segunda-feira, 16 de março de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado. Por isso, não vamos nos dispersar!

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Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Manifestações contra Dilma levam multidão às ruas do País

• É o maior protesto político no Brasil desde as Diretas-Já; ministros vão à TV, prometem medidas anticorrupção e são alvo de novo panelaço; para presidente, situação é pior do que em junho de 2013

O Estado de S. Paulo

Uma multidão foi neste domingo, 15, às ruas para protestar contra a presidente Dilma Rousseff, dois meses e meio após ela dar início ao segundo mandato numa acirrada disputa com o PSDB, principal adversário político do PT. Os manifestantes pediram o fim da corrupção, reclamaram da situação econômica e defenderam o impeachment da presidente. Uma minoria falou em intervenção militar. O antipetismo foi a marca comum entre todos os grupos que decidiram protestar.

Segundo o instituto Datafolha, essa foi a maior manifestação política registrada no Brasil desde o movimento das Diretas-Já, em 1984. Em São Paulo, a Avenida Paulista foi praticamente toda tomada. Grupos organizados discursaram de carros de som para um público predominantemente vestido de verde e amarelo. Políticos de oposição até participaram dos protestos, mas preferiram ficar à margem, sem comandar palavras de ordem. Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), principais adversários de Dilma em 2014, comemoraram a mobilização via rede social.

O governo foi surpreendido com a quantidade de gente que foi às ruas. Dilma chegou a afirmar a auxiliares que as manifestações deixam a situação política “mais complicada” do que em junho de 2013, quando uma série de protestos derrubaram a popularidade da presidente. Para dar uma resposta formal aos atos de ontem, Dilma escalou dois ministros para falar com a imprensa. Enquanto seus discursos eram transmitidos por programas de TV, várias capitais voltaram a repetir o panelaço de domingo da semana passada.

'2 milhões'. Os protestos contra o governo Dilma Rousseff ao longo do domingo foram realizados em todos os 26 Estados e no Distrito Federal.

Houve manifestações em repúdio à gestão petista nas capitais e em, ao menos, 185 cidades do País. Atos, bem mais tímidos, também foram realizados em Nova York, Londres, Paris e Buenos Aires.

Segundo informações oficiais das Polícias Militares dos Estados, no mínimo, 1,950 milhão de brasileiros foram às ruas, a maioria vestida de verde e amarelo e com cartazes pedindo impeachment, renúncia da presidente e até mesmo a intervenção militar.

Em São Paulo, a Polícia Militar calculou cerca de 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista por volta das 15 horas, momento de maior concentração no local. Nota da corporação informou ter estimado a presença de cinco manifestantes por metro quadrado na avenida e ruas adjacentes.

De acordo com o Datafolha, o evento reuniu 210 mil participantes no local. Se levado em conta o histórico de levantamentos do instituto, o ato político de ontem foi o maior já realizado desde o movimento pelas eleições diretas, em 1984, quando cerca de 400 mil pessoas, ainda de acordo com dados do Datafolha, se reuniram no centro de São Paulo.

Na sexta-feira, o ato pró-governo e em defesa da Petrobrás, organizado pelas centrais sindicais e por movimentos sociais na Avenida Paulista, reuniu, segundo a PM, número aquém de participantes ao registrado pelo Datafolha. Enquanto os policiais estimaram o público em 12 mil pessoas, o instituto de pesquisa falou em 41 mil.

Outras capitais. Capitais como Vitória e Porto Alegre chegaram à marca de 100 mil manifestantes, segundo as PMs locais, superando até mesmo a expectativa da organização. Em Curitiba, foram calculadas 80 mil pessoas. E em Goiânia, 60 mil.

Tradicional reduto do PT, o Nordeste teve passeatas nas nove capitais da região. Cerca de 75 mil nordestinos, segundo a PM, participaram dos protestos.

Democracia tem novo 15 de março

Dois milhões nas ruas

• Trinta anos depois da data que marcou a redemocratização, brasileiros protestam contra a presidente Dilma e o PT; manifestações pacíficas ocorrem em todos os estados e no Distrito Federal

- O Globo

A volta dos protestos

Com menos de três meses de seu segundo governo, Dilma Rousseff foi alvo ontem da maior série de protestos enfrentada por um presidente desde as passeatas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. As manifestações levaram ao menos dois milhões de pessoas às ruas, de acordo com estimativas oficiais, número que surpreendeu o governo. Na maior delas, em São Paulo, um milhão de pessoas tomaram a Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar, no maior ato contra o governo. Todos os 26 estados, além do Distrito Federal, foram palco de protestos.

Os protestos aconteceram exatamente 30 anos depois da posse de José Sarney no Palácio do Planalto, pondo fim a um regime militar que durou 21 anos. Por essa razão, o 15 de março de 1985 tornou-se o marco da redemocratização.

No 15 de março de 2015, os atos tiveram como mote central das críticas ao governo Dilma. Muitos pediram o impeachment da presidente, mas não todos. Sobraram críticas ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsabilizados por alguns participantes por escândalos de corrupção como o revelado pela Operação Lava-Jato, na Petrobras. Alguns pediram uma intervenção militar como forma de solucionar a crise no país, mas esses grupos eram pequenos.

Em sua maioria, os manifestantes vestiam verde-e-amarelo, em contraste com os protestos de sexta-feira, em favor do governo, onde a cor vermelha, usada nas bandeira dos sindicatos, predominou. Na sexta-feira, o público foi estimado pela Polícia Militar em 33 mil.

A grande maioria das manifestações de ontem ocorreu de foram pacífica. O principal incidente foi registrado em Jundiaí, onde a sede do PT na cidade foi incendiada. Em São Paulo, 20 integrantes do grupo batizado de Carecas do Subúrbio foram presos com morteiros e um soco inglês. Eles foram hostilizados pelos demais manifestantes, que os acusaram de tentar tumultuar um ato pacífico.

Todas as capitais nordestinas, região onde Dilma venceu a eleição do ano passado com folga, tiveram protestos. Em Fortaleza, 20 mil pessoas foram às ruas. Atos expressivos também foram registrados em Porto Alegre (100 mil), Curitiba (80 mil) e Goiânia (70 mil). No Rio de Janeiro, milhares foram à Avenida Atlântica, em Copacabana, muitos com rostos pintados, lembrando os caras-pintadas que, em 1992, exigiam a saída de Collor.

A adesão em massa pegou de surpresa o governo. Após reunião emergencial, a presidente Dilma escalou os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), que anunciaram medidas em resposta às ruas, entre elas a reforma política. Enquanto eles falavam, foram registrados panelaços nas principais capitais.

O Movimento Brasil Livre, um dos que organizou os protestos de ontem, já está convocando na internet novos atos para 12 de abril.

‘Fora, Dilma’ reúne 210 mil em São Paulo e multidões no país

Multidão vai às ruas contra Dilma e assusta o governo

• SP tem maior protesto após as diretas - Manifestações atingem todo o país - Governo enfrenta panelaço de novo

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Protestos contra a presidente Dilma Rousseff levaram uma multidão às ruas das maiores cidades do país neste domingo (15). Os manifestantes fizeram uma vigorosa demonstração de sua insatisfação com Dilma e o PT, partido que governa o país desde 2003. Muitos defenderam o impeachment da presidente.

Em São Paulo, o protesto atraiu 210 mil pessoas para a avenida Paulista, segundo cálculos feitos pelo Datafolha. Foi a maior manifestação política da capital após a campanha das Diretas Já, em 1984. O verde e o amarelo predominaram nas roupas dos que foram às ruas.

Houve protestos em 153 cidades, incluindo as capitais de todos os Estados e Brasília. Estimativas feitas pela Polícia Militar nos Estados ao longo do dia, com critérios menos confiáveis que os do Datafolha, sugerem que as manifestações atraíram 1 milhão de pessoas em São Paulo e cerca de 1,7 milhão nas capitais.

No início da noite, o governo enfrentou novo constrangimento. Moradores de São Paulo e outras cidades foram às janelas de seus apartamentos vaiar, gritar e bater panelas ao ver na televisão o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, destacados pela presidente para comentar as manifestações e defender o governo em entrevista coletiva.

Organizados por vários grupos nas redes sociais, os protestos tiveram reduzida participação de políticos. Líderes partidários foram impedidos de discursar. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que perdeu para Dilma a eleição de 2014, apareceu na janela do seu apartamento no Rio e divulgou um vídeo na internet. "Não vamos nos dispersar", pediu.

Na entrevista à noite, Cardozo disse que as manifestações são expressão de espírito "democrático" e que o governo está disposto a "ouvir quem nos critica e quem nos apoia". Os dois ministros defenderam reformas no sistema político e disseram que vão apresentar em breve um pacote anticorrupção, promessa feita por Dilma na campanha de 2014.

