segunda-feira, 8 de junho de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Não nos aflijamos eleitoralmente antes do tempo. Neste momento o que importa é que o povo veja quem foram os verdadeiros responsáveis pelo desastre que aí está. Ele é fruto de decisões desatinadas do lulopetismo e da obsessão pela permanência no poder, com a ajuda da corrupção e de medidas populistas que nada têm a ver com desenvolvimento econômico e social ou com os interesses nacionais e populares.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e foi presidente da República, em artigo ‘O ponto a que chegamos’. O Estado de S. Paulo, 7 de junho de 2015

Dois anos após manifestações, reprovação generalizada

• Presidente, e governadores do Rio e SP não conseguiram recuperar índices de aprovação anteriores as marchas

Cássio Bruno e Cristina Tardáguila – O Globo


RIO — Em 6 de junho de 2013, quando o Movimento Passe Livre (MPL) montou barricadas na esquina das avenidas 23 de Maio e 9 de Julho, em São Paulo, para impedir o reajuste nas tarifas de ônibus, 63% dos brasileiros avaliavam o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) como “ótimo ou bom”. O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) tinha o apoio de 52% dos paulistanos, e o prefeito Fernando Haddad (PT-SP), 31%, segundo dados históricos levantados pelo GLOBO no Ibope e no Datafolha. Passados dois anos, nenhum desses políticos conseguiu recuperar o patamar de popularidade que tinha antes das manifestações de rua. Dilma tem hoje aprovação de só 12% dos eleitores, Alckmin, de 38%, e Haddad, de 20%.

No Rio de Janeiro, o cenário não foi diferente. O então governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que, em 2010, chegou a ser avaliado como “ótimo ou bom” por 55% da população, deixou o cargo em abril de 2014, quase um ano depois dos protestos, com menos da metade da aprovação: 20%. O prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ), que tinha o apoio de 50% dos cariocas quando os manifestantes tomaram a Avenida Presidente Vargas, no Centro, pela primeira vez, era tido como “ótimo ou bom” por não mais de 37% dos eleitores no último mês de julho.

O efeito das manifestações também foi devastador nos índices de aprovação do Congresso Nacional. Em março de 2013, três meses antes dos protestos, deputados e senadores eram tidos como “ótimos” por um quinto dos brasileiros. Um total de 33% classificava-os como “ruins”. Dois anos depois, o cenário piorou muito. Só 9% dos brasileiros veem os parlamentares como representantes “ótimos”. Metade os considera “ruins”.

Clima mais acirrado nas ruas
É, portanto, inegável a cicatriz deixada por algumas das maiores manifestações da História do país na confiança do povo em seus representantes políticos. Em entrevista recente ao GLOBO, Cabral admitiu que “foi muito duro” para ele e para sua família conviver com aqueles protestos, sobretudo os que se instalaram na porta de sua casa. Dilma, Alckmin, Haddad e Paes foram confrontados com a queda de sua popularidade, mas se negaram a comentar o assunto.

— Fizemos pesquisas junto às prefeituras das capitais e aos governos estaduais e concluímos que os políticos cumpriram poucas promessas feitas aos manifestantes de 2013: só as que versavam sobre transporte, ou seja, implantação de linhas de ônibus e o congelamento temporário de passagens. Eles não cumpriram nada relacionado à transparência de gastos públicos. A conclusão é que o Estado brasileiro, independentemente dos partidos no poder, não quer democratizar nada. Não quer criar transparência — afirma o sociólogo e cientista político da PUC-SP Rudá Ricci.

Para a empresária Tatiane Tirindelli, de 31 anos, a falta de uma pauta com temas organizados fez com que a maioria das reivindicações não fosse atendida pelo poder público:

— De maneira geral, as pessoas, simplesmente, estão insatisfeitas, mas não sabem reivindicar o que querem. Por não terem uma reivindicação específica, os protestos acabaram não levando a lugar algum.

Apesar disso, analistas apontam ecos dos protestos de 2013 nos últimos tempos. Dizem que há, sobretudo, um clima mais acirrado nas lutas urbanas.

— O ano de 2013 teve um pico grevista quase tão grande quanto o de 1989 — diz Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP, citando dados do Sistema de Acompanhamento de Greves do Dieese. — Foram 1.900 greves, contra cerca de 800 em 2012.

Autor do livro “A pulsão plebeia: trabalho, precariedade e rebeliões sociais”, que acaba de ser lançado pela editora Alameda, ele também chama a atenção para o fortalecimento dos movimentos populares urbanos:

— Em 2013, o município de São Paulo tinha cerca de 200 ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Em 2014, esse número pulou para mais de 700. É claro que eles saíram fortalecidos.

Para a advogada Kizzy Mota, de 25 anos, que também foi às ruas, os protestos deixaram resultados positivos e negativos.

— Tivemos a oportunidade de perceber que o Brasil está longe de ser um país efetivamente democrático porque houve muita repressão. Por outro lado, a população está cada vez mais buscando uma identidade, uma unidade política — avalia.

O pesquisador Julio Aurélio, que na próxima quarta-feira fará uma palestra sobre o assunto na Casa de Rui Barbosa, comparou as manifestações de 20 de junho de 2013 com as de 15 de março e 12 de abril deste ano.

— Em comum, esses protestos têm a crítica à corrupção e à classe política. Foram mobilizações difusas, independentes de corporações organizadas, e contaram com o Facebook como principal meio de convocação. Por outro lado, em 2013, falava-se da qualidade da vida comum, da vida política e dos serviços públicos. Nos protestos deste ano, o foco era a corrupção política.

Inflação e falta de dinheiro
Ricardo Ismael, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ, vê outras diferenças entre 2013 e 2015. Para ele, a situação é mais crítica para a presidente Dilma:

— Em dezembro do ano passado, ela sofreu um baque com a economia, com o aumento da inflação e o crescimento do desemprego — avalia. — A popularidade dos prefeitos vem sendo prejudicada pela falta de dinheiro, decorrente do ajuste fiscal. A dos governadores, pela paralisação de obras e greves. A onda é outra.

Ao fazer um balanço do que significou 2013, Ruy Braga enxerga ainda os frutos do que chamou de “choque de democracia”.

— Há décadas temos um sistema político blindado, caro e que repele as pessoas comuns. Mas, nos últimos anos, tivemos a universalização da Educação, a ampliação das redes sociais e o surgimento de uma nova cultura democrática. Esses dois lados do Brasil se chocaram em 2013, revelando um descontentamento geral. Foi um choque de democracia. Mas mesmo assim foi bom. O Brasil amadureceu.

Um dos aprendizados da rua foi o seguinte: quando os radicais chegam — sejam eles da corrente que for —, as manifestações definham. E, tanto para Braga quanto para Ricci, isso tem a ver com a essência do brasileiro: um ser pragmático e, em sua maioria, conservador.

— Pesquisas recentes mostram que o brasileiro é a favor da ordem social. Não gosta de greve, de manifestações agressivas. Em termos de valores, tende a ser conservador. Valoriza a família e o sucesso pelo trabalho. Quer uma paz estatal — explica Ricci. — Foi por isso que líderes como Getulio Vargas e Lula tiveram tanto apego popular. Eles estimularam um Estado protetor, um Estado disposto a fazer justiça social.

— O grosso da população pensa pragmaticamente — completa Braga. — Não quer uma agenda artificial, ideológica para carregar. Busca soluções para os problemas de seu dia a dia. Quer resolver questões concretas como o ônibus, a escola e o posto de Saúde. Costuma fugir de abstrações. Portanto, é muito natural que haja um desgaste do engajamento popular no momento em que os radicais aparecem nas ruas. (Colaborou Marta Szpacenkopf)

Governo só cumpriu plenamente um dos 5 pactos ‘a favor do Brasil’

• Transporte urbano e reforma política estão entre promessas pelo caminho

Luiza Damé e Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA — No auge das manifestações de rua, a presidente Dilma Rousseff reuniu os governadores e os prefeitos das capitais para arregimentar apoio e planejar ações que respondessem aos protestos. Ao fim do encontro, Dilma anunciou 5 pactos “em favor do Brasil”: pela responsabilidade fiscal, pela reforma política e por melhorias na Saúde, na mobilidade urbana e na Educação. Dois anos depois, uma análise das promessas mostra que o governo só cumpriu plenamente uma delas — a criação do Mais Médicos, que levou milhares de médicos, sobretudo estrangeiros, a locais sem atendimento.

