sexta-feira, 1 de maio de 2015

Opinião do dia – Antonio Imbassahy

(A fusão) é uma má noticia para o governo. Reforça a oposição. Vejo como um movimento nesse sentido. Até porque estão se unindo com Roberto Freire e Rubens Bueno.

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Antonio Imbassahy, deputado federal (BA) e exlíder do PSDB na Câmara. O Globo, 1 de maio de 2015.

Roberto Freire - O luto e a luta no Primeiro de Maio

- Portal do PPS

No Dia do Trabalho, em meio aos efeitos da grave crise econômica que atinge o país, os brasileiros enfrentam uma sucessão de más notícias resultantes da política econômica dos governos de Lula e Dilma. Em uma data que simboliza a histórica luta dos trabalhadores por seus direitos, este Primeiro de Maio, mais do que nunca, reforça a necessidade do engajamento da classe trabalhadora para preservar e ampliar suas conquistas. Nesse contexto, é sintomático e preocupante que o IBGE tenha divulgado os dados mais recentes do desemprego no Brasil, indicando que o índice subiu 23,1% em março em relação ao mesmo mês do ano passado.

Segundo o levantamento, cerca de 280 mil pessoas perderam seus empregos no período, o que impulsionou a taxa de desocupação para 6,2% - o maior percentual em quatro anos, desde maio de 2011, quando alcançou 6,4%. Outro dado preocupante da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que leva em conta as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre, é que o rendimento médio dos trabalhadores caiu 2,8% entre fevereiro e março Em relação a 2014, a queda foi de 3%, a mais acentuada desde fevereiro de 2004.

Apesar da propaganda ostensiva que edulcorou a realidade brasileira e enganou a população durante a campanha eleitoral, a crônica do desastre anunciado vinha sendo escrita há tempos. A opção equivocada do governo Lula pelo incentivo ao consumo desenfreado e sua incapacidade de elaborar um projeto de desenvolvimento nacional fizeram com que o país desperdiçasse oportunidades de crescer com consistência. O resultado de tamanha irresponsabilidade hoje está bem diante de nossos olhos: sofremos com um acentuado processo de desindustrialização, as famílias se endividaram e o desemprego passou a ser uma realidade inescapável.

Como se não bastassem as demissões e a queda da renda dos brasileiros, o governo Dilma já evidenciou qual é a sua prioridade ao defender a aprovação de um ajuste fiscal idealizado pelo ministro Joaquim Levy e feito sob medida para atender aos interesses da banca financeira. E não podemos nos esquecer das amargas medidas que fazem parte desse pacote de maldades, inclusive com a restrição de alguns direitos trabalhistas como o acesso ao seguro-desemprego, abono salarial, auxílio-doença etc. O governo do PT, que se diz tão preocupado com a classe trabalhadora, optou por prestigiar aqueles que sempre se locupletaram das benesses do poder e que, infelizmente, continuarão se locupletando em detrimento do cidadão comum que trabalha e produz.

Sem credibilidade depois de tantas falsas promessas e do estelionato eleitoral que protagonizou, a presidente da República segue encastelada no Palácio do Planalto simplesmente porque não tem mais autoridade para sair às ruas sem ouvir vaias ou falar em rede nacional de rádio e televisão sem que ocorram “panelaços”. A ponto do tradicional discurso da chefe da Nação endereçado aos trabalhadores no Primeiro de Maio ter sido cancelado em rádio e tv, o que prova a desconexão entre Dilma e a sociedade brasileira, além da falência moral e política do PT. É triste constatar que o Partido dos Trabalhadores se recusa a falar diretamente, afinal, com os próprios trabalhadores que diz representar.

Infelizmente, com Dilma e o PT, o Primeiro de Maio se transformou quase em um dia de luto. Mas não podemos esmorecer e devemos continuar na luta. Este Dia do Trabalho é uma grande oportunidade para que os brasileiros se mobilizem contra o arrocho, a perda de direitos, a crise econômica, o desemprego e a corrupção. Vamos à luta por mais direitos, por mais conquistas, por mais dignidade, e contra o maior adversário dos trabalhadores neste momento, que é o governo que aí está.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Nota do PSDB – 1º de Maio

- Portal do PSDB

É lamentável que a presidente Dilma Rousseff tenha se acovardado e resolvido não falar aos brasileiros por ocasião das comemorações pelo 1° de Maio.

Quem sempre se mostrou tão loquaz, agora evita dirigir-se à população numa data de tanto simbolismo para os brasileiros. Por que será que a presidente eleita pelo partido que se diz “dos trabalhadores” teme tanto os trabalhadores?

Dilma deveria dirigir-se à nação para explicar por que promove o maior arrocho recessivo da história recente do país, que tanto penaliza quem trabalha e produz.

Seu governo bate todos os recordes negativos da história recente: a maior inflação em 20 anos, os piores resultados fiscais em 17 anos, mais baixos níveis de confiança desde o início do século, o menor crescimento econômico desde o governo Collor e a menor geração de empregos em mais de 15 anos, para citar apenas alguns exemplos.

Com a recessão, o torniquete aperta sobre a renda dos trabalhadores e sufoca o consumo. A saída – para quem pode – tem sido queimar os recursos guardados na poupança. A verdade é que tem sobrado mês e faltado salário no bolso dos brasileiros.

Impiedoso, o arrocho petista mira benefícios sociais e trucida direitos trabalhistas. A tesoura do ajuste só não cortou mais fundo porque o Congresso resistiu às investidas de Dilma e sua equipe econômica e impediu que a população fosse submetida a sacrifícios ainda maiores.

A recusa de Dilma em ocupar rede nacional de rádio e televisão também deixa claro, de uma vez por todas, a que se destinaram as mais de 20 convocações feitas anteriormente pela presidente: puro proselitismo político, marketing enganoso e propaganda ilegal, conforme a oposição não se cansou de denunciar.

Não adianta, porém, a presidente querer se esquivar de prestar contas. Não adianta querer evitar manifestações indignadas dos brasileiros. Cada um à sua maneira, com as formas que tem às mãos, cada brasileiro demonstrará a repulsa e o repúdio a um governo que não tem dado motivo algum para que os trabalhadores comemorem o seu dia.

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Presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves

Dilma não ter o que dizer no 1º de maio é ridículo, diz Renan

• Presidente do Congresso fez mais críticas à petista e afirmou que o governo precisa 'sair da paralisia e da falta de iniciativa'

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em mais uma estocada contra a presidente Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta quinta-feira, 30, que a petista não vai fazer o pronunciamento na TV no Dia do Trabalho porque "não tem o que dizer". Ele também aproveitou a data, comemorada nessa sexta, para sugerir a criação de um "pacto em defesa do emprego", que duraria até o País voltar a crescer.

"Certamente a presidente não vai falar no dia 1º de Maio porque não tem o que dizer. Por isso eu estou propondo um pacto em defesa do emprego. Assim como nós temos meta de inflação, meta de superávit fiscal, nós precisamos ter meta de emprego", disse o peemedebista.

Indagado sobre o fato de o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), ter dito nesta quinta-feira que o Executivo já prepara um pacote para estimular a criação de emprego, Renan afirmou que o governo precisa trabalhar para reagir à crise e voltou a criticar Dilma. "O governo tem que sair da paralisia, da falta de iniciativa. Essa coisa da presidente não poder falar no dia 1º de Maio porque não tem o que dizer é uma coisa ridícula. Ridícula. Isso enfraquece muito o governo", disse.
Renan começou a sua fala ironizando o fato de Dilma ter decidido, pela primeira vez desde que chegou à Presidência, não se pronunciar na TV por medo de um novo panelaço, como ocorreu em março durante a sua fala em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. "Nós fizemos a democracia no Brasil para deixar as panelas falarem, as panelas precisam se manifestar, vamos ouvir o que as panelas dizem", afirmou.

Apesar das críticas, o presidente do Senado disse que vai conversar com Dilma sobre o pacto, para que os Poderes Executivo e Legislativo possam atuar juntos na defesa pelo emprego.
Entre as sugestões do peemedebista, estão a desoneração da folha de pagamento e a oferta de mais créditos, via bancos públicos, para empresas que criarem novas vagas de trabalho. Ele também vai propor que o governo priorize, em suas compras, empresas que não estejam fazendo cortes de pessoal.

Serra. Em mais um sinal do seu distanciamento com o Palácio do Planalto, Renan deve escolher o tucano José Serra (PSDB-SP) para coordenar o trabalho e reunir as propostas que podem ser encaminhas pelo Congresso.

Renan também criticou o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica, o qual chamou de "ajuste trabalhista". Ele voltou a defender que, se o governo precisa economizar, deveria dar o exemplo e "cortar na carne", começando pela diminuição do número de ministérios.

Cunha anuncia votação de reajuste maior para FGTS

Disputa política no 1º de Maio

• Sem pronunciamento de Dilma, Cunha anuncia projeto que muda índice de correção do FGTS

Julianna Granjeia, Luiza Damé, Maria Lima e Washington Luiz – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Diante da desistência da presidente Dilma Rousseff de fazer o pronunciamento do Dia do Trabalhador em cadeia de rádio e TV, o PMDB, seu aliado no governo, e a oposição buscaram ocupar o espaço com discursos e anúncio de medidas que beneficiariam o trabalhador. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), afirmou que vai apresentar dura nte o ato de hoje da Força Sindical, em São Paulo, projeto para alterar o índice de correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O texto, que ser á assinado pelos líderes do PMDB, do Solidariedade e do DEM tramitará em regime de urgência, segundo Cunha. Atualmente, a correção do FGTS é feita com base na Taxa Referencial (TR), usada para atualizar o rendimento das poupanças, mais juros de 3% ao ano. Caso o projeto seja aprovado, passará a valer o índice da poupança. —Tem muita ação na Justiça em relação ao FGTS.