Nas ruas, contra o governo Dilma

Zero Hora ( RS)

SÃO PAULO - Em uma das maiores manifestações da história do Brasil, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas contra o governo Dilma. Em São Paulo, foram mais de 1 milhão na Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar. Em Brasília, 45 mil na Esplanada dos Ministérios. Em Porto Alegre (foto), onde a BM estimou 100 mil manifestantes, a mobilização começou no Parcão e se espalhou por avenidas como Osvaldo Aranha e Goethe, chegando à Redenção. Em resposta à mobilização popular, os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto prometeram um pacote anticorrupção. Panelaços foram ouvidos em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e no Rio durante o pronunciamento do Planalto.

Manifestações críticas a Dilma mobilizaram centenas de milhares de pessoas em pelo menos 150 cidades em todos os Estados brasileiros e no DF

Menos de cinco meses depois de vencer a eleição presidencial mais apertada da história, Dilma Rousseff viu-se ontem na condição de alvo de uma das maiores mobilizações populares que o Brasil já testemunhou. Da manhã à noite, brasileiros saíram às ruas em mais de 150 cidades para manifestar repúdio à presidente e a seu governo, associando-os ao bilionário escândalo na Petrobras. Os atos, registrados em todas as unidades da federação, teriam reunido, segundo estimativas das polícias militares, cerca de 1,8 milhão de pessoas – mobilização comparável às de junho de 2013 e superior às da última sexta-feira, promovidas por grupos de apoio ao governo.

Em meio à crise econômica e às desconfianças éticas que derrubaram os índices de aprovação da presidente, os gritos de "Fora Dilma" ecoaram de Sul a Norte, com respingos até em cidades do Exterior, como Nova York, Miami, Londres e Buenos Aires. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes que cantaram o Hino Nacional, exibiram faixas e cartazes com ataques à presidente e ao PT e pediram o fim da corrupção. A bandeira nacional apareceu em muitas janelas, e buzinaços saudaram a passagem de passeatas. No Twitter, 100 mil mensagens sobre o assunto foram postadas a cada hora.

Uma parcela considerável dos manifestantes reivindicava o impeachment da presidente, trazendo à lembrança o movimento popular de 1992 que ajudou a apear Fernando Collor de Mello do poder.

– Somos milhares de pessoas que pedem o impeachment. O governo está numa situação lamentável – afirmou, em São Paulo, Rubens Nunes, do Movimento Brasil Livre.

Outros grupos, ainda mais radicais, pediram uma intervenção militar para derrubar a presidente.

– Quero os militares. Com impeachment, não haverá limpeza. Os militares têm seriedade e hierarquia – defendeu, em Belém (PA), a gestora em saúde Flávia Moura, 33 anos.

Os protestos começaram ainda pela manhã, mas atingiram seu ápice no meio da tarde, quando a Polícia Militar estimou em cerca de um milhão o total de manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo – o Instituto Datafolha, no entanto, calculou o total de presentes em 210 mil.

Depois de São Paulo, epicentro do antipetismo e baluarte do PSDB, Porto Alegre foi, conforme as estimativas oficiais, a cidade que mais reuniu descontentes. Segundo a Brigada Militar, cerca de 100 mil pessoas protestaram na capital gaúcha.

Na segunda maior metrópole brasileira, o Rio de Janeiro, a polícia calculou em 15 mil os participantes – segundo os organizadores, foram 50 mil. O principal líder da oposição, Aécio Neves (PSDB), candidato derrotado por Dilma no segundo turno da eleição presidencial, não saiu à rua, mas tratou de se mostrar solidário aos protestos. Deixou-se fotografar na janela de seu apartamento, na orla do Rio, com uma camiseta da Seleção – uniforme adotado por muitos manifestantes – e publicou um vídeo de apoio no Facebook. Segundo Aécio, o 15 de março será lembrado como o "dia da democracia":

– Depois de refletir muito, optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista dessas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção.

Em reação, Planalto propõe medidas anticorrupção
Em Brasília, os manifestantes – 40 mil, segundo a Polícia Militar (PM), e 100 mil, conforme os organizadores – concentraram-se pela manhã em frente ao Congresso Nacional. Munidos de vassouras e sabão, eles lavaram as calçadas do parlamento. Protestos e marchas também ocorreram em cidades como Belém (50 mil pessoas, segundo a PM), Campinas (35 mil pessoas), Belo Horizonte (24 mil ), Fortaleza (15 mil), Salvador (7 mil) e Recife (5 mil). Em Jundiaí, no interior paulista, a sede local do PT foi incendiada.

Em comparação com os protestos de 2013, os atos de ontem chamaram atenção pela organização e estrutura. Em diversas cidades, houve distribuição de adesivos, vuvuzelas, camisetas e flores. Em São Paulo, nove carros de som foram espalhados ao longo da Avenida Paulista – três deles ligados a grupos que pregam uma intervenção militar. Em Brasília, o funcionário público João Carlos de Souza, envolvido na organização do protesto, disse que houve apoio financeiro de "importantes empresários do Distrito Federal".

Enquanto os protestos ocorriam pelo país e ganhavam repercussão internacional, Dilma permaneceu no Palácio da Alvorada, onde reuniu-se com ministros e assessores. Ela discutiu o lançamento de um pacote anticorrupção para aplacar a voz das ruas. No começo da noite, os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, concederam entrevista coletiva sobre os atos populares.

– O governo, que tem clara postura de combate à corrupção, que ao longo desses últimos tempos tem criado mecanismos que propiciam as investigações com autonomia, irá anunciar algo que já era promessa eleitoral: um conjunto de medidas de combate à corrupção e à impunidade. A postura do governo é de que sua posição não se limite a essas medidas. Estamos abertos ao diálogo – disse Cardozo.

Brasileiros protestam em todas as regiões do país

- Diário de Pernambuco

Vestidos de verde e amarelo, brasileiros de 15 estados foram às ruas neste domingo (15) em protestos contra o governo. A principal reclamação da população é contra a corrupção, mas alguns grupos também pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a intervenção militar.

A maior movimentação aconteceu em São Paulo, onde cerca de 1 milhão de pessoas, segundo contagem da Polícia Militar, e 210 mil, segundo o Datafolha, tomaram a Avenida Paulista. No Recife, segundo a PM, 8 mil pessoas marcaram presença no evento organizado pelos grupos apartidários Vem pra Rua e Estado de Direito.

Em Brasília, cerca de 50 mil pessoas se concentraram na Esplanada dos Ministérios e seguiram para o Congresso Nacional. Após horas de manifestação pacífica um grupo tentou chegar ao Palácio do Planalto e teria jogado pedras na polícia, que reagiu com bombas de efeito moral. Uma pessoa ficou ferida.

Em Belo Horizonte, a Praça da Liberdade foi o local de encontro dos 24 mil mineiros que participaram do ato. No Rio de Janeiro foi a praia de Copacabama, na Zona Sul, que recebeu cerca de 15 mil manifestantes durante a manhãm, segundo contagem inicial da PM, que não atualizou o número depois. Durante o ato, as duas pistas da Avenida Atlântica foi fechada. À tarde um novo protesto começou no centro da cidade, na Igreja da Calendária. Os manifestantes usaram carros de som para criticar o governo e a corrupção e alguns cantaram hinos do Exército Brasileiro, defendendo a volta dos militares ao poder.

Em Porto Alegre a Brigada Militar do Rio Grande do Sul estima que cerca de 100 mil pessoas participaram dos atos que aconteceram no Parcão, no bairro Moinhos de Vento e no Parque da Redenção. Também no Sul, em Curitiba, 80 mil pessoas se reuniram na Praça Santa Andrade, de onde sefuiram para o Centro Cívico.

Em Goiânia, 60 mil pessoas marcaram presença nos atos que ocorreram na Praça Tamandaré e o Parque do Areião, no percurso de 4 quilômetros. Em Capinas, estima-se que 15 mil pessoas estiveram presentes na manifestação.

No Rio, uma Copacabana verde e amarela

• De camarote. Moradores da Avenida Atlântica saúdam os manifestantes

- O Globo

Uma multidão pacífica tomou ontem de manhã orla de Copacabana em protesto contra o governo, a corrupção e o PT. Com os rostos coloridos de verde e amarelo, lembrando o movimento pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, em dezembro de 1992, os manifestantes ocuparam a Avenida Atlântica, com faixas e cartazes. Eram festejados por moradores dos prédios, que acenavam e exibiam bandeiras do Brasil.

O comando da PM não deu uma avaliação oficial de presentes. Policiais militares avaliaram entre 20 mil a 25 mil o número de participantes, por volta de 10h. Organizadores estimaram em 100 mil.