No campo fiscal, Dilma tenta equilibrar as contas públicas, após estourar os gastos no ano da Copa e das eleições, e vê a reforma política fugir do controle do Planalto. No pacto da mobilidade, o governo selecionou 215 projetos: 24 estão em obras, e só um está operando. Em relação à Educação, Dilma defendia 100% dos royalties do petróleo para o setor, mas parte foi para a Saúde.

Os problemas começaram poucos dias após o anúncio do compromisso nacional, quando um dos pontos naufragou. Para levar a cabo a reforma política, Dilma havia proposto a convocação de uma Constituinte exclusiva. Juristas e o próprio vice Michel Temer apressaram-se em dizer que não havia previsão legal para isso. Nem o plebiscito, também defendido pela presidente, teve respaldo político. A reforma ficou então em banho-maria e só semana passada andou. Enfraquecida, Dilma está vendo prosperarem teses que não agradam ao Planalto, como a permissão de doações de empresas privadas a partidos.

A outra parte desse pacto — melhorar as regras de punição a corruptos — virou mote de campanha, mas só saiu do papel em março deste ano, quando o governo mandou um pacote anticorrupção ao Congresso. A tendência, no entanto, é que na próxima semana o governo retire o regime de urgência que garantia prioridade à votação da medida, para priorizar o ajuste fiscal.

Em relação ao pacto pela responsabilidade fiscal, o governo viu a inflação passar de 5,9% em 2013 para 6,41% ano passado. A previsão do mercado é que este ano chegue a 8,4%, estourando em dois pontos percentuais o teto da meta do governo. O Produto Interno Bruto (PIB), soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, também só caiu nesse período. Em 2013, foi de 2,7%; ano passado, 0,1%; para este, a expectativa é de retração de 1,2%.

Para o Banco Central, o que está ocorrendo é ajuste dos preços: “esses realinhamentos de preços fazem com que a inflação se eleve no curto prazo, mas já a partir de abril a inflação mensal passou a se situar em patamar bem inferior ao registrado nos três primeiros meses do ano”, avaliou.

Cerne dos protestos, o transporte público receberia, segundo Dilma, R$ 50 bilhões de investimentos. A ideia era criar e ampliar a rede de metrôs, veículos leves sobre trilhos (VLTs) e corredores de ônibus. Mas, segundo o Ministério das Cidades, de 215 empreendimentos, apenas um já opera e outros 24 estão em obras. O restante — 88% deles — nem começou a ser construído.

No pacto da Educação, tema que virou lema do 2º mandato, Dilma conseguiu parcialmente o que queria. Em agosto de 2013, o Congresso destinou 75% dos royalties para a Educação e 25% para a Saúde. E ainda 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a Educação. Ano passado, Dilma sancionou ainda o Plano Nacional de Educação, que destina 10% do investimento do PIB para Educação.

O grande trunfo de Dilma, no entanto, foi o pacto da Saúde, que resultou no lançamento do Mais Médicos, em sua 2ª fase. Na 1ª, o governo contratou seis mil médicos cubanos para atuar nas periferias das grandes cidades e em periferias no Norte e no Nordeste. Segundo o Ministério da Saúde, 18.240 profissionais foram contratados pelo programa para atender 4.058 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, ou 63 milhões de pessoas.

Outras metas, porém, não foram cumpridas. O governo prometeu criar 11,5 mil vagas de graduação e 12,4 mil vagas de residência médica, até 2017. Menos da metade foi conseguido.

PT faz congresso sob desgaste e risco de deserções

• Partido está dividido quanto à política econômica do governo, e rejeição popular leva parlamentares a cogitar saída

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - Há três anos, o PT administra Itupeva e possui a maior bancada na Câmara de Vereadores da cidade de 60 mil habitantes no interior de São Paulo. Mas essa hegemonia está com os dias contados. Pressionados pela rejeição da população à legenda, o prefeito Ricardo Bocalon e três dos quatro parlamentares locais devem anunciar nos próximos dias a saída da sigla. A debandada de quadros no município do maior estado do país ilustra a crise que o partido levará para o seu 5º Congresso, a partir de quinta-feira, em Salvador.

Divididos sobre a política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, os 800 delegados do PT vão tentar ainda encontrar saídas para a série de escândalos que a legenda vem enfrentando nos últimos anos.

Enquanto isso, em São Paulo, a ordem é conter as deserções. O presidente do partido no estado, Emídio de Souza, fez um périplo por cidades do interior para conversar com prefeitos e vereadores.

- Não tem essa história de debandada. Alguns prefeitos podem sair, o que é natural num partido como o nosso, na situação que estamos vivendo - minimiza Emídio.

Mas o fato é que, pelo menos em Itupeva, está difícil ser petista. O prefeito Ricardo Bocalon evita falar dos problemas que tem enfrentado, apesar de admitir a negociação para mudar de legenda.

- Cada hora aparece um escândalo novo contra o PT. Aqui eles não ganham mais eleição - afirma Jonas Moreira, de 31 anos, gerente de uma loja de material elétrico na cidade.

- Eu sofro bastante na rua. Todos os dias escuto as pessoas dizendo que, se eu continuar no PT, não votam mais em mim. Em encontros sociais, quando conheço alguém e perguntam o que eu faço, peço para mudar de assunto - conta a vereadora Tatiana Salles (PT).

Por orientação de seu advogado, a vereadora está fazendo um dossiê: toda vez que surge uma nova denúncia contra a legenda, ela anota os constrangimentos que enfrenta nas ruas por causa do episódio. A ideia é usar o documento para evitar uma eventual ação de cassação do mandato por parte do comando da sigla.

Com medo de que os desertores articulem as saídas com as direções municipais, Emídio de Souza decidiu que todas as expulsões do PT devem passar pelo Diretório Estadual. Em caso de expulsão, o partido não pode requerer o mandato na Justiça Eleitoral.

Os problemas do PT em São Paulo não se resumem às eventuais deserções. Em São Bernardo do Campo, berço do partido no ABC paulista, o prefeito Luiz Marinho enfrentou, até a semana passada, uma greve de 22 dias comandada por um sindicato filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidido por um filiado ao PT. Foi a primeira paralisação da gestão de Marinho, ex-presidente da central sindical e ex-ministro do Trabalho do governo Lula.

No plano nacional, o conflito entre a CUT e o governo petista ganhou novo capítulo na semana passada, com a divulgação do documento assinado pelo presidente da central, Vagner Freitas, para ser levado ao congresso em Salvador. O texto diz que o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda) coloca o partido contra a classe trabalhadora.

Os ataques do dirigente da CUT dão combustível para a ala do PT que planeja dar ao documento final do encontro uma rejeição contundente à política econômica da presidente Dilma.

Todas as teses das correntes petistas para o encontro de Salvador traziam críticas às medidas adotadas pelo governo na economia. Mas esses documentos estão sendo revisados, e novas versões devem ser apresentadas até quarta-feira.

- O partido deve ter um posicionamento crítico sobre a condução da política econômica do governo. Isso é uma crítica à direção, porque o partido está sendo omisso em relação ao programa pelo qual foi eleito - afirma o secretário de Formação Política do PT, Carlos Árabe, da chapa Mensagem ao Partido.

Com a missão de administrar os embates internos, o presidente do PT, Rui Falcão, cita que 200 mil pessoas pediram filiação à legenda este ano.

- Isso não é um partido em crise, como a mídia monopolizada tenta nos caracterizar - afirma Falcão.

Lula atua para crítica a ajuste fiscal dar lugar a ‘esperança’

• Às vésperas do 5º Congresso do PT, ex-presidente age para que resolução final do evento indique ‘agenda de desenvolvimento’

Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula com outras correntes do PT a substituição das críticas mais duras ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela defesa de uma “agenda de desenvolvimento” que “crie esperança” no País. O movimento tem como alvo o 5.º Congresso do PT, que ocorrerá de quinta-feira a sábado, em Salvador, e, antes mesmo da abertura, provoca tensão no Palácio do Planalto.

Apesar de adotar um tom de desaprovação às medidas tomadas pela equipe econômica, Lula não quer que o PT saia do encontro de Salvador com o carimbo de partido de oposição à presidente Dilma Rousseff por avaliar que essa estratégia corresponde a um suicídio político.

