quarta-feira, 11 de março de 2015

Opinião do dia – Fernando Henriques Cardoso

Impeachment não é uma coisa desejável e ninguém se propõe a liderar isso. O PT usa o impeachment para dizer que o PSDB quer, mas não é verdade. Impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República, em entrevista 'Não é hora de afastar Dilma nem de pactuar'. O Estado de S. Paulo, 10 de março de 2015.

Ex-gerente da Petrobrás diz que repassou US$ 300 mil à eleição de Dilma em 2010

• Pedro Barusco, que fechou acordo de delação premiada na Lava Jato, afirma em depoimento a CPI que fez acerto diretamente com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a fim de abastecer caixa 2 da campanha presidencial de cinco anos atrás

Daniel Carvalho, Pedro Venceslau e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em depoimento à CPI da Petrobrás na Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 10, o ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco ligou o esquema de corrupção na estatal à campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2010,quando ela foi eleita presidente pela primeira vez. Segundo Barusco, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recebeu, dele próprio, US$ 300 mil para engordar o caixa da campanha.

Na delação premiada que fez à Polícia Federal em 21 de novembro de 2014, Barusco havia dito que o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque solicitou a um representante da empresa SBM Offshore US$ 300 mil dólares “a título de reforço de campanha durante as eleições 2010, provavelmente atendendo a pedido de João Vaccari Neto, o que foi contabilizado pelo declarante (Barusco), à época, como pagamento destinado ao Partido dos Trabalhadores”.

Ontem, num depoimento de mais de cinco horas à CPI, Barusco foi questionado duas vezes acerca do assunto. Ao deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), disse que “aqueles 300 mil (não citou a moeda) que eu disse de reforço de campanha foi na campanha presidencial de 2010”.

Algumas horas depois, indagado pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB), reafirmou que doação era para a campanha presidencial. “Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles (empresa) diretamente. Eu recebi e repassei (o dinheiro) num acerto de contas em outro recebimento”, afirmou. Questionou-se qual era a campanha em questão. “Foi a campanha presidencial 2010”, respondeu. Foi então questionado para a campanha de quem os recursos foram repassados. “PT, para João Vaccari Neto”, disse.

O relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (RJ), minimizou as declarações de Barusco. “O que ouvi é que ele disse que participou apenas da negociação de porcentuais, mas não afirmou ali nem trouxe dados novos acerca de se o Vaccari recebeu ou não recebeu. Ele não trouxe nenhum dado novo a respeito desse tema”, afirmou, sem se referir à acusação de “repasse direto de Barusco a Vaccari citado na resposta a Efraim Filho.

O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), classificou as declarações como “relevantes”, mas defendeu que ainda é cedo para se tirar conclusões. “Isso é um processo que temos que adentrar nessas investigações. Foram declarações relevantes, mas temos outros depoimentos marcados para que, ao final, o relator possa ter a sua conclusão. Espero eu que uma conclusão imparcial e isenta de interferências”, disse Motta.

Aos parlamentares, Barusco reafirmou que eram cobrados 2% de propina em cima dos contratos firmados com a Diretoria de Abastecimento. Segundo o ex-gerente, 1% era gerenciado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa e o outro 1% era dividido entre o PT, por meio de Vaccari, e 0,5% iam para a “Casa”, que Barusco explicou ser ele e Renato Duque.

Alvo. Vaccari foi o principal personagem das declarações de Barusco. Em diversos momentos, o delator disse que o tesoureiro recebia a propina diretamente das empresas, razão pela qual não poderia dar detalhes a respeito dos repasses ao tesoureiro.

Vaccari assumiu como tesoureiro do PT em 2010, mas não era o tesoureiro da campanha presidencial. Esse cargo era ocupado por José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema (SP).

“Percebi que quando ele (Vaccari) assumiu o cargo como tesoureiro, começou a haver reuniões”, disse Barusco, que citou os hotéis onde se reunia com eles. A CPI deve solicitar aos estabelecimentos as imagens do sistema de segurança para comprovar os encontros. “Não conheço outro operador do PT a não ser o Vaccari”, afirmou.