O protesto começou por volta das 9h30m na altura do Posto 5, com dois carros de som e sem bandeiras de partidos políticos. Na trilha sonora, paródias e músicas de Gonzaguinha, Cazuza, Geraldo Vandré, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Ultraje a Rigor.

Palavras de ordem como "a pátria jamais será vermelha", "o PT roubou" e "fora Dilma" eram intercalados com o Hino Nacional e vaias ao governo. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), único político notado na multidão, foi impedido de subir num carro de som e acabou vaiado.

- Eu disse que não queria falar, mas eles insistiram. Não posso ser unanimidade - afirmou o deputado.

Na companhia de artistas e famosos, como a atriz Regina Duarte, o ator Márcio Garcia e o humorista Marcelo Madureira, o príncipe João Henrique de Orleans e Bragança, da família real brasileira, engrossou o coro contra a corrupção.

No fim do protesto, foi puxado um coro de impeachment. Os organizadores informaram que os carros de som foram bancados por uma vaquinha entre os grupos que convocaram o ato. Segundo a PM, não houve ocorrências relevantes. Mais tarde, no Centro, cerca de duas mil pessoas protestaram, segundo a Guarda Municipal; oito mil, segundo os organizadores

Todas capitais do Nordeste têm atos

• Região é onde presidente teve mais votos: Força de protestos surpreende organização no Sul e Porto Alegre reúne 100 mil pessoas

O Estado de S. Paulo

Reduto eleitoral do PT, o Nordeste assistiu neste domingo, 15, a manifestações em todas as capitais da região. Com baixa adesão, porém, em relação ao restante do País, os protestos reuniram cerca de 75 mil pessoas nas ruas de Estados onde a presidente Dilma Rousseff recebeu até 78% dos votos válidos em outubro.

Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes gritaram “Fora Dilma”, com pedido de impeachment ou renúncia e até mesmo de intervenção militar.

Em Teresina, 4 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, chegaram a “velar” Dilma e o PT na Avenida Marechal Castelo Branco. “Esta é uma manifestação popular. O povo quer ir às ruas para ser ouvido e mostrar sua indignação. A nossa intenção é acabar com a corrupção”, disse Lúcia Santos, presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí.

O mesmo tom de repúdio ao PT e à presidente foi visto na manifestação de João Pessoa, onde 1,5 mil pessoas, segundo a PM, se concentraram na Praia de Tambaú. “Avaliamos (o ato)como positivo e queremos que isso não pare por aqui. Precisamos de respostas, e o Brasil precisa mudar”, disse Maurício Albuquerque, do Movimento Brasil Livre (MBL).

Duas manifestações reuniram, segundo a PM, 10 mil pessoas em Salvador. O movimento atraiu famílias inteiras, idosos e também crianças. O advogado Carlos Augusto Costa, de 62 anos, levou a mulher, três filhos – dois deles com as mulheres – e dois netos, um menino de 8 e uma menina de 5 anos. “É importante envolver a família nesse tipo de manifestação, incentivar a cidadania.”

Outras regiões. No Sul, onde Dilma teve votação menos expressiva, a força da manifestação surpreendeu. “Sendo otimistas, pensávamos em 60 mil nas ruas”, disse Fábio Ostermann, um dos líderes do MBL em Porto Alegre, onde, segundo a Brigada Militar, havia 100 mil pessoas entre os Parques Moinhos de Vento (Parcão) e o Farroupilha (Redenção). “Isso nunca foi visto aqui no nosso Estado em termos de participação do povo”, disse o aposentado José Luiz Teixeira.

A reforma política também pautou os discursos. “Deveríamos começar do zero, fazer uma reforma política a partir disso, não podemos mais conviver com essa corrupção”, disse o manifestante Marco Romero, de Curitiba. Na capital paranaense, foram 80 mil pessoas, segundo a PM, em ato entre a Praça Santos Andrade e a Boca Maldita.

Em Belo Horizonte, onde 24 mil se concentraram na Praça da Liberdade, segundo a PM, o fisioterapeuta André Luís Bernadeli, de 38 anos, levou a família para protestar. “O momento é de indignação com o que acontece no Brasil”, disse.

Sob gritos de “Fora Dilma” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”, 15 mil pessoas, segundo a PM, ocuparam a orla de Copacabana, no Rio. “Pouco me importa quem vai ser o presidente, desde que não seja do PT”, disse o engenheiro Mauricio Cruz, de 57 anos.

A Esplanada dos Ministérios recebeu 45 mil pessoas, segundo a PM. A presidente ficou isolada no Palácio do Alvorada. A servidora pública Fabiane Freitas disse que “ela nunca tem conhecimento de nada, nunca sabe de nada”. / MURILO RODRIGUES ALVES, ANDRÉ BORGES, ADRIANA FERNANDES, EDUARDO RODRIGUES, ANGELA LACERDA, FELIPE WERNECK, ROBERTA PENNAFORT, CLARISSA THOMÉ, VINICIUS NEDER, TIAGO DÉCIMO e JANAÍNA ARAÚJO, LUCIANO COELHO, LUCAS AZEVEDO, JULIO CESAR LIMA

Dimensão de atos pega governo de surpresa

• Presidente passa do dia no Alvorada e, devido à manifestação em São Paulo, convoca cinco ministros

- O Globo

A volta dos protestos

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff passou o dia de ontem no Palácio da Alvorada, acompanhando os protestos. No meio da tarde, chamou um grupo de ministros mais próximos para definir o que seria anunciando ao fim do dia. Integrantes do governo demonstraram preocupação e, em alguns momentos, perplexidade com o tamanho das manifestações. O clima mais tenso entre os governistas se estabeleceu à tarde, a partir do protesto em São Paulo. De manhã, integrantes do governo estimavam em, no máximo, 200 mil pessoas na Av. Paulista. No entanto, o número pegou a todos de surpresa. Estiveram com Dilma, além de José Eduardo Cardozo (Justiça) e de Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), e Giles Azevedo, assessor especial da presidente.

Pela manhã, houve manifestações isoladas em frente ao Palácio da Alvorada, a favor e contra Dilma. As duas vias de acesso ao local ficaram interditadas aos carros. A segurança na residência oficial da presidente foi reforçada, com mais de dez seguranças na entrada do local. Acompanhado de seus dois cachorros, o funcionário público Valter do Tete disse que votou em Dilma e que defende a permanência dela no poder. Segundo ele, impeachment é "choro de derrotado". Um outro cidadão que estava corria no local também gritou o nome da presidente, em sua defesa.

Houve, no entanto, manifestações contrárias. De manhã, quando o acesso ao local ainda era possível, uma pessoa em um carro com uma bandeira do Brasil passou devagar e gritou: "Fora Dilma!". No início da tarde, já com os dois acessos interditados, um grupo de pessoas da mesma família tirou fotos em frente ao espelho d"água. Um deles gritou: "Vai embora Dilma!". Durante a tarde, uma senhora conseguiu entrar de carro na parte externa do Palácio da Alvorada. Ela se identificou como Márcia e contou que estava atrás da van que trouxe seguranças e quando chegou aos cones conseguiu entrar também:

- Perguntei: não posso passar? Eles deixaram. Vim aqui para ver o que está acontecendo, quais ministros estão chegando. Não estou de roupa amarela, manifestante sozinha é meio difícil.

Resposta imediata
Dilma recebeu, no início da tarde, o ministro da Justiça. Segundo interlocutores, ela e Cardozo discutiram medidas de combate à corrupção que serão anunciadas nesta semana e fizeram uma primeira avaliação das manifestações. Pelos cálculos, só pela manhã, mais de 189 mil brasileiros tinham ido às ruas, mas o número não incluía os manifestantes em São Paulo. À tarde, a estimativa de público chegou a mais de 1 milhão. Com o fortalecimento do número de manifestantes nas ruas, integrantes do governo pensaram em não comentar os protestos na noite de ontem, deixando as respostas para hoje. A avaliação que prevaleceu, no entanto, foi a de que seria politicamente pior deixar o país dormir sem algumas palavras do governo, como o respeito às manifestações democráticas.

No meio da tarde, o Ministério da Justiça causou mal-estar nas redes sociais ao postar um Banner com a frase "Discurso de ódio fere a democracia". Internautas reagiram, fazendo comentários de que o governo procurava atacar manifestações pacíficas que ocorriam em todo o país. Depois de pouco mais de uma hora no ar, o ministro Cardozo pediu a seus assessores que retirassem o Banner do ar para evitar atritos desnecessários.
Para o governo, nas manifestações, houve pedido de impeachment, mas elas não resumiram a retórica, houve também cobrança por combate à corrupção e também mudanças no sistema político.