Em entrevista ao Estado, ontem, Dilma considerou injustas as críticas a Levy e disse que ele não pode ser transformado em “judas” e ser malhado pelo PT. A ideia do grupo de Lula é “virar o disco” e mostrar que, agora, os petistas estão dispostos a ajudar Dilma a retomar o crescimento, reduzir a desigualdade e tirar do papel o slogan do governo – “Pátria Educadora”.

Na lista das “compensações” ao ajuste que a chapa da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula, tentará emplacar na resolução do 5.º Congresso estão propostas de crédito para fortalecer a indústria e manter empregos, de estímulo às exportações e de regulamentação do imposto sobre grandes fortunas.

A intenção é deixar claro que o pacote fiscal também atinge o “andar de cima” e não se concentra em restringir direitos dos trabalhadores, como seguro-desemprego e abono salarial.

O receituário do corte de gastos e a proibição imposta pelo PT a seus diretórios – impedidos de receber doações empresarias de campanha – são os capítulos que prometem causar mais polêmica no 5.º Congresso.

A tendência Mensagem ao Partido – integrada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro – mede forças com a CNB para influenciar as discussões.

Antes de viajar para a Itália, na semana passada, Lula pediu a dirigentes e parlamentares do PT que desbastassem os ataques ao governo e não dessem “um tiro no pé”. No sábado, porém, ao abrir a 39.ª Conferência da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em Roma, ele disse que, “se cada presidente ficar esperando que o ministro da Fazenda diga que está sobrando dinheiro, nunca vai fazer programa de transferência de renda”.

Nova rota. A cúpula do PT convocou o 5.º Congresso para corrigir rumos em meio à maior crise dos 35 anos do partido, no rastro dos escândalos de corrupção. Desde abril, no entanto, quando o então tesoureiro João Vaccari Neto foi preso, acusado de desviar recursos da Petrobrás, o desgaste só aumentou e o nome de Lula chegou a ser associado a denúncias. Dirigentes do PT vão manifestar solidariedade ao ex-presidente no encontro de Salvador, que será aberto por ele e encerrado por Dilma.

Em conversas reservadas, Lula tem dito que um eventual fracasso de Dilma será debitado na sua conta e, diante desse quadro, somente será candidato à sucessão de 2018 se a economia estiver bem. No seu diagnóstico, ou o PT renova o discurso e ajuda Dilma a sair da turbulência ou o cenário de hoje será “fichinha” perto da rejeição que o partido pode amargar nas eleições municipais de 2016 e na disputa presidencial de 2018.

“Agora, é tempo de parar de falar em ajuste e falar de investimento, emprego e distribuição de renda”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. “A política fiscal é de responsabilidade do governo e não é adequado criticar o ministro Levy. Acredito que o Congresso do PT será responsável e solidário com a presidente Dilma e sua equipe”, afirmou o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini.

Polêmicas petistas
Ajuste fiscal - Alas radicais do partido prometem entoar gritos de “Fora Levy” no congresso petista. O governo e o ex-presidente Lula pedem cautela e a cúpula da corrente majoritária tentará aprovar uma resolução política mais amena, focada em medidas “pós-ajuste”.

Taxação de fortunas - Para “compensar” o ajuste, o PT quer que o governo taxe as grandes fortunas do País, fazendo com que os mais ricos também paguem a conta. Levy não gosta da ideia e disse à presidente preferir um imposto sobre heranças.

Doações empresariais - Depois da prisão de João Vaccari Neto, o PT proibiu os diretórios de receberem financiamento de empresas. A medida causou protestos no partido e agora grupos se acusam mutuamente de quererem promover um recuo.

Fim do PED e nova direção - O Processo de Eleições Diretas (PED) é alvo de críticas em geral, por reproduzir vícios do mundo político, como abuso do poder econômico e compra de votos. Setores também querem abreviar o mandato da atual direção.

Constituinte exclusiva - Com a reforma política desfigurada pelo Congresso, o PT voltará à carga para encaixar na resolução a defesa de uma Assembleia Constituinte exclusiva, com o objetivo de votar o tema.

Criticado no PSDB, Aécio propõe 'carta de princípios' ao partido


  •  Senador mineiro pretende apresentar documento na convenção da sigla, marcada para julho
  • .Nas últimas semanas, fundadores da legenda reclamaram da postura "quanto pior, melhor" de seus congressistas

Daniela Lima, Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pressionado por setores mais ideológicos do partido e pela ofensiva política deflagrada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o senador Aécio Neves (MG) decidiu apresentar uma lista de propostas do PSDB para o resgate da economia do país.

O documento, que está sendo chamado por ele de "carta de princípios à nação", será divulgado na convenção do PSDB, em julho, quando Aécio será reconduzido à presidência nacional da legenda.

A ideia é que a carta traga ainda propostas para outras áreas. Com ela, Aécio responde a integrantes históricos do partido, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que cobram publicamente a adoção de uma postura mais propositiva por parte da oposição.

A iniciativa ainda faz frente à ofensiva do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que nas últimas semanas tem feito movimentos para nacionalizar o seu nome.

A ideia de Aécio é fazer da convenção uma solenidade "programática", para amenizar as críticas de que as bancadas do PSDB na Câmara e no Senado estão apostando no "quanto pior melhor".

Fundador do partido, o ex-deputado Arnaldo Madeira criticou a oposição do PSDB às medidas do ajuste fiscal e o apoio ao fim da reeleição, aprovada no governo de FHC.

"Aécio é presidente do maior partido de oposição. Não vi o partido ter uma posição organizada sobre esses temas. Há chute para todo lado", disse Madeira.

O próprio FHC, em artigo publicado neste domingo (7) no jornal "O Estado de S. Paulo", afirmou que a oposição "não deve escorregar para o populismo, e sim apontar caminhos". "A oposição de hoje será governo amanhã. [...] Não nos aflijamos eleitoralmente antes do tempo."

Aécio negou desconforto. "Talvez a maior virtude do PSDB seja a pluralidade. Nossa força vem daí, da capacidade de debater internamente, sem que isso signifique um racha", disse.

Maioridade
Alckmin e Aécio despontam como pré-candidatos da sigla à Presidência em 2018. A expectativa era que eles mantivessem o embate interno em banho-maria até o ano que antecede o pleito.

Na semana passada, porém, Alckmin deu entrevista ao jornal "O Globo", do Rio, defendendo uma proposta alternativa à redução da maioridade penal. O gesto foi interpretado como um tentativa de "exportar" sua imagem e assumir a dianteira nos debates sobre o tema.

Alckmin sugeriu a aprovação de um texto que amplia a pena de menores infratores, mas não altera a maioridade --na eleição, no ano passado, Aécio defendeu outra proposta. O paulista disse ainda que buscará apoio em todos os partidos, inclusive o PT.

O governador vai a Brasília nesta terça-feira (9) defender sua tese junto à bancada do PSDB. Aécio vai participar da reunião, e vai advogar por outra estratégia.

O mineiro quer que seu partido adote como bandeira três projetos: o de Alckmin, o do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que abre a possibilidade do julgamento como maior de idade para adolescentes que cometerem crimes hediondos, e uma proposta feita por ele, que triplica a pena de quem usa menores para cometer crimes.

"Vou defender que o PSDB feche com esses três projetos, para buscarmos um consenso com outras siglas que não querem a redução pura e simplesmente, mas também entendem que é preciso dar uma resposta à sociedade", disse.

Colaborou Catia Seabra

Conta cara: Custo de energia vai subir com novos leilões

• Para atrair investidores, governo deve aceitar tarifa de produção maior.

• Serão leiloados este ano até R$ 109 bilhões em projetos de transmissão e geração. Analistas já preveem reflexo na conta de luz.

A ampliação da oferta de energia não trará alívio para a conta de luz. O governo vai realizar este ano oito leilões de geração e transmissão de energia, com investimentos de até R$ 109 bilhões em obras durante cinco anos. Mas, para atrair investidores, deverá oferecer uma remuneração maior às empresas que tocarão os projetos, o que terá reflexo na conta de luz, dizem especialistas. A crise, a alta do dólar e as restrições nos financiamentos do BNDES devem reduzir o interesse das empresas. No último leilão de energia, em abril, a tarifa ficou em R$ 259,19 por megawatt-hora. Em dezembro de 2012, leilão do mesmo tipo teve preço de R$ 91,25 por MWh.

