domingo, 10 de maio de 2015

Opinião do dia – Fernando Gabeira

Mais uma vez o Brasil viveu um grande panelaço, durante o programa do PT, no horário gratuito da fantasia. As pessoas rejeitam o cinismo e desejam mudanças. Será preciso bater panela e, simultaneamente, ter uma pequena receita do que se pode obter nesse momento. O Brasil é hoje um país devastado pela corrupção e pela incompetência. Não só é preciso socorrê-lo após o terremoto como pensar em reconstruí-lo de forma mais sólida.

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Fernando Gabeira é jornalista. Do artigo: A caçada ao ministro da Pesca. O Globo, 10 de maio de 2015.

Aperto fiscal paralisa ministérios e gastos com investimentos despencam

• Demora na aprovação do Orçamento e indefinição em relação ao que será contingenciado paralisou obras e afetou repasses a programas sociais

Renée Pereira e Anna Carolina Papp - O Estado de S. Paulo

A demora na aprovação do Orçamento federal, combinada ao aperto fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda, paralisou obras, atrasou repasses de programas sociais e reduziu o crédito para a sociedade. Do Orçamento de 2015 – ainda sem os valores de contingenciamento definidos –, pouco foi gasto. Até 4 de maio, nove órgãos federais ainda não tinham movimentado nenhum centavo na conta de investimentos, segundo relatório do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Boa parte dos pagamentos feitos até o mês passado refere-se a orçamentos de anos anteriores e que não foram gastos dentro do próprio exercício. Ainda assim, o montante é bem menor que o de 2014. Dados da ONG Contas Abertas mostram que, no Ministério dos Transportes, por exemplo, os gastos caíram 37% até abril comparados a igual período do ano passado. No Ministério da Educação, recuaram quase 30%.

“Este é um ano que não está começando”, disse o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. O Orçamento de 2015 foi aprovado só em abril, mas a programação definitiva, com os valores de contingenciamento, que normalmente sai em fevereiro, só deve ser divulgada no fim de maio, quase na metade do ano. Para tentar amenizar o problema, o governo estipulou cotas para os ministérios gastarem enquanto não saem os valores definitivos.

Mas nem esses limites estão sendo usados. O Ministério da Integração Nacional, por exemplo, afirmou que está “compatibilizando os recursos disponíveis para garantir a continuidade de ações prioritárias”. A cota para o ministério gastar com despesas correntes, investimentos e inversões financeiras até o fim de maio é de R$ 1,3 bilhão, mas só foram empenhados R$ 579,8 milhões (sendo R$ 183 milhões de investimentos).

Em situação pior estavam os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e de Desenvolvimento Agrário, que não tinham conseguido empenhar nada na área de investimentos. “Para este ano, podemos esperar uma queda grande nos investimentos. Só no primeiro trimestre, a execução recuou 30% em termos reais. Em maio, a queda será ainda maior”, afirma o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas. Segundo ele, para tentar cumprir a meta fiscal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai usar a mesma fórmula do início do governo Lula. “Em 2002, o investimento público representava 1,1 ponto do PIB. Em 2003, caiu para 0,4 ponto do PIB.”

Na prática, os números da execução orçamentária se traduzem em problemas reais para toda a sociedade, seja uma grande empresa, um estudante ou um produtor rural. Nos últimos anos, o governo criou uma série de programas e compromissos, acreditando que a economia continuaria em curva ascendente. “Mas, com a situação complicada do País, ou se faz um ajuste fiscal, nesse caso com queda de investimento e alta da carga tributária, ou se perde o grau de investimento”, diz Almeida.

Sem recursos. O resultado já começa a aparecer na falta de dinheiro para cobrir todos os gastos. Sobrou até mesmo para o setor de agronegócio, responsável por 43% das exportações nacionais. Os produtores estão preocupados com as seguidas prorrogações no lançamento do Plano Safra 2015/2016. “Não há nenhuma sinalização de quanto estará disponível para o setor nem a taxa de juros que será cobrada”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Ricardo Tomczyk. Segundo ele, até o pré-custeio – usado para a compra antecipada de insumos –, que já deveria estar contratado, ainda não foi iniciado.

Situação semelhante vivem os produtores rurais que dependem do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “As operações estão praticamente suspensas desde dezembro”, afirma o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado de São Paulo, Elias David de Souza. Segundo ele, o problema é que algumas famílias compraram terras com carência de três anos para pagar o financiamento. Nesse intervalo, acreditavam que conseguiriam produzir e obter renda para pagar o crédito.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário afirmou, no entanto, que do ano passado até abril foram destinados R$ 20,7 bilhões aos agricultores.

Nas instituições de ensino, o problema são os atrasos nos repasses do governo. Várias universidades federais têm sofrido com problemas de limpeza, transporte e no pagamento de salários. Na Universidade Federal de Minas Gerais, a restrição orçamentária afetou setores terceirizados e levou ao atraso no pagamento de contas de água e luz. “A reitoria vem fazendo gestões com o MEC para assegurar a normalização do repasse de recursos, que estão sendo feitos de forma irregular”, disse a UFMG em nota.

Ainda em Minas, alunos de mais de 120 cidades foram afetados pelo atraso no repasse da verba do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – bandeira da presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral. Por falta de recursos, o Instituto Federal de Minas Gerais atrasou pagamentos e adiou para o fim de março o recomeço das aulas, programado para fevereiro. Em nota, a instituição afirmou que recebeu “parte dos recursos orçamentários solicitados” para dar continuidade aos cursos

PT pede diálogo e ainda resiste a ajuste

• Partido diz que foi para o ‘sacrifício’ na aprovação da MP 665, que altera direitos trabalhistas, e reclama da pouca sintonia com o governo

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A votação no Congresso na semana passada da Medida Provisórias 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas e integra o pacote do ajuste fiscal, evidenciou o descolamento entre governo e PT e a resistência dos petistas a aprovar as “medidas impopulares” do Planalto, o que deve dificultar também a votação da MP 664, que altera direitos previdenciários.

Após a aprovação da MP 665, parte da bancada petista reclama que “foi para o sacrifício” – o governo foi obrigado a “enquadrar” petistas por apoio à medida –, fala abertamente sobre a falta de sintonia com o Planalto e indica que a resistência às medidas do ajuste continua.

Integrante da Executiva Nacional do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) considera que, no atual momento, o PT está assumindo uma “nova postura” e precisa “ter voz” no governo. “Claro (que o governo e o PT são coisas distintas). Somos do partido do governo, mas nós queremos opinar nas decisões construídas pelo governo, elas têm que ser dialogadas conosco”, afirmou. “Nós estamos assumindo uma nova postura de diálogo com o governo.”

“O partido não é governo e o governo não é partido”, reclama o ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS).

Para petistas, derrotar o governo na MP 665 foi considerado “uma pá de cal” no governo Dilma Rousseff, que está com baixos índices de popularidade e sofre ataques de aliados no Congresso. E isso teria reflexos profundos ao PT nas eleições de 2016 e, sobretudo, na corrida presidencial de 2018, na qual o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido como eventual candidato.

Ex-presidente do PT e atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini diz que é preciso saber distinguir governo e PT. “A gente, quando está no governo, sem perder a referência do nosso partido, tem que lembrar que estamos cumprindo missões de governo. Em alguns momentos na Secretaria de Relações Institucionais, eu contrariei o PT, e olha que sou ex-presidente do partido”, afirmou. “Para nós, é sempre duro chegar para o PT e dizer que nesta votação a posição do governo não vai ser a do partido. Mas isso não tem a ver com tentativa de desassociar ou se afastar”, minimizou o ministro.

Agendas próprias. Em meio às discussões sobre o ajuste fiscal, o partido levou ao ar, na terça-feira, seu programa de rádio e TV sem a participação de Dilma. Na tentativa de explicar a ausência, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou: “O governo possui uma agenda própria, enquanto as questões de conjuntura enfrentadas pelo PT devem ser enfrentadas pelo PT”. “Misturar no cotidiano essas três instituições – um ex-presidente, um partido e um governo de coalizão – seria um erro”, disse.

Essa nova realidade destoa do momento festivo registrado em fevereiro, no aniversário de 35 anos do PT. “Nós estamos juntos e misturados”, afirmou Dilma na ocasião. Na festa, Lula também ressaltou a simbiose entre partido e governo. “O PT acaba de conquistar o quarto mandato consecutivo na Presidência da República. O PT será o partido mais longevo na história do País”, disse o ex-presidente.

Na época não tinham sido revelados nem a crise econômica em sua extensão nem o descompasso na articulação política. As investigações da Operação Lava Jato também não haviam atingido o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, preso em abril.