É uma injustiça com os trabalhadores manter em a correção (do FGTS) inferior à poupança e à inflação — afirmou o presidente da Câmara, adiantando que o projeto de lei não será retroativo. O projeto, que será protocolado na Câmara semana que vem, é baseado em ação de inconstitucionalidade (ADI) ajuizada pelo Solidariedade (SD) no Supremo Tribunal Federal (STF) ano passado, que pede a alteração da correção pela inflação . O deputado Paulo Pereira da Silva (SDSP), afirmou que a defasagem na correção começou em 1999 e já ultrapassou os 100%.

Perguntado se a alteração não ampliaria a crise econômica, o deputado afirmou que a União tem margem para isso: — O índice da poupança fica sempre entre 8% e 9% (por ano). O programa Minha Casa, Minha Vida tem índice de 7%, é superior à inflação. O governo usa esse dinheiro para fazer mais dinheiro. Mudamos o índice de correção da inflação pela poupança porque avaliamos que é mais factível na atual circunstância. ATR foi criada em 1991 e é definida pelo Banco Central. Desde 1999, começou a ser reduzida paulatinamente e passou a ficar abaixo da inflação, encolhendo também a remuneração do FGTS. No ano passado, a TR ficou em 0,85%, enquanto a inflação fechou o ano em 6,41%.

STF vê interesse do trabalhador
No STF, o relator da ação é o ministro Luís Roberto Barroso, que no início do ano adotou o rito abreviado (sem julgamento do pedido da liminar, apenas do mérito da ação) para o julgamento da ADI. Barroso afirmou em despacho que a questão "interessa a milhões de trabalhadores celetistas, cujos depósitos nas contas do FGTS vêm sendo remunerados na forma da legislação impugnada".

Afirmou ter notícia da existência de mais de 50 mil processos judiciais sobre a matéria, e que ficou "impressionado" com "o tamanho do prejuízo alegado pelo requerente, que superaria, anualmente, as dezenas de bilhões de reais, em desfavor dos trabalhadores". A ação consta do sistema do STF como conclusa e já tem os pareceres do advogado-geral da União e do procurador-geral da República, ambos contrários à ação de inconstitucionalidade.

Em seu parecer, Rodrigo Janot alega que a alteração do indexador é função legislativa. A ofensiva do PMDB estendeu-se ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), que atacou duramente a presidente Dilma ao anunciar ontem um "Pacto pela Preservação do Emprego", que dure até o fim da recessão e a retomada do crescimento. Renan disse que tomou a iniciativa para suprir a paralisia do governo e chamou de "ridícula" a decisão de Dilma de não fazer o pronunciamento.

— Não há nada pior do que a paralisia, a falta de iniciativa e o vazio. Nós conquistamos a democracia no Brasil para deixar que as panelas se manifestassem. Certamente a presidente Dilma não vai falar porque não tem o que dizer aos trabalhadores. Por isso estou propondo esse pacto. Assim como temos meta de inflação, de superávit fiscal, temos que ter também uma meta de emprego — afirmou Renan.

Dilma fala de terceirização
Depois que seu afilhado político Sérgio Machado, alvo de denúncias na Operação Lava-J ato, foi obrigado a deixar a presidência da Transpetro, e Dilma retirou seu outro afilhado, Vinicius Lages, do Ministério do Turismo, Renan acentuou o nível dos ataques ao governo. O presidente do Senado também se tornou alvo de inquérito no STF, por envolvimento nas denúncias da mesma operação.

Já a presidente, em encontro com as centrais sindicais no Palácio do Planalto, anunciou a criação do Fórum de Debates de Políticas de Emprego, Trabalho, Renda e Previdência, integrado por representantes dos trabalhadores, dos aposentados e pensionistas, dos empresários e do governo, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência. E, um dia após ser cobrada pelo presidente do Senado a dizer o que pensava da proposta de terceirização, defendeu a regulamentação , mas restrita às atividades -meio.

— É urgente e necessário regulamentar o trabalho terceirizado no Brasil para que milhões de trabalhadores tenham proteção no emprego e garantia de salário digno. Também é importante para os empresários, porque significa segurança para eles, uma legislação clara sobre terceirização. No entanto, a regulamentação precisa manter a diferenciação entre atividades fim e atividades-meio. Para nós, isso é necessário para assegurar que o trabalhador tenha a garantia dos direitos conquistados — disse a presidente. Dilma gravou ontem os vídeos sobre o Dia do Trabalhador que serão postados nos portais do governo e nas redes sociais.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), também aproveitou a véspera do Dia do Trabalhador para criticar a presidente: "Quem sempre se mostrou tão loquaz, agora evita dirigir-se à população numa data de tanto simbolismo para os brasileiros. Por que será que a presidente eleita pelo partido que se diz "dos trabalhadores" teme tanto os trabalhadores?" Aécio e Cunha estarão hoje no 1º de Maio da Força Sindical. Já o ato da Central Única dos Trabalhadores (CUT), terá a presença do ex-presidente Lula, que deve fazer críticas ao projeto da terceirização.

As suspeitas de tráfico de influência internacional sobre o ex-presidente Lula

• O Ministério Público Federal abre uma investigação contra o petista – ele é suspeito de ajudar a Odebrecht em contratos bilionários

Thiago Bronzatto e Filipe Coutinho - ÉPOCA

Quando entregou a faixa presidencial a sua pupila, Dilma Rousseff, em janeiro de 2011, o petista Luiz Inácio Lula da Silva deixou oPalácio do Planalto, mas não o poder. Saiu de Brasília com umcapital político imenso, incomparável na história recente do Brasil. Manteve-se influente no PT, no governo e junto aos líderes da América Latina e da África – líderes, muitos deles tiranetes, que conhecera e seduzira em seus oito anos como presidente, a fim de, sobretudo, mover a caneta de seus respectivos governos em favor dasempresas brasileiras. Mais especificamente, em favor das grandes empreiteiras do país, contratadas por esses mesmos governos estrangeiros para tocar obras bilionárias com dinheiro, na verdade, do Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES, presidido até hoje pelo executivo Luciano Coutinho, apadrinhado de Lula. Como outros ex-presidentes, Lula abriu um instituto com seu nome. Passou a fazer por fora (como ex-presidente) o que fazia por dentro (como presidente). Decidiu continuar usando sua preciosainfluência. Usou o prestígio político para, em cada negócio, mobilizar líderes de dois países em favor do cliente, beneficiado em seguida com contratos governamentais lucrativos. Lula deu início a seu terceiro mandato. Tornou-se o lobista em chefe do Brasil.

Nos últimos quatro anos, Lula viajou constantemente para cuidar de seus negócios. Os destinos foram basicamente os mesmos – de Cuba a Gana, passando por Angola e República Dominicana. A maioria das andanças de Lula foi bancada pela construtora Odebrecht, a campeã, de longe, de negócios bilionários com governos latino-americanos e africanos embalada por financiamentos do BNDES. No total, o banco financiou ao menos US$ 4,1 bilhões em projetos da Odebrecht em países como Gana, República Dominicana, Venezuela e Cuba durante os governos de Lula e Dilma. Segundo documentos obtidos por ÉPOCA, o BNDES fechou o financiamento de ao menos US$ 1,6 bilhão com destino final à Odebrecht após Lula, já como ex-presidente, se encontrar com os presidentes de Gana e da República Dominicana – sempre bancado pela empreiteira. Há obras como modernização de aeroporto e portos, rodovias e aquedutos, todas tocadas com os empréstimos de baixo custo do BNDES em países alinhados com Lula e o PT. A Odebrecht foi a construtora que mais se beneficiou com o dinheiro barato do banco estatal. Só no ano passado, segundo estudo do Senado, a empresa recebeu US$ 848 milhões em operações de crédito para tocar empreendimentos no exterior – 42% do total financiado pelo BNDES. Há anos o banco presidido por Luciano Coutinho resiste a revelar os exatos termos desses financiamentos com dinheiro público, apesar de exigências do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União e doCongresso. São o segredo mais bem guardado da era petista.

Moralmente, as atividades de Lula como ex-presidente são, no mínimo, questionáveis. Mas há, à luz das leis brasileiras, indícios de crime? Segundo o Ministério Público Federal, sim. ÉPOCA obteve, com exclusividade, documentos que revelam: o núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República em Brasília abriu, há uma semana, investigação contra Lula por tráfico de influência internacional e no Brasil. O ex-presidente é formalmente suspeito de usar sua influência para facilitar negócios da Odebrecht com representantes de governos estrangeiros onde a empresa toca obras com dinheiro do BNDES. Eis o resumo do processo: “TRÁFICO DE INFLUÊNCIA. LULA. BNDES. Supostas vantagens econômicas obtidas, direta ou indiretamente, da empreiteira Odebrecht pelo ex-presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, entre os anos de 2011 a 2014, com pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente os governos da República Dominicana e Cuba, este último contendo obras custeadas, direta ou indiretamente, pelo BNDES”.