Durante entrevista, panelaço

• Assim como domingo passado, moradores, principalmente em bairros nobres, voltaram a se manifestar contra o governo Dilma batendo panelas, desta vez durante a fala dos ministros

- O Globo

Durante a entrevista coletiva dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), na qual eles avaliavam as manifestações de rua ocorridas ontem e na última sexta-feira, vários panelaços foram registrados pelo país.

No último domingo, 8 de março, o mesmo tipo de manifestação já havia ocorrido durante um pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em rede nacional. Como na semana passada, os protestos se concentraram em bairros nobres - muitas vezes acompanhados de buzinaços nas ruas próximas. Gritos de "Fora, Dilma" e "Fora, PT", presentes nas manifestações de rua, também ecoaram dos apartamentos.

Assim que a dupla de ministros surgiu na tela da TV, pipocaram pelas redes sociais vídeos que registravam pessoas batendo panelas nas em suas janelas e sacadas. Outros mostravam prédios à distância, mas registrando o ruído característico.

Foram flagrados panelaços em capitais de norte a sul, como Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Cidades médias, como Niterói, Caxias do Sul e várias do interior paulista, também aderiram.

No Rio, o protesto ocorreu sobretudo pela Zona Sul, em bairros como Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo, Flamengo, Leblon, Lagoa e Ipanema.

Em Belo Horizonte, houve registros de manifestações em bairros como Anchieta, Serra, Carmo, Funcionários e Sion.

A manifestação também foi registrada em bairros de diferentes regiões da capital paulista. Na região central, há registros de panelaço em Higienópolis, Santa Cecília, Consolação e Bela Vista. Na Zona Sul, os protestos foram feitos no Itaim, Brooklin, Moema, Vila Mariana e Sacomã, assim como em prédios próximos à favela de Paraisópolis. Na Zona Oeste, o barulho do panelaço foi ouvido nos bairros de Pinheiros, Perdizes e Jardins.

Ao ser informado a entrevista coletiva estava sendo saudada com panelaços Brasil afora, o ministro Miguel Rossetto comentou que "tanto quem bate panelas quanto quem aplaude o governo" está participando da democracia.

Oposição comemora adesão em massa

• Estratégia é não deixar o clamor das ruas diminuir; líderes vão se reunir para definir próximos passos

- O Globo

BRASÍLIA- Cumprindo a promessa de não ir às ruas ontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) publicou um vídeo nas redes sociais comemorando o alcance das manifestações e dizendo que "o caminho só está começando a ser trilhado":

- Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado. Por isso, não vamos nos dispersar! - afirmou no vídeo.

À tarde, Aécio, que preside o PSDB, apareceu na janela de seu apartamento, no Rio, com o filho no colo.

Segundo os líderes da oposição, a estratégia para não deixar esfriar o calor das ruas é centrar fogo nas investigações do petrolão na CPI da Petrobras e assim tentar aprofundar informações sobre uma eventual participação da presidente Dilma Rousseff no escândalo. Além disso, falam em rejeitar o pacote de aumento de impostos e em apoiar outras manifestações que venham a acontecer. Amanhã, eles se reúnem para definir a agenda dos próximos passos.

- As manifestações marcaram o começo do começo do fim. Ouvido o que dirá o governo, detalharemos o planejamento dos próximos passos - disse Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado(GO) disse acreditar que as manifestações não vão parar e que as pessoas foram às ruas dizer não a um governo que insiste em repassar a conta da corrupção para os trabalhadores. Ele criticou ainda a coletiva dada por ministros na tarde de ontem.

-A situação do governo do PT vai ficando insustentável. A população não vai dar sossego nem arrefecer. Os ministros que falaram por Dilma estão desconectados da realidade. Foi extremamente deselegante com todos os brasileiros a definição rasa dos manifestantes como somente pessoas que não votaram nela. Quer dizer que não interessa mais ao governo ouvir 51 milhões de brasileiros em relação às decisões à frente do país?

Líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE) disse que o governo da presidente Dilma precisa dar atenção ao movimento que vem das ruas e tornar medidas que deem satisfação à sociedade. Para o peemedebista, ao contrário do que aconteceu em junho de 2013, as pessoas focaram a insatisfação nas ações do Executivo.

- Há um sentimento de insatisfação que pede um rearranjo do ponto de vista político, gerencial. O Congresso é o espelho da sociedade e tem que refletir o sentimento da população. E a presidente prefazer mudanças que satisfaçam a sociedade.

Serra: protestos foram produto espontâneo

• Senador vê manifestações como reação ao 'estelionato eleitoral' cometido pelo atual governo da presidente Dilma Rousseff

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

O senador José Serra (PSDB) avaliou há pouco que os protestos deste domingo contra o governo da presidente Dilma Rousseff foram "produto espontâneo" da reação ao "estelionato eleitoral e à inépcia do governo federal e da indignação contra a corrupção implantada como método de administrar o país".

Em postagem na sua página oficial no Facebook intitulada "Longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas", o tucano afirmou que 15 de março será "fator decisivo" da mudança de rumos do Brasil neste início de século. "Hoje o povo brasileiro fez história. Mais de um milhão de pessoas em São Paulo, quase dois milhões em todo o país. Foi uma das maiores manifestações da história do Brasil", escreveu.

Serra destacou o fato de os protestos não terem sido organizados por "partidos da oposição ou entidades sindicais", em referência aos protestos desta sexta-feira organizados pela CUT e outras centrais sindicais. Apesar das críticas à política econômica do governo, os atos de anteontem defenderam a presidente Dilma, em um contraponto aos pedidos de impeachment.

O ex-governador de São Paulo afirmou ainda que os protestos deste domingo vão ser decisivos para mudança de rumos do País em direção a uma "democracia mais forte e representativa, ética na administração pública e desenvolvimento para todos". Ele aproveitou o post ainda para "Nós do PSDB temos a palavra de ordem que vai orientar nossa atuação junto à sociedade: longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas - lema que presidiu a nossa fundação", disse.

Freire e Bueno consideram um sucesso os protestos contra o governo Dilma e o PT

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, e o líder do partido na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), consideraram um sucesso as manifestações contra o governo Dilma e o PT em todo o país. O número de participantes, salientaram, foi surpreendentemente grande. Às 16 horas deste domingo (15), um milhão de pessoas lotavam a avenida Paulista, em São Paulo, segundo a Polícia Minitar e milhares chegavam a todo momento.

Em Brasília, também segundo a PM, 50 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios participar do movimento. No Rio de Janeiro,o número chegou a 30 mil na praia de Copacabana; em Ribeirão Preto, 40 mil; Belo Horizonte, 25 mil. Em 23 estados ocorreram manifestações.

Ao participar do protesto na Paulista, Freire afirmou que, “a partir de agora, as ruas precisam decidir o que fazer e não mais se restringir às manifestações contra o governo”. O dirigente ressaltou que não havia raiva, mas alegria nos rostos das pessoas que lotavam a avenida e suas imediações, “por elas vislumbrarem que estão chegando ao fim os dias de governo de Lula e Dilma”.

Rubens Bueno, que participou da manifestação em Curitiba, ressaltou que “há 10 anos estamos batendo na mesma tecla, a de que somos governados por uma organização criminosa e que só com o povo nas ruas, demonstrando sua indignação, poderemos vencê-la; a população fez a sua parte e temos esse movimento vitorioso”.

Freire disse que o volume de pessoas que aderiram aos protestos em todo o país é semelhante ao de grandes manifestações da história do Brasil, como o movimento das Diretas Já, dos caras pintadas contra o governo Collor e as manifestações de junho de 2013. “Me faz lembrar o réveillon na Paulista, do qual participei, quando a avenida estava lotada de ponta a ponta, como hoje”, contou.

Rubens Bueno disse que, nos protestos, estavam claros alguns pontos: “a insatisfação com o governo Dilma Rousseff, a indignação com a corrupção no governo, com a crise econômica e com a inoperância de um governo inepto, incapaz”.

Para Freire, a repercussão das manifestações junto ao governo terão como consequência “uma atitude de se enredarem ainda mais na incompetência, a desarticulação e a ausência de soluções para os graves problemas do Brasil, inclusive a corrupção, na qual o governo está diretamente envolvido”.

Reação do governo às manifestações foi arrogante, avalia PPS

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O PPS considerou “arrogante” a reação do governo às manifestações contra Dilma Rousseff e o PT que ocorreram em 23 estados brasileiros neste domingo. O presidente Roberto Freire e o líder na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), acharam que os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência da República) agiram como se os protestos não tivessem acontecido no pronunciamento e na entrevista coletiva ocorridos no início da noite.

