendem a saída da articulação é a falta de clareza do governo quanto ao que vai defender após o ajuste. Os peemedebistas não veem capacidade de reação em Dilma, e acreditam que a economia tende a continuar piorando, sem que haja novas justificativas para isso.

Aliados de Temer, que é o presidente nacional do PMDB, acham que ele depende do respaldo de seu partido para permanecer na articulação política.

- Ele precisa de respaldo partidário, e isso está ruindo na Câmara e no Senado. Para se manter, tem que ter lastro e a situação, no momento, é de queda de popularidade, pelo não cumprimento de acordos e pela total falta de perspectiva com os próximos passos do governo - disse um importante peemedebista.

No partido do vice, há um misto de desânimo com a percepção de que faltam condições para ele cumprir acordos acertados com a base.

- Não adianta só prometer, tem que cumprir as coisas acertadas. Michel acerta, mas (Aloizio) Mercadante não libera, e ainda tem a cara de pau de dizer que não é com ele. O partido está incomodado porque Michel está agindo como um bom avalista de um governo que não quer pagar. O maior patrimônio que ele tem é o de cumprir compromissos - disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Governo defende que Temer fique
Em meio a uma série de derrotas no Congresso, o governo se mobilizou intensamente logo após a fala de Cunha para defender a importância de Temer na articulação. No fim da tarde, cerca de duas horas após Dilma pousar em Brasília, Temer foi convidado para uma conversa no Palácio da Alvorada, com a presença de Mercadante. A conversa tratou das votações no Congresso e da negociação de eventual acordo para evitar o reajuste para servidores do Judiciário. Temer evitou a imprensa ao sair.

Mercadante e o ministro Edinho Silva (Comunicação Social), no entanto, cumpriram o papel de defendê-lo publicamente: "A presença do vice-presidente da República, Michel Temer, na articulação política do governo representa não apenas um gesto de desprendimento e sacrifício pessoal, como vem trazendo grandes resultados na relação com o Congresso", disse Mercadante, em nota.

Lava Jato causou perda de R$ 19 bi, aponta PF

Julia Afonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt

• Valor considera sobrepreços em contratos e é 3 vezes maior que o lançado em balanço

A Polícia Federal reuniu elementos para apontar que o prejuízo gerado para a Petrobrás pelo esquema de cartel, fraudes em licitações, desvios e corrupção investigados pela Operação Lava Jato pode chegar a 20% do valor dos contratos. O porcentual é muito superior aos 3% referentes às propinas confessadas por delatores. Segundo a, PF, o rombo no caixa da estatal já chega a R$ 19 bilhões. O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula afirmou, com base em relatório que está preparando, que essa coleta de elementos "pode levar um prejuízo à Petrobrás em seus contratos da ordem de 15% a 20%". "Laudos de nossos peritos da área contábil e de engenharia que devem ser divulgados em breve derrubam a tese de que a corrupção nesses contratos era em torno de 2% a 3%. Provavelmente vamos chegar em patamares de 15% a 20% do valor dos contratos sendo destinados à corrupção", disse.

A Lava Jato aponta até o momento um prejuízo de pelo menos R$ 6,2 bilhões para a Petrobrás, valor reconhecido pela estatal em seu balanço. "Aquele número do balanço da Petrobrás é válido, mas conserva dor. Não temos dúvida de que os prejuízos são maiores que os R$ 6 bilhões lançados no balanço. Mas é quase impossível fazer essa mensuração porque há urna série de efeitos em toda a cadeia de licitação", afirmou o procurador da República Carlos Fernando Lima, da força-tarefa da Lava Jato. Os procuradores da força-tarefa esperam recuperar espontaneamente R$ 1 bilhão até o fim deste ano, segundo avaliação de Carlos Lima. Até o momento já retornaram aos cofres públicos R$ 700 milhões -incluindo valores devolvidos pelos réus confessos.

Dados. O delegado da PF explicou que peritos federais incluíram nos cálculos em fase final "não apenas porcentuais destinados a pagamentos de agentes públicos e políticos, mas também prejuízos causados em favor das empresas contratadas através do sobrepreço dos contratos, seja por jogo de planilha, seja por inserção d.e despesas desnecessárias". Igor Romário de Paula explicou que os porcentuais de até 3% comunicados até aqui nas operações da Lava Jato tinham por base a in-formação dos delatores. "Só que esses laudos que estão sendo concluídos estão considerando não só a corrupção destinada aos agentes públicos. Estão embutidos aí superfaturamento, jogo de planilhas, montagem de projetos destinados a favorecer as empresas." O levantamento em análise concentra alguns contratos investigados na operação.

O delegado da Lava Jato afirmou que assim que for concluído o laudo poderá ser melhor detalhado corno as empresas, além de participarem de um cartel, que lhes garantia a divisão do mercado, também recebiam pagamento superior ao que era justificado para o contrato. As denúncias envolvendo m sobrepreço e fraudes em licitações ainda não integram o rol de acusações dos primeiros processos. O Ministério Público Federal tem dado prioridade à divisão dos crimes em denúncias distintas, e concentrou as primeiras etapas nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. "Temos a impressão de que nunca chegaremos a um número fechado. E, infelizmente, nunca vamos recuperar um número próximo a esse valor", afirmou Igor Romário de Paula.

Em busca de habeas corpus para não ser preso, Dirceu ataca a Lava Jato

Ricardo Brandt, Julia Afonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

• Preventivo. Condenádo no mensalão, ex-ministro da gestão Lula é apontado por lobista do esquema de desios na Petrobrás como beneficiário de propinas; segundo advogados, petista está no "crepúsculo da vida" e "na iminência de sofrer constrangimento ilegal"

CURITIBA - O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ingressou ontem com habeas corpus preventivo no Tribunal Regional Federal da 4.a Região (TRF4), que mantém jurisdição em Curitiba (PR), base da Operação Lava Jato. A medida, subscrita por seis criminalistas defensores do ex-ministro, busca evitar que Dirceu seja alvo de uma ordem de prisão no âmbito das investigações sobre esquema de propinas e corrupção na Petrobrás. Na peça em que requere o habeas corpus, a defesa do ex-ministro, seguindo a linha adotada pelo PT nos últimos dias, partiu para o ataque contra a Operação Lava Jato e a imprensa. A defesa de Dirceu avalia que ele está "na iminência de sofrer constrangimento ilegal" - referindo-se a eventual ordem de prisão pela Justiça no Paraná.

A Lava Jato suspeita que o ex-ministro tenha recebido propina em forma de consultorias de sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria. Também é alvo da investigação suposta lavagem de dinheiro por parte de Dirceu. Na segunda-feira passada, 6 lobista Milton Pascowitch firmou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato e apontou supostos repasses de propinas para o ex-ministro. Pesam contra Dirceu também outras acusações e suspeitas envolvendo sua empresa de consultoria .

Crepúsculo. Dirceu é um dos condenados no caso do mensalão (2005) e está em prisão domiciliar, depois ter cumprido parte de sua pena no presídio da Papuda, em Brasília. "Hoje, no crepúsculo de sua vida, já com 70 anos, após ter sido processado, condenado, preso e estar cumprindo pena em regime aberto, tudo sob o acompanha-mento incansável da imprensa, o paciente vê-se citado e enredado em nova investigação, agora, porém, sem a perspectiva de viver para ver sua sentença final."

Os advogados dele assinalam no habeas que a operação "tem sido motivo de regozijo da sociedade, já que o mal da corrupção de agentes públicos e do desvio de recursos do Estado é, com razão, umas das maiores preocupações dos brasileiros". Em tom de alerta, eles afirmam: "Esse júbilo, todavia, tem se transformado em euforia, à medida que novas prisões e novas delações (ou partes destas) são vazadas pela cobertura diuturna da imprensa".

Clientes. Na mesma peça, os advogados traçam um perfil de Dirceu, desde os primórdios de sua atuação como líder estudantil contra o regime militar e a criação do PT. A defesa descreve as atividades da JD Assessoria e Consultoria. Segundo os advogados, o ex-ministro atuou na empresa de consultoria de 2006 a 2014, tendo atendido a "cerca de 6o clientes dê quase 20 setores diferentes da economia, como indústrias de bens de consumo, telecomunicações, comércio exterior, logística, tecnologia da informação, comunicações e construção civil". Os advogados apontam para o cerco da força-tarefa do Ministério Público Federal, que pediu a quebra do sigilo da empresa do ex-ministro.

"A mal disfarçada ânsia do parquet (Ministério Público) em envolver o paciente numa suposta prática criminosa fica clara, quando se observa que, no pedido de quebra, o MPF afirma haver indícios de utilização da JD Assessoria na prática de crimes, não por se dispor de qualquer indício nesse sentido, mas apenas em razão de José Dirceu figurar como seu sócio." Segundo os ad-vogados, Dirceu não pretende obstruir as investigações, nem ocultar documentos ou valores.