Os procuradores enquadram a relação de Lula com a Odebrecht, o BNDES e os chefes de Estado, a princípio, em dois artigos do Código Penal. O primeiro, 337-C, diz que é crime “solicitar, exigir ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional”. O nome do crime: tráfico de influência em transação comercial internacional. O segundo crime, afirmam os procuradores, refere-se à suspeita de tráfico de influência junto ao BNDES. “Considerando que as mencionadas obras são custeadas, em parte, direta ou indiretamente, por recursos do BNDES, caso se comprove que o ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva também buscou interferir em atos práticos pelo presidente do mencionado banco (Luciano Coutinho), poder-se-á, em tese, configurar o tipo penal do artigo 332 do Código Penal (tráfico de influência)”, diz o documento.

A investigação do MPF pode envolver pedidos de documentos aos órgãos e governos envolvidos, assim como medidas de quebras de sigilos. Nas últimas semanas, ÉPOCA obteve documentos oficiais, no Brasil e no exterior, e entrevistou burocratas estrangeiros para mapear a relação entre as viagens internacionais do ex-presidente e de integrantes do Instituto Lula com o fluxo de caixa do BNDES em favor de obras da Odebrecht nos países visitados. A papelada e os depoimentos revelam contratos de obras suspeitas de superfaturamento bancadas pelo banco estatal brasileiro, pressões de embaixadores brasileiros para que o BNDES liberasse empréstimos – e, finalmente, uma sincronia entre as peregrinações de Lula e a formalização de liberações de empréstimos bilionários do banco estatal em favor do conglomerado baiano.

A Odebrecht tem receita anual de cerca R$ 100 bilhões. É uma das principais empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, que desmontou um esquema de pagamento de propinas na Petrobras. Segundo delatores, a construtora tinha um método sofisticado de pagamento de propinas, incluindo remessas ao exterior trianguladas com empresas sediadas no Panamá. A empreiteira, que foi citada pelo doleiro Alberto Youssef e por ex-funcionários do alto escalão da Petrobras, nega as acusações.

Oposição vai propor à CPI da Petrobrás perícia em computadores da estatal

• Objetivo é verificar se, de fato, áudios e vídeos de reuniões do Conselho de Administração foram destruídos e se, eventualmente, há possibilidade de recuperar arquivos

Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A oposição vai propor na CPI da Petrobrás uma perícia em computadores e equipamentos de gravação da estatal. O objetivo é verificar se, de fato, áudios e vídeos de reuniões do Conselho de Administração foram destruídos e se, eventualmente, há possibilidade de recuperar

A estratégia foi acertada pelo presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), com os integrantes do partido na Câmara após reportagem do Estadão.com revelar nesta quinta-feira que a estatal alega ter eliminado registros, em áudio e vídeo, dos encontros.

O vice-presidente da comissão, deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), e o líder do DEM na Casa, Mendonça Filho (PE), afirmaram que o pedido será feito na próxima reunião, marcada para terça-feira. A perícia ficaria a cargo da Polícia Federal.

Aécio afirmou que, se confirmadas as informações, há possibilidade de "crime", se ficar configurada destruição deliberada de provas de um delito. "Isso nos permite suspeitar que o que ocorreu efetivamente na reunião do conselho que aprovou Pasadena, em relação à participação da presidente (Dilma Rousseff), é algo muito diferente do que sabemos até aqui", disse o senador.

Em resposta a pedidos do Estadão, feitos por meio da Lei de Acesso à Informação, a Petrobrás informou que as reuniões do Conselho de Administração são registradas por meio de gravador, colocado na sala do encontro, e também por videoconferência. Porém, acrescentou a estatal, esses registros são apagados após a formalização das atas.

Segundo a Petrobrás, também foram apagadas as gravações de reuniões de 2006 e 2012, nas quais foram aprovadas as principais etapas da compra da Refinaria de Pasadena. A prática estaria embasada no Regimento Interno do Conselho de Administração, mas a companhia não o apresentou.

Em 2006, como chefe da Casa Civil e presidente do colegiado, Dilma deu aval à aquisição dos primeiros 50% da Refinaria de Pasadena. O Tribunal de Contas da União (TCU) apurou prejuízo de US$ 792 milhões no negócio, finalizado em 2012.

Aécio disse que a oposição vai pleitear cópia do regimento do conselho e questionar "desde quando", "a mando de quem" e "de que forma" as gravações são destruídas. Ele explica que informações reservadas, de acionistas minoritários da Petrobrás, dão conta de que a influência de Dilma no negócio de Pasadena teria sido mais efetiva que a admitida pelo governo.

Por isso, a CPI requereu em 28 de março gravações e outros registros dos encontros do conselho, mas a estatal não respondeu. Em reunião com integrantes da comissão, a companhia não comunicou a eliminação. Diante disso, a CPI deu prazo para a entrega do material até a segunda-feira, 4, sob risco de acionar a Polícia Federal para uma busca na sede da empresa.

O senador diz ainda que, a partir das explicações da companhia, a oposição poderá acionar na Justiça "responsáveis por ocultação de provas". "A sensação que fica é que houve um esforço da Petrobrás de limpar a cena do crime", comenta. "Há a possibilidade concreta de destruição de provas", reforçou Imbassahy.

Mendonça Filho afirmou que a perícia ajudaria a encontrar os responsáveis pela destruição. "Não tem sentido uma empresa com a história da Petrobrás apagar registros", comentou.

PMDB não pode ser 'coordenador de RH' do governo, diz Renan Calheiros

• Renan critica articulação política e diz que PMDB não pode ser 'RH'

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou nesta quinta-feira (30) a condução da articulação política entre o governo e o Congresso conduzida pelo presidente do seu partido, o vice-presidente Michel Temer. Sem acusá-lo claramente de estar distribuindo cargos, Renan afirmou que o PMDB não pode se transformar em um "coordenador de RH".

"O pior papel que o PMDB pode fazer é substituir o PT naquilo que o PT tem de pior que é no aparelhamento do Estado. [...] O PMDB não pode transformar a coordenação política, sua participação no governo, em uma articulação de RH, para distribuir cargos e boquinhas. Eu acho que isso tudo faz parte de um passado do Brasil que nós temos que cada vez mais deixa-lo para trás", atacou.

Desde que assumiu o posto de articulador do governo, Temer negocia com nomes da base aliada indicações para os cargos de segundo escalão do Executivo, como presidências de bancos e de autarquias.

"A condução do presidente Temer tem que ter como objetivo dar um fundamento à coalizão, qualificar a coalizão de governo. [...] O papel é esse, não o retrocesso que essa distribuição de cargos significa. Não se trata de saber quem é o dono da coalizão. Trata-se de acabar com o aparelho. Não adiante mudar o dono do aparelho", afirmou.

Renan voltou a dizer que não quer indicar cargos para o Executivo. Questionado se pediria para quem já foi indicado por ele a deixar seus cargos, Renan não respondeu. "Não vou indicar cargo no Executivo. Esse papel hoje é incompatível com o Senado independente. Prefiro manter a coerência do Senado independente não participando de forma nenhuma de indicação de cargos no Executivo", afirmou.

Pressão
Apesar de falar publicamente que não quer ter cargos no governo, a briga de Renan com o Planalto se intensificou após a demissão do ex-ministro do Turismo Vinícius Lages, parte da cota de Renan, substituído por Henrique Eduardo Alves, nome bancado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

No início do mês, a presidente Dilma Rousseff fez um aceno ao peemedebista para apaziguar os ânimos ao nomear Jorge Bastos na diretoria-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), indicado de Renan.

O governo chegou a oferecer postos para Lages como uma compensação a Renan, mas o peemedebista se irritou e abrigou o ex-ministro na chefia de seu gabinete no Senado.

O senador, segundo aliados, não queria que atribuíssem a ele qualquer nova indicação para postos no governo, já que assumiu campanha a favor de que a presidente enxugue a máquina pública. Apesar do discurso, no entanto, integrantes do governo relatam que havia uma lista de pendências do presidente do Senado acertada desde dezembro com sugestões de nomes para o governo.

No PMDB, uma batalha de caciques

• Temer diz que país precisa de políticos à altura dos desafios atuais ao rebater crítica de Renan de que partido não pode ser coordenador de RH

Maria Lima e Luiza Damé – O Globo

Com o ex-ministro do Turismo Vincius Lage ao lado — hoje seu assessor no gabinete, depois de demitido da pasta — Renan atacou duramente pela manhã o papel do PMDB na articulação política do governo e da distribuição de cargos para satisfazer a base aliada. O papel de coordenador é ocupado desde o início do mês por Temer. 

Apesar do discurso contra o fisiologismo, Renan tem declarado abertamente sua insatisfação coma demissão do aliado, substituído pelo também peemedebista Henrique Eduardo Alves. — O PMDB não pode substituir o PT no que ele tem de pior, que é o aparelhamento do Estado brasileiro. Não se trata de saber quem é o dono do aparelhamento, trata-se de acabar com o aparelhamento. Não se pode transformar a coordenação política em coordenador de RH, da boquinha. Não precisamos apenas mudar o dono do aparelhamento do Estado.

O PMDB tem que dar qualidade e fundamento à coalizão — criticou Renan Calheiros. O vice-presidente Michel Temer, no entanto, não absorveu o golpe. Usualmente ponderado, o presidente do PMDB reagiu às críticas à sua atuação na articulação política em nota divulgada no fim da tarde.