Procurada, a SBM não se pronunciou até a conclusão desta edição. / Colaborou Fábio Brandt

Na CPI, Barusco expõe divisão de propina com PT

Barusco: propina foi repassada para campanha de Dilma em 2010

• Ex-gerente diz que corrupção só passou a ser "institucionalizada" em 2003

Eduardo Bresciani e Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse ontem, em depoimento na CPI da Petrobras, que recebeu propina da empresa holandesa SBM Offshore e que o dinheiro foi destinado à campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010. Segundo Barusco, foi Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, quem pediu o dinheiro à empresa holandesa. A propina foi entregue ao próprio Barusco, que disse ter feito um "acerto de contas" com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, para que o dinheiro chegasse ao partido.

O ex-gerente não esclareceu de que forma foi feito o repasse para a campanha de Dilma, se como contribuição legal ou caixa dois. Nos depoimentos da delação, Barusco já tinha mencionado um pedido de "reforço" de caixa de US$ 300 mil, mas sem especificar a qual campanha se destinava.
- Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha. Não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento. Foi para a campanha presidencial em 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. (A doação) foi ao PT, pelo João Vaccari Neto - contou Barusco na CPI.

"Havia uma reserva para o PT receber"
Barusco disse que recebeu propina de forma "individual" durante a gestão de Fernando Henrique Cardozo, e de forma "institucionalizada" nos governos do PT. Confirmou que dividia as propinas com Renato Duque e Vaccari. E disse que os US$ 97 milhões em contas na Suíça que se comprometeu a devolver ao fazer o acordo de delação incluem as propinas recebidas desde 1997.

Barusco registrou que, quando falou na delação que Vaccari arrecadou entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, estava fazendo apenas uma estimativa, sem saber qual a forma pela qual o petista recebeu os recursos destinados ao PT.

- Eu estimo, considerando o valor que recebi de propina, que foi pago de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. Não sei como ele recebeu, se foi doação oficial, se foi lá fora, se foi em dinheiro. Havia uma reserva para o PT receber. Se recebeu, e a forma como recebeu, eu não sei - disse ele.

O ex-gerente contou que tinha reuniões com Vaccari e Duque em hotéis no Rio e em São Paulo para discutir a divisão da propina. Ele tratou o trio como "protagonista" do esquema, junto com os operadores e os donos das construtoras envolvidas no cartel que atuava na Petrobras.

- O mecanismo envolvia um representante da empresa, os próprios empresários, eu, Duque e Vaccari, são esses os protagonistas - disse.

O presidente do PT, Rui Falcão, e Vaccari divulgaram nota conjunta para defender o tesoureiro das acusações de Barusco. "João Vaccari Neto reitera que nunca tratou de finanças ou doações para o partido com o senhor Pedro Barusco, delator que busca agora o perdão judicial envolvendo outras pessoas em seus malfeitos", diz a nota: "O senhor Barusco não apresentou nenhuma prova ou mesmo indício que liguem o secretário João Vaccari Neto ao recebimento de propinas". Em nota, José de Filippi Jr, que foi coordenador financeiro da campanha de Dilma em 2010, disse que a SBM não fez doação naquele ano. Disse ainda que não conhece Barusco e que todas as doações recebidas foram legalmente registradas no TSE.

Barusco, que depôs por cinco horas e meia, explicou as diferenças da forma como recebeu propina de 1997 a 2002, quando ocupava cargos de terceiro escalão na estatal, para o que ocorreu a partir de 2003, quando ascendeu à gerência executiva, como o número dois de Duque:

- Iniciei a receber em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal minha junto ao representante da empresa (a SBM Offshore). Na forma mais ampla, em contato com outras pessoas, de forma mais institucionalizada, isso foi a partir de 2003, 2004.

Barusco disse não poder dar mais detalhes sobre a forma como recebia propinas até 2002, pois isso ainda está sob investigação do MPF.

Após panelaço, Dilma é vaiada e ouve gritos de 'fora' em SP

• Atos de sexta-feira deverão defender Petrobras, mas criticarão ajuste fiscal

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Apenas dois dias após ser alvo de um panelaço e um buzinaço em diversas capitais, durante seu pronunciamento na TV, a presidente Dilma Rousseff foi recebida ontem com vaias e gritos de "fora!" ao visitar o Salão Internacional da Construção (Feicon), em São Paulo. As vaias começaram antes que ela chegasse ao evento e partiram de pessoas que trabalhavam no local. Os manifestantes disseram que começaram a vaiar porque, quando viram a movimentação da imprensa, pensaram que a presidente já estava no pavilhão. Quando Dilma chegou, as vaias se multiplicaram.