“O governo continua achando que as manifestações não significam nada, que os mais de 1,5 milhão de pessoas que foram às ruas hoje eram eleitores de Aécio Neves, ou seja, eles não estão entendendo coisa alguma”, afirmou Roberto Freire. “Os ministros foram profundamente arrogantes e, por isso, a melhor resposta ao governo foi o panelaço que aconteceu durante o pronunciamento deles”.

Segundo Freire, “o governo começa a não poder mais falar, porque mesmo que sejam os ministros e não a presidente da República, são saudados com panelaços”.

Rubens Bueno criticou os ministros porque trataram “uma manifestação da ordem da que ocorreu hoje como se fosse aquela do dia 13, dos trinta dinheiros, que foi um retumbante fracasso”. O parlamentar referia-se ao movimento da CUT, do MST e da UNE a favor do governo.

“Não imaginava que o (ministro) José Eduardo Cardozo fosse se prestar, junto com o outro ministro (Rosseto) ao teatro do cinismo que eles apresentaram”, disse o líder. Para Bueno, eles continuaram a tratar a situação como a “guerra do nós contra eles, uma visão torta, de aparelhamento do Estado para atender a apetites de poder”.

Enquanto os ministros falavam, ocorreram panelaços em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília, dentre outras cidades.

Ricardo Noblat - O que o seu mestre mandar

- O Globo

"O processo ditatorial, o processo autoritário, traz consigo o germe da corrupção."-  Tancredo Neves, ex-presidente da República

A presidente Dilma Rousseff tem duas opções: achar que o pior já passou e que o tempo se encarregará de arrefecer a rejeição da maioria dos brasileiros ao seu governo, a se levar em conta não só as multidões que ocuparam, ontem, as ruas, mas também pesquisas de opinião pública prestes a sair do forno. Ou então adotar medidas que convençam o distinto público de que ela está disposta de fato a mudar.

LULA SE QUEIXA abertamente do que aponta como indisposição de Dilma para conversar, e até para ouvir conselhos. Engrossou com ela na semana passada durante reunião no Palácio da Alvorada. Quem estava por lá jura que Lula bateu forte com a mão na mesa e levantou a voz com Dilma, cobrando dela que reformasse o quanto antes o Ministério medíocre que montou. Dilma também gritou.

SE DEPENDESSE de Lula, Dilma reservaria a Aloizio Mercadante (PT-SP) apenas a chefia da Casa Civil da Presidência, sem que se metesse com a coordenação política do governo. Dilma mandaria embora da coordenação política o ministro Pepe Vargas (PT-RS), das Relações Institucionais, considerado por Lula como fraco. E o substituiria pelo ministro Jaques Wagner (PT-BA), da Defesa.

NÃO FICARIA SÓ nisso. Dilma seduziria o PMDB com a oferta de mais um ou dois ministérios , de modo a que se tornasse mais difícil para ele abandoná-la. E restabeleceria relações com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Renan, mais do que Eduardo, aumentou a distância de Dilma. E ela não pode se dar a esse luxo .

A EQUIPE DE COMUNICAÇÃO do governo deveria ser totalmente revista, segundo Lula. É com o marqueteiro João Santana que Dilma ainda troca ideias. Pois ela tem cultivado o isolamento. Para refletir, informam alguns dos seus porta-vozes. Por desconfiar dos que a assediam, admite gente ligada a Lula. Um dos ministros do governo afirma que Dilma parece perdida.

É TUDO O QUE ela não pode estar, observa Lula. Dilma deveria ser humilde a ponto de fazer um pronunciamento à nação pedindo desculpas pelos erros que cometeu. E explicando com mais clareza e sem truques o ajuste fiscal que está sendo obrigada a promover. João Santana dará um jeito de ser um pronunciamento melhor do que o mais recente, recepcionado por um panelaço.

QUANTO AO RESTO... Dilma não poderia cair na tentação de amenizar o arrocho fiscal para satisfazer as tendências mais à esquerda do PT e de outros partidos. E que continuasse circulando pelo país, de preferência em áreas capazes de tratá-la bem, à espera dos resultados da política econômica do ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Por fim, se Dilma fosse de rezar, que rezasse.

EM MOMENTOS DE aperto severo, Lula reza. Desculpa-se por ter escolhido Dilma para suceder-lhe, mas argumenta que não tinha outro nome. Antonio Palocci e José Dirceu, nomes naturais, haviam se danado com o mensalão. Arrepende-se de não ter acertado com ela sua volta como candidato a presidente da República no ano passado. Imaginou que Dilma deixaria a cadeira para ele. Enganou-se.

COMO SE VÊ, a receita de Lula para que Dilma se recupere é a mais convencional possível. Aplicado a ele talvez desse certo, mas por ser Lula quem é. Dilma não tem outro caminho a não ser o apontado por Lula. Reclame à vontade. Diga que continuará governando de olho em sua biografia. Não tem jeito. Fará o que seu mestre mandar. O contrário seria o imponderável.

Merval Pereira - Rumo à alternância de poder

- O Globo

O PT está indelevelmente ligado à corrupção, depois do mensalão e do petrolão. As manifestações de ontem foram, sobretudo, contra a continuidade do PT no governo, e a ampliação do alcance dos gritos de "Fora Dilma" indica muito mais a inconformidade de um eleitorado que foi enganado na campanha eleitoral do que uma tentativa golpista.

Se fôssemos um país parlamentarista, o governo já teria sido derrubado. A maioria no Congresso existe apenas no papel, pois em todas as votações recentes o governo tem sido minoritário, mesmo quando consegue evitar a derrubada de vetos da presidente.

Se a eleição fosse realizada hoje, Dilma não seria reeleita, apontam as pesquisas, que lhe dão também apoio de apenas 7% da população. Se a percepção generalizada valesse, o Congresso teria condições de aprovar o impeachment, porque a maioria da população está convencida de que a presidente sabia o que estava acontecendo na Petrobras, mesmo que não tenha se beneficiado como pessoa física do dinheiro desviado.

Mas se beneficiou politicamente, desde a eleição de 2010. Como somos presidencialistas, até que se prove que a presidente sabia o que estava acontecendo, não há condições técnicas nem políticas para o processo de impeachment.

Mas a presidente já perdeu a legitimidade para governar, está desacreditada pela maioria da população, pois é generalizada a sensação de que, desde que os partidos passaram a nomear os diretores da Petrobras, quando ela era ministra de Minas e Energia, instalou-se oficiosamente na estatal sob a sua subordinação um esquema corrupto que está sendo revelado na Lava-Jato. Isso no governo Lula que marca, segundo o gerente Pedro Barusco, o momento em que a corrupção passou a ser institucionalizada, como parte de um projeto político de manutenção do poder.

Para recuperar a legitimidade política, teria que se reinventar, ser outra Dilma, o que parece impossível. Anunciar novos pacotes só vai aumentar a irritação do povo, enquanto a inflação alta e o crescimento negativo corroem o poder de compra do cidadão. Sendo assim, continuará governando, pois foi eleita legalmente, em meio a crises políticas e econômicas cada vez mais graves, até que a eleição presidencial de 2018 permita a alternância de poder que por pouco não se deu em 2014 e é uma das bases da democracia. Isso se a Lava-Jato não chegar às provas contra ela antes da próxima eleição presidencial, ou se não perder as condições políticas de ficar à frente do governo.

Jorge Bastos Moreno - Protestos poupam Congresso

- O Globo

O que chamou a atenção na manifestação de ontem é que os protestos contra a corrupção

Foram praticamente dirigidos ao governo, poupando o Congresso Nacional, que detém o maior número de investigados: 35 até agora, quase próximo ao dos denunciados do mensalão, mas robustecido pelos nomes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.

Comparado com a extensa pauta das manifestações de junho de 2013, a de ontem concentrou-se praticamente nos escândalos da Petrobras, enquanto a de quase dois anos atrás era uma verdadeira metralhadora giratória, com alvos apontados inclusive para Renan, que na época já era presidente do Senado. Cinco meses antes daqueles protestos, 1,3 milhão de assinaturas enviadas ao Senado pedia a destituição de Renan, números estes, para se ter uma ideia, superiores ao do total de pessoas reunidas no Rio, palco da maior concentração de 2013.

Em resumo, surpreendeu o fato de, a não ser em poucas faixas quase invisíveis, os polêmicos presidentes Renan Calheiros e Eduardo Cunha e mais 33 parlamentares terem passados incólumes dos protestos, sendo Renan e Cunha, repita-se, os maiores atores, até agora, da operação Lava-Jato, no campo político.

Se as ruas mudaram e expulsaram de cena os baderneiros, como se verificou nas duas manifestações , as pró e contra o governo, este também terá que mudar, se não quiser ver a ampliação do movimento.