Sem citar diretamente Renan, Temer afirmou que não usará o cargo para agredir autor idade de outros poderes e disse que não estimularia uma discussão que pudesse prejudicar a harmonia entre as instituições e os movimentos sociais. 

Na parte mais dura do texto, o vice reagiu com acidez: "respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura". Renan Calheiros é alvo de inquérito da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. "Não usarei meu cargo para agredir autor idades de outros poderes. Respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura. Não estimularei um debate que só pode desarmonizar as instituições e os setores sociais. O país precisa, neste momento histórico, de políticos à altura dos desafios que hão de ser enfrentados. Trabalho hoje com o objetivo de construir a estabilidade política e a harmonia ensejadoras da retomada do crescimento econômico em benefício do povo brasileiro. Se outros querem sair desta trilha, aviso que dela não sairei", respondeu Temer na nota

Os temas do 1º de maio no governo Dilma

• Relembre como foram os atos organizados pelas centrais durante o primeiro mandato da petista

Mateus Coutinho - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Histórico aliado das centrais sindicais, o PT passa por um momento delicado com o movimento sindicalista neste começo de segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Com a nomeação do ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e a implementação de um ajuste fiscal com mudanças em benefícios trabalhistas o governo vem causando críticas na própria base e em sindicatos que, desde o primeiro mandato, apoiaram Dilma.

As posições dos sindicatos se refletem principalmente nos atos marcados para este 1º de maio, Dia do Trabalho e quando são realizadas as tradicionais comemorações das centrais sindicais, que também aproveitam a data para expor suas reivindicações.

Relembre como foram as celebrações de 1º de maio durante o primeiro mandato de Dilma:

2011- Imposto sindical e inflação:
Contexto da época: Um ano após Dilma ser eleita com amplo apoio das centrais sindicais,os atos de primeiro de maio foram marcados pelo debate entre as duas maiores centrais - CUT e Força Sindical - acerca do imposto sindical, contribuição obrigatória dos trabalhadores e principal fonte de financiamento do movimento sindical e pelo embate entre o governo e a oposição em relação à inflação. A CUT, ligada ao PT, defendia o fim da contribuição e a Força Sindical defendia a manutenção do imposto.

Pronunciamento: Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV às vésperas do 1.º de Maio, a presidente Dilma Rousseff anunciou o lançamento do programa Brasil Sem Miséria e defendeu "jogo duro" contra a inflação. Neste ano a presidente foi diagnosticada com pneumonia e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho foi aos atos em seu lugar, prática que se repetiu nos anos seguintes.

Atos: O tucano Aécio Neves participou no ato organizado pelas centrais Força Sindical, UGT,CGTB, Nova Central e CTB na capital paulista e capitaneou o discurso da oposição ao criticar a "omissão" do governo no combate à inflação. O também tucano Geraldo Alckmin chegou a ser vaiado no evento. Presentes nos eventos da Força Sindical e no da CUT, que foram separados devido ao impasse sobre o imposto sindical, Gilberto Carvalho rebateu as acusações da oposição e leu uma carta de Dilma dizendo que não permitiria que a inflação voltasse a "corroer o poder aquisitivo dos trabalhadores".

2012- Elogios:
Contexto: Em meio aos altos índices de popularidade da presidente, que chegou a atingir a aprovação pessoal de 77% segundo pesquisa Ibope, e ao ambiente de disputa eleitoral nas prefeituras, as principais centrais sindicais apoiaram o pronunciamento de Dilma na TV na época e os atos foram marcados pela ausência de líderes do PSDB principal sigla da oposição ao governo e que tradicionalmente marca presença nas celebrações da Força Sindical.

Pronunciamento: Às vésperas da comemoração, a presidente fez um duro ataque os bancos ao classificar de "inadmissível" o custo dos empréstimos no Brasil e recomendar às instituições privadas seguirem o "bom exemplo" dos bancos estatais, que já fizeram pelo menos duas rodadas de corte de juros."É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com os juros mais altos do mundo", desabafou Dilma.

Atos: Os presidentes das duas principais centrais sindicais do País , CUT e Força Sindical, aproveitaram o ato de 1º de maio para sair em defesa do pronunciamento da presidente Dilma às vésperas da comemoração."Ninguém aguenta mais comprar uma televisão e pagar três. Mas eu acho que a presidente Dilma tratou desse assunto seriamente e isso mostra que nós ganhamos a opinião dela", afirmou o deputado e presidente da Força Sindical, Paulinho da Força (PDT-SP), atualmente um dos maiores opositores do governo.

Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, disse que "a presidente Dilma respondeu à nossa reunião, feita há um mês, onde colocamos que ela tinha de ter mais ousadia com o sistema financeiro". "Ela tinha de cobrar mais a redução do spread bancário e utilizar os bancos públicos para isso", disse o sindicalista, que participou da festa de 1.º de Maio organizada pela

Os atos também foram marcados pela ausência dos tucanos Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves, que alegaram problemas pessoais e de saúde para não conseguir ir nas comemorações. A ausência dos tucanos ocorreu, coincidentemente, alguns dias após o PSDB organizar evento de lançamento de seu núcleo sindical, que reuniu Serra, Aécio e outros caciques da legenda.

2013 - Inflação:
Contexto: Há um ano da disputa eleitoral para a Presidência, os atos de 1º de maio foram utilizados pela oposição para criticar o governo.

Pronunciamento: A presidente fez um pronunciamento na véspera afirmando que o combate à inflação era permanente.

Atos: Diferente do ano anterior, o senador tucano Aécio Neves marcou presença no evento da Força Sindical e fez duras críticas à política econômica do governo Dilma que, segundo ele, tratava com "leniência" o aumento da inflação. O então governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB) não compareceu ao evento da Força, mas enviou emissários de seu partido que se uniram à retórica tucana e endossaram as críticas sobre a sombra da inflação.

Diferente do ano anterior, Paulinho da Força (PDT-SP), que estava se aproximando de Campos na época, fez duras críticas ao governo Dilma e disse que "ninguém a aguenta" mais na Presidência. Como nos anos anteriores, o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carbalho participou dos atos representando a presidente e disse que a petista agia como "uma leoa" contra a alta dos preços. Apesar do apoio da CUT nos atos, o presidente da entidade, Vagner Freitas cobrou a redução da jornada de trabalho e ameaçou organizar protestos caso o governo não atendesse às reivindicações dos sindicalistas.

2014 - 'Pacote de bondades':
Contexto: Com a queda da popularidade da presidente e os primeiros desdobramentos da Lava Jato em pleno ano de disputa eleitoral, Dilma anunciou às vésperas do 1º de maio um "pacote de bondades" que incluía reajuste da tabela do Imposto de Renda e do Bolsa Família. Ao mesmo tempo, os opositores Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) articulavam suas candidaturas e não poupavam as críticas à presidente.

Pronunciamento: Além de anunciar medidas populares como a correção da tabela do Imposto de Renda e o reajuste do Bolsa Família, a presidente utilizou seu discurso em rede nacional para rebater ataques dos adversários sobre a política econômica do governo e a crise na Petrobrás. Pré-candidata à reeleição, Dilma disse ainda que pretende "continuar a política de mudanças" para "os pobres e a classe média".

Atos: O elogio ao discurso da presidente Dilma nas vésperas prometendo a manutenção da política de valorização do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda marcou a festa promovida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Central dos Sindicatos do Brasil (CSB) na capital paulista. "Foi um dos melhores pronunciamentos dela por atender à classe trabalhadora", disse Vagner Freitas, presidente da CUT.

O público jovem, contudo, perdeu a paciência durante os discursos e vaiou indiscriminadamente quem tentou falar. Nas duas vezes em que o nome de Dilma foi citado as vaias aumentaram. Os opositores Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Cunha (PSB) utilizaram ao ato da Força Sindical como palanque para criticar a presidente.

Petrobras perdeu R$ 872 mi com acordo imposto por Lula

• Prejuízo aparece no balanço deste ano; em 2007, estatal foi contra o negócio, defendido pelo então presidente como 'generosidade'

Fabiano Maisonnave – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um acordo com a Bolívia negociado em 2007 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou prejuízo de R$ 872 milhões aos cofres da Petrobras no ano passado, segundo o balanço da empresa. O rombo equivale a 14% da perda atribuída pela estatal à corrupção (US$ 6,2 bilhões).

Em agosto, após sete anos de negociação, a Petrobras pagou à estatal boliviana YPFB US$ 434 milhões pelo excedente energético do gás natural vendido ao Brasil.
O "gás rico", como é chamado, nunca foi pedido nem aproveitado pela empresa brasileira, mas passou a ser cobrado a partir do governo do presidente Evo Morales, que assumiu o poder no país vizinho em 2006.

Ao anunciar o acordo durante visita de Morales a Brasília, em 15 de fevereiro de 2007, Lula afirmou que os países mais ricos têm de ter "generosidade" e "solidariedade" com economias menores.

Pago em dobro
A demora entre a assinatura e o pagamento se deveu à resistência interna na Petrobras. O departamento jurídico da estatal chegou a recomendar que não houvesse pagamento à Bolívia.

Para técnicos da Petrobras ouvidos pela Folha no ano passado sob a condição do anonimato, a estatal pagou duas vezes pelo mesmo produto, já que o poder calorífico do gás está previsto no contrato de 30 milhões de metros cúbicos/dia, e o combustível exportado não era separado das outras moléculas.