A reação constrangeu a presidente, a ponto de levá-la a desistir de visitar os estandes e de usar o carro para chegar ao auditório da abertura oficial da Feicon. No auditório, Dilma encontrou uma plateia formada por poucas dezenas de empresários e ainda teve de ouvir críticas do setor sobre a crise econômica.

Dirigentes do PT atribuíram o panelaço de domingo à mobilização de partidos de oposição e às classes mais abastadas. Porém, boa parte do protesto de ontem partiu de trabalhadores.

"Dilma perdeu a classe média", diz analista
Para o cientista político Antônio Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é natural que o desgaste do governo se amplie para segmentos do eleitorado que também votaram em Dilma por haver três crises simultâneas em curso: econômica, política e ética.

- Dilma perdeu a classe média já no processo eleitoral. Neste momento, com o ajuste fiscal, também se afasta de sua base. O governo está totalmente isolado, porque perdeu ainda o controle do Congresso Nacional - lembrou.

Dilma não escondeu o incômodo com as vaias e a baixa presença de empresários no evento. Após ouvir pedidos de medidas protetivas para o setor de construção, Dilma pediu otimismo à plateia, mas admitiu que a situação é delicada:

- O Brasil passa por um momento difícil, mais difícil do que tivemos em anos recentes, mas, nem de longe, estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns dizem que estamos vivendo - disse. -Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil.

Dilma justificou os cortes previstos pelo ajuste fiscal: disse que o Orçamento da União absorveu "parte importante da crise", mas garantiu recursos para o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família.

Dirigentes petistas ficaram irritados com a escolha de São Paulo como palco do primeiro compromisso de rua da presidente após o panelaço, por se tratar de cidade onde Dilma acumula alta rejeição e perdeu para o candidato tucano Aécio Neves, nas eleições do ano passado.

Na próxima sexta-feira, outros atos estão previstas no país, organizados por centrais sindicais e movimentos sociais que reivindicam direitos, defendem a Petrobras, a democracia e a realização de uma reforma política.

Esses atos foram pensados inicialmente como forma de se contrapor aos protestos do próximo domingo, que estão sendo organizados por movimentos contrários ao governo, alguns dos quais defendem o impeachment de Dilma. Porém, os atos de sexta-feira deverão criticar o ajuste econômico proposto pelo governo.

- Essa mobilização não é em defesa nem contra o governo - disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), Adi Santos Lima.

Governo preocupado também com ato da CUT
O governo pediu à CUT para que cancele as manifestações, segundo revelou um ministro próximo a Dilma. Segundo essa fonte, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, a pedido de Dilma, se reuniu com dirigentes da CUT e conversou por telefone pedindo a suspensão. A preocupação é evitar que os atos motivem mais manifestantes contra o governo no domingo Em nota, porém, Rosseto negou o pedido e disse que "a CUT é quem marca ou desmarca suas manifestações".

Teme-se o acirramento dos ânimos, que levem à violência e quebra-quebra, como nos protestos de 2013. Integrantes do governo monitoram redes sociais desde que os convites para as manifestações começaram a surgir na internet.

Dilma determinou uma força-tarefa de ministros para acompanhar os atos de sexta e de domingo. O Planalto orientou os ministros a não participar dos atos das centrais sindicais para evitar provocações. (Colaboraram Thiago Herdy, Julianna Grajeia, Fernanda Krakovics, Simone Iglesias e Luiza Damé) .

Dilma é vaiada em SP e diz que crise no país é passageira

• Presidente foi recebida aos gritos de 'fora PT' em feira da construção civil

• Em discurso restrito a convidados do setor, ela voltou a pedir paciência e disse que problemas não são tão graves

Daniela Lima e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff foi recebida com vaias e gritos de "fora Dilma" e "fora PT" na abertura do Salão Internacional da Construção Civil, nesta terça-feira (10), em São Paulo. Como chegou ao local antes da abertura da feira, a petista não foi hostilizada por visitantes, mas por expositores e pessoas que trabalhavam na montagem e na limpeza dos estandes.

Na segunda parte de sua agenda, em discurso só para convidados dos organizadores da feira, a presidente voltou a pedir paciência. "Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil", disse. Mais da metade das cadeiras da plateia estava vazia.

Foi a segunda vez em menos de três dias que a petista foi hostilizada. No domingo (8), houve panelaço e gritaria em 12 capitais durante pronunciamento de Dilma na TV, em que ela pediu paciência e defendeu o ajuste fiscal que tenta implementar.