Para parceiro do ABC, ‘Lula está isolado’

Entrevista. Djalma Bom, ex-sindicalista e ex-deputado federal

• Um dos fundadores do PT, Djalma Bom sugere que amigo se reaproxime de antigos companheiros para reverter distância

Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo

Nas últimas semanas o ex-sindicalista Djalma Bom, de 74 anos, braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas históricas greves de 1979 e 1980, um dos fundadores do PT e integrante da primeira leva de parlamentares eleitos pelo partido, foi às ruas para defender o governo Dilma Rousseff das ameaças de impeachment.

Embora continue fiel a Lula e ao partido, Djalma mantém o espírito crítico dos tempos de sindicalista. Em entrevista ao Estado, concedida em seu apartamento no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, ele disse que Lula está cansado e isolado, que o PT se transformou em uma máquina eleitoral e que o movimento sindical perdeu a independência em relação ao partido e ao governo. Leia os principais trechos da entrevista do ex-sindicalista.

Na quarta-feira, a Câmara aprovou a Medida Provisória 655, que restringe direitos trabalhistas, com apoio do PT. Qual sua opinião sobre a postura do partido?

O PT hoje é governo e automaticamente tem que ter essa compreensão de que não é mais oposição e tem responsabilidades. Essa MP provoca prejuízos à classe trabalhadora, sim, mas é muito mais honesto assumir hoje essa posição de votar com o governo do que ficar nessa geleia geral sem saber onde está situado.

Desde quando o PT passou a fazer parte dessa “geleia geral”?

A deformação do PT começou na Carta ao Povo Brasileiro, em 2002. Hoje, o partido não tem mais o mínimo de identidade política e ideológica.

De que maneira a Carta ao Povo Brasileiro deformou o PT?

A Carta assinada pelo Lula para que ele pudesse ganhar a eleição de 2002 foi um acordo para não mexer nos grandes interesses econômicos e políticos na tentativa de adquirir o voto de confiança dos grandes banqueiros, do capital internacional e dos grandes empresários nacionais para dizer que o Lula era um cara confiável. Aí o Lula, pela sua liderança, carisma e talento de grande negociador, de pessoa inteligente e sensível, conseguiu a façanha surpreendente de ser o pai dos pobres e mãe dos ricos nos oito anos de seu governo.

Dilma prometeu que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Ela cometeu estelionato eleitoral?

Os candidatos, sejam a prefeito ou a presidente da República, têm que tomar muito cuidado com suas declarações. Se ela tivesse uma compreensão mais profunda do momento econômico, não teria feito essa declaração. Ela jamais poderia ter falado aquilo. No meu modo de entender, foi muito mais uma bravata do que uma afirmação para ganhar as eleições.

Qual deve ser o papel do movimento sindical, especialmente a CUT, em relação ao governo?

Não existe uma independência do movimento sindical em relação ao PT e ao governo. O que a gente sente é que hoje o movimento sindical está muito mais integrado ao governo da companheira Dilma e ao PT, mas sem uma definição classista e ideológica.

O movimento sindical não tem o papel de defender das ameaças de impeachment um governo teoricamente dos trabalhadores?

Sim. Mas pode defender mantendo a independência. No momento em que os sindicatos se jogam nos braços do governo, perdem a autonomia e deixam de defender os interesses da classe trabalhadora. Eu tenho comentado com o Lula que o movimento sindical hoje está muito mais preocupado em construir palácios. Eu não consigo entrar e me locomover na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pela grandiosidade, pela suntuosidade. Isso é uma crítica construtiva, com todo respeito à diretoria. O sindicato não tem que se preocupar em construir palácios, mas em conscientizar a classe trabalhadora, que hoje passa por uma dificuldade talvez muito maior do que na época dos nossos enfrentamentos em 1979 e 1980 contra a ditadura militar. A terceirização vai desarticular toda a legislação trabalhista.

Como você avalia a situação do PT diante das denúncias levantadas pela Operação Lava Jato?

Falar só da corrupção é uma forma muito simplista de analisar o momento do PT. A crise aguda e profunda pela qual passa o partido é muito mais de identidade e ideológica. O PT precisa se reafirmar como partido classista. Ninguém dá almoço de graça. Quando alguém paga, está colocando ali seus interesses.

O PT decidiu que não vai mais aceitar dinheiro de empresas.

Tardiamente. Porque o PT jamais poderia pegar dinheiro de empresário para o financiamento de campanhas eleitorais. Quando fui candidato pela primeira vez a deputado federal, os trabalhadores nas fábricas me ajudaram. Agora é a segunda vez que um tesoureiro do PT é denunciado por corrupção (Delúbio Soares e João Vaccari Neto). Alguns afirmam que o dinheiro é legal. Eu concordo que o dinheiro pode ser legal, mas é um dinheiro imoral. Jamais poderia ter sido arrecadado pelo PT. É uma situação que traz constrangimento para a gente.

Sem dinheiro de empresários Lula teria sido eleito?

Não quero afirmar se Lula seria eleito ou não. O que posso dizer é que o PT procurou a porta mais folgada para passar. Isso facilitou a eleição do companheiro Lula. Talvez algumas pessoas digam que isso é uma utopia da minha cabeça, mas a grande aliada do PT sempre foi a classe trabalhadora. O partido tem 2,5 milhões de filiados. Se cada um der R$ 10... Eu quero fazer uma proposta. Não tenho contribuído com o PT, mas podem me cobrar R$ 20 por mês para as campanhas eleitorais do partido. Estou disposto a pagar.

O PT se tornou um partido igual aos outros?

Está se tornando. O que a gente percebe claramente é que o PT esqueceu as suas origens e acabou se tornando uma máquina de disputa eleitoral. O partido esqueceu que sua função é estar junto ao movimento social e à classe trabalhadora. Aí está a grande deformação. Hoje, quem manda no PT, em qualquer diretório, são os parlamentares ou seus assessores. Deveria haver normas para que isso não acontecesse, como o direito a apenas uma eleição no respectivo cargo. Hoje, tem gente que está no quinto mandato. Isso fere a democracia interna porque quem tem mandato impede que outra pessoa ocupe aquele espaço.

Lula tem criticado essas deformações do PT, mas se beneficiou dessa estrutura durante seu governo. Ele negligenciou o PT?

Não quero dizer isso. Os fatos foram se sucedendo e Lula foi arrastado para essa situação. Ainda bem que ele está preocupado com isso. Antes tarde do que nunca.

Com todos os protestos contra o PT, Lula ainda pode voltar a ser presidente da República?

O carisma e a liderança do Lula não criaram chance nem oportunidade para que pudesse aparecer outra grande liderança no PT. Sinto ultimamente o Lula um pouco cansado. Estive no Primeiro de Maio e a voz do Lula me assustou muito. O Lula que costuma fazer discurso de 50, 60, até 80 minutos não conseguiu falar mais do que 20 minutos. Isso é preocupante. Para mim, em 2018, o PT deve se preocupar com uma nova candidatura. O Lula não precisa ser presidente para o PT ganhar a eleição. Ele tem a liderança para indicar um candidato. Mas para isso o PT precisa fazer uma análise de seus descaminhos.

Lula ficou mais acessível aos antigos companheiros depois que saiu do governo?

Ele deixou de realizar algumas práticas que tinha. Apesar das dificuldades, no começo do mandato, ele reunia o grupo de metalúrgicos lá no bar da Rosa, dentro do sindicato, para conversar, saber o que estávamos achando e tomar algumas decisões. Lula é muito intuitivo. Sinto por parte do companheiro Lula um certo isolamento. Vejo que ele precisa restabelecer esse contato de tomar uma cachaça, bater um papo, abraçar as pessoas. Lula é um cara muito carinhoso. Isso faz parte da qualidade humana que ele tem, e existe esse distanciamento.

Você andava afastado do PT. O que o motivou a voltar às atividades do partido?

Foi uma coisa muito concreta. A direita está ocupando o espaço nosso, da classe trabalhadora, nas ruas e nas praças. Automaticamente, quando eu me afasto dessas manifestações (como a de Primeiro de Maio), acabo dando o direito para que outra pessoa que não tem a ideologia que eu defendo ocupe o meu espaço. A partir daí, me sinto na obrigação de estar lá.

País fora de órbita

• PT e Lula fracassam ao tentar se afastar de Dilma, ampliam a crise e colocam em risco o ajuste fiscal, que só foi aprovado graças ao apoio da oposição

Sérgio Pardellas e Josie Jeronimo – IstoÉ

Desde 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores chegaram juntos ao poder, o governo e a legenda da estrela rubra nunca estiveram tão em conflito como agora. O embate, em muitos aspectos, não passa de esperta conveniência. Nesse momento, interessa tanto ao PT como ao governo Dilma Rousseff parecerem longes um do outro. Num jogo de sombras, o PT tenta se dissociar das medidas econômicas de arrocho adotadas por Dilma, que estão na contramão das bandeiras históricas da esquerda. Já ao governo, abalado pela deterioração da popularidade da presidente, é vantajoso se desvincular dos escândalos de corrupção protagonizados por dirigentes petistas. Na verdade, porém, embora queiram só o bônus da relação, PT e governo são sócios da crise instalada no País. Na semana passada, ela se intensificou com o acirramento dos ânimos no Congresso e colocou em risco o ajuste fiscal tão necessário para o reequilíbrio das contas públicas do País. Na quinta-feira 7, o pacote só foi aprovado – e por uma diferença de apenas 25 votos – graças ao apoio de setores da oposição. O estopim da mais nova crise foi justamente a ação que o PT empreendeu para tentar se desvincular das trapalhadas de Dilma, como se isso fosse possível.