E que fique na memória de todos os agentes políticos, do governo e da oposição, a grande indagação feita por Ulysses Guimarães ao seu companheiro de jornada Luiz Inácio Lula da Silva, no final da campanha das Diretas Já:

- O povo está nas ruas. Nós o botamos lá. Quem é que vai tirá-lo de lá?

Desta vez, porém, o povo foi por conta própria. E caberá a ele, somente a ele, decidir a hora de sair.

Ou de tirar.

Cora Rónai - Uma grande lição de Brasil

- O Globo

Ao contrário do que supõe o ex-presidente Lula, que imagina um país dividido entre "nós" e "eles", o Brasil não é binário. Não somos ricos ou pobres, brancos ou negros, burgueses ou trabalhadores, bons ou maus, reacionários ou esclarecidos, de direita ou de esquerda; somos tudo isso, e mais todas as variações possíveis. Por isso as manifestações de ontem foram tão interessantes de se ver, e tão diferentes das Diretas Já, em que todos, absolutamente todos, queríamos a mesma coisa.

Foi muito mais fácil ir às Diretas Já. Não havia pluralidade alguma lá; não havia muito o que pensar. Artistas e políticos estavam do mesmo lado, faziam comícios com os quais concordávamos 100%. Havia uma palavra de ordem única, que estava presa na gargante de todos. Nossos amigos pensavam da mesma forma, e não vivíamos a amargura de nos vermos divididos dentro de uma mesma tribo.

Não tivemos qualquer dúvida em relação às Diretas Já; tivemos todas as dúvidas em relação às manifestações de ontem. Faria sentido nos manifestarmos contra o governo sendo contra o impeachment? Não correríamos o risco de virar massa de manobra de políticos mal intencionados? Não seria perigoso ir a uma manifestação onde poderiam aparecer elementos ultraconservadores?

Sem uma pauta fechada e sem lideranças políticas para dar o tom, cada um foi com a sua cabeça, as suas dúvidas e as suas próprias ideias.

Às manifestações compareceram, essencialmente, os que estão contra o governo. Mas há mil razões para se estar contra este governo, e mil formas de se manifestar isso. Foram para as ruas as pessoas que quiseram apenas mandar um recado à classe política, uma espécie de "Veja lá!", e as que desejam ardentemente o impeachment da presidente; foram as que não aguentam mais a corrupção, as que se cansaram da violência, as que não suportam mais impostos tão altos. Foram as que estão contra o Judiciário e as que querem uma ampla reforma ética para moralizar o país. Foram até algumas que se cansaram da democracia e que querem a volta dos militares. Houve de tudo, e recortes isolados permitem qualquer leitura.

Mas as manifestações foram, acima de tudo, uma grande lição de Brasil. Ela será bem aproveitada se soubermos olhar com sabedoria para este espelho múltiplo e plural - e, sobretudo, se os nossos governantes não se blindarem do que lhes disseram as ruas desqualificando os manifestantes como burgueses brancos elitistas manipulados pela mídia golpista.

José Casado - Uma presidente atônita com a voz das ruas

- O Globo

Sob o ruído das ruas, o governo se mostrou atônito. Protegida pelas colunas de mármore do Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff mandou os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) para uma réplica à multidão emergente nas maiores cidades. Fracassaram.

Diante do rebrote da insatisfação, que paira desde 2013 e está cada vez mais focada na indecisão de Dilma, eles expuseram as fragilidadades de um governo aparentemente incapaz de se organizar em reflexão sobre o próprio futuro.

Cardozo anunciou "para os próximos dias" um pacote anticorrupção que, reconheceu, "já era uma promessa eleitoral da presidente".

Rossetto optou, primeiro, por desqualificar a pluralidade e diversidade da gente nas ruas: "A maioria é de eleitores que não votaram na presidente" - decretou.

Em seguida, buscou refúgio no esgarçado mito da reforma política, que o PT habituou-se a usar como rota de fuga em situações de emergência política.

É mais do mesmo. Dilma, por exemplo, fez exatamente esses mesmos anúncios 20 meses atrás, quando se surpreendeu com o vozerio da massa marchando sobre o asfalto no junho de 2013.

Passaram-se 80 semanas. A inflação recrudesceu, voltou a ameaçar os mais pobres (10%) da população. Houve um aumento da desigualdade social com a renda dos mais ricos crescendo a uma velocidade muito maior que a dos mais pobres. E, pela primeira vez na década, o emprego caiu praticamente em todos os setores.

O condomínio político-empresarial, cuja corrupção devastou a Petrobras e contaminou todo o setor de petróleo, acabou por expor a real dimensão do presidencialismo de coalizão formulado por Lula e intocado por Dilma. Para revertê-lo, a presidente precisaria ultrapassar os limites da coragem exaltada na propaganda governamental e atravessar o deserto da Praça dos Três Poderes, em Brasília, com a bandeira de um governo de coalizão de ideias - o oposto ao exercício do poder em um Executivo loteado entre aliados e assentado em 39 mesas ministeriais.

O governo tinha todos os motivos para não se surpreender com o nível de insatisfação que emergiu ontem nas maiores cidades. No início do mês, Rossetto foi à União Nacional dos Estudantes, notório reduto aliado, explicar que "não há reforma neoliberal e não há corte em nenhum programa social do povo brasileiro". Saiu vaiado.

Dias depois, Lula protagonizou uma manifestação sindical "em defesa da Petrobras". Entrou e saiu da sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio, sob vaias e escoltado por oito seguranças.

Na semana passada, em São Paulo, Dilma também foi vaiada por um grupo de trabalhadores ao chegar para um encontro com empresários da indústria da construção civil.

Uma das características dessa crise é a escassez de líderes para conduzir o país a um projeto de conciliação nacional.

Não se vê no governo, no Congresso e nos partidos sequer um pré-candidato 2018 disposto a defender a esperança.

Isso contribui para aumentar o grau de incerteza sobre o futuro, com um custo econômico que tende a ficar imprevisível na medida em que crescem as resistências às propostas de redução em alguns gastos governamentais.

Mas é notável: não há crise institucional, apenas um governo sem rumo e com três anos e oito meses de mandato pela frente.

Do lado de fora do Palácio da Alvorada prevalece a percepção de que nada é melhor do que a liberdade de ir às ruas, inclusive para protestar. É só o começo, mas ontem, outra vez, Dilma e seus ministros preferiram fingir que não viram.

Ilimar Franco - Vem aí um novo governo Dilma

O segundo governo Dilma acabou. Resta saber como ele irá recomeçar.

As manifestações de ontem superaram todas as previsões do Planalto. A presidente vai ter que sacudir seu governo. Ela precisa anunciar medidas no campo econômico e no combate à corrupção. Estas precisam ter impacto simbólico capaz de aplacar a ira de parcela dos setores que ocuparam as praças e as avenidas.

Os protestos não podem ser tratados como terceiro turno. A indignação não tem bandeira. Nem a oposição tem tamanha capacidade de mobilização. Os alvos da população, que ocupou as avenidas, foram a presidente Dilma e o seu partido, o PT. A oposição marcou pontos. Mas a rejeição à presença dos partidos indica que há um cansaço geral com o sistema parlamentar representativo.

A realidade aponta para crescentes dificuldades. Não há sinalização de melhoria na situação econômica. Na política, o cenário é de esgarçamento da base partidária que apoia o governo. Muitas forças vão se distanciar ainda mais para enfrentar as eleições municipais do ano que vem. Os especialistas preveem um crescimento da oposição e que, na melhor das hipóteses, os petistas ficarão no mesmo lugar.

Os eleitores saíram às ruas, de verde e amarelo, e empunharam uma bandeira que não tem dono: o combate à corrupção. Este tema, com o escândalo da Petrobras e após a experiência do mensalão, será dominante na política brasileira nos próximos anos. A reforma política é uma das respostas dos partidos. A sociedade vai cobrar mudanças, inclusive que o STF conclua o julgamento da legalidade ou não do financiamento eleitoral empresarial.

Eliane Cantanhêde - Crise grave, mas sem saída

- O Estado de S. Paulo

O Brasil tem agora o antes e depois de 15 de março de 2015. Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e contra o PT, que, desde 1980, era quem tinha força e capacidade de mobilização.

Quem poderia imaginar que o PT mudaria de lado e passaria a ser alvo, após 30 anos de glórias e de jogar as ruas contra tudo e contra todos em nome da ética? Bastaram 12 anos de poder para o caçador virar caça. E isso tem um lado dramático. Mas cada um colhe o que plantou.

À crise política, aos erros na economia, aos desmandos éticos, ao desmanche da Petrobrás, soma-se o último fator que faltava: as ruas. Fecha-se o cerco. Não foi uma manifestação a mais, foi uma para entrar na história, tal a dimensão e a extensão.