Doleiro lança nova suspeita sobre o comitê de Dilma

Andréia Sadi, Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo

• Youssef afirma ter recebido pedido de ajuda para campanha no início de 2014

• Delator diz à Justiça Eleitoral que foi preso antes de fazer operação e não lembra nome da pessoa que o procurou

BRASÍLIA - O doleiro Alberto Youssef disse à Justiça Eleitoral que foi procurado por um emissário da campanha da presidente Dilma Rousseff no ano passado para trazer de volta ao Brasil cerca de R$ 20 milhões depositados no exterior.

Apontado como um dos principais operadores do esquema de corrupção descoberto na Petrobras, Youssef diz que foi procurado no início do ano e não executou a operação porque, em março, foi preso com a deflagração da Operação Lava Jato.

O novo depoimento do doleiro, ao qual a Folha teve acesso, foi dado em 9 de junho deste ano, em Curitiba, onde Youssef está preso. Ele foi tomado no âmbito de uma ação que o PSDB move contra Dilma no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desde 2014.

A ação foi apresentada logo depois do fim da campanha presidencial, em que Dilma derrotou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), e pede a cassação da chapa encabeçada pela petista por abuso de poder econômico e político.

No depoimento, o doleiro não identifica com precisão a pessoa que o teria procurado para pedir ajuda, e deixa claro que não participou da campanha da presidente.

"Olha, uma pessoa de nome Felipe me procurou para trazer um dinheiro de fora e depois não me procurou mais. Aí aconteceu a questão da prisão, e eu nunca mais o vi"", disse Youssef à Justiça.

O doleiro falou do assunto depois de ser questionado sobre reportagem publicada no ano passado pela revista "Veja", segundo a qual o PT havia pedido sua ajuda para repatriar os R$ 20 milhões.

O doleiro afirmou que Felipe não pertencia ao seu círculo de relações ou amizades, e que o conheceu por meio de um amigo chamado Charles, que tinha uma rede de restaurantes em São Paulo.

Youssef disse não se lembrar do sobrenome de Felipe. "Se não me engano, o pai dele tinha uma empreiteira. Não consigo me lembrar [do nome da empreiteira]", disse.

Questionado se o dinheiro era para a campanha de Dilma, o doleiro respondeu: "Sim, mas não aconteceu". Segundo Youssef, a conversa ocorreu 60 dias antes de sua prisão. O doleiro afirmou que Felipe não indicou onde estaria o dinheiro, mas Youssef disse a ele que poderia trazê-lo "sem problema nenhum".

O doleiro afirmou não saber se Felipe buscou outros operadores porque não teve mais contato com ele. Questionado sobre o valor do dinheiro a ser internalizado, o doleiro respondeu: "Acho que era em torno de 20 milhões"".

Youssef está preso em Curitiba. Em setembro passado, ele assinou um acordo de delação premiada para colaborar com as investigações em troca de redução da pena e outros benefícios. Ele é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa devido aos desvios na Petrobras.

Paulo Roberto
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, outro delator que colabora com as investigações, também prestou depoimento à Justiça Eleitoral, no mesmo processo. Ele falou sobre sua relação com Dilma e confirmou ter ido ao casamento da filha da presidente, Paula, em 2008, três anos antes de ela chegar ao Planalto.

Costa disse que foi convidado pela própria Dilma, mas não soube assegurar se o convite foi feito a todos os diretores da estatal. "Foram convidados o presidente, a [então] diretora Graça [Foster] e eu, que eu saiba. Não posso confirmar se outros foram [convidados]. Estavam presentes no casamento o presidente [José Sérgio] Gabrielli, a diretora Graça e eu", afirmou.

O ex-diretor também contou que, para permanecer em seu cargo na Petrobras, precisava manter a confiança do presidente da República. "Eu e todos os diretores da Petrobras e o presidente, que é escolhido pelo presidente da República", acrescentou Costa.

Ele disse ainda que alguns contratos da Petrobras eram feitos na sua época sem projeto completo. Para o ex-diretor, a prática facilita desvios de recursos. Questionado se Dilma, como ministra ou presidente, tomou medidas para mudar isso, Costa disse: "Que eu saiba, nenhuma".

Manobra de Cunha já foi usada por Ulisses e FHC

Raphael Di Cunto, Thiago Resende, Letícia Casado e Maíra Magro - Valor Econômico

• Manobra regimental usada para reduzir maioridade é usada desde o Império

BRASÍLIA - Criticada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), entidades e parlamentares contrários ao projeto, a "manobra regimental" usada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC) que reduz a maioridade penal de 18 anos para 16 anos para crimes hediondos, homicídio doloso ou lesão corporal seguida de morte provoca polêmica há anos no Congresso Nacional, onde tem se mostrado um instrumento efetivo para aprovar projetos.

A emenda aglutinativa - em que várias emendas apresentadas a um projeto são misturadas para formar um texto de consenso - data da época do Império, foi utilizado à exaustão pelo ex-presidente da Assembleia Constituinte, Ulysses Guimarães (PMDB), para aprovar a Constituição Federal de 1988 e voltou a ser usada a partir da reforma da Previdência Social no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 1996, quando o tucano tentava aprovar a reforma da previdência com fim do adicional para funcionários públicos, extinção da aposentadoria especial para carreiras como a de juízes e a exclusão dos trabalhadores sem carteira assinada, o relatório do deputado Euler Ribeiro (PFL-AM) foi derrotado em plenário - teve 294 votos favoráveis, 14 a menos do que o necessário para aprovar a emenda à Constituição.

O presidente da Câmara na época, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), nomeou o deputado Michel Temer (PMDB) - hoje vice-presidente da República e um aliado que vive em atritos com Cunha- relator de uma emenda aglutinativa com parte do texto derrotado e artigos retirados de outras emendas. O governo pressionou aliados que votaram contra a PEC na primeira votação, liberou o pagamento de emendas e renegociou a dívida da cidade de São Paulo para angariar o apoio do PPB do ex-prefeito Paulo Maluf. Resultado: 351 deputados votaram a favor.

Parlamentares contrários recorreram ao STF, que indeferiu o pedido por considerar que o debate sobre a emenda aglutinativa é uma questão interna do Congresso, que não afeta à Constituição Federal, e que, como ainda não havia terminado a análise da PEC - rejeitado o relatório de Ribeiro, seria votado o texto principal-, não se tratava de votar duas vezes no mesmo ano a mesma matéria - algo que a Constituição proíbe. A decisão foi tomada por dois votos a um - Marco Aurélio, que agora protesta, foi o voto vencido.

O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), voto vencido contra a emenda aglutinativa na época, diz que o instrumento é poderoso nas mãos do governo. "Pegam o mapa de votação e pressionam os que votaram contra", afirma. A manobra, diz, impulsionou a carreira política de Temer, eleito presidente da Câmara pela primeira vez no ano seguinte.

Desta vez contra o governo, que tentava evitar a redução da maioridade penal apesar de 75% dos partidos de sua base se manifestarem a favor do projeto, o instrumento da emenda aglutinativa foi usado para reverter a derrota do relatório do deputado Laerte Bessa (PR-DF), que acabava com a inimputabilidade para jovens entre 16 e 18 anos que cometessem crimes hediondos, tráfico de drogas, homicídio doloso (quando há intenção de matar), lesão corporal grave ou seguida de morte e roubo com aumento de pena e teve 303 dos 308 votos necessários.

"Quando as galerias comemoraram e os deputados começaram a gritar, fiquei desesperado porque vi a história se repetindo. Não poderia ter deixado encerrar a sessão para se rearticularem", diz o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ).

Como o texto inicial da PEC, que ainda seria votado, era mais rígido e tinha ainda menos apoio, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), sugeriu emenda que retirava o tráfico de drogas e lesão corporal grave para manter apenas os crimes contra a vida. Novamente, de posse do mapa de votações, Cunha e seus aliados articularam para tentar mudar o voto dos deputados contrários e convocaram os que estavam em viagem à Brasília, enquanto o governo pressionou integrantes da base que votaram à favor da PEC a faltarem na votação.

Embora 17 deputados que registraram presença na Câmara não tenham aparecido para votar, 24 deputados mudaram de posição e passaram a apoiar a PEC, aprovada por 323 votos a 155. Apenas um do PMDB virou o voto contra o projeto - Marcelo Castro (PI), que é a favor de tornar inimputáveis apenas os menores de 12 anos, mas que se absteve em protesto contra o "vale-tudo". "Do jeito que está, nenhuma votação vai acabar até que chegue ao resultado que o Eduardo Cunha quer", diz.

O resultou gerou protestos em plenário e na Justiça. Deputados de sete partidos - PT, PMDB, PCdoB, PPS, PDT, PSOL, PSB - vão entrar na próxima semana com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular a aprovação da emenda. Outra ação deve ser apresentada pela OAB com o mesmo argumento: a votação foi inconstitucional, pois a proposta rejeitada não pode ser apreciada novamente no mesmo ano.