Em programa do partido, exibido na noite de terça-feira 5, que não contou com a participação de Dilma, o PT se colocou frontalmente contra a terceirização dos empregos e o ajuste fiscal patrocinado pelo Planalto. Coube ao ex-presidente Lula o papel de mensageiro do PT. A estratégia, no entanto, revelou-se um fracasso. Porque enquanto Lula, em nome do PT, aparecia na TV para atacar a Câmara e os deputados aliados por causa do projeto de terceirização aprovado em abril, em Brasília, a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, suplicavam para que os parlamentares aprovassem o pacote do ajuste fiscal. Os mesmos deputados aos quais Dilma implorava por apoio seriam, segundo Lula, responsáveis por fazer "o Brasil retornar ao que era no começo do século passado", quando "o trabalhador era um cidadão de terceira classe, sem direitos, sem garantias, sem dignidade". "Nós não vamos permitir esse retrocesso", afirmou. Claro que o gesto do ex-presidente não ficaria impune em meio a um ambiente político inflamável.

As declarações de Lula tiveram efeitos colaterais pesadíssimos. A primeira reação veio da sociedade, que respondeu com os já tradicionais panelaços organizados nas principais capitais do País. Desta vez com um agravante: o episódio escancarou que parcela significativa dos brasileiros não reprova exclusivamente Dilma. Rejeita também o PT e o ex-presidente Lula, hoje o principal nome da legenda para 2018. Outra reação às palavras do ex-presidente partiu do Palácio do Planalto. A postura do PT no programa partidário caiu como uma bomba no governo e exaltou os ânimos entre cabeças coroadas do partido e do Executivo federal. A interlocutores, a presidente reclamou que seu partido, numa semana decisiva, deveria ter a obrigação de fazer a defesa do pacote, e não transferir a responsabilidade do ajuste para o governo, deixando a parte positiva com o PT, como de fato aconteceu. O PT,via emissários, respondeu no mesmo tom. Disse que em nenhum momento a presidente os chamou para discutir as propostas.

Mas foi no Congresso que pegou fogo. O bate cabeça entre o governo e o PT em torno das medidas provisórias do ajuste foi utilizado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para impor uma grande derrota a Dilma. A sessão da noite de terça-feira 5 que estava programada inicialmente para votar uma das MPs do arrocho foi usada para apreciar a Proposta de Emenda à Constituição 457/2005, conhecida como PEC da Bengala, por estender de 70 para 75 anos a idade máxima de atuação em tribunais superiores. Ao aprovar a proposta, o Congresso tirou da presidente o poder de nomear cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), três do Superior Tribunal de Justiça, seis do Superior Tribunal Militar, três do Tribunal Superior do Trabalho e três do Tribunal de Contas da União. "É evidente que a presidente da República e o vice-presidente perderam poder", disse o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), durante a cerimônia de promulgação do projeto. A inversão de pauta tramada por Cunha foi uma retaliação ao governo.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), expôs a insatisfação. Avisou que a bancada suspenderia o apoio ao ajuste até o PT assumir publicamente a defesa da proposta encaminhada pelo governo. "Não vamos assumir o ônus sozinhos. Não votaremos a MP 665 até que o PT nos explique o que quer. Se for o caso, feche questão para votação das matérias do ajuste fiscal. Se não for assim, não contem conosco", ameaçou Picciani. Embora contrariada, a maior parte da bancada de 64 deputados do PT se posicionou favoravelmente ao projeto do governo. Mesmo assim, um parlamentar petista votou contra e 9 faltaram à votação, e, se não fossem os votos da oposição, o texto não teria sido aprovado. "O PT está cheio de fujões. Deveriam espalhar cartazes de procura-se", ironizou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para constranger os petistas a votar com o governo, a Força Sindical liderada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, lotou as galerias do plenário arremessando notas falsas de dólares estampadas com os rostos de Lula, Dilma e do ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto, preso sob a acuação de participar do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. O deputado Vicentinho (PT-SP) foi o mais alvejado com cartazes e palavras de ordem que atribuíam a ele o título de traidor, realçando seu passado de militante sindical em defesa da luta dos trabalhadores. Próximo ao término da sessão, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) reconheceu a ajuda da oposição na votação da primeira MP do pacote do ajuste fiscal. "Quero agradecer toda a nossa base e aqueles da oposição que votaram conosco em função dos compromissos com o País."

A Câmara só encerrou a votação da MP na noite de quinta-feira 7. O texto aprovado indica que o trabalhador só terá direito ao benefício se tiver recebido 12 meses de salário nos 18 meses anteriores à data de demissão. Pelas regras anteriores bastavam seis meses de salário para ter direito ao seguro. O governo pretendia aprovar uma mudança que obrigava o trabalhador a receber 18 salários antes de acessar o benefício. Com a alteração do texto de 18 meses para 12 meses, a contenção de despesas caiu da projeção de R$ 18 bilhões para R$ 15 bilhões por ano.

Apesar da ação desastrada que, ao fim, trouxe mais ônus do que bônus ao partido e ao próprio Planalto, tentar descolar-se de Dilma, quando é conveniente, foi a maneira encontrada pelo PT para sobreviver até as eleições de 2018. Por enquanto, essa estratégia não colou perante os eleitores e provocou uma crise com o Congresso e com a própria presidente num momento crucial para o governo. É impossível prever se dará certo mais adiante. "As declarações de Lula mostram que ele vai se apresentar como uma candidatura alternativa à Dilma e não como sucessor dela. O afastamento é uma sobrevivência para o PT. A junção entre o partido e o Planalto não foi ruim para o PT enquanto o governo ia bem. Mas se o governo de Dilma degringolar, o PT vai junto", afirma o cientista político Artigas Godoy, professor da Universidade Federal da Paraíba. Seguindo essa lógica, a CUT convocou uma paralisação nacional para o próximo dia 29. Segundo a Central, os protestos serão contra o projeto de terceirização e as mudanças no seguro-desemprego e na aposentadoria propostas pelo governo federal. A postura de confronto não ocorre por acaso. Em conversas internas, líderes sindicais se revelam preocupados com o crescente desgaste do governo. Para não perder o apoio de suas bases, a alternativa é tentar retomar bandeiras históricas. "Não há uma briga de fundo. A questão é tática. Está todo mundo no mesmo barco e para o PT e sindicatos a melhor estratégia é reafirmar sua identidade", analisa Godoy.

O PT corre contra o tempo. O quadro para as eleições municipais de 2016, por ora, é desolador para o partido. O diagnóstico é baseado em pesquisas internas. Para piorar, há registros de desfiliação de correligionários tradicionais. No PT da Bahia, o ex-deputado Sérgio Barradas deixou o partido após 15 anos. O diretório estadual do Rio Grande do Norte e os regionais de Foz do Iguaçu e Caruaru tiveram desfiliações em massa e, em Jundiaí (SP), o sociólogo Paulo Taffarello deixou a sigla para se juntar ao PSOL. Petistas históricos engrossam o coro das críticas. "O PT tem que se cuidar para não perder a vergonha", disse o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), um dos fundadores do partido no Acre. Para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, o partido absorveu práticas de "uso e abuso" de poder. "O fundamental agora é o PT recuperar sua dignidade", disse o integrante do primeiro escalão de Dilma. Já para o jornalista Ricardo Kotscho, o ex-ministro da Comunicação do primeiro governo petista, o desgaste da legenda não só já contaminou Lula como pode limar suas pretensões eleitorais para 2018. "O panelaço sofrido por Lula e o esfriamento da militância apontam para caminhos difíceis", prevê. Ao comentar a participação do líder petista no 1º de maio no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, Kotscho lamentou: "Lula nunca ficou tão isolado num palanque, sem estar cercado por importantes lideranças políticas, populares e sindicais. O discurso de Lula também não tem mais novidades, não aponta para o futuro. Tem sido muito repetitivo, raivoso, retroativo, sempre com os mesmos ataques à mídia e às elites". Para o amigo do ex-presidente, o cenário eleitoral para Lula e o PT é sombrio. "Lula já não lidera as pesquisas para 2018 em várias regiões do País. Claro que a situação pode mudar até lá, mas a volta de Lula tornou-se bem mais difícil", prognosticou. Kotscho não está errado. Embora o PT, na pessoa de Lula, e governo se esforcem para demonstrar distanciamento quando lhes é oportuno, as investigações da Lava Jato tratam de lembrá-los que eles são como irmãos siameses. Em depoimento à Justiça Federal realizado na terça-feira 5, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, afirmou que foi convidado para o cargo pelo então presidente Lula e a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ele negou qualquer indicação política do PMDB e se disse mais próximo ao PT. Em outro depoimento, desta vez à CPI da Petrobras na Câmara, o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, responsabilizou a presidente pelas perdas na refinaria de Pasadena, no Texas, e reafirmou que houve um repasse da cota que era do PP para a campanha da presidente Dilma em 2010. "Houve pedido de R$ 2 milhões para a campanha da presidente Dilma, sim", disse.