Em junho de 2013, a classe média assalariada explodiu nas ruas com uma pauta difusa - e confusa - de reivindicações e de acusações generalizadas contra "tudo o que está aí". Já neste 15 de março de 2015, jovens e velhos, mulheres e homens, empresários e assalariados tiveram uma pauta bastante específica: a rejeição a Dilma, ao governo e ao PT.

Registre-se uma grande ausência: a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não apareceu na sexta-feira nem no domingo, fosse para aprovar ou desaprovar qualquer dos dois movimentos. Mas o pior não foi isso: as multidões, com seus cartazes e slogans, simplesmente ignoraram Lula. Será que Lula, para o bem e para o mal, também não é mais o mesmo?

Do outro lado, a palavra impeachment, que foi o mote original da convocação pelas redes sociais, perdeu apelo e se enfraqueceu ao longo do processo e praticamente desapareceu no dia D. O "Fora Dilma" é simbólico. O pedido de impeachment, bem mais concreto, sumiu.

Tudo isso desaba sobre o PT num momento em que Dilma despenca nas pesquisas de opinião em todas as faixas e em todas as regiões e em que o governo deixa de ser um trunfo do partido para se transformar num fardo político. Por quê? Porque não tem o que dizer, não tem o que apresentar, não tem um horizonte melhor a oferecer.

Diz a regra que, se você não tem o que dizer, é melhor ficar calado. Dilma quebrou essa regra no Dia Internacional da Mulher e ontem destacou os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto para responder à avalanche popular com os dois temas sacados em junho de 2013: reforma política e pacote anticorrupção. Dois anos depois, é tudo o que o governo tem a dizer?

Como "defesa", os ministros disseram que quem foi às ruas não foi o eleitor de Dilma, foi o de oposição. Isso escamoteia o desgaste real e perceptível da presidente recém-reeleita; é uma admissão de que a oposição está cada vez mais forte e mais organizada e confirma que o governo, incapaz de fazer autocrítica, continua autista, isolado, talvez incapaz de ouvir a voz rouca das ruas. Pior: foi para o confronto e perdeu.

O governo, via PT, CUT e UNE, pagou para ver e deu no que deu. Os atos de sexta-feira, organizados, foram relevantes, mas os protestos de ontem, espontâneos, mostraram que os irritados com o governo ultrapassam em muito os aliados do PT.

É hora de o governo lamber as feridas e de a oposição avaliar seriamente como entrar no vácuo das manifestações. Espera-se que Dilma passe a ouvir, a conversar, a ceder, mas isso é querer que Dilma deixe de ser Dilma. Espera-se que o governo recomponha uma economia esgarçada e recupere a capacidade de articulação política com o Congresso, mas é preciso combinar com o PMDB.

E da oposição, o que se espera? Aí está o X do problema. As manifestações foram contra o PT, mas não foram a favor da oposição. O PSDB parece não saber o que dizer, o que fazer e para onde ir, está sem rumo e a reboque das ruas. E isso leva a um diagnóstico bastante grave: a crise é gigantesca, mas sem saída.

José Roberto de Toledo - Idos com março

O Estado de S. Paulo

Contagem da PM à parte, tinha uma multidão na Avenida Paulista ontem. Muito mais do que na sexta-feira. Tinha coxinha, sim. Mas também tinha quibe, empada e ovo colorido. Nunca se viu tanta fila nas bilheterias do metrô num domingo. Talvez porque o neo usuário não tem bilhete único - e, quem sabe, se solidarizará pelo aperto no transporte coletivo a partir da nova experiência.

Tinha gente pedindo intervenção militar, desenterrando slogans de 1964 e xingando a presidente, como tinha ambulante vendendo faixa "Fora Dilma" a R$ 5. Tinha famoso tirando selfie com a cara pintada para colocar no Instagram, tinha caixão do PT e tinha muita gente com camiseta da CBF gritando contra corrupção (exigir coerência até no vestuário seria pedir demais).

Mas, acima de tudo, tinha uma multidão - de um tamanho que nem o PT nem a CUT nem o MST são mais capazes de mobilizar. E isso supera o simbolismo de qualquer ironia que se possa fazer.
Na batalha das manifestações, o PT, Lula e Dilma perderam. A estratégia do confronto político não parece ser mais uma opção viável. Resta-lhes tentar a composição. Mas, depois do que aconteceu nas ruas, em posição mais frágil do que na semana passada. A ameaça velada da democracia direta saiu do baralho.

Tampouco os líderes do PSDB, principal partido de oposição, saíram de suas janelas, sacadas e contas no Twitter para os caminhões de som, ruas e praças. Pretendiam, assim, não partidarizar o protesto nem ser tachados de caroneiros. O distanciamento foi crítico e, acima de tudo, cauteloso. Demais.
Daí que os vencedores imediatos dessa batalha não foram os generais de nenhum dos exércitos, nem do vermelho nem do verde-amarelo, mas os engravatados de sempre. Aqueles que dominam as estruturas de poder brasilienses sem ter de vencer eleições majoritárias desde outro 15 de março, 30 anos atrás. O PMDB.

Como assim, por exemplo?

Só o PMDB (e o baixo clero que orbita no seu entorno) tem força hoje para sustentar Dilma no cargo.

Ou tirá-la. Mesmo com seus principais operadores citados na lista de investigados do Janot, o partido comanda a Vice-Presidência da República, a Câmara e o Senado. Domina não só a linha sucessória, mas a pauta do que será votado ou não pelo Congresso - ou seja, todas as medidas da última esperança do governo, o ajuste econômico de Levy.

Por consequência, quanto mais fraca Dilma, mais forte o PMDB. Não foi à toa que petistas e tucanos competiram para ver quem paparicava mais um dos seus líderes, Eduardo Cunha, na mais nova CPI dos Amigos, na semana passada. Nem é coincidência que, em meio a um suposto ajuste fiscal, o Fundo Partidário seja engordado com um aumento superior a 50%. Adivinhe quem vai ser o principal beneficiário dessas dezenas de milhões de reais?

Essa história não é nova. A rigor, tem 2.059 anos.

Num 15 de março, um ditador foi deposto a punhaladas, no mais famoso assassinato da história.

Segundo a tradição, ele teria sido avisado, um mês antes, por um vidente: "Cuidado com os idos de março". Mas um novo livro, lançado no começo deste mês, desfaz esse e outros mitos. Além de ilustrar o que ocorre hoje.

Em The Death of Caesar, o historiador Barry Strauss reconta como Júlio César foi traído por senadores e generais aliados não por ir contra os ideais republicanos, mas, principalmente, porque ameaçou o estilo de vida deles. César tentou alterar a relação de forças onde emanava o poder senatorial: as províncias. Caiu.

Quem ganhou com sua queda não foram os conspiradores. Nem a República. Saiu-se vitorioso da guerra civil que se estabeleceu na sequência aquele que tinha mais recursos financeiros para sustentar um exército, Augusto - um herdeiro de César. E foi a partir desse assassinato que o poder em Roma foi parar nas mãos de um imperador depois do outro, até a invasão dos bárbaros.

Vinicius Mota - Estrela solitária

- Folha de S. Paulo

Os atos de junho de 2013 eram um misto de efervescência juvenil de esquerda com desabafos dispersos ao centro e à direita. O PT e a presidente Dilma Rousseff puderam apegar-se a certas bandeiras e a grupos que então protestavam. Não podem mais.

Não há lideranças de "movimentos sociais" a ser chamadas para uma conversa no Planalto. Não há política pública capaz de atender à reivindicação """Fora, Dilma""" que tende a prevalecer com a evolução do certame de protestos agora inaugurado.

Este movimento multitudinário de centro-direita representa uma novidade em 30 anos de democracia de massas. O grito nas ruas é popular porque se vincula à frustração, disseminada pelas classes de renda, com o governo federal e a presidente.

Seu perfil é de centro-direita porque, desde a revolta dos caminhoneiros, as dificuldades de empreender e consumir são causas patentes da insatisfação. Como o ambiente restritivo decorre de uma política econômica de esquerda, a surpresa se dá mais pelo volume que pelo teor da reação.

A República no Brasil, em traço tributário de 125 anos de decantação, convive mal com presidentes fracos. A margem de Dilma para governar por medida provisória e para vetar em parte ou na íntegra atos do Legislativo --dois superpoderes do chefe de Estado no país-- estreitou-se abruptamente.

Agora a presidente terá de lidar com multidões na rua a pedir sua saída, reflexo de (e impulso para) péssimos índices de popularidade. Dilma tem meios de estabilizar o jogo, mas precisa de um plano urgente para recobrar nem que seja um terço do poder presidencial. Do contrário, correrá risco cada vez maior de assistir à resolução do impasse via impeachment ou ver-se forçada a renunciar.