A combinação dos dois eventos deu ao Palácio do Planalto a certeza de que os protestos previstos para o próximo dia 15 terão força. Se há um mês integrantes do governo chamavam de "piada" a manifestação pelo impeachment, agora temem uma reunião massiva em alguns locais do país.

Um levantamento feito a pedido do PT mostra que 1,4 milhão de internautas espalhados por 24 cidades já confirmaram presença no ato do dia 15. Outros 64 municípios ainda podem ampliar a lista.

Nesta terça, numa tentativa de minimizar os riscos de um constrangimento em São Paulo, a equipe presidencial mudou duas vezes o posicionamento de cinegrafistas e fotógrafos que acompanhavam a agenda de Dilma para afastar a presidente dos pontos onde as pessoas se aglomeravam.

Mas as tentativas falharam. Recepcionada pelos organizadores do evento, Dilma tentou passear por alguns estandes. Quando as pessoas a viram, as vaias se intensificaram. "Eu vou voltar", disse, dando as costas para o ato.

Os trabalhadores, então, cercaram a área onde o carro de Dilma estava estacionado. "Ladra" e "vagabunda" foram alguns dos termos que ela pôde ouvir no caminho até o automóvel. Sem reagir, Dilma fechou a porta e partiu para a solenidade de abertura do salão, fechada apenas para convidados.

Houve nervosismo entre os assessores da presidente. Segundo pessoas que acompanharam o curto périplo da presidente, o ministro Thomas Traumann, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, disse, irritado, que eles haviam caído em uma "armadilha".

Após as vaias, interlocutores da presidente afirmaram que ela "sentiu o golpe". A petista já havia se mostrado abatida com a dimensão do panelaço do último domingo. Dilma, então, se dirigiu para o auditório onde houve a solenidade de abertura do Salão, restrita a convidados.

Sem citar diretamente a Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras, o presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção, Wilson Cover, disse, em seu discurso, que é preciso punir quem merece ser punido, mas também buscar uma solução "institucional" para não paralisar pequenas e médias empresas.

Cover afirmou ainda que o empresariado do setor apoia o ajuste de contas, mas também considera "absolutamente necessário" adotar medidas que aumentem a competitividade do Brasil.

A resposta de Dilma veio em um discurso de mais de 30 minutos, na qual a presidente disse ver a crise como temporária e destacou que tem "trabalhado permanentemente" para que a economia se recupere até o fim do ano.

A petista voltou a dizer que a crise não é tão grande quando pregam "alguns". "É verdade que o Brasil passa por um momento difícil, mas nem de longe vivemos uma crise das dimensões que alguns estão dizendo", avaliou, acrescentando que a economia tem "fundamentos fortes".

Governo cede, negocia com PMDB e faz acordo sobre IR

Trégua em torno do IR

  • Governo cede e se entende com Congresso sobre reajuste escalonado da tabela do imposto


Cristiane Jungblut, Simone Iglesias e Maria Lima - O Globo

BRASÍLIA - Depois de 20 dias se negando a conceder um reajuste maior para o Imposto de Renda e pressionado pela crise política com a base aliada, o governo cedeu ontem às pressões do Congresso e concordou com uma proposta que prevê a correção escalonada da tabela do Imposto de Renda na fonte. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi duas vezes ao Congresso no dia de ontem e, à noite, anunciou o "acordão". A proposta prevê a correção da tabela do Imposto de Renda, com reajustes que variam de 6,5% a 4,5%. Na prática, isso significa que as faixas de renda menores terão uma correção maior da tabela, de 6,5%. Já quem tem uma renda salarial maior, terá uma correção menor, de 4,5%.

Patrocinado pelo PMDB, o "acordão" vai evitar que o governo tenha uma derrota na sessão do Congresso de hoje, quando será votado o veto presidencial à correção de 6,5% do IR. Agora, diante da proposta de correção progressiva, o veto será mantido. O entendimento representou uma retomada do diálogo entre governo e Congresso num momento delicado de crise política.

O governo deixará de arrecadar R$ 6 bilhões em 2015. No último dia 20, Dilma dissera que só poderia conceder um reajuste de 4,5% e que não havia espaço para mais no Orçamento da União. Agora, teve que ceder.