Ajuste fiscal trava vitrines do governo

• Programas de educação e casa própria são cortados, enquanto despesas obrigatórias seguem crescendo

• Apesar do aperto, despesas totais no 1º tri recuaram 0,8% em relação ao mesmo período de 2014

Isabel Versiani, Gustavo Patu, Flávia Foreque – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - No esforço de reduzir os gastos públicos e cumprir a meta fiscal do ano, o governo federal tem congelado repasses a programas prioritários e suspendido o pagamento de obras e subsídios.

Ao mesmo tempo, despesas obrigatórias, que reúnem gastos com pessoal, Previdência e benefícios sociais e respondem pela maior fatia do orçamento, continuam a crescer.

Um dos exemplos mais ruidosos do ajuste de despesas ocorreu no Fies, programa de financiamento ao ensino superior. Neste semestre, o número de contratos novos autorizados, 252 mil, foi pouco mais da metade do liberado no mesmo período de 2014.

A justificativa é que os recursos disponíveis para os novos financiamentos, R$ 2,5 bilhões, esgotaram-se. Ainda não há previsão se haverá uma segunda edição do programa no segundo semestre --em anos anteriores, o sistema para acesso ao Fies federal permanecia aberto ao longo de todo o período.

Sem um corte definido no orçamento original, o MEC também adiou por duas vezes o início das aulas do Pronatec, programa para qualificação técnica e profissional e uma das principais vitrines da presidente Dilma Rousseff na educação.

Minha Casa
O programa de financiamento habitacional Minha Casa, Minha Vida é outro afetado. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o setor tem hoje cerca de R$ 1,2 bilhão a receber do governo por projetos do programa. Parte desse total está atrasada em até 45 dias, segundo a entidade.

O Ministério das Cidades argumenta que os desembolsos, na casa dos R$ 5,5 bilhões no ano, são semelhantes aos do ano passado.

Já o Planejamento admite atrasos e diz que tem trabalhado para reduzir o prazo dos repasses.

Além dos problemas de fluxo de caixa, as empresas dizem sofrer também com a dificuldade de planejamento diante da indefinição orçamentária para o ano.

Futuro incerto
"Não sabemos como será o futuro porque não sabemos se existirão novas contratações", afirmou o presidente da câmara de construção, José Carlos Martins.

Segundo ele, as construtoras estão em compasso de espera pela edição do decreto que vai determinar o bloqueio orçamentário para o ano e definir o volume total de recursos que os ministérios terão até dezembro.

O corte, que deve ser anunciado em duas semanas, terá de ser suficiente para viabilizar o cumprimento da meta de poupar R$ 66,3 bilhões no ano. No primeiro trimestre, período sazonalmente favorável ao caixa dos governos, a economia acumulada pelo setor público foi de R$ 19 bilhões, pior resultado em seis anos.

Defesa
O Ministério da Defesa sofreu uma das maiores reduções em gastos administrativos e investimentos da Esplanada nos primeiros três meses do ano --as despesas caíram à metade na comparação com 2014.

A Embraer tem reclamado publicamente de atrasos em repasses do governo neste ano para o desenvolvimento de projetos conjuntos para jatos militares. Procurado pela reportagem, o ministério não quis comentar.

Empreiteiras também têm apontado atrasos de meses nos pagamentos de obras públicas tocadas pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). A dívida estimada pela Aneor (Associação Nacional de Empreiteiras de Obras Públicas) é de R$ 1,8 bilhão.

Economia pouca
Apesar dos cortes generalizados em programas federais, as despesas totais no primeiro trimestre ficaram apenas 0,8% abaixo das realizadas no mesmo período do ano passado.

A queda nos gastos é contida pelo crescimento das despesas que não podem ser bloqueadas, principalmente as previdenciárias. O pagamento do seguro-desemprego apresentou pequeno recuo depois que o governo endureceu regras de acesso ao benefício.

No total, o governo contava com uma economia de R$ 11 bilhões neste ano com as mudanças no seguro-desemprego, pensão por morte e outros benefícios sociais, mas alterações introduzidas nos projetos pelo Congresso já diminuíram essa redução potencial.

Tesoureiro da campanha de Dilma e dono da UTC tiveram três reuniões

• Encontros em 2014 trataram de doações; empreiteiro diz que temia retaliações

- O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, manteve, na época em que era tesoureiro da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, três encontros com o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, acusado na Operação Lava-Jato de chefiar o cartel das empreiteiras contratadas pela Petrobras. Segundo reportagem publicada ontem na "Folha de S.Paulo", Pessoa disse a procuradores da Lava-Jato que repassou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma, em 2014, por temer prejuízos em seus negócios com a petroleira.

As doações foram acertadas entre ele e Edinho em reuniões no escritório da campanha em Brasília, depois no escritório de Pessoa em São Paulo e num último encontro no Rio.

Procurado pelo GLOBO, Edinho não quis comentar as declarações de Pessoa, limitando-se a reafirmar o que divulgou o PT: as doações foram legais e as contas eleitorais de Dilma, aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pessoas próximas ao ministro afirmam que não procede a versão do empreiteiro de que teria procurado Edinho a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de operar o esquema de corrupção no partido e preso na Lava-Jato. Segundo fonte petista próxima ao ministro, Edinho tomou a iniciativa de procurar os maiores doadores de 2010, um a um, ano passado. Com Pessoa, as reuniões teriam sido formais e circunscritas às tratativas sobre a campanha. Segundo essa fonte, Edinho não conhecia Pessoa antes do primeiro encontro em Brasília.

Segundo a reportagem da "Folha de S.Paulo", Pessoa também contou que, em 2006, deu R$ 2,4 milhões à campanha à reeleição do então presidente Lula por caixa dois, sem registro na Justiça Eleitoral. Em 2012, segundo Pessoa, ele também teria contribuído com mais R$ 2,4 milhões, dessa vez para quitar dívidas de campanha do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). O pedido para essa ajuda teria sido feito por Vaccari.

Pessoa está em prisão domiciliar e negocia com o Ministério Público um acordo de colaboração, em troca da diminuição de sua pena. Ele promete ainda, segundo a reportagem de ontem, detalhar seus negócio com o ex-ministro José Dirceu, condenado pelo mensalão. Pessoa deu R$ 3,1 milhões à empresa de consultoria de Dirceu entre 2012 e 2014.

Haddad disse que todas as doações para sua campanha, na campanha de 2012, foram declaradas. E afirmou, por meio de sua assessoria, que "desconhece afirmações relatadas pelo jornal "Folha de S.Paulo". O Instituto Lula disse que não vai se manifestar.

Em nota, o advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D"Urso, disse que seu cliente "jamais solicitou pagamentos a título de doações ao PT, que não fossem destinadas a depósitos na conta do partido". E que realizou "somente solicitações de doações oficiais". Procurado, o advogado de Pessoa, Alberto Toron, não foi localizado. Também não foram localizados os advogados de Dirceu.

Oposição Quer acelerar depoimento de Pessoa à CPI

• Parlamentares pretendem ouvi-lo na semana do dia 18; Maria do Rosário, do PT, critica empreiteiro

- O Globo

BRASÍLIA - A oposição na CPI da Petrobras pretende acelerar a convocação de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, para prestar depoimento na comissão. O requerimento para ouvir o empreiteiro, que cumpre prisão domiciliar, foi aprovado na comissão em 14 de abril, mas a sessão não tem data marcada. Diante das declarações de Pessoa, divulgadas pelo jornal "Folha de S. Paulo", sobre as doações sob pressão à campanha de Dilma, ouvi-lo se tornou uma "prioridade", segundo o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que integra a CPI:

- É uma revelação gravíssima. Além das provas materiais coletadas sobre a corrupção na eleição de 2010, agora vemos avanços nas informações da mesma prática em relação às reeleição - disse Imbassahy.