Alta tensão no bolso

Bruno Rosa e Ramona Ordoñez – O Globo

• Leilões de energia do governo devem elevar tarifa para atrair investidor, com reflexo para consumidor

• Serão leiloados este ano até R$ 109 bilhões em projetos de transmissão e geração. Analistas já preveem reflexo na conta de luz

A ampliação da oferta de energia não trará alívio para a conta de luz. O governo vai realizar este ano oito leilões de geração e transmissão de energia, com investimentos de até R$ 109 bilhões em obras durante cinco anos. Mas, para atrair investidores, deverá oferecer uma remuneração maior às empresas que tocarão os projetos, o que terá reflexo na conta de luz, dizem especialistas. A crise, a alta do dólar e as restrições nos financiamentos do BNDES devem reduzir o interesse das empresas. 

No último leilão de energia, em abril, a tarifa ficou em R$ 259,19 por megawatt- hora. Em dezembro de 2012, leilão do mesmo tipo teve preço de R$ 91,25 por MWh. Apesar de o governo prever a realização de oito leilões para ampliar a oferta de geração e transmissão de energia elétrica até dezembro, o consumidor vai continuar arcando com preços altos na conta de luz nos próximos anos. Segundo analistas, para atrair investidores para esses projetos, o governo vem aumentando o preço máximo das tarifas que podem ser cobradas pelos empreendedores pelos seus serviços. Na disputa, vence quem oferecer o menor valor a partir da tarifa- teto fixada pelo governo. Como resultado, o preço médio das tarifas de geração, que vem aumentado desde 2012, tende a subir ainda mais.

Ao todo, o governo prevê quatro leilões de geração de energia e outros quatro para ampliar o sistema de transmissão. Os certames poderão gerar investimentos de até R$ 109 bilhões. Porém, especialistas acreditam que a crise econômica que afetou o caixa das empresas, o dólar alto e a redução dos financiamentos por parte do BNDES tornarão mais difícil o sucesso das rodadas.

Tapajós não deve sair este ano
Segundo a consultoria Safira, o preço médio da venda de energia nos leilões de A- 5 ( quando a energia só entra no sistema em cinco anos) por megawatt/ hora aumentou à medida que a crise energética se agravou, com a falta de chuvas: subiu de R$ 91,25, em dezembro de 2012, para R$ 259,19, em abril deste ano.

— Essa alta reflete a percepção de um risco maior, já que os investidores passam por um cenário de crise mundial, o que acaba reduzindo o número de interessados. Com isso, o deságio acaba sendo menor, pois há menos concorrência. Há ainda o dólar alto, que encarece os projetos. O desafio para atrair investidores é a precificação do leilão, que tem de ser maior por conta ainda dos riscos regulatórios. A médio prazo, a tendência é de preços mais elevados — diz Fábio Cuberos, da Safira.

Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, acredita que, apesar das dificuldades da economia brasileira, os leilões vão atrair investidores, mas a um preço muito alto para o consumidor:

— Não tenho dúvidas quanto ao sucesso dos leilões, mas os preços da energia estão subindo muito.

Há ainda atrasos no cronograma, o principal deles é no complexo do Rio Tapajós, no Pará. A primeira usina, São Luiz de Tapajós, que estava prevista para ir a leilão no fim do ano passado, foi adiada para o fim deste ano. Com capacidade de 8 mil megawatts, é o maior projeto planejado para os próximos cinco anos. Para efeitos de comparação, Belo Monte terá 11 mil megawatts de capacidade. 

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética ( EPE), Maurício Tolmasquim, já admite novo adiamento no leilão, citando uma polêmica se o projeto atingiria ou não terras indígenas. Analistas acreditam que Tapajós será postergado também devido à redução dos investimentos da Eletrobrás e à crise nas empreiteiras desencadeada pela operação Lava- Jato.

Entre outros leilões de geração previstos para este ano, três são os chamados "reserva" — cujo objetivo é gerar energia a curto prazo. Mas a expectativa do mercado é com o leilão A- 3, que prevê gerar energia a partir de 2018 e investimentos, segundo o governo, de R$ 74 bilhões com base nos 521 projetos cadastrados. O preço- teto ainda não foi divulgado.

Thais Prandini, diretora da Thymos, destaca que o desafio principal para o sucesso dos leilões é a questão do financiamento. Segundo ela, o BNDES, que até o ano passado financiava até 70% do projeto, reduziu para até 50% neste ano:

— Como vai se financiar esses empreendimentos? O custo será mais alto, até porque as linhas do BNDES são atrativas. E isso vai se refletir na tarifa. Assim, para atrair mais investimentos, há uma expectativa que o valor da energia continue aumentando. O caixa das empresas está curto.

O governo se mostra otimista. Tolmasquim, da EPE, afirmou que, independentemente das dificuldades econômicas, os projetos têm receita garantida ao longo de todo o período de concessão ( de 30 anos):

— Não tenho dúvida que vai ser sucesso ( os leilões), dado o interesse grande dos empreendedores e da oferta maior de projetos do que a demanda.

Para Tolmasquim, as regras dos contratos para os projetos de geração foram ajustados à nova realidade, como a redução do financiamento do BNDES, o câmbio, o peso da importação de equipamentos, entre outros fatores, para torná- los atraentes:

— O Brasil vai voltar a crescer e tem que ter energia para isso. Esses leilões são principalmente para aumentar a oferta de energia a partir de 2018.

Risco de lotes vazios, diz Thymos
Apesar de governo e analistas citarem a redução do patamar de financiamento do BNDES, o banco disse que "para os leilões, as regras são definidas caso a caso". Otimista, o diretor- geral da Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel), Romeu Rufino, diz que há investidores com apetite, como os chineses. Em relação aos quatro leilões de transmissão, eles prevê investimentos de R$ 35 bilhões com as quatro linhas. A maior será de 2.500 quilômetros do chamado bipolo para transportar a energia da usina hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Rio Xingu, no Pará.

— O setor elétrico não pode esperar a demanda crescer para correr atrás de obras. Precisa planejar a longo prazo. Mas é um desafio para a Aneel realizar os leilões, pode não ter investidores no nível necessário — admite.

Rufino cita dificuldades a serem superadas, como as questões socioambientais. Em nota, o Ministério de Minas e Energia ( MME) disse que "investimentos em infraestrutura como esses são de longo prazo, e o peso de fatores conjunturais nas decisões é relativizado".

Mas Thais, da Thymos, diz que o governo terá de elevar a tarifa para a geração e a receita anual permitida para a transmissão como forma de atrair as empresas.

— Chegar a esse volume de investimento é um desafio com as regras de hoje. Se não tiver mudança, com a elevação dos preços, podemos ter lotes vazios.

Crescimento do desemprego já afeta os jovens com maior escolaridade

Mais de 16% dos jovens estão sem trabalho

• Em dez anos, número de jovens formados saltou de 528 mil para 830 mil, mas parte dos que chegam ao mercado se deparam com falta de vagas; para especialistas, faixa etária é a mais vulnerável

Cleide Silva e Anna Carolina Papp - O Estado de S. Paulo

O aumento do desemprego no País, que atinge todas as faixas, mas em especial os brasileiros com 18 a 24 anos, castiga também os jovens com maior nível de escolaridade, que há até pouco tempo eram os menos afetados pela escassez de trabalho.

Em dez anos, saltou de 528 mil para 830 mil o número de jovens que se formam anualmente nas universidades brasileiras. Essa geração, beneficiada pelo acesso mais amplo ao ensino superior – parte dele favorecido por programas como o Financiamento Estudantil (Fies) do governo federal, que beneficiou cerca de 2 milhões de pessoas desde 2010 –, chega ao mercado e se depara com a falta de vagas.

“Terminei a faculdade em julho do ano passado e esperava que as empresas pudessem me dar uma oportunidade de crescimento, mas não foi isso que aconteceu”, diz Mateus de Oliveira, de 21 anos, formado em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Comunicação, Tecnologia e Turismo de Olinda (Facottur). Ele mora em Olinda (PE) com a irmã e a mãe. Os três sobrevivem com o salário mínimo que a mãe recebe como cuidadora de uma idosa e a pensão que o pai paga, e se diz “desesperado” para conseguir um emprego.