Os deputados questionam também a forma de comando de Cunha e acusam o presidente da Casa de ter feito a mesma manobra ao votar a constitucionalidade das doações de empresas a campanhas eleitorais - uma das propostas aprovadas no primeiro turno da reforma política. "O objetivo é anular a votação da maioridade e colocar um limite a esse tipo de conduta", disse o deputado Alessandro Molon (PT-RJ).

Para o pemedebista, as críticas do PT e aliados são "choro de quem não tem voto". "É o choro daqueles que não estão alinhados com a agenda da sociedade. Eles não discutem que não têm a maioria, que 323 deputados votaram a favor da PEC", disse Cunha.

Ainda ontem, 24 secretários de Justiça dos Estados assinaram um manifesto contra a redução da maioridade penal. Para o grupo, é preciso que seja feito um estudo que mostre os impactos nos sistemas prisionais e o quanto essa mudança vai representar.

Cunha acusa governo de assumir agenda de "9% da população"

Andrea Jubé, Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Após um embate de forças com a base governista em torno da redução da maioridade penal, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou o governo de assumir a pauta do PT, que definiu como a agenda de "9% da população". Cunha cobrou do vice-presidente Michel Temer, que é presidente nacional do PMDB, a devolução do cargo de articulador político ao Palácio do Planalto depois de aprovado o ajuste fiscal. Em reação imediata de aval a Temer, a Casa Civil divulgou nota oficial elogiando a atuação do vice-presidente.

"O Michel [Temer] está sendo claramente sabotado por parte do PT", alfinetou Cunha. "Do jeito que está, deveria deixar a articulação política", recomendou, alegando que a situação não faz bem nem para o PMDB e nem para o governo.

Cunha tornou pública uma insatisfação que se alastra entre pemedebistas, que não escondem o desconforto com Temer na coordenação política. A função impõe desgastes quase diários ao governo - e por consequência, ao PMDB - por causa da relação conturbada do Planalto com o Congresso Nacional. Apesar dos esforços de Temer, a base aliada está descontente, em especial, pela retenção das emendas parlamentares. Os pemedebistas também receiam que a alta desaprovação ao governo contamine o partido, com reflexos nas urnas.

"O PT está na pauta dos 9% da população", ironizou Cunha, em alusão à baixa aprovação do governo revelada pela pesquisa CNI/Ibope divulgada na quarta-feira. As críticas de Cunha ocorreram um dia após o governo se mobilizar para derrotar a emenda constitucional que reduziu a maioridade penal de 18 para 16 anos. O Planalto pressionou deputados a ausentarem-se da nova sessão convocada por Cunha para reapreciar a matéria, mas o presidente da Casa acabou vitorioso na segunda votação. O resultado foi interpretado como derrota do Planalto, já que Dilma posicionou-se contra a redução da maioridade penal.

Mas o Planalto, contudo, não quer ouvir falar do afastamento de Temer da articulação. Apesar das duas derrotas pontuais - o reajuste dos servidores do Poder Judiciário aprovado pelo Senado e a redução da maioridade penal na Câmara -, auxiliares de Dilma reconhecem que melhorou o relacionamento do governo com os parlamentares e Temer acumula vitórias na votação dos projetos relativos ao ajuste fiscal. A negociação dos cargos no segundo e terceiro escalão também deslanchou.

Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, já havia elogiado a autuação de Temer na presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), um dos caciques do PMDB. Ontem ele voltou à carga divulgando uma nota oficial para reafirmar o mérito de Temer. Há cerca de um mês, Mercadante foi a público negar que havia feito movimentos para enfraquecer a atuação de Temer no cargo.

Segundo o comunicado da Casa Civil, a presença de Temer na articulação política "representa não apenas um gesto de desprendimento e sacrifício pessoal, como vem trazendo grandes resultados na relação com o Congresso Nacional". A nota observa que "as principais medidas do ajuste fiscal já foram aprovadas" e logo será concluída no Senado a votação do projeto sobre a desoneração da folha de pagamento. Mercadante também ressalta que Temer conduzirá as negociações sobre o reajuste do Judiciário, já que nos termos em que foi aprovado, causa rombo de R$ 25 bilhões aos cofres públicos. "Com a competente coordenação política do vice-presidente, chegaremos a um acordo com os servidores do Judiciário", chancela.

Em sintonia com o Palácio, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), minimizou as críticas de Cunha e reforçou a parceria com Temer. "Vamos continuar fazendo essa parceria para o bem da república e para o bem do Congresso", anunciou.

Comissão deve votar proposta de nova eleição em caso de perda de mandato

Marcos Oliveira/Agência Senado

Os senadores da comissão especial encarregada de propor uma reforma na ordem política tem um novo encontro na terça-feira (07) a partir de 14h30. O primeiro dos projetos na pauta da reunião é o que prevê novas eleições se o eleito em cargo majoritário – prefeito, governador, senador e presidente - for cassado ou perder o mandato por qualquer outro motivo.

Além dessa proposta, a expectativa é que na reunião de terça sejam votadas mais três já apresentadas pelo relator, Romero Jucá (PMDB-RR). Além disso, segundo Jucá, as negociações com os deputados estão em andamento de forma a possibilitar um consenso nas duas Casas sobre projetos da reforma.

— Nós vamos trabalhar neste fim de semana fechando textos conjuntos com a Câmara dos Deputados. Na terça-feira já teremos textos conjuntos da Câmara e do Senado para apresentar aos parlamentares da comissão, avisou o senador.

A segunda proposta em pauta disciplina o acesso dos partidos aos programas de rádio e televisão. Pelas normas estabelecidas pela legislação atual (Lei 9096/95) os partidos têm direito a um programa em cadeia nacional e um em cadeia regional por semestre. Eles têm duração de 20 minutos cada. Além disso, podem usar até 40 minutos, a cada seis meses, em inserções em redes nacionais e igual tempo em redes estaduais.

O projeto que pode ser votado na comissão acaba com o mesmo tempo para todas as legendas. A ideia é que esse período seja proporcional ao tamanho das bancadas dos partidos na Câmara dos Deputados. Segundo o texto, as agremiações que elegerem de um a quatro deputados terão direito a dois minutos de programa e quatro minutos de inserções. Já os que elegerem mais de dez deputados terão dez minutos de programa e 20 minutos para as inserções.

O terceiro item da pauta é um projeto que também trata da propaganda no rádio e na TV, mas traz ainda regras para o acesso aos recursos do fundo partidário. Esse fundo é formado basicamente com recursos da União e segundo o Tribunal Superior Eleitoral para esse ano estão reservados pouco mais R$ 811 milhões. O texto a ser examinado na comissão diz que somente terão direito a essa verba os partidos com diretórios permanentes em mais da metade dos municípios. A mesma norma valeria para o tempo em rádio e TV.

A última matéria que pode ser votada na terça é a que reduz custos das campanhas eleitorais. Assim, entre outros pontos, o texto limita em 20% os gastos com o pessoal de campanha e proíbe o uso de carros de som. De acordo com o presidente da comissão, senador Jorge Viana (PT-AC), a reforma que sairá do Senado vai ser bastante arrojada.

— Estamos trabalhando com itens visando fortalecer partidos e diminuir custos de campanha, assegurou Viana.

Avança alteração nas coligações proporcionais

Marcos Oliveira / Agência Senado

A Comissão da Reforma Política aprovou ontem mudanças nas normas para as coligações nas eleições proporcionais — para vereadores, deputados estaduais e distritais e deputados federais. A proposta, que seguiu em regime de urgência para o Plenário, determina que a distribuição de vagas nas eleições proporcionais aconteça de acordo com o quociente eleitoral, por partido, mesmo quando houver coligação. Os partidos que não alcançarem o quociente não poderão concorrer às sobras de vagas.

Hoje, quando os partidos se coligam para disputar uma eleição proporcional, os candidatos menos votados se beneficiam dos votos recebidos pelos primeiros colocados.

— A comissão optou pela proposta mais rígida e que exclui os partidos que não alcançaram o quociente, mas é um processo de negociação tanto no Plenário do Senado como na Câmara — disse o presidente da comissão, senador Jorge Viana (PT-AC).

Como a Câmara rejeitou no final de maio o fim das coligações, o relator da comissão do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), se comprometeu a negociar com os deputados a proposta das novas normas: — A proposta fortalece os partidos. Vai forçar mais rapidamente a fusão dos partidos para que, efetivamente, a gente tenha quatro, cinco ou seis deles com condições de fazer o quociente eleitoral.

O apoio às alterações no modelo das coligações proporcionais foi aprovado com apenas um voto contrário, de Donizeti Nogueira (PT-TO). Já Aécio Neves (PSDB-MG) avaliou que a comissão votou pelo fortalecimento dos partidos.