Segundo o deputado, a CPI poderá marcar o depoimento para a semana do dia 18, uma vez que, na próxima, já estão agendadas oitivas de mais de dez pessoas em Curitiba, além de uma reunião ordinária para votação de requerimentos.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), uma das integrantes da CPI mais aguerridas na defesa do governo, afirmou que não se opõe à ideia de agilizar o depoimento de Pessoa, mas criticou as declarações do empreiteiro, de que teria temido uma retaliação caso não doasse à campanha de reeleição da presidente Dilma:

- Tudo tem que ser apurado. Mas a subjetividade, como se sentia diante diss0o ou daquilo, é uma novidade no terreno político brasileiro, em que as pessoas dizem qualquer coisa para não serem cobradas pelos seus atos. Não é aceitável um ambiente de subjetividade nas denúncias.

Pessoa afirmou aos investigadores, segundo a "Folha de S. Paulo", que fez contribuições irregulares para campanha do ex-presidente Lula em 2006 e para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012. O empreiteiro disse ainda que pagou à consultoria de José Dirceu, condenado do mensalão, entre 2012 e 2014.

Duque: defesa chama Gabrielli
Ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque arrolou como testemunha de defesa em processo da Operação Lava-Jato o ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e outros 32 funcionários da companhia. Duque nega as acusações de lavagem de dinheiro e corrupção. Gabrielli já havia sido convocado como testemunha pelas defesas do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e de Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional.

Para presidente da CPI da Petrobras, é ‘inaceitável’ que relator seja testemunha de defesa de Vaccari

• Hugo Motta (PMDB-PB) pressiona Luiz Sérgio (PT-RJ) para deixar o cargo se testemunhar a favor de ex-tesoureiro do PT

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Diante do constrangimento causado com a indicação do relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), como testemunha de defesa do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), disse ser “incompatível” e “inaceitável” que um integrante da CPI aceite a função.

Para Hugo Motta, o relator terá que deixar os trabalhos da CPI caso passe a atuar como testemunha de defesa de Vaccari, acusado de ser um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras. O presidente da comissão defende que Luiz Sérgio tenha um posicionamento “claro e imediato” sobre a indicação de Vaccari sob pena de colocar sob suspeição os trabalhos da CPI.

Na quinta-feira, Vaccari indicou como testemunha de defesa no processo que responde decorrente da operação Lava-Jato o deputado Luiz Sérgio, além do ex-governador do Rio Grande Sul, Tarso Genro, e o deputado Sibá Machado, líder do PT na Câmara.

Como relator da CPI da Petrobras, cabe a Luiz Sérgio investigar a conduta dos suspeitos de corrupção na estatal e preparar o relatório com as conclusões da comissão, inclusive recomendando punição e até mesmo prisão de investigados, incluindo de Vaccari.

O juiz federal Sérgio Moro questionou a escolha da defesa de Vaccari e pediu que os advogados do petista apresentem em até cinco dias as justificativas para a convocação dos dois deputados federais e de Tarso Genro. Moro ressaltou o perigo de usar o processo penal para “constranger agentes públicos”.

Na ocasião, Luiz Sérgio (PT-RJ) disse que a indicação de seu nome como testemunha de defesa no processo causa constrangimento. O deputado afirmou que irá analisar a situação junto ao departamento jurídico da Câmara para saber se isso traz algum impedimento.

Na TV, PSDB vai dizer que governo transfere a conta do ajuste para a população

• Partido tem criticado aprovação de MP do ajuste fiscal

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

O PSDB começa a veicular na TV neste domingo, 10, uma série de propagandas em que acusa o governo da presidente Dilma Rousseff de transferir a conta do ajuste fiscal para a população.

Em uma das peças de 30 segundos divulgada nas redes sociais do partido, uma família tenta se proteger de uma tempestade em baixo de um guarda-chuva. “Economia parando. Preços subindo. Desemprego aumentando”, afirma o narrador.

De repente, uma mão arranca o guarda-chuva, deixando a família desabrigada. O narrador então diz: “E, justo agora, o governo aumenta os impostos, a luz, os juros, a gasolina e quer cortar o seguro-desemprego. Quando mais você precisa, o governo quer que você pague a conta dos erros que ele cometeu”.

O PSDB tem criticado a aprovação na última quinta-feira da medida provisória 665, que reduz direitos trabalhistas como o seguro-desemprego. Na próxima semana, deve ser votada a MP 664, que restringe o acesso à pensão por morte. As duas medidas fazem parte do pacote de ajuste fiscal elaborado pelo equipe econômica do governo para tentar colocar as finanças públicas em ordem.

Primeiro teste derruba fidelidade de 4 partidos da base

• Enquanto PTB, PROS, PP e PDT deram menos votos que de costume, PMDB mostrou maior alta no apoio ao Planalto

Daniel Bramatti e Rodrigo Brugarelli - O Estado de S. Paulo

Entre os principais partidos da Câmara, a taxa de governismo do PMDB foi a que mais subiu durante a votação do pacote de ajuste fiscal pela Câmara dos Deputados, na semana passada. Outros quatro partidos da base de apoio à presidente Dilma Rousseff, porém, foram menos fiéis do que de costume.

No momento em que Dilma mais precisou de apoio parlamentar desde o início do segundo mandato, PTB, PROS, PP e PDT registraram taxa de governismo inferior às suas próprias médias. Desses, só o PROS não ocupa um ministério – o ex-governador Cid Gomes deixou a pasta da Educação em março.

O levantamento, feito com dados do Basômetro – ferramenta do Estadão Dados que mede o comportamento dos parlamentares em votações –, levou em consideração não só a posição dos deputados em relação ao texto principal da medida provisória que mudou as regras do seguro-desemprego, mas também nas votações de emendas, requerimentos e destaques. No total, os parlamentares foram chamados a votar 16 vezes nas sessões de terça e quarta-feira.

Desempenho. Nessas votações, a taxa de governismo do PMDB chegou a 81,4% – valor que representa a média das ocasiões em que os deputados do partido seguiram a orientação do líder do governo na Câmara ao votar. Do início do ano até antes da análise do ajuste fiscal, a taxa dos peemedebistas estava em apenas 59,2%.

No PT, partido de Dilma, o governismo subiu de 92,5% para 97%, considerados apenas os votos dos deputados presentes às sessões – nove não apareceram para votar a medida provisória, o que levou o PMDB a acusar os petistas de cumprir “apenas 80%” do acordo de apoiar em bloco a proposta do Planalto.

O PSD – cujo principal líder, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, ocupa o Ministério das Cidades – também respondeu às pressões do Executivo e aumentou sua taxa de governismo de 68,6% para 83,6%.

Entre os que fraquejaram no apoio, a maior reviravolta foi protagonizada pelo PDT. Até o início da semana passada, sua taxa de governismo estava em 60,7% e era superior à do PMDB, mas caiu para 29,5%. O partido decidiu fechar questão contra as mudanças no seguro-desemprego, e todos os 19 deputados pedetistas votaram contra o Planalto no texto-base da MP. Em apenas uma das 16 votações do pacote, que resultou na derrubada de uma emenda, houve confluência entre pedetistas e os demais governistas.

O ambiente de polarização também fez com que a oposição mudasse seus padrões de votação. No PSDB, a taxa de governismo caiu de 37,8% para 10,8%. No PSB, de 58,3% para 25,1%. A exceção foi o DEM, cuja taxa variou pouco, de 41,6% para 37,3%.

Sem partido e sem mandato, Marina se aproxima de FH

• Ex-senadora e ex-presidente tucano têm conversado sobre a crise

Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - Sem partido, sem mandato e distante de Lula, aquele que, por muitos anos, foi sua principal referência na política, a ex-senadora Marina Silva tem se aproximado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista ao GLOBO, ela confirmou que conversou com o tucano sobre a crise política e econômica do país "duas ou três vezes" neste ano.

Já com Lula, seu último contato foi durante o tratamento contra o câncer a que o ex-presidente se submeteu entre 2011 e 2012. Marina encerrou a campanha eleitoral do ano passado com queixas à estratégia de ataques adotada pelo PT para desconstruir sua candidatura. No segundo turno, declarou apoio a Aécio Neves (PSDB-MG) contra Dilma Rousseff (PT).

A ex-senadora afirmou que os contatos com Fernando Henrique não visam a alianças políticas futuras:

- Temos conversado sobre o momento, quais as melhores maneiras de caminhar com a responsabilidade que o país exige, sem a ansiedade de instrumentalizar a crise em benefício próprio ou com agendas ocultas eleitorais.

Marina também tem feito elogios públicos ao tucano. Em artigo em sua página na internet há um mês, destacou "o exemplo de lucidez e responsabilidade republicana de Fernando Henrique".

Ex-senadora luta contra isolamento político e para montar a rede

• Partido não deve contar com fundo partidário nem tempo de televisão

- O Globo

SÃO PAULO - Sete meses depois da eleição, Marina Silva ainda busca um espaço para sua atuação política. O partido que ela tenta viabilizar desde 2013, a Rede Sustentabilidade, aguarda que os cartórios eleitorais validem 5 mil assinaturas para que o pedido de registro possa ser enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Recentemente, a legenda embrionária sofreu mais um revés: uma lei aprovada no Congresso impede partidos novos de ter acesso a cotas do Fundo Partidário e a tempo de televisão, mesmo com adesão de parlamentares. Se antes integrantes da Rede cogitavam atrair entre seis e nove parlamentares, agora a expectativa é que apenas dois ou três deputados federais ingressem no novo partido.