“Já estou aceitando qualquer vaga, até de vendedor em shopping center”, afirma Mateus. Além das necessidades básicas, ele quer se livrar de uma dívida de cerca de R$ 2 mil no cartão de crédito.

Dados da última Pesquisa Mensal de Empregos (PME), do IBGE, mostram que a taxa geral de desemprego em seis regiões metropolitanas do País (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) foi de 6,4% em abril. Entre os jovens, essa taxa foi duas vezes e meia maior, e ultrapassou os 16%.

De 2002 a 2014, a taxa de desemprego entre jovens com até 24 anos caiu 11,2 pontos porcentuais, de 23,2% para 12%. Neste ano, essa taxa chegou a 16,2% em abril. “Demorou 12 anos para a taxa cair 11 pontos e em único ano já foram devolvidos mais de 4 pontos”, diz o pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn.

Para Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador e professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), apesar de o desemprego estar crescendo em todas as faixas etárias, os jovens tendem a sofrer mais em casos de conjuntura desfavorável.

“Em geral, o jovem é menos experiente, está em processo de escolarização e é menos produtivo. Numa recessão, a tendência é justamente cortar os trabalhadores menos produtivos”, diz Moura. “Além disso, o jovem é a única faixa etária que tem um contrato de trabalho mais flexível que os demais. Na hora de desligar, a empresa não incorre em custos demissionais; portanto, é mais barato.”

Sem experiência. Entre os jovens com 11 anos ou mais de formação (faixa que contempla o pessoal que tem ensino médio completo, ensino superior, mestrado e doutorado), a taxa de desemprego saltou de 11,1% em 2014 para 14,6% em abril deste ano.

“Já cheguei a mandar de 50 a 60 currículos por dia para empresas de São Paulo e outros Estados, e não consigo nada em minha área”, afirma Nicole Pervelli, de 22 anos. Formada no fim do ano passado em Engenharia Ambiental pela Fundação Santo André, ela já ampliou a busca para outras áreas da engenharia.

“Achei que seria mais fácil, mas, além da exigência de experiência na área, tem a crise no País que dificulta ainda mais”, lamenta Nicole, moradora de Santo André (SP). Ela diz que gostaria de ter um emprego para bancar suas despesas e não depender dos pais.

O número de desocupados com 11 anos ou mais de estudos aumentou de 265,9 mil pessoas em 2014 para 340,4 mil neste ano. Já o de ocupados caiu de 2,12 milhões para 1,98 milhão. Para o economista Raone Botteon Costa, da Fipe, “o País não está conseguindo gerar vagas qualificadas no mesmo ritmo em que está melhorando a qualificação”.

Formada em Biologia pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Larissa Ferrari Oliveira, 21 anos, está desempregada desde o final do ano passado, quando obteve o certificado de graduação. Durante o período da faculdade, estagiou em três lugares diferentes e, mesmo já tendo experiência na área, nenhuma oportunidade efetiva de trabalho apareceu.

Larissa se cadastrou em plataformas online de emprego e enviou currículos. Seu objetivo é trabalhar na área de manejo e conservação da fauna, mas ela procura oportunidades também fora desse campo. “Me inscrevi em algumas vagas para trabalhar como recepcionista e tradutora”, conta.

Apesar dos esforços, ainda não foi chamada para nenhuma entrevista. “Preciso de apoio financeiro”, diz. Larissa mora com os pais em Guarulhos (SP) e gostaria de bancar gastos como curso de inglês e transporte público.

Menos escolarizados ainda são os mais atingidos
Apesar de a perda de fôlego da economia deixar o mercado de trabalho um pouco mais hostil aos mais qualificados do que já foi no passado, a maioria afetada pelo aperto nas vagas são os menos escolarizados, diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. Segundo ele, em razão da queda da renda das famílias nos últimos anos, mais jovens com menos qualificação ingressam no mercado de trabalho à procura de vagas no comércio ou em serviços.

“Nos últimos dez anos houve aumento da renda dos pais, o que possibilitou que o jovem não precisasse trabalhar ou fazer bicos para ter o próprio dinheiro”, explica Menezes Filho. “Agora, com a desaceleração da economia, o salário real parou de crescer e o desemprego começou a aumentar. Para complementar a renda da casa, o jovem, que antes só estudava, começa a procurar emprego.”

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o saldo de postos de trabalho (diferença entre admissões e desligamentos) na faixa dos que têm ensino superior completo caiu de 19,4 mil em abril de 2014 para 500 em abril deste ano. O saldo positivo indica que esse mercado ainda gera vagas, embora a intensa desaceleração seja preocupante.

Já o saldo entre pessoas que têm apenas o ensino médio completo caiu, no mesmo período, de 77,7 mil para 26,1 mil negativos – ou seja, já há fechamento de vagas. “É preciso lembrar que a parcela de jovens que chega ao ensino superior ainda é muito baixa no Brasil, cerca de 20%”, diz Menezes Filho. “Dos 80% restantes, apenas metade chega a concluir o ensino médio.”

Para ele, “os escolarizados podem ter um pouco mais de dificuldade por causa da atual desaceleração da economia, mas sem dúvida os mais afetados pela alta dos índices de desemprego são os menos qualificados”.

Acesso. Outro recorte das estatísticas da situação dos jovens no mercado de trabalho, feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), confirma que, na região metropolitana de São Paulo – onde se concentra o maior número de jovens com educação superior –, a situação é mais difícil para os menos escolarizados.

O desemprego atinge 22,6% das pessoas da região com 18 a 24 anos, fatia que era de 19,8% em 2014. Considerando todas as faixas, a taxa média de desemprego é de 12,4%.

Entre os jovens, 37% dos desempregados têm ensino médio completo. Já entre aqueles com formação superior, o índice é irrelevante e não aparece nas estatísticas. “São poucos os jovens que chegam ao ensino superior, e esses poucos conseguem trabalho”, avalia a coordenadora do Dieese, Lucia Garcia.
Para ela, esse cenário reforça a necessidade de medidas que facilitem o acesso do jovem ao ensino superior. “Tudo o que prejudica o avanço da escolarização prejudica o jovem e o próprio País.”

/ Colaboraram Felipe Pontes e Rafaela Malvezi

Crise detém saída de domésticas do mercado

Proporção da categoria no emprego sobe após 7 anos; salário tende a cair.

A retração da economia brasileira interrompeu a queda da oferta de trabalhadores domésticos que vinha ocorrendo desde 2008.

Como proporção do total de empregados, a participação da categoria subiu de 6,1% em abril do ano passado para 6,3% neste ano.

Para o IBGE, embora a variação seja pequena, ela indica estabilização de um mercado em queda há sete anos. Nesse período, domésticos e novos trabalhadores vinham conseguindo empregos em outras áreas.

O achatamento da renda da classe média e o aumento recente dos encargos para a contratação de domésticos, por outro lado, podem afetar a demanda por esses profissionais e seus ganhos.

Segundo agências especializadas na área, há um aumento considerável no número de candidatas a domésticas e babás neste ano.

Empregadas que ganhavam até R$ 2.500 para dormir no emprego agora estão aceitando R$ 2.000. O piso da categoria em São Paulo é de R$ 905.

Com crise, sobe número de domésticas

• Após apresentar queda desde 2008, a proporção dessa categoria no total de trabalhadores voltou a crescer neste ano

• Novas regras impactam pouco o empregador que já assina carteira; trabalhadores formais são 30% do total

Isabel Versiani – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A retração da economia brasileira já interrompeu a queda da oferta da mão de obra doméstica observada desde 2008, período em que o crescimento do país ampliou o acesso à educação e a alternativas de emprego.

O achatamento da renda da classe média e o aumento dos encargos para a contratação de domésticos introduzidos pela nova regulamentação do trabalho no setor ameaçam, por outro lado, abalar a demanda por esses profissionais no país.

Especialistas consideram que a combinação desses fatores pode afetar os salários pagos ao doméstico ou os modelos de contratação, mas não preveem alta do desemprego ou da informalidade.