— A melhor [alternativa] era o fim das coligações proporcionais, mas isso a Câmara derrubou. O projeto [da comissão do Senado] vai fazer com que as pessoas migrem para legendas que sejam, efetivamente, partidos políticos.

Senadoras e deputadas apresentaram proposta que reserva um percentual mínimo de 10% de vagas nas Casas legislativas para serem preenchidas por mulheres na primeira eleição após a vigência da lei. Essa cota passaria para 12% nas eleições seguintes e para 16% na terceira eleição.

— Temos aqui a nossa proposta para a reforma eleitoral. Na minha avaliação, bem modesta. Teria feito diferente, mas fui voto vencido — disse a senadora Marta Suplicy (sem partido-SP).

A Comissão da Reforma Polí- tica volta a se reunir na próxima terça-feira. O objetivo é votar quatro projetos. O primeiro prevê que, quando houver cassação de candidato escolhido em eleição majoritária, um novo pleito deve acontecer.

O segundo distribui o tempo semestral de propaganda partidária em cadeia de rádio e TV de acordo com o tamanho da bancada na Câmara. O terceiro restringe a distribuição do fundo partidário aos partidos com diretórios permanentes em mais da metade dos municípios brasileiros. E o quarto tem o objetivo de cortar os custos das campanhas eleitorais. O senador Romero Jucá apresentou ontem à comissão outros quatro projetos a serem discutidos.

Alckmin consegue ampliar espaço de seus aliados na direção do PSDB

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Num acerto com o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), o governador Geraldo Alckmin (SP) conseguiu ampliar seu espaço na direção da sigla. Às vésperas da convenção tucana, ele conseguiu a indicação do deputado Eduardo Cury (SP) para cuidar da interlocução da cúpula partidária com prefeitos tucanos.

Alckmin já havia emplacado o deputado Silvio Torres (SP) na secretaria-geral do PSDB. Ele ainda articulou a nomeação do suplente de senador José Aníbal (SP) à presidência do Instituto Teotônio Vilela, que elabora estudos para a sigla.

O acerto sobre Cury foi feito após emissários de Alckmin sinalizarem que ele ainda não se sentia contemplado com a formação da nova executiva.

Alckmin não criou embaraços para a reeleição de Aécio.

Dobradinha de Aécio e Alckmin dá tom de convenção tucana

Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

• Em comum acordo, senador e governador definiram nova direção executiva do PSDB que será eleita domingo

Depois de serem "lançados" por aliados corno pré-candidatos ao Palácio do Planalto em 2018 pelo PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves finalizaram ontem a divisão de cargos na nova direção executiva do partido, que será eleita no domingo, em Brasília. Fortalecidos pela reeleição de Alckmin no 1.° turno e pela expressiva votação dos tucanos em São Paulo em 2014, os paulistas emplacaram três nomes diretamente ligados ao governa-dor em cargos estratégicos na máquina partidária. O último deles foi definido ontem, na reta final da montagem da chapa que será apresentada na convenção da legenda: o deputado federal Eduardo Cury.

Ele vai atuar na montagem dos palanques municipais do PSDB na eleição do ano que vem. Os outros dois são o deputado Silvio Torres, que será secretário-geral, e o suplente de senador José Aníbal, que presidirá o Instituto Teotônio Vilela. Em uma articulação de última, hora, o ex-governador Alberto Goldman foi escolhido para permanecer em uma das vice-presidências do PSDB. Ele foi indicado pelo grupo ligado ao senador José Serra (SP) e teve o nome chancelado pelos alckmistas. Presidente do partido, Aécio aceitou todas as exigências feitas pelos paulistas e, dessa forma, garantiu apoio para ser re-conduzido ao comando da legenda para um novo mandato, que termina em 2017.

Festa da unidade. Ao custo de R$ 1 milhão, a convenção do PSDB está sendo formatada para que a dupla Aécio-Alckmin tenha destaque no palanque. A ideia, segundo um dos organizadores, é aproveitar a ocasião para dar uma demonstração de unidade ao partido. Mas para os paulistas, o evento também servirá para deixar claro que o PSDB tem, hoje, dois nomes na linha de frente.

Marta Suplicy mantém agenda intensa com PMDB e PSB

Erich Decat, Mônica Bernardes – O Estado de S. Paulo

• Senadora, que deixou PT em abril, organizou jantares com dirigentes das siglas, mas se diz mais próxima dos pessebistas

A senadora Marta Suplicy (sem partido-SP) promoveu nesta semana um roadshow com lideranças do PSB e do PMDB para "vender" sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Jantou com dirigentes do PSB na terça-feira, na quarta jantou com o PMDB e ontem, no Recife, reuniu-se nova-mente com pessebistas. Os jantares, realizados na sua residência em. Brasília, foram a convite dela. Integrantes dos dois partidos demonstraram interesse no passe da senadora que deixou o PT em abril com críticas à direção da legenda e ao governo federal, do qual fez parte no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff como ministra da Cultura.

Ontem, no Recife, Marta admitiu a conversa com os partidos, mas disse estar próxima da filiação ao PSB. "Tenho conversado com muitos partidos e isso não é segredo. Mas estou sim muito próxima de chegar a um consenso como PSB. Tenho me aproximado e convivido de perto com a legenda. E gostei do que tenho visto. Vim aqui para conhecer mais", destacou. Na capital pernambucana, ela cumpriu agenda com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, o governa-dor de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Julio. Hoje a senadora participa de um seminário da sigla.

Apesar da intensa agenda criada pelos pessebistas, Marta também tem conversado com integrantes do PMDB, sigla que poderá oferecer um maior tempo de rádio e TV numa disputa pela capital paulista. No jantar de anteontem, um dia após o do PSB, estavam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR). "O jantar foi para dizer que a bancada do PMDB gostaria que ela viesse para o partido.

A vinda dela reforça o projeto municipal de 2016 pa-ra chegarmos grande em 2018, quando deveremos ter um candidato presidencial", disse Eunício. Segundo ele, o ingresso de Marta na legenda também conta com o apoio de Paulo Skaf, candidato peemedebista derrotado na última eleição para o governo de São Paulo. Vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, não participou do encontro. De passagem pelo Senado nessa quarta-feira, ele teria, entretanto, procurado a senadora para solicitar uma conversa para os próximos dias. Temer, porém, tem sido criticado por parte de lideranças da sigla no Congresso que consideram que ele não tem dado a devida atenção às negociações com Marta.

A avaliação de setores do PMDB é de que ele considera que o ingresso da senadora pode "atrapalhar" o "projeto Chalita". A princípio, o desenho estudado para a disputa de 2016, por integrantes da cúpula do PMDB, é de ter Gabriel Chalita, atual secretário de Educação, com o vice na chapa à reeleição de Fernando Haddad (PT), que, caso seja reconduzido ao cargo, poderá se candidatar ao governo estadual em 2018. Assim, se for vitorioso, Chalita assumiria a Prefeitura.

Alckmin e Aécio mantêm equilíbrio

Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O discurso da unidade deve dar o tom da convenção nacional do PSDB, a ser realizada neste domingo, mas na prática foi dada a largada da corrida à indicação do partido à Presidência da República, nas eleições de 2018. Muito embora seja o tucano que esteve mais perto de tirar o PT do governo, desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, o senador Aécio Neves já não é mais visto como candidato natural e sofre a concorrência do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Na convenção de domingo, os tucanos devem eleger uma nova direção partidária. A atual correlação de forças deve ser mantida. O que tem de novo é a indicação do deputado Silvio Torres (SP) para a secretaria-geral, o segundo cargo em importância na hierarquia partidária, no lugar do também paulista Antonio Carlos Mendes Thame. Ou seja, sai um deputado ligado a Geraldo Alckmin, e entra outro ainda mais próximo e aliado fiel do governador de São Paulo.

A nova cúpula do PSDB é resultado de um entendimento entre seus principais líderes, inclusive entre Alckmin e Aécio. Não é do interesse de nenhum dos dois precipitar a disputa pela indicação, sobretudo quando a crise e o enfraquecimento do governo da presidente Dilma Rousseff exige a atenção e a energia do partido. O que não impede que comece a demarcação dos territórios: Torres entra para evitar que Aécio continue a usar 100% da máquina partidária em benefício de sua candidatura em 2018. O governador quer dividir espaços.

Há dois anos, quando deixou o atual senador José Serra para trás e se impôs no PSDB como o candidato ao Palácio do Planalto, Aécio nem queria presidir o partido, preferia indicar algum nome de seu grupo político. O então presidente Sérgio Guerra, morto ano passado, o convenceu do contrário com o argumento de que junto com a presidência ele ganhava um palanque para sustentar sua pré-candidatura até a abertura oficial da propaganda partidária. Aécio fez então o uso que julgou necessário para alavancar sua candidatura. Agora, com a pré-candidatura de Alckmin também colocada, o PSDB de São Paulo quer que esse uso seja o menor possível.