Formalmente, Marina é ligada ao PSB, mas não se considera filiada ao partido no qual ingressou apenas para ser vice na chapa de Eduardo Campos, depois que a Rede teve o registro negado. A ex-senadora diz que seu desligamento da legenda é certo, mas sem data para acontecer. Enquanto isso não acontece, ela desidrata junto ao eleitorado. Uma sondagem feita pelo Instituto Datafolha em abril aponta que sua atração sobre o eleitor diminuiu ainda mais desde o pleito de 2014: ela aparece com apenas 14% das intenções de votos. Na eleição, ela obteve 21,3% dos votos válidos. Eleitores e correligionários reclamam da timidez de suas manifestações contra o governo - restritas a posts de internet e entrevistas. Com poucos eventos públicos, sua primeira aparição no Congresso Nacional aconteceu apenas seis meses depois da eleição. Acompanhada por caciques indígenas, Marina teve dificuldade para encontrar políticos que a ciceroneassem nos corredores da Câmara, segundo quem acompanhou a visita.

Marina, no entanto, minimiza parte dos problemas que enfrenta. Afirma que não é possível medir queda de voto fora do período eleitoral:

- Não estou no lugar de candidata e não quero ficar preocupada com oscilação de pesquisa.

Mas reconhece que mesmo aliados próximos podem desistir de cerrar fileiras na Rede.

- Há níveis e níveis de engajamento. Tem pessoas que estavam engajadas solidariamente, que não vão sair de seus partidos mas estavam nos ajudando - afirmou Marina, que completou: - Mesmo antes da mudança da lei nós não fazíamos um esforço de ficar recrutando parlamentares por causa de tempo de TV.

Diante das dificuldades de competição impostas pela nova legislação, Marina se mostrou disposta a recorrer à Justiça para ter os mesmos benefícios dos demais partidos.

- Nosso processo teve início ainda com as regras anteriores e está em aberto. Os advogados saberão melhor como lidar com essa questão - disse.

Marina afirmou ainda que sua atuação é condizente com aquela de uma política sem mandato, avaliou que sua decisão de apoiar Aécio no segundo turno de 2014 foi acertada, mas se recusou a falar sobre o comportamento do tucano diante da crise do governo Dilma. E afirmou não ter conversado com ele sobre a situação política após as eleições.

A respeito do governo petista, ela voltou a afirmar que Dilma vive uma "cassação branca" e o país passa por um momento "dramático" de sua história.

- A maior gravidade da crise é a falta de reconhecimento da crise por parte do governo. O governo toma medidas dramáticas sem reconhecer que existe uma crise - afirmou, em referência aos cortes do ajuste fiscal.

Presidente evita expor sua imagem

• Fase difícil faz Dilma 'dosar' aparição pública

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA- A deterioração econômica, a adoção de medidas impopulares, o pessimismo generalizado com os rumos do País, a instabilidade política na relação com o Congresso e a sombra de um impeachment abalaram a imagem da presidente Dilma Rousseff neste início de segundo mandato e a fizeram reduzir sua exposição pública para evitar mais desgastes.

Após desistir de fazer pronunciamento em rede nacional no Dia do Trabalho e não participar do programa de TV do PT, a presidente se viu obrigada a cancelar a ida à cerimônia de comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, realizada na sexta-feira no Rio de Janeiro, para não ter o risco de enfrentar novas manifestações, vaias e panelaços em um momento em que ela está focada em emplacar uma agenda positiva para melhorar sua imagem. Dilma entrou na redoma.

Para não ser criticada por não prestigiar importante evento que contou com a presença de presidentes em todos os países aliados na Segunda Guerra, Dilma pediu às Forças Armadas que providenciassem, de última hora, solenidade de premiação aos pracinhas brasileiros, no Planalto, longe de ser submetida a qualquer constrangimento ou manifestação.

Isso a despeito de pesquisas internas do PT já terem detectado uma tendência de recuperação na popularidade de Dilma. Os novos números foram recebidos com alívio. Mas a ordem é que todo cuidado deve ser tomado para evitar que os dados criem um falso ambiente de que é hora para maior exposição.

No governo, a avaliação é de que, em momentos de dificuldades, o trabalho de recuperação da imagem de Dilma deve ser "dosado". Nesta semana estão previstos dois eventos "teste". Ela vai ao interior de Minas lançar o programa Minha Casa Minha Vida e, mais uma vez, todo cuidado com a exposição ao público está sendo tomado. Na terça, vai ao Rio, em diferentes cerimônias, todas com acompanhamento pelo pessoal que negocia com os movimentos sociais, para garantir a presença de apoiadores e evitar manifestantes, formando um novo colchão de proteção à presidente.

A própria Dilma tentou se defender das acusações de que está evitando se expor a manifestações. Em entrevista, na quarta-feira, explicou que no Dia do Trabalho preferiu se pronunciar "através de um forte, um forte veículo, forte e novo, que é a internet", mas ressalvou que irá "manter esses pronunciamentos também na chamada mídia tradicional: televisão, rádio e tudo". Na homenagem ao Dia das Mães a presidente pretende recorrer de novo às mídias sociais.

Na mesma linha, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, disse que Dilma "não está protegida numa redoma de vidro", ao optar por se comunicar pelas redes sociais. "O local em que ela mais se expõe é nas redes sociais. A rede não tem filtro, não tem mediação, tem anonimato."

Em crise, Luiz Fernando Pezão toma o rumo do interior

• Governador do Rio passa mais tempo fora da capital e dos problemas financeiros do Estado

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Não importa a extensão da ponte ou da estrada, o número de casas construídas, se a obra será inaugurada ou vistoriada. Nas últimas semanas, o interior é o destino preferencial do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Com arrecadação em queda, pagamento atrasado de serviços, corte de gastos nas secretarias e pedido de empréstimo ao Judiciário para pagar aposentados, o governador incluiu dois dias por semana agenda fora da capital, onde a cobrança é maior.

"Estou inaugurando até capela mortuária. Pareço o Odorico Paraguaçu", disse Pezão, citando o personagem de Dias Gomes que sonhava inaugurar o cemitério de Sucupira em O Bem Amado.

Não é exagero. Este mês, Pezão irá a Cardoso Moreira - cidade de 13 mil habitantes e a 330 km ao norte do Rio - inaugurar uma capela mortuária construída em parceria com a prefeitura. Pronta, a capela espera brecha na agenda do governador. "Já prometi ao prefeito que estarei lá", disse.

A capela faz parte de um pacote de dez obras em Cardoso Moreira que custaram ao todo R$ 13 milhões em recursos estaduais e vêm sendo inauguradas ou vistoriadas por Pezão. Em 24 de abril, o governador inaugurou 7,2 km de pavimentação da RJ-180, em Santa Maria Madalena, na região serrana. Prometeu mais 8 km até o fim do ano. Em Macaé, no litoral norte, no dia 17, o trecho inaugurado da estrada municipal tinha 1,2 quilômetro.

No mesmo dia 24, Pezão foi a Volta Redonda (sul fluminense) inaugurar uma estação de tratamento de esgoto e a São Fidélis (no norte do Estado) para entregar a Clínica da Família. Quatro dias antes, em Petrópolis (região serrana), vistoriou pontes em reconstrução destruídas nas chuvas de 2011, sem data de inauguração. Em Bom Jardim, também na região serrana, em 7 de abril, entregou 28 casas para vítimas dos temporais.

"Fiz calendário que prevê ao menos uma visita a cada um dos 92 municípios, até o fim do ano. Pretendo fazer isso todos os anos do mandato", afirmou Pezão. O governador disse não minimizar os problemas do Estado e que a manutenção dos empregos é sua grande preocupação. Ele previu que no segundo semestre as contas estarão mais equacionadas. "O Estado não pode parar, tem muita coisa em andamento, (...) muita inauguração para fazer."

Lava Jato. Pezão e o antecessor, Sérgio Cabral (PMDB), são investigados na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás. Em delação premiada, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa disse que a campanha de Cabral em 2010, com Pezão de vice, recebeu R$ 30 milhões em propinas pagas por firmas do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Costa disse ter participado de reunião, com presença de Pezão, em que Cabral pediu dinheiro para a campanha. Pezão repete como mantra que "a reunião nunca aconteceu" e que "não houve dinheiro ilegal na campanha". "É lamentável ver meu nome envolvido nisso sem qualquer prova, tenho 32 anos de vida pública", diz. Cabral também nega a acusação.