"Não vejo esse mercado em retração. Claro que há um encarecimento, mas, como a distribuição de renda é muito favorável aos mais ricos, a tendência é que as camadas mais altas continuem a ter mão de obra servil dentro de casa", afirma a economista Hildete Pereira de Melo, professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) que pesquisa o trabalho doméstico há mais de 30 anos.

Ela avalia que, diante da crise econômica, os salários dos trabalhadores domésticos podem dar "uma barateada" e as famílias podem passar a preferir diaristas, para não caracterizar o vínculo de emprego.

Números do IBGE mostram que o total de trabalhadores atuando no mercado doméstico subiu ligeiramente neste ano. Como proporção do total de empregados, também houve alta da participação da categoria, de 6,1% para 6,3%, após sete anos de queda quase ininterrupta.

Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, diz que a variação ainda é pequena, mas indica estabilização de um mercado que estava em queda.

"Com o cenário econômico mais favorável, as domésticas, principalmente as mais novas, estavam migrando para novos grupamentos de trabalho. Agora, diante da falta de oportunidade em outras áreas, algumas trabalhadoras estão retornando ou ingressando pela primeira vez no mercado doméstico", diz.

Novas regras
A presidente Dilma Rousseff sancionou na última terça (2) legislação aprovada pelo Congresso regulamentando o trabalho doméstico. Com as novas regras, aumenta o custo para o empregador.

Apesar da redução da contribuição patronal para o INSS --de 12% para 8%--, o recolhimento da contribuição ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), equivalente a 8% do salário, passou a ser obrigatório. Foram estipuladas, ainda, alíquotas de 3,2% para um fundo de indenização em caso de demissão sem justa causa e de 0,8% para seguro contra acidentes.

Os trabalhadores com carteira assinada representam cerca de 30% do contingente de empregados domésticos.

Para Luana Pinheiro, pesquisadora do Ipea, como o salário da doméstica é relativamente baixo, o impacto das novas regras é pouco significativo para o empregador que já assina a carteira.

Segundo a pesquisadora, a obrigatoriedade do pagamento da hora extra --em vigor desde 2012-- tem peso maior sobre o custo, mas ainda assim não gerou desemprego. Ela avalia que esse será o caso mesmo com deterioração da economia.

"A redução dessa mão de obra é uma tendência mundial. Mas a sociedade brasileira se organizou em cima do trabalho doméstico, e não temos estruturas de Estado que nos compensem com políticas de cuidados", diz.

Aécio Neves - Estatais sob controle

-Folha de S. Paulo

Até um passado recente, marcas como Petrobras e Correios eram sinônimo de excelência em suas áreas de atuação, com uma qualidade de serviços prestados ao mercado e à sociedade que dava orgulho aos brasileiros. Este tempo se foi.

Transformadas em instrumentos de ação política e servindo prioritariamente a interesses partidários e pessoais, essas e outras empresas estatais tornaram-se, lamentavelmente, exemplos de gestão inepta. Escândalos revelados na Lava Jato mostraram o quanto o debate sobre governança precisa ser aprofundado.

Mais que nunca, é preciso profissionalizar a gestão das empresas públicas. Dentre as propostas que trouxemos para debate na campanha eleitoral, esse tema ocupava lugar de relevância. Infelizmente, não houve interesse do PT em avançar nesse campo.

Na última semana, apresentei um projeto de lei que estabelece requisitos de experiência e aptidão técnica para a ocupação de diretorias e conselhos de administração em empresas estatais e sociedades de economia mista. O projeto elenca ainda uma série de mecanismos obrigatórios de gestão, controle e prestação de contas e condutas éticas.

Na mesma direção, os presidentes da Câmara e do Senado apresentaram iniciativa para ampliar o controle da sociedade sobre a administração estatal. Há um sentimento geral e suprapartidário (do qual o PT se exclui) de que é preciso construir um novo padrão de empresa pública no país.

As estatais representam uma parte importante dos empregos gerados, atuam em serviços essenciais e têm papel estratégico na competitividade geral do país. Não devem servir a governos e partidos políticos, mas à sociedade.

O grupo político no poder foi pródigo no loteamento de cargos públicos e na politização da administração direta e indireta, além de ocupar os fundos de pensão e diversas instâncias gerenciais. Há dezenas de empresas estatais sob controle da União, e nada sabemos sobre como se deu a indicação de seus dirigentes. Ou melhor, sabemos que a carteirinha do PT é mais valiosa que qualquer currículo qualificado.

Basta. É preciso coibir a avidez do governo de plantão e criar mecanismos que preservem as estatais das tentativas de cooptação por interesses político-partidários.

O que precisa ser feito é claro: recrutamento profissional dos dirigentes, transparência na gestão, definição de metas de desempenho, prestação de contas periódicas. Mais meritocracia, menos ingerência política sobre a distribuição de cargos e verbas públicas.

Trata-se de uma mudança cultural expressiva nos moldes da gestão pública praticada no país. É um novo Brasil que precisa se projetar, mais transparente, mais eficiente, que olha para o futuro.

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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Ricardo Noblat - Il Padrino (II)

- O Globo

Acho grave que uma pessoa diga ‘houve caixa dois’. Ora, caixa dois é crime. E uma agressão à sociedade. Carmen Lúcia, ministra do STF

Por que Lula, no segundo semestre de 2006, ouviu sem estranhar o senador Delcídio Amaral (PT-MS) dizer que o publicitário mineiro Marcos Valério queria dinheiro para não contar o que sabia sobre o mensalão – esquema de pagamento de propinas a deputados federais para que votassem como mandava o governo?E, além de não estranhar, por que ainda perguntou assim a Delcídio: "Você falou com Okamotto?”

Lula estava no seu gabinete de presidente da República no terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio respondeu que não falara com Okamoto. Lula mais não disse e nem Delcídio lhe perguntou.Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Hoje, é o presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.

Quer saber se Okamotto socorreu Valério, um dos operadores do mensalão junto com Delúbio Soares, na época tesoureiro do PT? Okamotto admite que Valério procurou-o mais de uma vez ao longo da crise do mensalão, mas nega que o ajudou. Quanto a Lula... Nos últimos 10 anos se acumularam perguntas que nunca lhe fizeram, e outras às quais ele deu um jeito de não responder.

Hoje, Lula repete que o mensalão jamais existiu. Tudo não passou de uma invenção da direita para destruir seu governo. No máximo, reconhece que o PT cometeu crime de Caixa 2 – o uso de dinheiro ilegal para pagar despesas de campanha.Com a maioria dos seus ministros nomeada por Lula, o Supremo Tribunal Federal confirmou que o mensalão existiu, sim. Não foi Caixa 2.

Deve ter doído em Lula a feliz observação da ministra Cármen Lúcia: - Acho estranho e grave que uma pessoa diga 'houve Caixa 2'. Ora, Caixa 2 é crime, é uma agressão à sociedade brasileira. E isso não é pouco. Parece-me grave, porque parece que ilícito no Brasil pode ser realizado e tudo bem.
Pensando melhor, retifico: a observação da ministra não deve ter doído em Lula. Doeria em alguém inocente.

Lula sempre posou de inocente. E para convencer disso os brasileiros, convocou uma cadeia nacional de rádio e de televisão e pediu desculpas pelo o que outros fizeram. Que outros?
Não os identificou. Limitou-se a chamá-los de “traidores”. Ora, se mais tarde passou a tratar o mensalão como uma “farsa” por que Lula se desculparia por ele? Não faz o menor sentido.

De resto, estrelas de primeira grandeza do PT sempre comentaram que nada, nada mesmo de relevante que ocorresse dentro do partido escaparia à atenção de Lula, um centralizador por método, um autoritário por temperamento.

Escaparia logo um esquema ambicioso de compra de votos de deputados federais e de apoios de partidos? Algo que envolveu tanta gente ligada a Lula e que movimentou tanto dinheiro? Absurdo!
Por diversas vezes, advertiram Lula sobre a compra de votos de deputados. A primeira advertência foi do jornalista Carlos Chagas em sua coluna de 28 de fevereiro de 2004 publicada na “Tribuna da Imprensa”.

Ex-diretor de “O Estado de S. Paulo” em Brasília, Chagas antecipou quase tudo o que Roberto Jefferson (PTB) só denunciaria dali a 16 meses.

Entregou a dupla Delúbio-Valério. Entregou a agência de Valério, amparada por contratos com órgãos públicos no valor aproximado de R$ 150 milhões.