O prejuízo da Petrobras com esse acordo foi ainda maior do que consta no balanço de 2014, já que, em encontro de contas, houve um abate de US$ 23 milhões por causa de multas devidas pela Bolívia por problemas e fornecimento, segundo valores informados pela YPFB.

Além disso, a estatal já havia pago uma primeira parcela de US$ 100 milhões em 2010 pelo "gás rico".

"Legítimo"
Ao justificar o pagamento no ano passado, a Petrobras afirmou que iria gerar um saldo positivo de US$ 128 milhões (R$ 386 milhões) no final de 2014, pois o cálculo incluiria outros acordos com a Bolívia envolvendo o gás natural, principalmente o fornecimento à térmica de Cuiabá, feito em contrato à parte.

"A Petrobras esclarece que o cálculo é absolutamente correto. É legítimo que a companhia considere seus acordos com a Bolívia de forma global, pois o resultado obtido reflete um conjunto de negociações que não podem ser vistas separadamente", escreveu o gerente de imprensa Lucio Pimentel em carta enviada no final de agosto à Folha.

A reportagem voltou a procurar a Petrobras na última sexta (24). Cinco dias depois, e estatal informou que não iria comentar o prejuízo causado pelo acordo.

César Benjamin - É pau, é pedra, é o fim de um caminho

• A crise, a dissolução da esquerda e o legado conservador do lulismo

Um dos estilos mais típicos da oratória antiga eram os chamados discursos epidícticos, nos quais o tribuno apenas enfatizava aquilo que as plateias esperavam ouvir. Tratava-se, principalmente, de elogiar o elogiável, exaltando as qualidades de um homem ilustre recém-falecido, enaltecendo uma cidade diante de seus habitantes, louvando qualidades abstratas, como a bondade e a justiça, e assim por diante.

Com o tempo, os grandes tribunos perceberam que não havia verdadeiro mérito nisso. Dedicaram-se, então, a buscar a perfeição da oratória na prática oposta, a de elogiar o feio, o ridículo ou até mesmo o abominável.

Luciano e Leão Baptista Alberto descreveram as virtudes da mosca. Polícrates louvou os ratos. Luíz Uviquílio enalteceu os gafanhotos. Clitério escolheu o caruncho. Favônio, as febres. Betubo, os mosquitos. Miguel Psellos, as pulgas. Sinésio, a careca. E André Amônio fez um antológico discurso em que descreveu as belezas do nada.
Tivesse eu esse talento, faria o elogio de Dilma Rousseff. Seria o elogio da nulidade.

Nunca se viu coisa igual: um governo que toma posse e não começa, que já no primeiro trimestre se desmoraliza e se arrasta de derrota em derrota, e cuja maior esperança é conseguir agonizar em praça pública por quatro anos, sem nada propor ao país. Não dará certo, é claro, embora ainda não saibamos como.

Há poucos meses, falar em crise era coisa de gente ranzinza. Hoje, é chover no molhado. Mas acho que as pessoas ainda não perceberam o tamanho e a complexidade da confusão em que nos metemos. Estamos diante de diversas crises, superpostas e combinadas, que apenas se iniciam. É coisa de grandes proporções. Dadas as características da sociedade brasileira atual, talvez venha a ser a mais grave crise da nossa história.

Sua dimensão evidente é o esgotamento da política econômica que prevaleceu nos doze últimos anos. Desde 2003 ouvimos a promessa de combinar desenvolvimento e justiça social, tendo o mercado interno, pela primeira vez, como o principal elemento dinâmico.

Depositários da memória desse meritório projeto, longamente amadurecido, os governos do Partido dos Trabalhadores anunciaram a novidade, mas não souberam levá-la adiante: abandonaram a agenda de reformas estruturais; descuidaram da expansão dos bens e serviços de uso coletivo; não conseguiram coordenar e executar os investimentos necessários em infraestrutura; praticamente só criaram empregos em setores de baixa produtividade; assistiram, sem reagir, à reprimarização da nossa pauta de exportações e à desindustrialização do país, fenômenos associados a uma inserção declinante no sistema internacional. Em vez de tratar desses assuntos difíceis – e decisivos –, a política econômica concentrou-se, cada vez mais, em artifícios voltados para aquecer a demanda no curto prazo.

A promessa de um ciclo longo de desenvolvimento centrado na expansão do mercado interno degenerou em uma bolha de consumo.

Essa experimentação econômica acabou. Como o peso das tentativas de distribuição de renda foi jogado sobre os gastos fiscais do Estado, o qual não se libertou da condição de refém da acumulação rentista, as finanças públicas foram para o buraco. E, como o sistema produtivo brasileiro não acompanhou a demanda – em grande parte, por uma política cambial irresponsável –, nossas contas externas também desandaram.

Com a economia estagnada, temos um déficit público de mais de 6% do Produto Interno Bruto e outro déficit de mais de 4% do PIB nas contas externas. Isso quer dizer que Estado e sociedade estão em uma espiral de endividamento, com o país parado. Foi preciso pisar fundo no freio. O crescimento, que era baixo nos últimos anos, será negativo em 2015, enquanto 2016 já parece longo prazo. Estamos entrando em uma recessão cuja duração e profundidade ainda desconhecemos.

Isso foi escondido até as eleições. Logo em seguida, o mesmo governo que, até ontem, se legitimava por meio da apologia do consumo passou a adotar – sem aviso, sem negociações e sem explicações – um conjunto de políticas que visam, antes de tudo, contrair bruscamente esse mesmo consumo. Não podia dar certo.

A segunda dimensão da crise, menos visível, é o esgotamento simultâneo dos quatro mecanismos usados na última década para promover alguma distribuição de renda.

Os aumentos reais do salário mínimo, iniciados em 1994 e mantidos sem interrupção até 2014, ficarão doravante comprometidos pelo pífio desempenho do PIB e pelo aperto nas contas da Previdência Social.

As políticas de transferência de renda, centradas no programa Bolsa Família, atingiram seu teto de expansão, tanto em número de famílias beneficiadas quanto no valor dos benefícios. A precária situação fiscal do Estado não permite novos aumentos significativos.

Dado o nível de endividamento da população, o crédito se contrai pela primeira vez em doze anos.

O aumento da formalização do trabalho arrefece e dá lugar a um novo ciclo de desemprego ascendente, principalmente na indústria.

O distributivismo sem reformas atingiu seu limite. A recessão se encarregará de anular boa parte dos ganhos que o povo brasileiro obteve na última década, o que prenuncia uma crise social importante. 

As populações que aumentaram sua capacidade de consumo e viram nisso uma expressão acabada de ascensão terão muitos motivos para reagir às perdas que se avizinham. Não temos instituições que acolham e canalizem sua provável rebeldia, que ainda não se expressou (elas não estiveram significativamente presentes nas manifestações dos dias 13 e 15 de março).

A terceira dimensão da crise é especificamente política. O loteamento do Estado, com o consequente rebaixamento do Congresso Nacional e da própria ideia de política, tornou-se o principal mecanismo de construção da chamada governabilidade. Levado ao extremo, ele eliminou a capacidade de esse mesmo Estado conduzir empreendimentos complexos e de longa maturação, que são os mais importantes. A política afastou-se das grandes questões nacionais.

A governabilidade assim obtida no curto prazo é a contraface de uma tendência à ingovernabilidade no longo prazo, pelo acúmulo de desafios relevantes não enfrentados.

Como escrevi aqui em 2013, o longo prazo chegou: as disfuncionalidades desse tipo de política já superam, de longe, qualquer contribuição que ela possa nos dar. Não obstante, ela prossegue, pois o sistema funciona no piloto automático. Construímos um Estado ágil para premiar amigos e punir adversários, mas inoperante para liderar um projeto nacional.

Nosso sistema político gira em falso. Governa a si mesmo, em vez de governar o Brasil. Presos nessa armadilha, tornamo-nos uma sociedade de vontade fraca, que não consegue canalizar sua energia para o que verdadeiramente importa. Sociedades assim perdem a capacidade de se desenvolver, ainda mais em um contexto internacional, como o atual, em que as disputas se acirram.

A esse quadro preocupante somam-se três crises específicas, mas muito relevantes.

A crise no abastecimento de água, principalmente em São Paulo, onde está nossa maior metrópole, nossa agricultura mais forte e nossa maior concentração industrial.

A crise do setor elétrico, que já se expressa na disparada das tarifas e em apagões sucessivos, e provavelmente exigirá novo racionamento de energia ao longo do ano.

A crise da Petrobras e da engenharia pesada, que – somadas à sua extensa cadeia de fornecedores – representam em torno de 10% do PIB. Ainda desconhecemos os efeitos da contração desses investimentos sobre o conjunto da indústria e o impacto da perda patrimonial desses setores sobre a higidez do sistema financeiro, dos fundos de pensão e de outros investidores institucionais, como o próprio Fundo de Amparo ao Trabalhador. Esse impacto especificamente financeiro, que permanece incubado e despercebido, poderá vir a causar, adiante, um dramático agravamento da crise que está começando.

Esgotaram-se, simultaneamente, a política econômica, a política social e a maneira de fazer política adotadas pelos governos do PT. A rigor, não estamos assistindo apenas ao fim de um ciclo, mas de dois. No olhar de curto prazo, desfaz-se a hegemonia que prevaleceu na política brasileira na última década e, com ela, começa a se desfazer a polarização do país em dois blocos, um liderado pelo PT, outro pelo PSDB, com o PMDB como força pendular.