Em relação às finanças do Estado, a radiografia é crítica. Pezão teve de pedir R$ 6 bilhões ao Tribunal de Justiça para pagar aposentados e inativos e determinou cortes de R$ 4 bilhões em gratificações e despesas com viagens, combustíveis, gás, luz, telefone e água. Reconheceu dívidas de R$ 750 milhões com fornecedores e promete benefícios, como isenção de juros para pessoas físicas e jurídicas que quitarem dívidas com o governo.

O Estado perderá ao menos R$ 2 bilhões em royalties do petróleo e valor igual em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principalmente pela retração do setor de óleo e gás. Após anos de alto investimento e criação de novos postos, o desemprego aflige o governo. Cidades como Itaboraí, sede do Comperj, e Macaé, onde os empregos são ligados à Petrobrás e a firmas do setor, já sofrem impacto da crise.

O governador, que foi duas vezes prefeito de Piraí, no sul do Rio, fez do estilo simples e objetivo a antítese de Cabral, que deixou o governo em abril de 2014 com baixa popularidade e o mandato marcado por denúncias de envolvimento com empresários e viagens de luxo ao exterior.

Pezão enfrentou eleição difícil, vencida em dois turnos. Na posse, em 1.º de janeiro, tocou no tema evitado na campanha: as dificuldades de caixa. Traçou um cenário sombrio para o futuro, que se confirma a cada mês.

Após dois anos nas inserções gratuitas do PMDB, Pezão deixou de ser a estrela da propaganda na capital, papel assumido pelo prefeito Eduardo Paes, em anúncios veiculados de 15 a 22 de abril.

"Tinha algum tempo que não usava a propaganda gratuita do PMDB. Em 2014 e 2013, foram usadas todas pelo Pezão. Tinha o espaço disponível (este ano), e estamos falando de algumas ações do PMDB no Rio. Teve propaganda do Pezão no interior. A nossa ficou mais concentrada na cidade do Rio", disse Paes.

Para o presidente do PMDB fluminense e da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, "o foco é a eleição municipal de 2016", por isso Paes protagonizou a propaganda. "Estamos concentrados nas eleições de 2016 e o melhor que temos para mostrar é a gestão do Eduardo Paes."

Política Democrática Nº 41 – E agora, Brasil?

As jornadas de protestos de junho de 2013 já indicavam o despertar da sociedade brasileira para uma realidade enganosa vendida pelo lulopetismo. Realidade criada por marqueteiros e pela dupla Lula/Dilma, baseada no ufanismo, no baluartismo e na mentira. Apesar disso, os protestos de junho de 2013 acabaram esvaziados pela ausência de lideranças e organizações com capacidade e reconhecida legitimidade para capitalizar as insatisfações difusas e de transformá-las em um programa objetivo de reformas e levá-lo às ruas e às esferas das instituições nacionais.

Afinal, teríamos logo em seguida àqueles acontecimentos a Copa do Mundo e as eleições gerais, que passavam a chamar todas as atenções. A oposição, tímida e minguante ao longo dos 12 anos de governo do lulopetismo, ficou inerte durante os acontecimentos de junho de 2013, razão pela qual não se habilitara para, com uma ação vigorosa, representar os anseios de mudanças claramente manifestados pela nação. Não se dispôs a desmascarar as imposturas de um suposto “governo de esquerda” que se associou a grupos oligárquicos, institucionalizou o aparelhamento do Estado e empresas estatais, com objetivos claros de se perpetuar no poder.

(Apresentação da Revista Política Democrática Nº 40)

Idioma: Português
Formato: 17X24cm
Páginas: 199
Ano: 2015
Acabamento: Brochuras com orelha
Organizador: Fundação Astrojildo Pereira

A revista Política Democrática nº 41, da Fundação Astrojildo Pereira, pode ser baixada gratuitamente aqui:

Merval Pereira - Decisão do STF atrapalha Fachin

- O Globo

Ao contrário do que alegam os apoiadores do jurista Luis Edson Fachin à vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, a proibição de Procuradores exercerem a advocacia privada concomitantemente com a função de Procurador do Estado não é inconstitucional.

O Supremo Tribunal Federal, em decisão da Segunda Turma, sob a presidência da Ministra Cármen Lúcia, por unanimidade, decidiu que cada Estado pode definir os limites de atuação de seus Procuradores, de acordo com o voto do Relator, Ministro Gilmar Mendes em recurso extraordinário em outubro de 2013.

A ação foi impetrada por Procuradores do Rio Grande do Sul cuja Constituição, à exemplo da do Paraná, proíbe essa atividade de advocacia privada. A situação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul é idêntica aos do Paraná, e o Supremo chancelou a validade da proibição da advocacia contida na Constituição Estadual.

É um precedente delicado e preocupante para Fachin, e dá força ao estudo da Consultoria Legislativa do Senado, assinado pelo assessor jurídico João Trindade Cavalcante Filho, que afirma que ele não poderia ter exercido a função de Procurador do Estado do Rio Grande do Sul (e não Promotor, como escrevi, por um lapso, na coluna de ontem duas vezes) e advogar privadamente.

Na ação, a agravante alega que ao vedar a advocacia fora das atribuições institucionais, a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul e a legislação estadual estariam em dissonância com a Constituição Federal. O ministro Gilmar Mendes entendeu, e foi apoiado unanimemente pela 2º Turma, que as constituições estaduais não estão sujeitas à orientação expressa da Constituição Federal sobre o tema em questão.

Confira-se o que disposto no texto da Constituição de 1988 sobre o assunto:

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.

A Constituição Federal, em nenhuma passagem, proíbe o exercício da advocacia pelos Procuradores dos Estados, sendo matéria de competência dos entes da Federação. O ministro do STF Luis Roberto Barroso exerceu a advocacia cumulativamente com o cargo de Procurador do Estado do Rio de Janeiro, já que a legislação estadual não proíbe.

Já Luis Edson Fachin foi nomeado em 1990 Procurador do Estado do Paraná sob a égide da Constituição daquele estado, promulgada no dia 5 de outubro de 1989, que em seu artigo 125, § 3º, inciso I, assevera, § 3°, “É vedado aos procuradores do Estado: I - exercer advocacia fora das funções institucionais”. O artigo 33 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias estabeleceu uma exceção: “O disposto no art. 125, § 3°, I, desta Constituição não se aplica aos atuais procuradores do Estado”.

Os apoiadores de Fachin alegam que quando ele prestou concurso e foi aprovado, não existia essa proibição constitucional, que só veio a aparecer depois. Essa "expectativa de direito" seria suficiente para dar-lhe esse direito,de que muitos juristas discordam.

Por outro lado, como ainda não havia sido empossado Procurador na promulgação da Constituição, não pode ser enquadrado na exceção à regra. Sua posição, como se vê, fica a cada dia mais frágil, tendo que fazer malabarismos jurídicos para provar que não infringiu a lei.

Mesmo que no meio jurídico seja incontestável que Fachin tem, além de "notório saber", "reputação ilibada", e esse imbróglio pareça apenas um discussão teórica sem importância, os senadores, porém, que farão uma análise política de sua nomeação, a suas posições ideológicas muitos podem acrescentar essa infringência da lei para barrá-lo na sabatina.

Eliane Cantanhêde - Ajuste ou desmanche?

- O Estado de S. Paulo

A aprovação da primeira fase do ajuste fiscal foi uma vitória do governo e dá um certo alívio para Dilma Rousseff, mas ainda falta passar pelo Senado e não se pode esquecer que esse ajuste é parte do desmanche de todo o primeiro mandato da presidente. Basta repassar as prioridades entre 2011 e 2014 para confirmar que não sobrou pedra sobre pedra.

Uma por uma, Dilma vem abandonando aquelas ideias que tirava da própria cabeça – não raro passando por cima da área técnica e da perplexidade do mercado – e anunciava com pompa e circunstância. Com o abandono e o desmanche, viram sucatas.

Nem o modelo de exploração do pré-sal resiste à realidade, apesar de Dilma ter feito carreira na área de energia e de ter ocupado, inclusive, o Ministério de Minas e Energia. Depois de tanta badalação, tanta aula com PowerPoint, tanta picardia contra o modelo tucano, o governo volta atrás, falando em deixar o sistema de partilha de lado para recuperar o de concessões, acabando com a obrigatoriedade de a combalida Petrobrás participar de todos os blocos.

Até o Pronatec, um dos carros-chefe dos debates, dos programas de TV e do dia a dia da campanha da reeleição, está devagar. Com a crise na economia, dissimulada no limite da irresponsabilidade, Dilma só conseguiu pagar os subsídios das entidades privadas até outubro, mês da eleição. Depois disso, atrasos, confusão, incerteza.