Aécio será reconduzido para mais um mandato na presidência do PSDB, sem maior dificuldade, e manterá o deputado Rodrigo de Castro (MG) como tesoureiro do partido. Na prática esse cargo pode ser considerado hoje o segundo mais importante do partido, graças a mudanças feitas nos últimos anos para esvaziar a secretaria-geral. Castro é homem de confiança de Aécio e despacha diretamente com o presidente do PSDB os assuntos financeiros do partido.

No PSDB de São Paulo é voz corrente que Alckmin será o candidato da sigla em 2018. E que o governador e o senador José Serra, outro pretendente, apostam no esvaziamento do senador mineiro. Nos bastidores o desempenho de Aécio, no pior momento do governo Dilma, é questionado. A última pesquisa Datafolha registrou 35% de intenções de voto para Aécio, cujo recall é recente - ele mal saiu da eleição de 2014. Pouco, pois no segundo mandato do presidente Lula, no auge de sua popularidade, José Serra trafegou entre os 45% e 50%, pelo menos até abril de 2010. A derrota de Aécio em Minas também pesa entre os paulistas contra sua nova candidatura.

O entendimento dos tucanos mineiros, porém, é outro. No momento, defendem que Aécio se encarregue dos assuntos nacionais e da crise que envolve o governo do PT, como convém ao presidente do partido e pré-candidato, e que Alckmin deve se voltar inteiramente para o governo de São Paulo. Não ficaria bem para o governador do Estado, com apenas seis meses de um novo mandato, começar a falar em eleição presidencial.

Na realidade, o fantasma da divisão volta a ser desenhado no futuro tucano. Além de Aécio e Alckmin, é certo que Serra também não desistiu do sonho de ser presidente. Uma frase do deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) resume bem o sentimento tucano: "Estamos com a mão na taça. Só não podemos fazer besteira".

Estratégia de tucano é colar imagem de Dilma na de Lula

Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG) será reeleito presidente do PSDB no domingo, dia 5, com a preocupação de adiar a disputa com o governador Geraldo Alckmin (SP) pela candidatura à Presidência da República em 2018 e reforçar a polarização com o governo Dilma Rousseff e o PT. Explorando a fragilidade da presidente, planeja fazer críticas mais duras e rebater a estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de, junto com o PT, se descolar de Dilma.

"Da mesma forma que o Lula caminha claramente para uma tentativa de descolamento [de Dilma], para tentar dar um discurso a setores do PT nas eleições municipais, nosso papel é contrário. Lula vai querer se distanciar da Dilma e nós vamos colá-los", disse Aécio, ao Valor. Logo após a reeleição, em convenção nacional a ser realizada em Brasília, Aécio vai convocar a primeira reunião da nova Executiva Nacional - provavelmente para o dia 12 - para discutir a estratégia eleitoral de 2016. A meta é o partido estar presente nas 300 maiores cidades do país, com candidato próprio ou da coligação que participar.

O foco será a ampliação do leque de alianças, tentando conquistar parceiros tradicionais do PT, que dão sinais de abandonar o barco petista. De olho em manter essas alianças na eleição presidencial de 2018, a orientação será o PSDB abrir mão de lançar candidato próprio para apoiar um aliado eleitoralmente mais viável.

"Nosso adversário é o PT, no Brasil inteiro. Daremos preferência para candidaturas próprias, mas vamos ampliar nosso leque de alianças. Onde o PSDB tiver candidatura viável, vamos trabalhar para criar condições para ele ser candidato. Onde não tiver, vamos ter o mesmo empenho para uma candidatura que seja adversária do PT", afirmou Aécio.

O senador articula intensamente para manter a unidade partidária e evitar a precipitação do esperado embate com Alckmin. Dirigentes partidários atuam para desestimular lançamentos de pré-candidaturas, mas consideram difícil evitar claques.

Aécio e o governador paulista, os dois principais protagonistas do PSDB no momento, negociaram a composição da Executiva Nacional. O segundo cargo mais importante do partido, a Secretaria Geral, será ocupada por um aliado de Alckmin, o deputado Sílvio Torres (SP).

"Vai ser uma convenção de unidade, com astral para cima. Meu objetivo é que as pessoas saiam com a sensação de que não ganhamos a eleição mas que, politicamente, nunca estivemos tão bem. E que a militância saia dali de cabeça erguida, preparando para as eleições municipais. Aí é que vai se dar o grande embate", disse.

A preocupação de dirigentes do PSDB é que o partido não deixe espaço para a consolidação de uma terceira via na eleição presidencial de 2018 e que divergências internas comprometam esse projeto. "O PSDB readquiriu essa polarização nas eleições de 2014. Voltou a representar, para setores importantes da sociedade, dos quais estava distanciado ao longo dos últimos anos, a principal alternativa de poder ao que está aí. E, quanto mais se fragiliza o governo, mais há uma percepção de que o PSDB é a melhor alternativa", disse. "Então, não vamos permitir que haja qualquer agenda eleitoral precipitada de 2018. A eleição de 2018 está longe do nosso radar hoje."

Uma preocupação do senador é que todas as regiões estejam bem representadas na nova Executiva Nacional, para reforçar o projeto de 2016. Na primeira reunião, o deputado José Aníbal (SP) será indicado presidente do Instituto Teotonio Vilela (ITV), órgão de estudo e formação política do partido. Mas a pauta principal será 2016.

Aécio diz que a convenção acontecerá num momento de "renovação" do partido. Um dos objetivos da nova Executiva Nacional será ampliar o quadro de filiados, com ênfase na juventude. No discurso, dará ênfase à necessidade de o partido apresentar soluções aos problemas do país. "O desafio do PSDB, já que é a alternativa mais visível em relação ao PT, é ter uma agenda propositiva, que tem faltado ao PSDB. É essa agenda propositiva que vamos construir a partir do ITV", afirmou. Os tucanos querem resgatar especialistas de diferentes áreas que trabalharam na elaboração do programa de governo de Aécio.

O principal papel desempenhado pelo senador é tentar manter o partido unido, assim como as oposições. Ele também prega cautela aos tucanos mais exaltados, que pedem impeachment da presidente Dilma Rousseff. Começa a ganhar corpo, no partido, a convicção de que a melhor solução para o país seria o afastamento de Dilma pela Justiça Eleitoral, por irregularidades no financiamento da campanha, o que também resultaria na saída do vice-presidente, Michel Temer, e na realização de novas eleições.

Em crise, Estaleiro Mauá para de operar

Antonio Pita – O Estado de S. Paulo

• Os 2 mil trabalhadores que ainda estavam na empresa foram orientados a esperar em casa

Atingido pela crise do setor naval, o Estaleiro Mauá, localizado em Niterói, na região metropolitana do Rio, suspendeu suas atividades por tempo indeterminado na noite de ontem. Cerca de dois mil trabalhadores foram dispensados após o término do expediente e foram informados de que não precisariam retornar ao trabalho até segunda ordem – oficialmente, eles não foram demitidos. Uma Ação Civil Pública foi aberta pelo Sindicato de Metalúrgicos de Niterói contra o estaleiro. No último dia 26 de maio, o Mauá já havia demitido cerca de mil trabalhadores – que aguardavam o pagamento de indenizações e rescisões contratuais até ontem, o que também não ocorreu. A crise no setor já cortou mais de 14 mil vagas desde o início do ano, atingindo mais de 100 mil pessoas indiretamente, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval Offshore (Sinaval). Uma manifestação está marcada para hoje, entre as sedes da Transpetro e da Petrobrás.

A subsidiária de transporte da estatal é responsável por contratos em vigor com o estaleiro, mas nega que haja atrasos nos repasses, como alegaram representantes do Mauá. Os metalúrgicos também prometem protestar em frente à Caixa, que teria reforçado os controles sobre liberação de financiamentos ao setor após a eclosão da Operação Lava Jato. "Os fantasmas da indústria naval estão de volta. A corrupção na Petrobrás não pode ser motivo para destruir a indústria brasileira. A Justiça deve punir as pessoas corruptas, e não as empresas. O trabalhador não pode pagar o preço da ineficiência dos gestores e nem da corrupção", afirmou Edson Rocha, presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Niterói. Crise profunda. Em comunicado distribuído aos trabalhadores no início da noite de ontem, o estaleiro informou que atravessa uma "crise financeira cada vez mais profunda".

"Ela (a crise) está motivada tanto no desequilíbrio econômico dos atuais contratos como na indefinição na liberação dos contratos para construção de mais oito navios", diz o comunicado, em referência a outro contrato, também paralisado. Em outro trecho, o estaleiro atribuía paralisação das atividades também ao corte de investimentos no setor naval e à contratação de estaleiros estrangeiros para atender a atual demanda do setor de óleo e gás. Um dos mais antigos do País, o estaleiro pertence ao grupo Sinergy, do empresário Germán Efromovich. O comunicado diz ainda que o estaleiro negociará como sindicato o pagamento de indenizações.