Em um olhar mais abrangente, estendido no tempo, também chega ao fim o impulso ideológico e institucional que a sociedade brasileira ganhou na década de 80. A maioria do nosso povo já não se reconhece nos partidos, nas organizações da sociedade civil e nos movimentos sociais nascidos ou reestruturados no fim do regime militar, há mais de trinta anos.

A sociedade mudou, e eles envelheceram.

Um ciclo longo da política brasileira está terminando. Entramos em voo cego. Será preciso reconstruir referências, o que não é fácil.

Especialista em fazer o marketing do otimismo sem projeto, Lula foi uma espécie de Eike Batista da política. Também encantou multidões e, com isso, arrastou grande parte da esquerda. Entre os atores políticos, ela será a maior perdedora.

Ao longo da história, a esquerda resistiu a diversas tentativas de aniquilação, vindas de fora para dentro. Ao aderir ao lulismo – que abria aos seus quadros generosas oportunidades de ascensão social, afluência material e poder –, ela se deixou sucumbir por um processo inédito, lento e profundamente corrosivo: a dissolução de dentro para fora, pela perda de seus valores fundamentais.

Embora abrigado em legendas de esquerda, o lulismo sempre foi, na essência, um movimento conservador, que reduziu a ideia de justiça social apenas à dimensão do consumo individual e à conquista de votos a ela associada. O fortalecimento da coisa pública e das instituições republicanas, o desenvolvimento moral, intelectual e cultural das pessoas e o aperfeiçoamento do ambiente social em que se dá a convivência humana – que são essenciais em qualquer projeto progressista – sempre estiveram fora de seu horizonte ideológico.

“Compre mais e vote em mim”, foi tudo o que Lula disse, durante anos, ao povo brasileiro. Na política, ele reorganizou e fortaleceu o antigo Centrão, a articulação do fisiologismo e das oligarquias, que agora controla de novo, com folga, o Congresso Nacional e ameaça engolir de vez todo o poder, num retrocesso que chegou a ser inimaginável depois do fim do regime militar.

Não me surpreende que o lulismo, ao fim e ao cabo, nos deixe como legado uma sociedade mais conservadora do que a que tínhamos doze anos atrás. Ao contrário, parece-me ser o desdobramento natural do que ele é. Ao mesmo tempo, nunca antes tivemos massas humanas tão grandes, tão concentradas e tão carentes de participação, consciência, organização e representação. Essa despolitização ampla, geral e irrestrita é o pior legado da maneira como o PT conduziu a nação na última década. Nesse contexto, em uma situação de crise aguda, tudo pode surgir.

Tempo de crise, tempo de cacofonia. Quem não tem o que propor logo propõe criar novas regras e fazer novas leis, um debate vazio. Regras e leis são sempre burladas, quando não temos capacidade de definir nem mesmo meia dúzia de objetivos comuns que constituam um consenso básico em torno de si.

Mais do que de novas regras, precisamos de novos fins e valores. Isso, as instituições políticas que aí estão, maculadas pelo peso abusivo do poder econômico e pela disseminação do cinismo, não podem nos dar. O conteúdo da política é que precisa mudar.

Nossos políticos tornaram-se camaleões que a cada quatro anos se esforçam para se adaptar ao que a sociedade é, ou parece ser, conforme lhes ensinam as minuciosas pesquisas de opinião que encomendam. Sempre preocupados com os interesses da hora, são incapazes de despertar qualidades novas que estejam latentes.

O futuro que resulta do somatório de suas pequenas ações, fabricadas com sucessivas costuras de curto prazo, é apenas o prolongamento do presente. Não contém o caráter novo de um verdadeiro futuro. Ficamos andando em círculos, sem sair do lugar.

Precisamos encontrar gente nova, organizada de maneira nova, que, em vez de tentar se adaptar ao que a sociedade é, ou parece ser, aceite correr os riscos de anunciar o que ela pode vir a ser, para impulsioná-la.

É de uma discussão de projeto que se trata, e ela exige que tenhamos capacidade de recolocar questões fundamentais. Esse pode ser o melhor legado da crise.

Precisamos abandonar ninharias, como a polarização PT versus PSDB, nos libertar de preconceitos, como os que nos mantêm presos às organizações da esquerda tradicional, e revisitar fundamentos, buscando atualizar uma ideia de Brasil, agora em um cenário de grandes dificuldades.

O tempo está contra nós. Não virá nenhum golpe de Estado, pois ninguém minimamente relevante o deseja, a começar pelas Forças Armadas. Mas, se não reagirmos, poderemos nos tornar um Estado falido e uma nação inviável. Nem a nulidade de Dilma Rousseff, nem a esperteza de Lula, nem o oportunismo dos nossos políticos atuais – feitas algumas exceções de praxe – nos salvarão.

O que escrevi aqui, e muito mais, eu digo há muitos anos à esquerda. Só colhi isolamento e difamação. Não fico feliz em constatar que tinha razão. É pau, é pedra, é o fim de um caminho. Mãos à obra.

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César Benjamin é um cientista político, jornalista, editor e político brasileiro. Durante a Ditadura Militar Brasileira, participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Co-fundador do Partido dos Trabalhadores, foi também filiado ao PSOL, tendo se desligado dos dois partidos. Trecho do artigo ‘É pau, é pedra, é o fim de um caminho’. Revista piauí, nº 103, Abril, p. 16

Merval Pereira - Contas suspeitas

- O Globo

As contas do governo federal, e também as do Partido dos Trabalhadores, estão sob o escrutínio da Justiça, e não há boas notícias pela frente. Na Justiça criminal, o uso de uma gráfica ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para lavagem de dinheiro entre 2010 e 2013 transformou em réus o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT Renato Duque no processo do petrolão.

Na Justiça Eleitoral, devido à revelação "de fatos gravíssimos" relacionados às contas da campanha presidencial de 2014, o ministro Gilmar Mendes, do TSE, "prorrogou por um ano a decisão que obriga que os arquivos eletrônicos da prestação de contas da presidente e do comitê financeiro do PT em 2014 fiquem disponíveis no site do tribunal". E o Tribunal de Contas da União (T CU) enviou para o Ministério Público as conclusões de uma auditoria sobre as chamadas "pedaladas fiscais", para ver se estão caracterizados crimes, que podem definir o crime de responsabilidade da presidente Dilma, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ou de dirigentes de Banco do Brasil e Caixa Econômica. Tanto nas contas anuais quanto nas da eleição de 2014, o PT é acusado de usar gráficas para lavar dinheiro.

A Gráfica Atitude, cujo endereço é o mesmo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, teria sido usada em operações de lavagem de R$ 2,4 milhões. Parte da propina paga para Renato Duque, então diretor de Serviços da Petrobras, foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para a Editora Gráfica Atitude Ltda., a pedido de João Vaccari Neto, então tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT). Com relação à campanha presidencial do ano passado, surgiram indicações de que outra gráfica, a VTPB, teria recebido R$ 22,9 milhões da campanha de Dilma Rousseff para impressão de folhetos, mas no seu endereço não há gráfica nenhuma.

A explicação oficial é que ela servia de distribuidora dos serviços para outras gráficas, que imprimiriam os pedidos do partido, o que está gerando suspeita de lavagem de dinheiro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou também o PT a multa de R$ 4,9 milhões por irregularidades nas contas do partido de 2009. A sanção mais rigorosa, porém, tem a ver ainda com o mensalão. Por ter usado recursos do Fundo Partidário para pagar um empréstimo fictício ao Banco Rural, o PT perdeu o direito de receber dinheiro do Fundo por três meses, o equivalente a R$ 10,6 milhões em valores do ano passado.

Cheiro de Watergate
Em resposta a pedido do "O Estado de S. Paulo", baseado na Lei de Acesso à In formação, a direção da Petrobras informou que foram eliminados os registros em áudio e vídeo das re uniões do Conselho de Administração que trataram de obras que estão sendo investigadas pela Operação Lava-Jato e compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Tudo com a participação da presidente Dilma na presidência do Conselho. A explicação é que o Regimento Interno da estatal autoriza a eliminação dos vídeos depois que as atas das re uniões são aprovadas. A questão é que as atas não re produzem os diálogos e as discussões, descrevendo apenas as decisões tomadas. Não é a primeira vez que os registros, eletrônicos ou não, envolvendo Dilma Rousseff desaparecem.

Quando ela era chefe do Gabinete Civil, foi acusada de ter tido uma reunião com a então secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira e pediu, segundo rela to dela, para "agilizar a fiscalização do filho do senador Sarney". Dilma negou o encontro e não houve registro dele nas agendas nem da Presidência nem da Receita Federal, e o vídeo que supostamente revelaria quem se encontrara com a presidente naquele dia nunca foi encontrado. O presidente dos Estados Unidos , Richar d Nixon, teve que renunciar ao cargo quando se descobriu, no desenrolar do escândalo de Watergate, que parte de uma fita da gravação de suas audiências for a adulterada.

Eliane Cantanhêde - Renan, o sindicalista

- O Estado de S. Paulo

No Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff fica muda (a não ser no escurinho da internet) e o presidente do Senado, Renan Calheiros, é quem está gritando contra Dilma, contra o governo, contra o PT e até contra o "outro PMDB".

É fácil entender o silêncio de Dilma, depois daquele panelaço infernal de 8 de Março, que serviu de convocação para as manifestações do domingo seguinte. Mas não é nada simples entender a tagarelice de Renan. Afinal, o que ele quer? Se a hora é do PMDB, não seria hora de bater de frente nem com o Planalto nem com o partido, certo?