E contou que Belo Horizonte funcionava como “uma espécie de caixa central do PT”, no caso “até servindo a outros partidos como o PP, PL e PTB, cujos emissários não raro deixam o aeroporto da Pampulha com malas recheadas, em espécie”.

Lula não leu a coluna de Chagas? Ninguém com acesso a Lula leu? Ninguém com acesso a quem tinha acesso a Lula leu?

Ninguém achou que Lula deveria saber o que Chagas sabia com detalhes? Não era relevante?
A coluna de Chagas ficou de fora do clipping que a Secretaria de Comunicação da presidência da República produzia diariamente para leitura do primeiro escalão do governo?

Os órgãos de informação do governo não assinavam a “Tribuna da Imprensa”? Nem o “Jornal do Brasil”?

Porque em 24 de setembro de 2004, o JB foi o primeiro jornal a falar em "mensalão". Sim, mensalão com todas as letras.

Em janeiro de 2005, Jefferson esteve com Lula e também falou. Em março, esteve de novo e voltou a falar.

O então governador de Goiás, Marcone Perillo (PSDB), avisou a Lula que o PT oferecia dinheiro para parlamentares trocarem de partido. Lula ouviu em silêncio. Afinal, em junho, Jefferson detonou o escândalo.

Por que a inércia de Lula só foi quebrada quando o mensalão se tornou um assunto público?
Ele tinha esperança de que não se tornasse? Ele avaliou mal?

Lula foi leniente com os mensaleiros? Ou foi cúmplice?

Quem mais do que ele se beneficiou com a compra de apoios ao governo?

José Roberto de Toledo - O 'quem' e o 'quanto'

– O Estado de S. Paulo

Empresas podem pagar para eleger políticos? A Câmara primeiro votou para que não pudessem, depois, para que sim. A doação empresarial precisa ser ratificada pelos deputados e ainda depende do Senado e da Justiça. Porém, sob a batuta de Eduardo Cunha não se debateu como as doações para campanhas eleitorais devem ser controladas. Ao focar no “quem”, a votação - por acaso - deixou sem regulamentação o mais importante: o “quanto”.

A influência das empresas nas eleições é um fato da vida. Em 2014, 71% do dinheiro recebido pelos candidatos veio de pessoas jurídicas: R$ 3,1 bilhões. Apesar de a quantia ser alta, mais importante do que o valor em si é o impacto que ele tem sobre o resultado da eleição de cada um dos candidatos.

Independentemente do que o Congresso e o STF decidirem, as empresas não abrirão mão de tentar influir nas urnas - seja pelo caixa 1, seja pelo caixa 2. É melhor que haja regras para isso.

Há uma relação muito forte entre dinheiro e eleição no Brasil. Embora haja exceções, a regra é que os candidatos que mais arrecadam têm mais chances de se eleger do que as candidaturas mais pobres. Pode-se argumentar que um candidato forte atrai mais doações, pois os doadores não querem jogar dinheiro fora. Mas são raros os eleitos que não gastaram bem para se eleger.

Se o dinheiro é indispensável a um resultado favorável na eleição, a questão é como limitar sua influência sobre o que acontecerá depois de os eleitos tomarem posse. Para isso, é essencial saber quem pagou quanto para qual candidato. Só assim é possível comparar a atuação do governante ou do parlamentar com sua lista de doadores e ver se ele retribuiu o que recebeu.

O texto que foi aprovado em primeira votação na Câmara é dúbio o suficiente para permitir que essa relação volte a ficar oculta. Bastaria ao doador dar o dinheiro ao partido, em vez de dar diretamente ao candidato como fazia até agora, para que o vínculo do doador com o destinatário se tornasse do conhecimento apenas dos diretamente envolvidos, e não de toda a sociedade.

Obrigar que a prestação de contas de candidatos, comitês e partidos diga de quem veio o dinheiro e para qual candidato ele foi deveria ser explicitado na Constituição, para que a transparência das doações eleitorais não dependa da boa vontade dos juízes e legisladores da vez. Mas isso só não basta. É preciso limitar a influência dos doadores sobre os eleitos.

Em tese, há pouca diferença se o dinheiro vem de um indivíduo ou de uma empresa. O que importa é o peso da doação desse indivíduo ou empresa sobre o total arrecadado pelos eleitos. Se a doação de uma pessoa física ou jurídica fica diluída entre centenas de doações equivalentes, o poder de quem doou é muito menor do que se a quantia doada foi decisiva para eleger aquele político.

Atualmente, os limites para as doações eleitorais são proporcionais ao faturamento ou à renda do doador. Grandes empresas e pessoas ricas podem doar mais do que pequenas empresas e pessoas pobres. Logo, influem mais. Por isso, o frigorífico JBS e meia dúzia de empreiteiras puderam dar mais de meio bilhão de reais e eleger suas próprias bancadas em 2014.

Pelo menos 68 deputados federais ganharam de apenas uma empresa mais de 20% de tudo o que receberam em doações para suas campanhas. Nos casos mais extremos, um único doador foi responsável por mais de 90% do que o deputado arrecadou. Mas o problema acontece também com as doações de pessoas físicas.

Ao menos 41 deputados eleitos em 2014 receberam de uma só pessoa mais de 20% de tudo o que arrecadaram. Na maioria das vezes, essa pessoa é ele próprio. Ou seja, quem tem mais pode mais. De propósito ou não, a polêmica sobre pessoas físicas e jurídicas omitiu o principal. Pouco importa quem dará o dinheiro se o doador não tiver limite absoluto do quanto ele pode doar.

Valdo Cruz - Cuspindo no prato em que comeu

- Folha de S. Paulo

Dilma, todos sabem, sempre teve uma relação para lá de conflituosa com o seu atual partido, o PT. Só que os dois, hoje, dependem mais do que nunca um do outro para sobreviver à crise atual.

É o que a cúpula do PT, depois de ensaiar torpedear a presidente, com ajuda até do seu criador, Lula, busca convencer petistas às vésperas de mais um Congresso da sigla, que acontece nesta semana na Bahia.

O PT, hoje, não se enxerga no governo Dilma. Algumas alas do partido resistem ao pedido de trégua articulado nos bastidores. Querem bater pesado no rumo adotado no segundo mandato. Para eles, isto sim é que vai causar a ruína do partido.

Engraçado que, no fundo, o que a turma do PT anda fazendo é algo como cuspir no próprio prato que andou comendo e que, sem ele, estaria hoje fora do Palácio do Planalto.

Não fossem a gastança desenfreada do final do primeiro mandato, as tentativas artificiais de segurar a inflação e a concessão generosa de benefícios trabalhistas numa fase de quase pleno emprego, dificilmente Dilma teria sido reeleita.

Só que, agora, é hora de lavar o prato sujo deixado em cima da pia depois da reeleição. Não dá para ignorá-lo. Sua sujeira entupiu os canos da economia. A conta está aí, inflação alta, juros nas alturas, desemprego elevado, país estagnado.

Enquanto a faxina está em curso, Dilma vai tentar reduzir a chiadeira de sua turma dando uma lustrada na casa para torná-la mais atraente. Vai lançar seu novo programa de concessões nesta terça-feira (9).

Aí, as queixas são do setor privado, desconfiado do que será divulgado. Falta crédito, e o empresariado quer saber se a Dilma intervencionista ficará de fora desta vez.

Enfim, a vida da presidente petista não está nada fácil. A economia deve parar de piorar só no segundo semestre. Até lá, o fogo amigo tende a aumentar. Mas não há outra saída a não ser, primeiro, arrumar a bagunça deixada pelo próprio PT.- Folha de S. Paulo

Dilma, todos sabem, sempre teve uma relação para lá de conflituosa com o seu atual partido, o PT. Só que os dois, hoje, dependem mais do que nunca um do outro para sobreviver à crise atual.

É o que a cúpula do PT, depois de ensaiar torpedear a presidente, com ajuda até do seu criador, Lula, busca convencer petistas às vésperas de mais um Congresso da sigla, que acontece nesta semana na Bahia.

O PT, hoje, não se enxerga no governo Dilma. Algumas alas do partido resistem ao pedido de trégua articulado nos bastidores. Querem bater pesado no rumo adotado no segundo mandato. Para eles, isto sim é que vai causar a ruína do partido.