Outro que embalava o marketing dilmista era o Fies. Sem desprezar os objetivos corretos e as boas intenções, também encheu as burras de universidades de desempenho sofrível e brindou estudantes pobres com diplomas capazes de embelezar paredes, mas de serventia duvidosa para lhes garantir empregos em suas áreas. Em 2014, havia 4,4 milhões de bolsistas, com financiamento de R$ 13,4 bilhões para escolas privadas – boas ou arapucas. Sem dinheiro, muitos dos bolsistas e das escolas estão a ver navios.

E o financiamento da casa própria? É bem verdade que Dilma ainda viaja pelo País – quando não corre o risco de panelaços –, entregando milhares de unidades do Minha Casa Minha Vida, como fará na próxima terça-feira, no Rio. Mas, com o pior resultado da caderneta de poupança em 20 anos (20 anos!), lá se foi o crédito para moradia. A Caixa Econômica Federal limitou o financiamento de imóveis usados à metade do valor total e acaba de anunciar aumento dos juros da compra de casas.

Dilma estufou o peito num pronunciamento em cadeia de rádio e televisão porque tinha decidido na marra a redução da conta de luz para residências e empresas. Patrões, empregados e eleitores em geral bem sabem o que aconteceu depois da eleição. Ou melhor: o que vem acontecendo todo mês, quando a conta bate à porta e arromba o bolso.

Num outro pronunciamento oficial, a presidente se vangloriou da redução dos juros como nunca antes neste país e ainda estendeu um dedo ameaçador para os bancos privados, ordenando que eles fizessem o mesmo. E, afinal, onde foram parar os juros?

A venda de carros caiu 25,2%, no pior abril em oito anos. Mais de 250 lojas foram fechadas. Mais de 12 mil trabalhadores do setor foram para o olho da rua. E a indústria em geral? A produção industrial caiu 5,9% no primeiro trimestre de 2015. É mole?

O desastre afeta outro indicador importante, que ajudou muito o trabalho dos marqueteiros e foi importante para segurar o discurso e os votos da reeleição: o emprego. No entanto, segundo os dados oficiais, o desemprego já subiu para 7,9% no primeiro trimestre. Sabe-se lá onde isso vai parar.

Então, é ótimo que o ajuste fiscal comece a ser aprovado no Congresso e que novas perspectivas se abram para o País, mas não se pode esquecer que isso tudo é parte do desmanche que derrubou a popularidade de Dilma de quase 80% no início de 2013 para 13% em 2015. E agora, com o desmanche do primeiro mandato, a grande pergunta é: para construir o que no lugar?

Bernardo Mello Franco - O mundo dos fundos

- Folha de S. Paulo

O Senado ganhou uma oportunidade para mexer num vespeiro que interessa diretamente a milhões de brasileiros. É a CPI dos Fundos de Pensão, que deverá ser instalada nos próximos dias.

A comissão foi criada para investigar prejuízos em instituições que cuidam da aposentadoria dos servidores de estatais. Estão na mira gigantes como a Petros, da Petrobras, o Postalis, dos Correios, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal.

Os fundos reúnem 557 mil servidores aposentados e 2,7 milhões na ativa. É gente que reservou parte dos salários para garantir um futuro tranquilo e agora teme perder o que aplicou devido a decisões estranhas e negócios esquisitos.

Só o Postalis acumula rombo de R$ 5,6 bilhões. No mês passado, os poupadores foram avisados de que teriam que pagar uma contribuição extra superior a um quarto do salário para tapar o buraco. O fundo é controlado por dirigentes indicados por políticos do PT e do PMDB.

Na Petros, que tem 128 mil participantes e mais de R$ 66 bilhões de patrimônio, as perdas no ano passado foram estimadas em R$ 6,2 bilhões. E-mails interceptados pela Polícia Federal indicam que João Vaccari, o ex-tesoureiro do PT, influía na administração do bolo.

"O loteamento político e sindical dos fundos foi selvagem. Isso está na origem de muitos investimentos temerários", diz o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), um dos autores do pedido de criação da nova CPI.

Em abril, o governo pressionou senadores a retirar assinaturas de outro requerimento, o que adiou o início das investigações. Agora o Planalto cochilou, e a comissão terá que ser instalada nesta semana.

Há muita coisa a se investigar no mundo dos fundos, que tem atraído pouca atenção dos órgãos de controle. Um dos caminhos será ouvir quem acompanhou os negócios de dentro. Entre conselheiros e servidores, muita gente pode ser convencida a contar o que sabe.

Eugênio Bucci - Então o povo emana do poder?

• O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido. Por exemplo: não tem presidente da República

- Época

Na terça-feira passada, às 8 e meia da noite, quando o Partido dos Trabalhadores ocupou as redes de TV com seu programa de propaganda política, uma pergunta ficou no ar: que país é esse que aparece no vídeo do PT?

Claro, é um país que avança no avanço, ura país avançadíssimo. Na tela eletrônica, a moça bonita de sotaque carioca anuncia: "Finalmente vivemos num país onde as mais justas reivindicações da população passaram a ser as mesmas das democracias mais sólidas do mundo". Ou seja, no proselitismo petista, o Brasil já é de "Primeiro Mundo" no quesito "reivindicações da população". O Brasil pode ficar feliz e satisfeito: se suas soluções ainda não são de "Primeiro Mundo", os seus problemas já são.

Quer dizer que o Brasil ficou igual à França? Quer dizer que no Canadá a polícia cai de pau (e de bala de borracha) em cima de professores que protestam na rua? E os salários dos professores no Brasil são equiparáveis aos dos professores belgas? Então agora, na Noruega, os cidadãos estão preocupados com uma Polícia Militar que mata milhares de jovens negros desarmados todos os anos? Os londrinos enfrentam problemas de filas em hospitais? Os alemães acham que a redução da maioridade penal vai resolver o descalabro da segurança pública?

O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido . Em certos ângulos, é fácil reconhecê-lo. Parece o país de verdade. Em outros enquadramentos, é a própria Terra do Nunca. Por exemplo: o Brasil do PT não tem presidente da República. O filme do PT consegue a proeza inaudita de ser um filme governista e, ao mesmo tempo, falar de um país que não é governado por ninguém (embora, claro, esteja sempre "avançando na direção "correta"). Em seus dez minutos de duração, o programa se dedica a esconder ninguém menos que a chefe de Estado. Chega ao cúmulo de defender mais espaço para a mulher na política sem tocar no nome de Dilma Rousseff.

No lugar de Dilma, quem aparece em close é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O curioso é que Lula não fala como defensor do governo, mas como um líder sindicalista de oposição. Em tom ameaçador, afirma que a mudança da lei que abre espaço para a terceirização de mão de obra colocará o Brasil no mesmo nível em que estava no início do século XX, quando não havia 13-salário. Quer dizer: o Brasil, que não tem presidente da República, só tem um líder, mas de oposição, e o nome desse líder é Lula.

A propaganda petista segue em guerra contra os moinhos do passado. É contra o passado que Lula se insurge. A partir daí, os contrastes entre o hoje um "hoje" publicitário) e o ontem (um "ontem" acusatório, o ontem que é culpa "deles") atingem o clímax. A dona de casa orgulhosa de sua nova sala sorri para as câmeras. O jovem que foi à universidade graças ao Prouni diz que agora pode sonhar. As meias verdades se põem a serviço das meias mentiras (ou mesmo das mentiras inteiras). Por exemplo: é verdade que, nos governos de Lula, o Brasil melhorou sua distribuição de renda, e isso o filme mostra, mas é verdade, também, que a gestão da política econômica não foi nada bem no governo Dilma, e isso o filme esconde {a ponto de ter de esconder a própria Dilma).

Outra coisa é que, ao que tudo indica, parece que andaram roubando um pouquinho nos governos do PT, mas, quanto a isso, o filme tem outra interpretação, insiste que o PT é o campeão no combate à corrupção. O jovem apresentador faz cara de seríssimo e dispara: "Outra virada histórica do Brasil, tem sido o combate contra a corrupção. E, por mais que alguns setores da imprensa omitam, se você buscar a verdade, vai descobrir que o PT também liderou algumas iniciativas contra a impunidade" Em seguida, uma voz em off garante que antes dos governos do PT o Ministério Público e a Polícia Federal não tinham autonomia para trabalhar, mas agora é diferente.

Conclusão: se hoje há ladrões de dinheiro público batendo ponto na cadeia, agradeça ao PT. Alguns são filiados ao PT? Não ligue. Se forem condenados, serão expulsos, garante a propaganda. Aí você pergunta: mas se vão expulsar os que vierem a ser condenados por crime de corrupção, por que não expulsaram os que já foram condenados? O PT não responde, pois não escuta, assim como não escutou os panelaços durante a exibição de seu programa. Empenhado em inventar seu país publicitário, o partido parece acreditar que será capaz de fabricar, com sua propaganda, um povo crédulo, medroso e obediente. Na TV do PT, não é o poder que emana do povo, mas o povo é quem há de emanar do poder.

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Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA USP