Quanto mais fraca Dilma fica, mais forte se tornam os peemedebistas. O vice-presidente e coordenador político, Michel Temer, e o ministro da Aviação Civil e operador político de fato, Eliseu Padilha, não se contentam mais em dominar a área política do governo, a Câmara e o Senado estão ocupando o poder fisicamente. Como relatou a repórter Tânia Monteiro no Estado, eles estão se deslocando pouco a pouco para o quarto andar do Planalto - que, frise-se, fica "acima" do gabinete presidencial. Se eu fosse Dilma, segurava bem a cadeira.

Dali, Temer e Padilha fatiam pragmaticamente cargos de segundo escalão entre PMDB, PP, PTB, PDT e a enorme base aliada, mas rebelde. O anúncio começa semana que vem, reavivando uma velha regra: quem tem a caneta tem o poder.

Padilha, vice-poderoso do vice-presidente, é aquele que recusou o convite (ou convocação?) de Dilma para ser ministro de Relações Institucionais e, portanto, articulador político. Ao dizer "não" à chefe, argumentou que sua mulher, advogada no Rio Grande do Sul e mãe de um bebê, o proibira de aceitar: "ou ela, ou eu". O que pouca gente sabe é que Dilma ligou para a mulher de Padilha e... ela não atendeu. Não atender a um telefonema da presidente da República, chefe do marido? Pois é.

Voltemos a Renan, que, dizem as más-línguas, também se recusou a atender não a um, mas a dois telefonemas da presidente. Sim, o presidente de um Poder mandou o mordomo dizer à presidente do outro Poder que não estava em casa, ou não podia atender, ou qualquer coisa dessas que a gente diz para operadoras de telemarketing e chatos em geral.

Já seria grave, mas o pior é o novo estilo sindicalista de Renan, sempre de megafone em punho. Num dia, ele cobra uma posição da presidente sobre a terceirização de trabalhadores. No outro, diz que "é ridículo" Dilma não fazer o tradicional pronunciamento de 1.º de Maio por causa de panelaços e "porque não tem o que dizer".

Vários fatores incomodam Renan e o empurram para a oposição: o envolvimento na Lava Jato, as dificuldades do filho no governo de Alagoas, perder o Turismo para o PMDB da Câmara, ficar sob a liderança de Temer/Padilha e assistir ao protagonismo de Eduardo Cunha no Congresso. Ele, porém, tem pouco a lucrar batendo de frente com a presidente, com o Planalto e com o próprio partido. Pode até fazer o jogo do PSDB de enfraquecer ainda mais Dilma e o PT, mas nem pode virar tucano a essa altura, nem cairia tão facilmente nas graças do PSDB.

Logo, Renan virou um franco atirador, mirando na testa de Dilma e espalhando estilhaços em Temer, Padilha e Cunha, na contramão do que os atores políticos fazem freneticamente desde que o governo Dilma queimou a largada, mas sem perspectiva de levar a bandeirada do impeachment: todo mundo só pensa em 2018.

Renan, ao contrário, parece desprezar o amanhã e só se concentrar no hoje. Não se encaixa nos diferentes cenários do PSDB e está se inviabilizando tanto no "volta Lula" quanto numa candidatura própria do PMDB ao Planalto. Aparentemente, ele desperdiça sua munição com Dilma, que não significa opção de poder em 2018 e que, se aguentar os próximos quatro anos, já pode se dar por satisfeita.

Educação. No dia do Trabalho, viva aos professores!

Bernardo Mello Franco - Renan e o fisiologismo

- Folha de S. Paulo

Em um Congresso praticamente vazio, que manteve a tradição de se antecipar aos feriados, o senador Renan Calheiros surpreendeu nesta quinta ao incluir o vice-presidente Michel Temer na mira de sua metralhadora giratória.

Renan bateu duro no novo coordenador político do governo, responsável pela partilha da máquina entre aliados. O senador acusou Temer de atuar como "articulação de RH, para distribuir cargos e boquinhas". "O pior papel que o PMDB pode fazer é substituir o PT naquilo que ele tem de pior, que é o aparelhamento do Estado", disparou.

Toda crítica ao fisiologismo é bem-vinda em um país cujo governo mantém 38 ministérios e mais de 22 mil cargos comissionados para saciar o apetite de políticos. O curioso é ouvir esse discurso da boca de Renan, reconhecido como um exímio praticante do toma lá, dá cá.

O alagoano sempre esteve próximo do Planalto. Foi líder de Collor, ministro da Justiça de FHC e presidente do Senado nas gestões Lula e Dilma. Atuou como fiel escudeiro dos petistas, que retribuíram a fidelidade com favores e nomeações.

O fim da lua de mel coincidiu com a demissão de seu afilhado Vinicius Lages do Ministério do Turismo, há duas semanas. Ele perdeu o cargo para dar lugar a outro peemedebista, Henrique Eduardo Alves, próximo ao deputado Eduardo Cunha.

Inconformado com a troca, Renan recusou ofertas no segundo escalão e empregou Lages no Senado. Foi como assessor parlamentar que o ex-ministro ouviu nesta quinta, discretamente, o novo discurso do chefe.

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Até outro dia, a oposição acusava Dilma de abusar dos pronunciamentos em cadeia nacional. Neste 1º de Maio, devia mudar de tática e constrangê-la a mostrar a cara na TV.

Nessa, Renan tem razão: a presidente só cancelou o pronunciamento porque teme outro panelaço e não tem nada a dizer aos trabalhadores.

Míriam Leitão - Boa batalha

- O Globo

Muito boa a decisão do Congresso de aprovar o fim do sigilo em empréstimos do BNDES. Por que motivo o banco deveria esconder do distinto público pagante o que ele faz com o dinheiro que é seu, meu, nosso? Nunca fez sentido a opacidade do BNDES. É banco estatal, recebeu nos últimos seis anos R$ 500 bilhões de dívida pública e deve, portanto, prestar contas ao contribuinte.

A proposta, que já foi aprovada na Câmara e no Senado, e agora vai à sanção presidencial, propõe a quebra do sigilo de todas as operações do BNDES. O governo se prepara para vetar. Usará o argumento de que é inconstitucional porque fere o sigilo bancário, que foi estabelecido por lei complementar, e não poderia, portanto, ser suspenso por uma medida provisória. Mas os defensores da ideia já consultaram juristas que dizem que, se não está na Constituição, pode sim ser mudada por lei ordinária. Vai ser uma grande batalha, mas ajudará o país a ter mais informação sobre o uso do dinheiro público. Na Comissão de Relações Exteriores do Senado, foi aprovada outra proposta que suspende o segredo nos empréstimos externos.

A iniciativa do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, está claramente endereçada aos financiamentos para a construção do Porto de Mariel, em Cuba. Mesmo que a proposta tenha nascido da briga política natural entre governo e oposição, ela vem em boa hora. É incompreensível o motivo que leva o BNDES a não esclarecer os critérios do crédito feito para Cuba: taxas de juros, prazos e garantias. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem tido particular dificuldade em fiscalizar o BNDES. O órgão teve que entrar na Justiça para ter acesso a informações do banco. Ganhou na primeira e na segunda instâncias e agora o assunto foi para o Supremo Tribunal Federal (STF) e está na mesa do ministro Luiz Fux para decisão. É espantoso que o TCU tenha que recorrer ao Supremo para fiscalizar um banco cuja única fonte de financiamento é o dinheiro público. O sigilo em relação às operações com empresas também é questionável.

O BNDES não é banco comercial, e o dinheiro é emprestado a juros subsidiados. Ele recebe recursos do Tesouro de diversas formas. Uma delas é como equalização de juros. Ele empresta dentro de um programa específico, a juros baixos, e depois recebe re cursos do Tesouro para cobrir o diferencial de juros. Por que mesmo isso tem que ser secreto? — Não há transparência alguma nessa relação entre BNDES e Tesouro. E é uma relação complexa. O Tesouro, quando transfere recursos para o banco, emite um título. Esse papel fica em carteira do BNDES. Então, um se torna credor do outro. O Tesouro, porque emprestou. O BNDES, porque é detentor de um título emitido pelo Tesouro. Até 2007, o banco tinha R$ 1 bilhão nesses papeis; agora, tem R$ 80 bilhões. Isso significa que a instituição financeira está ganhando juros de mercado e pagando apenas TJLP — diz o economista Mansueto de Almeida, que é especialista em contas públicas.

Ele explica que quando o banco foi perguntado pelas razões de ter R$ 80 bilhões em títulos públicos, com os quais apenas fica ganhando dinheiro em cima do Tesouro, o BNDES respondeu que precisa de um colchão de liquidez. Se tem um colchão tão alto, ele não precisa de novos repasses do governo, como recebia até recentemente. Alguns desses papeis são para vencimento no curto prazo, apenas para que a instituição ganhe os juros. O BNDES ganha, primeiro, porque recebe os empréstimos e, segundo, porque os recursos chegam através de títulos sobre os quais recebe juros. Isso sem falar no dinheiro de transferência, como a equalização. E ele não informa quais são os critérios adotados nessas concessões dos empréstimos e em que condições fez a operação de crédito.