Terminar o segundo mandato como FHC, mal avaliada mas no controle do governo, passa a ser uma meta razoável, e por enquanto otimista, para a presidente Dilma.

Valdo Cruz - Goleada das ruas

- Folha de S. Paulo

O domingo amanheceu sem as chuvas torrenciais imploradas pelos governistas em suas orações a são Pedro, deixando as ruas livres para os protestos contra o governo petista e seu partido.

Antes de terminar a manhã, governistas mais pé no chão já admitiam: muito mais gente do que o previsto saiu de casa para gritar "Fora Dilma", "Fora PT", e em locais onde não eram esperadas grandes adesões, como cidades do Norte e Nordeste.

No início da tarde, ficava claro que São Paulo soltaria um grito ensurdecedor. Mais de 200 mil tomaram a avenida Paulista. "Coisa de tucano", relativizava um palaciano ainda anestesiado. "O maior erro será menosprezar o recado de hoje", aconselhava outro palaciano realista.

Recolhida ao Palácio da Alvorada, a resposta presidencial às ruas foi tímida e a de sempre. Prometeu um pacote contra corrupção que dorme nas gavetas do Planalto desde 2014 e defendeu uma reforma política que nunca conseguiu tirar do papel.

Receita que, até aqui, não se mostrou suficiente. A própria Dilma avalia que ela não mobiliza. Ou seja, terá de fazer mais para conter a escalada dos protestos. Afinal, tomou sonora goleada das ruas. Enquanto cerca de cem mil "defenderam" seu governo na sexta, perto de 1 milhão berrou contra ela neste domingo.

Sinal de que sua turma não demonstra o mesmo entusiasmo em defendê-la publicamente. Pior, torce o nariz para seu novo governo.

O fato é que Dilma foi rápida em dar um necessário cavalo de pau na economia, mas mostra-se lenta em criar uma agenda que leve esperança ao país. Para desespero de Lula, que vai perdendo a paciência com ela.

Como não dá para fazer milagres, Dilma precisa deixar de afugentar seus aliados e recuperar apoios para fazer a longa travessia do deserto. Aí, o caminho é o que ela mais odeia. Curvar-se às pressões do velho PMDB e partilhar poder para aprovar o ajuste fiscal. A alternativa é definhar e seguir apanhando das ruas.

Aécio Neves - As ruas

- Folha de S. Paulo

Existem momentos na vida de um país em que a alma da nação parece se inquietar e transbordar, criando identidades que nos ajudam a lembrar que somos não um conjunto de indivíduos mergulhados em problemas e desafios pessoais, mas um povo que tem muito em comum.

O dia de ontem foi um momento assim. Em que a individualidade cedeu lugar à coletividade. Um dia do qual devemos nos orgulhar.

Curiosamente, há exatos 30 anos, o Brasil vivia um outro momento de forte identidade coletiva. Em outro 15 de março deveria ter ocorrido a posse do primeiro presidente civil e de oposição depois de 20 anos de ditadura. O calvário pessoal de Tancredo, paradoxalmente, ajudou na constituição e fortalecimento de laços coletivos.

Naquela época, pouco antes da morte do presidente, circulava no país uma anedota que dizia que uma enfermeira se encontrava no quarto com Tancredo quando ele começou a ouvir o barulho da multidão que se aglomerava na porta do hospital, em orações e homenagens. Que barulho é esse? perguntou ele. É o povo, presidente, o povo está todo aí embaixo, respondeu ela. E o que o povo está fazendo aqui? Ele veio se despedir, presidente. Ué, e o povo tá indo pra onde minha filha?, perguntou o presidente.

A delicadeza dessa cena fictícia, mas que combina bem com o espírito de Tancredo, me vem à memória de tempos em tempos. Não podemos nunca perder de vista que, em meio ao legítimo sentimento de indignação e revolta, existe um tipo de agressividade e de radicalização do ambiente político que interessa apenas àqueles a quem faltam argumentos, aos responsáveis pelo descalabro do país.

A estratégia do PT tem sido clara. Para esconder a verdadeira dimensão da insatisfação popular, tentam transformar todos os críticos do governo em defensores de um golpe ou do impeachment da presidente. Querem convencer o Brasil de que as manifestações populares, espontâneas, nascidas no coração de milhões de brasileiros, são, na verdade, ações ardilosas preparadas por partidos políticos. Não são. Fazem isso para não enfrentarem a realidade de que o governo deve satisfação a milhões de brasileiros. Fazem isso para tentar interditar o debate sobre temas que não interessam ao partido.

As ruas estão ocupadas por diferentes reivindicações e pela indignação com a corrupção, mas também contra a hipocrisia do discurso de parte das lideranças do país, que, por conveniência, e contraditoriamente, hoje repudiam posições que ontem defendiam.

As manifestações desse domingo, que superaram todas as previsões, não dizem respeito ao passado nem ao resultado das eleições. Dizem respeito ao futuro. E, por isso, preocupam tanto o governo.

Luiz Carlos Azedo - Protestos deixam o governo baratinado

- Correio Braziliense

O governo da presidente Dilma Rousseff foi alvo de protestos maciços ontem nos 26 estados da Federação, no Distrito Federal e até em cidades do exterior. O povo nas ruas entoava palavras de ordem contra a corrupção e reclamava da situação econômica. Gritos de “Fora Dilma” e “Fora PT” foram ouvidos em todo o país. Grande parte pediu impeachment da presidente. Uma parcela pequena defendeu intervenção militar e foi criticada pelos demais participantes.

Governistas e oposicionistas agora se digladiam quanto à contabilidade dos protestos, que a PM avaliou ter reunido 1,75 milhão, sendo 1 milhão apenas na principal manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo. O DataFolha, porém, mediu 210 mil na Paulista. Cálculos à parte, mesmo assim, foi a maior protesto desde as “Diretas-Já” e surpreendeu o governo, que está baratinado com a situação. Tanto quanto os militantes petistas, que perderam o monopólio das ações de rua e não conseguem entender o que acontece no país.

A presidente Dilma Rousseff passou o dia de ontem no Palácio da Alvorada, acompanhando os protestos. Pela manhã, o governo avaliava que seria de menor expressão. Havia comemorado as manifestações sindicais chapa-branca de sexta-feira. No final da tarde, Dilma chamou os ministros para conversar. Estava atônita; fora pega de surpresa pelo tamanho dos protestos, inclusive na Esplanada dos Ministérios.

O estado-maior de Dilma Rousseff não incluiu os aliados, somente os petistas de sua confiança: José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência), os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Thomas Traumann (Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa) e Giles Azevedo, assessor especial.

O grupo não representa nada em termos da base do governo Congresso, nem a própria bancada do PT. O ministro das Relações Insitucionais (Articulação Política), Pepe Vargas, sequer foi chamado. Informalmente, já foi demitido. A resposta do governo foi pífia, de quem está tomado pela perplexidade e não tem alternativa a oferecer ao país.

Os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rosseto, secretário-geral da Presidência, acenaram com três propostas velhas, nas quais ninguém acredita, porque até hoje não foram colocadas em prática: o diálogo com a sociedade e o Congresso; o pacote anticorrupção, anunciado no auge da crise de 2013 e que ainda não saiu do papel; e a reforma política, com ênfase no fim do financiamento empresarial das campanhas políticas.

Oposição
A oposição apóia os protestos e comemora, mas teve presença lateral no movimento. Os manifestantes não deixaram discursar nem os parlamentares que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que tenta reunir 1 milhão de assinaturas pela saída de Dilma, foi vaiado na Avenida Paulista quando seu nome foi anunciado. No Rio de Janeiro, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi impedido de falar no carro de som.

As manifestações, porém, deverão ter impacto no Congresso Nacional, onde a CPI que investiga o escândalo da Petrobras concentra as atenções. As dificuldades do governo para aprovar o pacto fiscal devem aumentar. A tendência dos políticos também é se antecipar ao Palácio do Planalto quanto à reforma política.

Os principais partidos de oposição devem subir o tom contra o governo e aumentar as cobranças em relação à demandas da sociedade, a principal delas quando ao escândalo da Petrobras, cuja apuração o governo, nos bastidores, ainda tenta obstruir. Para isso, oferece acordos de leniência para salvar as empresas envolvidas e acalmar os executivos que ameaçam com novas delações premiadas,

O governo não pode, porém, perder o apoio de sua base no Congresso, na qual o papel fundamental é do PMDB, que controla as duas casas legislativas. Para manter esse apoio, Dilma terá que fazer grandes concessões e fortalecer a presença da legenda aliada no governo, com mudanças ministeriais.