Engraçado que, no fundo, o que a turma do PT anda fazendo é algo como cuspir no próprio prato que andou comendo e que, sem ele, estaria hoje fora do Palácio do Planalto.

Não fossem a gastança desenfreada do final do primeiro mandato, as tentativas artificiais de segurar a inflação e a concessão generosa de benefícios trabalhistas numa fase de quase pleno emprego, dificilmente Dilma teria sido reeleita.

Só que, agora, é hora de lavar o prato sujo deixado em cima da pia depois da reeleição. Não dá para ignorá-lo. Sua sujeira entupiu os canos da economia. A conta está aí, inflação alta, juros nas alturas, desemprego elevado, país estagnado.

Enquanto a faxina está em curso, Dilma vai tentar reduzir a chiadeira de sua turma dando uma lustrada na casa para torná-la mais atraente. Vai lançar seu novo programa de concessões nesta terça-feira (9).

Aí, as queixas são do setor privado, desconfiado do que será divulgado. Falta crédito, e o empresariado quer saber se a Dilma intervencionista ficará de fora desta vez.

Enfim, a vida da presidente petista não está nada fácil. A economia deve parar de piorar só no segundo semestre. Até lá, o fogo amigo tende a aumentar. Mas não há outra saída a não ser, primeiro, arrumar a bagunça deixada pelo próprio PT.

Marcus Pestana - Natureza e características do ajuste fiscal

Jornal O Tempo (MG)

A Câmara dos Deputados tem dedicado as últimas semanas à discussão e votação do ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma. É preciso reconhecer que o equilíbrio fiscal é um fundamento importante. Mas é também essencial identificar as causas e raízes que levaram o Brasil à presente situação. Só requer ajuste a economia que se desajustou. O desequilíbrio nas contas públicas não caiu do céu, nem veio com o vento. Foi fruto dos equívocos da política econômica do PT.

Agigantamento da máquina, desonerações tributárias discricionárias e atabalhoadas, política monetária voluntarista, ampliação dos gastos correntes, agressiva política de subsídios bancados pelo Tesouro nos empréstimos do BNDES, “pedaladas” fiscais. Na verdade, foram a gastança e as renúncias fiscais para eleger Dilma, em 2010 e 2014, que geraram a atual desorganização das contas públicas brasileiras. O estrangulamento é a herança maldita recebida pela presidente de suas próprias mãos. Um autêntico efeito bumerangue.

Os números não mentem. O Brasil fechou 2014 com déficit primário, fato inédito em muitos anos, e com um preocupante déficit nominal de quase 7% do PIB, maior que o de muitos países europeus em crise. Ou seja, o setor público gasta muito mais do que arrecada, ampliando o endividamento. A situação é explosiva e preocupante. Os anos de 2015 e 2016 serão dificílimos. Todos os indicadores são negativos. O governo Dilma produziu uma crise para ninguém botar defeito.

Diante de tamanha herança maldita e da sensação generalizada de um estelionato eleitoral, a presidente Dilma foi buscar para o Ministério da Fazenda um quadro sem nenhuma identidade com as convicções do PT, formado no berço do liberalismo, a Universidade de Chicago, e com passagem na morada da ortodoxia, o FMI. Joaquim Levy, um técnico respeitado, atacou o desafio fiscal por meio de um ajuste materializado em três medidas provisórias (664, 665 e 668) e do PL 863/2015, que trata da reversão das desonerações.

A receita não é nova. Diante das barbeiragens da política econômica petista, apresenta-se a conta para trabalhadores, pensionistas, aposentados e contribuintes. Sequestram-se direitos de trabalhadores, aposentados e pensionistas e, paralelamente, aumenta-se a carga tributária.

Nosso ajuste não seria esse. Nosso governo daria primeiro o exemplo, reduzindo a máquina pública e seus inacreditáveis 39 ministérios. Ampliaria a receita a partir de um choque de credibilidade e da melhoria substancial do ambiente para os investimentos. Não aumentaria desnecessariamente a taxa de juros e nem realizaria operações cambiais com enorme impacto fiscal, praticamente anulando os efeitos do ajuste. Em resumo, um governo do PSDB faria diferente.

A herança e o ajuste de Dilma são sintomas da falência de seu governo. Não é a toa que os índices de aprovação da presidente e de seu governo estejam entre o taco e o carpete.

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Marcus Pestana é deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

O escândalo é um só – Editorial / O Estado de S. Paulo

O mensalão é apenas uma parte - e uma das menores, hoje se sabe - do plano de assalto ao Estado protagonizado pelo condomínio que o lulopetismo instalou no poder em 2003. Assim, dez anos passados daquele famigerado escândalo, que mobilizou o País por vários meses e terminou com a prisão de um punhado de réus poderosos, fica muito claro que o episódio não passou de um esquema marginal dentro de uma sofisticada estrutura montada para rapinar bens públicos, em escala nunca vista na história brasileira.

Portanto, pouco há a comemorar, pois, com o mensalão, se foi rompida parcialmente a lógica da impunidade, nenhuma página foi, de fato, virada. A cada nova descoberta das autoridades policiais e judiciais no caso do petrolão e de outros esquemas comprova-se que nada, nessas investigações, pode ser tomado de forma isolada. Todos esses escândalos são, na verdade, um só - o escândalo de uma quadrilha que transformou partidos políticos em máquinas para exaurir os recursos do Estado de diversas maneiras, em favor de projetos pessoais e de poder de seus dirigentes.

O mensalão chegou ao conhecimento público com esse nome em junho de 2005, graças a acusações feitas na ocasião pelo então deputado petebista Roberto Jefferson. Segundo o parlamentar, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava mesadas de R$ 30 mil a deputados do PL e do PP em troca de apoio no Congresso.

Como costumam fazer sempre que são acuados por denúncias, os petistas reagiram insultando a inteligência dos brasileiros. Em nota oficial, garantiram que o relacionamento do PT com os demais partidos da base aliada se assentava “em pressupostos políticos e programáticos”, descartando qualquer forma de corrupção.

Com o passar do tempo e o surgimento de evidências de um crime muito maior do que o denunciado por Jefferson, a narrativa petista foi mudando. Primeiro, quando sua reeleição parecia sob ameaça, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, se disse “indignado” e afirmou que o PT precisava “pedir desculpas”. Nessa mesma toada, Delúbio admitiu que as campanhas eleitorais do partido usaram “recursos não contabilizados”, mas os petistas, Lula inclusive, atribuíram essa prática a um mero esquema de caixa 2, do qual, segundo essa versão, todos os partidos lançam mão.

Quando ficou evidente que o Brasil estava diante de “um dos episódios mais vergonhosos da história política de nosso país”, como o qualificou o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, em seu histórico voto pela condenação desse “grupo de delinquentes que degradou a atividade política”, os petistas passaram a se dizer vítimas de um “julgamento de exceção”.

Desde então, os documentos produzidos pelo partido para reagir às seguidas denúncias de malfeitos - como os petistas apelidaram crimes capitulados em lei - respeitaram a gramática da vitimização. A palavra “golpe” passou a ser usada profusamente pelos dirigentes petistas, inclusive, e em mais de uma ocasião, pela presidente da República, Dilma Rousseff. Junte-se a isso a cantilena de que os escândalos só vêm à luz porque o governo petista permite que sejam investigados, como “nunca antes na história deste país”, e tem-se uma impostura completa.

Digam o que disserem os líderes petistas, porém, vale o que está nos autos do mensalão - e lá está claro que o PT transformou os ganhos oriundos da corrupção na própria razão de ser de sua prática política. Os escândalos depois desvendados são consequência dessa opção.

Nos dez anos do mensalão, e atordoado diante da constatação de que ainda estamos longe de conhecer a totalidade dos malfeitos cometidos nesse período, o País já percebeu que os governos lulopetistas são verdadeiras caixas-pretas, a guardar sombrios segredos, escondidos pela blindagem do populismo e da demagogia, que transforma os críticos do modus operandi petista em inimigos dos pobres. Nem o mensalão nem o petrolão são capazes de resumir essa história de corrupção e desfaçatez da qual, infelizmente, temos apenas um pálido vislumbre.

Paulinho da Viola - Argumento

Carlos Drummond de Andrade - Síntese da felicidade

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.