"Solicitamos a todos que permaneçam em seus domicílios até efetivarmos negociações com o sindicato representante da categoria profissional para definirmos a continuidade ou não das atividades industriais e, assim, mantermos a expectativa de melhoria na economia do País e podermos voltar a contratar colaboradores." No último ano, o estaleiro também paralisou contratos alegando dificuldades financeiras e atrasos em repasses da Caixa. A suspensão das atividades durou cerca de quatro meses, e foi contornada com a liberação de cerca de US$120 milhões em empréstimos. A crise afetou contratos ligados à empresa Log-In, para a petroleira venezuelana PDVSA.

A crise no setor foi desencadeada com a retenção de investimentos na Petrobrás, em decorrência da Operação Lava Jato e das dificuldades financeiras das empresas. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, também já demitiu mais de 2,4 mil trabalhadores desde abril. Já o Estaleiro Paraguaçu, na Bahia, também demitiu mais de 3 mil trabalhadores desde janeiro e encerrou as atividades. Ambos enfrentam dificuldades em função da paralisação das encomendas da Sete Brasil, que forneceria sondas para a produção da Petrobrás no pré-sal. A empresa atualmente passa por reestruturação.

Massa salarial cai 10% no país em 6 meses

Denise Neumann - Valor Econômico

• Queda da massa salarial já supera crise de 2003

SÃO PAULO - A combinação entre inflação alta, demissões e queda no salário provocou uma retração muito rápida e de proporção inédita na renda disponível para o consumo. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a massa salarial real habitual (sem o décimo-terceiro salário) diminuiu 10% entre novembro do ano passado, pico dos últimos anos, e maio deste ano. Na crise de 2003, um recuo dessa proporção foi atingido após oito meses de deterioração do mercado de trabalho. Na crise de 2009, apesar da recessão, não houve queda de massa salarial nessa magnitude.

Esse recuo é influenciado pela sazonalidade da ocupação, pois novembro é um mês tradicionalmente mais forte em função dos empregos criados para o fim do ano. Para "corrigir" esse efeito, o Departamento Econômico do Bradesco ajusta a ocupação e recalcula a massa de rendimentos. E essa série também sugere que o recuo de agora é o pior da série do IBGE, iniciada em 2003.

Nas contas do Bradesco, feitas a pedido doValor, a comparação de maio contra novembro (em dados anualizados) aponta uma baixa nominal da massa salarial de 4,7%. Nessa série, a maior e única queda anterior (sempre olhando um recorte de seis meses) foi de 2,8% entre abril e outubro de 2003.

Na comparação anual (mês contra igual mês do ano anterior), a série original com ajuste sazonal do Bradesco mostra que apenas em 2015 a massa salarial real passou a ter queda, e em maio a retração chegou a 4,7%. Igor Velecico, economista do banco, considera essa a melhor comparação para o conjunto de rendimentos, mas só usa os valores de salários a partir de 2004, pois considera (junto com outros economistas) que o dado de rendimento da PME ficou mais firme e confiável após aquele ano.

Velecico pondera que a massa salarial ajustada permite entender melhor o que sua queda realmente representa para a expectativa de consumo e atividade. "Os efeitos da contração do mercado de trabalho sobre o consumo ainda estão subestimados", diz ele, avaliando que parte expressiva dessa baixa forte e rápida da massa salarial ainda vai aparecer sobre a economia. Em parte, esses efeitos já estiveram presentes no segundo trimestre, afirma. Nas contas do Bradesco, o consumo das famílias mostrará uma queda de 2% no segundo trimestre frente ao primeiro, dentro das contas do Produto Interno Bruto (PIB).

A queda na massa salarial decorre da mistura de aceleração da inflação, diminuição da ocupação e recuo da renda. O rendimento médio acumula perda de 7,8% na comparação entre novembro de 2015 e maio passado. Comparando a maio de 2014, a baixa real é de 5%, o que já indica um salário médio crescendo abaixo da inflação dos últimos seis meses. Sem descontar a inflação, a variação é diferente: queda de 1,4% sobre novembro e alta de 3,5% sobre maio passado.

Velecico tem olhado mais para o comportamento do salário nominal, sem descontar a inflação. "É ele que precisa variar abaixo da inflação para indicar que a indexação está sendo quebrada", pondera o economista do Bradesco. "Se ele voltar a variar na casa de 8%, a inflação não cai", diz.

Fabio Silveira, economista da GO Associados, começou 2015 projetando que o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) seria negativo em pouco mais de 300 mil empregos este ano. Hoje, sua projeção já é de perda de 900 mil postos de trabalho de janeiro a dezembro. Ele observa que a crise chegou a todos os setores. Ela começou na indústria em 2013, mas varejo e serviços resistiam por uma série de motivos, incentivos ao consumo entre eles.

"No início do ano, ainda havia a expectativa entre alguns setores de que a economia poderia melhorar no segundo trimestre, mas já estava escrito que o PIB seria recessivo", diz Silveira. "Ao longo do segundo trimestre, quem confiava em uma retomada no médio prazo se convenceu de que a crise será mais longa."

Essa mudança de percepção, afirma Silveira, explica em parte o ajuste rápido e intenso observado nos últimos meses nos indicadores do mercado de trabalho. Empresas que começaram dando férias coletivas e usando o instrumento de afastamento temporário, hoje já demitem. "Alguns demoraram a entender a lógica da crise. Ela nunca foi de curto prazo", pondera.

A queda na massa salarial prejudica diretamente o orçamento das famílias no momento em que elas já estão endividadas, observa Guilherme Dietze, assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A entidade mantém pesquisas de endividamento e intenção de consumo e todas elas também mostram uma deterioração expressiva. A parcela de famílias endividadas passou de 39,3% em janeiro para 55,1% em maio, um movimento muito mais intenso que o que costuma ocorrer nesse período.

Além disso, em junho, a intenção de consumo das famílias voltou a recuar e ficou 26% abaixo do índice registrado em junho do ano passado. E, pela primeira vez desde 2000, quando a pesquisa começou a ser feita, os indicadores que avaliam renda atual (97,7 pontos) e acesso ao crédito entraram na zona de insatisfação. "Pela primeira vez, as famílias avaliaram que sua renda está pior do que há um ano", explica Dietze.

O assessor da FecomercioSP prevê que a demanda ainda ficará contraída por muito tempo. "Tudo está pior: a confiança, o desemprego, a renda, a inflação e os juros", lista ele, acrescentando que as pessoas têm tirado recursos da poupança para pagar dívidas ou sustentar despesas. "A captação líquida da poupança caiu R$ 41 bilhões neste ano até o dia 23 de junho. Isso é 71% maior do que tudo que foi poupado no ano passado", diz,

Na avaliação dos economistas, o quadro de piora brusca do mercado de trabalho, associado aos demais componentes do cenário macroeconômico, como a política monetária apertada, o ajuste fiscal, os efeitos políticos e econômicos da Operação Lava-Jato, fará com que o desemprego aumente ainda em 2016 e a renda continue contraída.

No cenário do Bradesco, o desemprego chega a 6,8% na média deste ano e a 8,2% na média de 2016, previsão que pode subir. Em algum momento de 2016, diz Velecico, a taxa mensal deve passar de 10%, reforçando a queda do consumo. "Quanto maior a retração do consumo, mais a inflação vai ceder", diz. Nas projeções do Bradesco, o IPCA encerra 2015 em 8,8% e recua para 5,2% em 2016, com a inflação de serviços passando de 7,7% em 2015 (já abaixo dos 8,33% de 2014) para 6,3%.


Roberto Freire - A mancha do petrolão no Planalto

A cada dia, aumentam a indignação e o estarrecimento dos brasileiros, que assistem à degradação moral de um governo cada vez mais contaminado pela corrupção. Acuada por novas denúncias que a ligam ao epicentro do petrolão, Dilma Rousseff não tem mais como recorrer à surrada bravata lulopetista de que não sabia de nada. A mancha do maior escândalo da história republicana subiu a rampa e escancarou as portas do Palácio do Planalto.

As revelações feitas por Ricardo Pessoa, apontado pelas investigações como o “chefe do clube das empreiteiras” beneficiadas pelo assalto à Petrobras durante os governos de Lula e Dilma, dão conta de um repasse criminoso de R$ 7,5 milhões para a campanha da presidente em 2014. Segundo o delator, esse valor teria sido desviado dos cofres da estatal para abastecer o caixa da campanha de Dilma a pedido do então tesoureiro, Edinho Silva, hoje ministro. Ele teria ameaçado o empresário de perder seus contratos com a Petrobras caso não houvesse o repasse do dinheiro sujo.