O banco é muito refratário a toda essa discussão e tem sido visto, com razão, como uma caixa preta. A pressão do TCU e do Congresso para que a instituição preste mais informações é uma batalha democrática. Em uma sociedade aberta, não faz sentido tanto sigilo em torno de operações de crédito de um banco estatal, sem concorrentes, e que empresta com recursos públicos. A presidente Dilma terá que ficar com o ônus de tentar impedir que o contribuinte saiba o que é feito com o dinheiro dele.

Marta Suplicy - Sonhos

- Folha de S. Paulo

Vi uma propaganda na TV: "Todo mundo tem sonhos. Depende de cada um o que se faz com eles". A propaganda era de automóvel. Os sonhos variam. Vão do consumismo utilitário, podem passar pela casa própria, por cursar uma faculdade, pelo casamento deste ou daquele jeito. Passam também por mudar um país, o mundo, ajudar os outros, agradar aos pais, ser famoso... Tem de tudo.

Podem persistir uma vida inteira, ser largados no meio do caminho, ser reajustados ou trocados. Quem não tem sonho não tem projeto. Vive ao largo da própria vida. A diferença está na dificuldade da conquista do sonho e a determinação em conquistá-lo.

Saindo do PT lembrei de Erundina e Marina, que me precederam. Quais foram seus sonhos e o que temos de parecidas? A determinação, a coragem e coerência no processo é uma certeza que tenho sobre nós três.

O que também nos une é que não abaixamos a cabeça ao partido, nos rebelamos com acordos espúrios ou injustos... E fomos buscar nossos caminhos levando os mesmos princípios e, por que não dizer, sonhos que nos encontraram no início da jornada.

Os meus sonhos de infância e juventude eram bem pueris: ajudar os pobres. As cores tinham o colorido da culpabilidade assimilada no colégio de freiras. E eu queria fortemente fazer o bem e contribuir para melhorar o mundo.

Esta ideia, ainda vaga, se confirmou quando escolhi estudar psicologia, "para ajudar as pessoas". E se consolidou quando tomei a decisão de aceitar fazer na TV um programa sobre comportamento sexual, para escândalo do meu pai, mas com apoio familiar.

O passo seguinte foi uma forte atração por um partido novo, que defendia a ética na política, a justiça social, gays e mulheres. Tudo que era meu sonho para um país e um mundo mais justo!

Fui ao encontro da fundação do partido no colégio Sion e meses depois me filiei. Militei até esta semana dando o melhor de mim para construção do sonho deste "mundo melhor", que desmoronou paulatinamente nos últimos anos. É difícil aceitar o que já se percebe pois o investimento de paixão pelo sonho, companheirismo, realizações, sem esquecer o mecanismo de negação, são muito fortes.

Chega um momento que não dá mais e se arruma coragem de fazer o que se percebe como caminho da coerência.

Assim, em busca da realização de meus sonhos, fui deputada e prefeita e hoje sou senadora. Fiz coisas de que me orgulho, mas também cometi erros. Hoje, mais madura, tenho a humildade de reconhecer isso. O importante é que procurei aprender com eles. Nunca deixei de sonhar e para o futuro recordo o poeta Antonio Machado ao dizer que "o caminho se faz ao caminhar".

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Marta Suplicy é senadora (Sem partido)

Nelson Motta - A burrice vence a esperteza

• Mais do que impeachment ou novas eleições, a reforma que o Brasil mais precisa é instituir a meritocracia

- O Globo

O recente balanço do desastre da Petrobras é a prova contábil e irrefutável de uma triste verdade brasileira: a incompetência, a má gestão ou a simples estupidez, mesmo movidas pelas melhores intenções, dão mais prejuízos do que o roubo e a corrupção. Na devastação da Petrobras, a burrice irresponsável venceu a esperteza criminosa por 41 a 6 bilhões de reais. O que é o rombo da corrupção perto dos prejuízos que os não ladrões despreparados e incompetentes, e os que os nomearam, deram à empresa?

É o resultado de uma política de ocupação de cargos de alta importância e responsabilidade por quem tem como única credencial a lealdade ao partido ou a militância sindical.

Assim como na ditadura esses cargos eram ocupados por militares, que nada entendiam daquelas atividades, mas tinham a confiança de seus superiores de que não roubariam e não abrigariam inimigos da revolução, Lula deu a mesma função e prestigio aos sindicalistas.

O que um bancário sindicalista que luta por aumentos, participações nos lucros, hora extra, semana de 40 horas e, sobretudo, odeia visceralmente a instituição “banco” (sonha ver todos estatizados) pode entender dos complexos negócios de um banco numa sociedade de mercado?

Militância no sindicato dos petroleiros dá a alguém competência e condições técnicas para administrar grandes estruturas de exploração, refino e comércio internacional de petróleo? A resposta está no balanço da Petrobras.

Essa é uma das mais malditas heranças de Lula, a “sindicalização” do país, abrigando companheiros onde não estavam qualificados, reduzindo a politica à lógica — e à ética — das eleições sindicais, e à função, legítima e necessária, de um sindicato: conseguir mais e melhor para os seus companheiros. Faz sentido.

Mas um país não é um sindicato. Nem pertence a um partido. A mais maldita das heranças do PT é o aparelhamento das estatais para um projeto de poder que teve na Petrobras o seu melhor e pior exemplo.

Mais que um impeachment ou uma alternância de poder numa eleição livre e democrática, a reforma que o Brasil mais precisa é instituir a meritocracia.

A herança da irresponsabilidade – Editorial / O Estado de S. Paulo

O governo terá muito trabalho e os brasileiros, muito aperto, ainda, até o País se livrar da herança de quatro anos de irresponsabilidade e incompetência na gestão das contas públicas. O buraco no balanço geral do setor público chegou a R$ 435,7 bilhões nos 12 meses terminados em março, um déficit equivalente a 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para o período. Sete anos depois do início da crise global, a maior parte dos países mais afetados sai do atoleiro, volta a crescer e exibe finanças públicas em recuperação. O Brasil continua na contramão e a única boa notícia é o esforço da nova equipe econômica para corrigir o rumo.

No fim de 2014, o déficit nominal do setor público brasileiro - o dado mais amplo, incluído o pagamento de juros - chegou a 6,2% do PIB. A média da América Latina foi um resultado negativo de 4,9%. A dos emergentes do Grupo dos 20 (G-20), um déficit de 2,6%. A da zona do euro, 2,7% no vermelho. O saldo da Espanha, um dos países europeus em pior situação, foi um rombo de 5,8%. O resultado deficitário dos Estados Unidos ficou em 5,3%.

Na maior parte dos países desenvolvidos, emergentes e em desenvolvimento a economia cresceu mais que no Brasil e a inflação foi muito menor. Esse descompasso se mantém e, segundo todos os indícios, deve continuar em 2015. Há esperanças de melhora em 2016, se os ajustes avançarem, mas o reparo dos danos está no começo e ainda haverá muita oposição à política de austeridade.

O governo prometeu para este ano um superávit primário de R$ 66,3 bilhões, correspondente, na projeção original, a 1,2% do PIB. Pelo novo cálculo das contas nacionais, o produto deve ser um pouco maior que o estimado inicialmente e aquela proporção ficará reduzida a 1,13%. Será necessário algo mais, portanto, para alcançar a meta porcentual. Mas nem os R$ 66,3 bilhões serão alcançados facilmente.

No primeiro trimestre, o superávit primário, dinheiro destinado ao pagamento de juros, ficou em R$ 19 bilhões, o menor saldo para esse período a partir de 2009. A maior parte desse resultado foi garantida pelos governos regionais, com um saldo primário de R$ 14,6 bilhões. As estatais tiveram um déficit de R$ 481 milhões e o governo central - Tesouro, Previdência e Banco Central - contabilizou um excedente de R$ 4,9 bilhões. O resultado do governo central foi prejudicado pelo déficit de R$ 18 bilhões da Previdência.

Nos próximos meses, o balanço geral do setor público dependerá principalmente da correção das contas do governo central. As administrações estaduais e municipais terão menos espaço para ajuste, por causa da baixa atividade econômica, e, além disso, os maiores desarranjos estão na área federal, a mais afetada, nos últimos anos, pela gastança, pela distribuição de benefícios tributários a setores selecionais e pelos truques contábeis, como as famosas pedaladas - atrasos de transferências e pagamentos.

O acerto das finanças federais será especialmente complicado num período de negócios em marcha lenta. Em março, a receita líquida do governo central, de R$ 82,6 bilhões, foi 3,3% maior que a de um ano antes, descontada a inflação, mas a despesa foi 5,7% superior à do mês correspondente de 2014. No trimestre, a receita líquida, de R$ 255,6 bilhões, ficou 2,9% acima da contabilizada no ano anterior, enquanto a despesa, de R$ 251,1 bilhões, superou por 6,8% a dos primeiros três meses do outro ano. O gasto com pessoal aumentou 5,6% e o Tesouro tem cortado investimentos.

O ajuste inclui a redução ou eliminação dos benefícios concedidos como parte da chamada política contracíclica. Os incentivos foram um desperdício, porque a economia se arrastou a partir de 2011. Mas o governo talvez precise ir além no aperto tributário, como indicou o ministro da Fazenda. Com os juros altos, por causa da inflação, a retomada dos negócios será ainda mais difícil, assim como o aumento da arrecadação. Mas tudo ficará pior, se o ajuste fracassar e a nota de crédito do País for rebaixada. Não há alternativa ao ajuste. O quadro poderá melhorar, nos próximos meses, se a confiança for restaurada e o investimento em infraestrutura crescer.