Em seu depoimento ao Ministério Público, o empreiteiro também citou a campanha de Lula à reeleição, em 2006, que teria recebido R$ 2,4 milhões desviados da Petrobras, o que revela a ligação umbilical entre o ex-presidente e o esquema desbaratado pela Operação Lava Jato. Apesar de agora tentar se descolar do governo Dilma e até do PT, Lula se vê acossado por denúncias que se acumulam e para as quais ainda não apresentou uma justificativa minimamente razoável.

À imagem e semelhança de seu mentor político, a presidente da República não convence os brasileiros ao tentar explicar o inexplicável. Questionada sobre as denúncias demolidoras que ligam sua campanha à corrupção na Petrobras, Dilma cometeu a estultice de comparar o depoimento do empreiteiro às delações obtidas na ditadura militar, sob tortura e por meio da mais sórdida violação aos direitos humanos. Evidentemente, trata-se apenas de mais um comentário delirante que se soma à série infindável de reflexões presidenciais desprovidas de qualquer encadeamento lógico ou bom senso.

O instituto da delação premiada, estabelecido por lei em plena vigência do regime democrático, não tem qualquer semelhança com o que se via no Brasil durante o regime de exceção, quando presos políticos eram forçados, sob a mais cruel violência, a dar informações sobre suas organizações e seus companheiros. Ao afirmar tamanho disparate, a presidente da República ataca o trabalho sério da Polícia Federal e do Ministério Público, além de desrespeitar a lei - pois atenta contra o bom funcionamento do Judiciário, o que configura crime de responsabilidade. Uma declaração infeliz como essa mostra o quanto Dilma está descompensada em meio a um cenário tão adverso, enredada por graves denúncias de corrupção, rejeitada pela ampla maioria da população brasileira e abandonada por seu próprio partido e por Lula.

Diante de tudo o que já se descobriu sobre o assalto à Petrobras e com o avanço das investigações, o cerco se fecha. As oposições, que cumprem à risca seu papel institucional, vêm atuando em várias frentes contra o desmantelo do lulopetismo. Há uma representação junto à Procuradoria-Geral da República contra Dilma e Edinho Silva por crime de extorsão; o Tribunal de Contas da União já foi instado a investigar se o governo continuou, em 2015, a praticar as criminosas “pedaladas fiscais” verificadas em 2014 e que estão sob investigação da corte; e ainda foi pedido o compartilhamento do conteúdo do depoimento bombástico de Ricardo Pessoa com o Tribunal Superior Eleitoral.

O país, infelizmente, caminha de forma célere rumo à ingovernabilidade. Envolvido até a medula em escândalos de corrupção, o governo perdeu a capacidade de articulação no Congresso e não conta com o apoio dos brasileiros, que sentem os efeitos de uma dramática crise econômica. O impeachment não é fruto do mero desejo de quem quer que seja, mas pode se impor como solução democrática e constitucional para a crise. Nenhum país suporta ficar à deriva, sem comando, sem governo, e as oposições e todos aqueles que têm espírito público devem enfrentar esse debate. A mancha do petrolão sujou as mãos do governo do PT, de Lula e de Dilma.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fernando Gabeira - Quem pagará o enterro e as flores?

- O Estado de S. Paulo

No momento em que escrevo, começo uma jornada pela Amazônia oriental. Entro numa área de pobre conexão, mas ao sair dela, creio, ainda estaremos no mesmo estado de crise.

O cerco contra o governo cada vez aperta mais. O esperado depoimento de Ricardo Pessoa, o homem da UTC, envolve diretamente tesoureiros e campanhas de Lula e Dilma. Em Minas, o governador Fernando Pimentel está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) com autorização do Superior Tribunal de Justiça.

Dentro da cadeia, o cerco se fecha também contra os empreiteiros. A força-tarefa de procuradores apurou apenas 25% dos casos de corrupção. A presença de grandes empresários na cadeia traz à cena alguns dos melhores escritórios de advocacia do País. Nesses casos – infelizmente, apenas nesses – o respeito aos direitos humanos é minuciosamente monitorado.

Só com os dados divulgados nem sempre é possível fazer uma análise precisa. O bilhete de Marcelo Odebrecht, por exemplo, foi tema de discussão. No bilhete, apreendido pela PF, ele manda destruir um e-mail. A defesa de Odebrecht diz que ele usou o termo destruir num sentido figurado. Queria dizer desconstruir, combater os argumentos associados a um negócio de sondas, com sobrepreço.

Só tenho meus recursos próprios para avaliar um caso desses. Pelo que conheço de cadeia, os presos, de fato, usam linguagem cifrada para evitar que a polícia descubra o conteúdo de seus bilhetes: Arnaldo, não se esqueça do remédio das crianças menores; Maria, pegue o meu guarda-chuva e empreste ao Adriano. Na cadeia, a linguagem figurada não é usada apenas para que a polícia não perceba o conteúdo, mas também para que a polícia não possa provar que você falou algo diferente do que está ali, no papel.

Prisioneiros usam metáforas para escapar do crivo policial. Marcelo Odebrecht usou para se incriminar. Inexperiência? De modo geral, um empresário como ele tentaria ser objetivo. Ele sabe que um simples bilhete de cadeia tem de ser preciso. Poderia ter escrito desconstruir, combater, no lugar de destruir.

Vamo-nos ater aos verbos construir e desconstruir. A desconstrução de um argumento, de modo geral, é um processo longo e diversificado. Neste caso, não haveria tanta urgência: era tema para tratar nas conversas regulares com os advogados. O verbo destruir implica uma certa pressa e cabe precisamente num bilhete, num comunicado que não possa esperar visitas legais e regulares de seus defensores. Os advogados de Odebrecht afirmam que não mandaria destruir o e-mail sobre compra de sondas porque já era conhecido da polícia. Argumento forte: de que adianta destruir algo que a polícia já conhece e utiliza? Mas não era só um e-mail, vários foram escritos pelo mesmo diretor. Agora a Braskem já entregou todos os e-mails e a operação foi auditada por uma firma independente.

Novas batalhas estão em curso. Uma delas é sobre o sentido da palavra sobrepreço. Nós a entendemos como superfaturamento. Eles dizem que é um termo comum no mercado, com sentido diferente.

A liberdade de Marcelo Odebrecht depende de uma profunda simpatia da Justiça por seus argumentos. Para conceder habeas corpus será preciso deixar de lado o que está escrito e acreditar só no que ele queria dizer.

Um jornalista que escreve que o governo afundou na corrupção, diante dos juízes não pode alegar que o governo apenas tropeçou ou resvalou na corrupção. Afundou mesmo.

Teremos um longo período de governo sitiado. As peripécias jurídico-policiais serão emocionantes, mas inibem um pouco a discussão sobre alternativas. Tanto a PF quanto o Ministério Público (MP) já devem ter ideia do extenso trabalho que têm pela frente. A usina de Belo Monte, por exemplo, não tinha entrado na história da corrupção. Agora já entrou. Os estádios construídos pelas empreiteiras para a Copa do Mundo também passam por dificuldades e a história de sua construção ainda não é de todo conhecida.

Os empreiteiros estão ressentidos com o governo porque não impediu a ação da PF e do MP. Mas como, se o governo está cercado e se comporta como num avião em queda: primeiro ajusta a máscara de oxigênio em si próprio, depois vai pensar em cuidar do outro.

Lula não poderá dizer que ignora o que se passou na Petrobrás ou não conhece nem trabalhou com a Odebrecht. Dilma, por sua vez, já se complicou com as pedaladas no Orçamento e dificilmente conseguirá explicar-se. Além disso, com as declarações de Pessoa, terá de explicar, juntamente com seu ministro Edinho Silva, onde foram parar os R$ 7,5 milhões da UTC injetados no caixa 2 de sua campanha. Tudo isso já era esperado. Ricardo Pessoa fez várias referências na cadeia, indicando o rumo de sua delação premiada. Com tantos escândalos, quase esquecemos dessa variável. No fim de semana, ela apareceu com toda a força.

As complicações de Fernando Pimentel também eram pressentidas, desde 2014, quando o empresário Bené foi preso com dinheiro no avião. A sensação que tivemos no momento eleitoral foi de abafa. Mas também aí o fio foi sendo puxado. O caso implica a mulher de Pimentel. Jornalista, ela recebeu de outro jornalista, Mario Rosa, mais de R$ 2 milhões por seu trabalho. Deve ser extremamente talentosa. Um jornalista mediano rala dez anos para chegar a essa soma, e muitos não chegam lá.

Estamos assistindo a cenas finais dessa luta da Justiça contra o partido político que domina o País ao lado de seu parceiro, o PMDB. Não me parece tão produtivo falar mal de um governo e um partido cercados pela polícia.

Dilma faz saudações à mandioca, como se o ridículo fosse o mais leve fardo que pudesse carregar. Lula esbraveja contra o PT, como se fosse um observador de outro planeta. Vai chegar o momento de discutir o País e alternativas diante da crise. Está demorando. O minuto de silêncio pelo funeral do PT se estende além da conta. Já sabemos quem pagará o enterro e as flores. Arruinado, o Brasil precisa recomeçar.

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*Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - Anatomia de uma crise

- O Globo

A crise interna do PT pode ser explicada de diversas maneiras, e muitos fatos podem ser responsabilizados por ela existir, mas a lógica que rege os mais recentes movimentos do ex-presidente Lula e de sua criatura, Dilma Rousseff, é que expõe a fragilidade política dessa união. A aliança só foi forte quando o criador comandava a criatura, seja na campanha eleitoral que ela nunca enfrentara, em 2010, seja na montagem

Do primeiro governo, quando Lula fez o que quis no Ministério inaugural do que deveria ser o governo de transição entre os primeiros oito anos do ex-presidente e os novos oito anos a partir de 2014.

A liga começou a se desfazer com pequenas tentativas de independência por parte da criatura, que resultaram na inédita decisão de demitir nada menos que seis ministros nos primeiros meses de governo. Nunca mais houve, desde então, um ambiente político favorável à relação de criador e criatura, ambos empenhados em marcar suas posições.

Dilma, em busca de se impor dentro do PT - que não a engole com naturalidade até hoje -, montou um grupo de políticos em torno de sua Presidência, do qual o mais representativo continua sendo Aloizio Mercadante. E afastou de seu círculo íntimo os ligados a Lula, dos quais o exemplo mais evidente foi Gilberto Carvalho, que de eminência parda nos governos lulistas passou a figura decorativa no Ministério Dilma, a ponto de ser vítima pessoal do estilo rude de gerenciar da presidente.

A crise teve seus efeitos adiados pela campanha de 2014, que justificava a unidade temporária para que todos pudessem se salvar do naufrágio que já aí se exibia como inevitável.

A derrota postergada à custa de uma campanha de agressividade fora da curva democrática e mentirosa, além de, sabe-se agora, financiada com dinheiro espúrio desviado da Petrobras, levou para os primeiros meses do segundo mandato toda a carga de irregularidades e ilegalidade cometidas no primeiro. A Operação Lava-Jato concretizou o que já parecia evidente no final da campanha: o envolvimento direto do governo nos desvios de conduta da Petrobras. As 18 delações premiadas levam para o centro do Poder as acusações, agora chegando aos principais gabinetes do Palácio do Planalto.

Enquanto as investigações rondavam o PT, mas não os petistas mais ligados a Dilma, o partido e o próprio Lula reclamavam do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que não teria controle sobre a Polícia Federal. Mas se esse era um dos orgulhos da presidente Dilma, que enchia a boca para garantir que a autonomia do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para investigar os "malfeitos" eram consequência de sua autorização tácita, e não da letra da lei?

Lula e os petistas se incomodavam com a displicência de Dilma diante do descalabro que se avizinhava, incluída aí até mesmo a possibilidade que o próprio Lula amanhecesse um dia com policiais em sua casa, ou vasculhando o instituto que leva o seu nome. Daí os célebres 15 dias de destempero de Lula, a criticar a presidente em público, e seus ministros mais chegados, como Mercadante e Cardozo, jogando todos na vala comum do "volume morto" da política e do PT, abaixo disso.

Mas, bastou que a Operação Lava-Jato chegasse aos principais gabinetes do Palácio do Planalto, para que Dilma saísse de sua pasmaceira política para atacar até mesmo a lei da delação premiada que ela sancionou e que, durante a campanha, serviu de mote para spots publicitários e autoelogios.

Bastou isso também para que Lula se acalmasse e fosse a Brasília pedir apoio ao governo para os partidos do que teoricamente seria a base, que a esta altura ninguém sabe a quantas anda. O pedido de habeas corpus preventivo para não ser preso, que um dia apareceu no noticiário como sendo de autoria de Lula, acabou se transformando em realidade no desespero de José Dirceu.

O que um anônimo maníaco por esse instrumento - já expedira diversos pedidos desse tipo para várias personalidades - fizera para Lula, irritando-o profundamente por parecer uma admissão de culpa, acabou pelas mãos dos advogados de Dirceu, entrando no cenário político como a cereja no bolo: o ex-ministro todo-poderoso, bem-sucedido consultor de empresas em diversas partes do mundo, que andava de jatinho particular de baixo para cima, apresentado na petição do habeas corpus como "no crepúsculo da vida" aos 70 anos, e passando necessidades.

Às vezes unidos, quase sempre desavindos, já não fazem planos para a eleição de 2018. Cada qual querendo salvar a respectiva pele.

Eliane Cantanhêde - Sinal de desespero

- O Estado de S. Paulo

A pesquisa Ibope teve um efeito desolador no PT, que se esforça para ser guardião de uma presidente da República que não que- ria e para fingir que acredita em Lula como boia de salvação. A sensação é de fim de festa, com o salão desarrumado, copos quebrados, guardanapos pelo chão e bêbados vagando sem rumo, enquanto o Titanic aderna.

A aprovação de Dilma Rousseff despencou para um só dígito e a rejeição é a maior em 29 anos, pior mesmo do que as de Collor e de Sarney, os ex-campeões de impopularidade. O campo da pesquisa, curiosamente dez dias antes da divulgação, não pegou os 15 minutos de glória de Dilma com Barack Obama nem captou, do outro la- do, as revelações de Ricardo Pessoa envolvendo campanhas de Lula e Dilma e, de uma tacada só, dois ministros com assento no Planalto. Soma daqui, subtrai dali, o resultado é atual.

Chocado, o PT vê a presidente serelepe, curtindo a dieta da moda e pedalando sua bike ribanceira abaixo, enquanto leva uma bola nas costas atrás da outra no Congresso, ora com um novo fator previdenciário, ora como aumento de até 78% dos funcionários do Judiciário. E, assustado, descobre que Lula está sem rumo, sem vontade e sem tantos seguidores as- sim que estejam dispostos a afundar com ele e Dilma em tecla essa lambança. A proposta que Lula levou para as bancadas do PT no Congresso e para os líderes ainda aliados do PMDB é, em si mesma, um sinal de desespero: um pacto de governabilidade entre os três Poderes para "tirar o País da crise". Leia-se: ele Sonha numa "união republicana" do Legislativo e do Judiciário em torno do Executivo para tentar salvar o mandato periclitante da pupila Dilma.

Como pensar em "pacto" entre Poderes, justamente num ambiente de desconfiança entre eles e de críticas generalizadas à presidente? O Executivo perdeu o controle e ficou a reboque do Congresso e da Justiça. O Legislativo está nas mãos de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que impõem uma derrota atrás da outra ao Planalto e estão no foco do Judiciário. E o Judiciário não apenas investiga os presidentes da Câmara e do Senado e boa parte dos congressistas, co- mo pode se ver na iminência de julgar ministros da antessala de Dilma. Deputados e senadores petistas ouviram a ideia de Lula com reverência, co- mo fazem há mais de 35 anos, antes mesmo da criação do PT, mas saíram dali envoltos em profundo desânimo. Se isso é tudo o que o gênio da política tupiniquim tem a oferecer, é porque a coisa está para lá de ruim.

Já os caciques do PMDB nem fizeram questão de esconder o ceticismo com a solução improvisada – aliás, com tudo. Octogenário e vivendo o ocaso da carreira política, José Sarney foi além e disse o que todos ali pensavam, mas não ousavam admitir: a esta altura, com o govemo desmoronando, a economia idem e Dilma autista, pode ser tarde demais para qualquer reação. Segundo relatos, Sarney avaliou, sem subterfúgios, que a possibilidade de Dilma cair é cada vez mais real.

Se as conversas de Lula com o PT e o PMDB amigo já foram nesse ambiente desolador, imaginem se, em vez de terem sido na segunda e na terça, ti- vessem sido na quarta-feira, dia da divulgação do Ibope? Os próprios petistas começam a dar sinal de cansaço. Eles se ressentem do erro fatal que foi chegar alegremente ao paraíso das benesses e das maracutaias e, como tiveram de engolir a imposição do nome de Dilma para a Presidência, não encontram argumentos – e, na verdade, nem têm vontade – para defendê-la agora. Pior: muitos não botam mais fé em Lula, que também demonstra frustração, medo, impotência.

"Lula não manda mais nada", atesta um velho amigo, repetindo literalmente o que a senadora Marta Suplicy diz há tempos e revelando que achou o ex-presidente deprimido, sem encanto, incapaz de apontar caminhos e de convencer como pré-candidato em 2018. Como todos os de- mais, Lula está vendo o desastre chegar sem saber como impedi-lo. Nem como sobreviver a ele.