Temer festeja retomada das negociações
Antes mesmo do anúncio, o vice-presidente Michel Temer já comemorava a volta das negociações entre Executivo e Legislativo - cuja crise atingiu o auge depois da divulgação dos nomes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, na lista de investigados em inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) . Perguntado se estava assumindo a posição de negociador do Planalto, brincou:

- Nesse momento, sou visitador do Renan e do Eduardo Cunha. Não acredito (em divórcio), não tenho nenhuma notícia dessas. Tanto que hoje estou aqui, fazendo esse interrelacionamento com muita tranquilidade. Só vejo aplausos para a relação entre Executivo e Congresso. Verifiquei que há uma consciência de que o Congresso deve ajudar.

O acordo foi negociado em várias reuniões que envolveram Levy e Temer. Os dois estiveram reunidos com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas foi o PMDB do Senado - com Renan e o líder do partido na Casa, Eunício Oliveira (CE) - que negociou os percentuais de ajuste. A tropa de choque incluiu ainda o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, que esteve na Câmara e ainda em reuniões com senadores como o relator do Orçamento da União, Romero Jucá (PMDB-RR).

A presidente Dilma Rousseff aceitou editar uma Medida Provisória com a correção progressiva, para que ela seja publicada no Diário Oficial de hoje. Assim, o governo consegue garantir o veto presidencial à correção de 6,5% do IR.

A correção de 6,5% será aplicada às faixas de renda mais baixa, ou seja, para quem é isento e para quem desconta 7,5% de imposto na fonte. Com a aplicação dos 6,5%, a faixa de isenção de renda subiria para R$ 1.903,98 (hoje é de R$ 1.787,77). Já a faixa de renda cuja alíquota de IR é hoje de 7,5% vai ficar entre R$ 1.903,99 e R$ 2.826,65.

A faixa de renda cuja alíquota do IR é de 15% será reajustada em 5,5% e vai variar de R$ 2.826,66 a R$ 3.751,05. Já a faixa que desconta 22,5% de IR terá um reajuste de 5% e ficará entre R$ 3.751,06 e R$ 4.664,68. Já a faixa de renda mais alta, que desconta 27,5% de IR, será corrigida em 4,5% e terá valor acima de R$ 4.664,68.

Levy disse que a correção da tabela beneficiará 25 milhões de contribuintes, mas ressaltou que cerca de 17 milhões que têm faixa de renda menor serão diretamente contemplados pelo reajuste de 6,5%.

- O importante é que houve uma construção junto com o Congresso, dentro da capacidade fiscal do país. Concluímos com um valor suportável. O impacto será acima de R$ 6 bilhões. São 25 milhões de contribuintes beneficiados pela nova tabela - disse Levy.

Desde a eleição de outubro, Dilma vinha prometendo enviar ao Congresso uma proposta de correção geral de 4,5%, mas nunca fez isso. No ano passado, o Congresso aprovou a proposta de correção geral de 6,5%, que foi vetada por Dilma. Há cerca de duas semanas, Eduardo Cunha e outros aliados vinham avisando que o veto seria derrubado.

O governo teve que ceder inclusive na vigência da correção. O governo queria que a nova tabela valesse apenas a partir de maio. A correção da tabela será aplicada ao ano-calendário de 2015, mas não afeta a atual declaração de Imposto de Renda, Já o Congresso queria que a faixa que desconta 15% tivesse uma correção de 6%, mas teve que aceitar os 5,5%.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, comemorou o acordo.

- Essa proposta beneficia setores mais desprotegidos da população, com a correção de 6.5%. Há quem pense que um Congresso fraco faz bem à democracia. Não é verdade. O Congresso vai continuar cumprindo a sua parte - disse Renan.

Oposição vai tentar derrubar veto da presidente

• Para Aécio, correção menor para faixas mais altas significa aumento indireto do tributo

Maria Lima e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - Independentemente do acordo firmado entre governo e partidos da base aliada, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), avisou que a oposição vai tentar derrubar o veto da presidente Dilma Rousseff à correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. Logo cedo, enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), negociava com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um acordo para escalonar a correção da tabela, Aécio avisou que não apoiaria nada menos que a correção de 6,5% para todas a faixas, já que a inflação ultrapassou esse patamar em 2014. Para a oposição, uma correção menor, na prática, seria uma espécie de confisco e aumento indireto de impostos.

- Não tem acordo. Vamos derrubar - disse Aécio.

Para o líder tucano, uma correção menor para faixas mais altas, como prevê acordo fechado na noite de ontem, significa que o governo está aumentando indiretamente o IR a ser pago pelos brasileiros.

- O governo não tem capacidade de apontar caminhos, por isso vamos votar contra - disse o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

Apoio de partidos da base
A proposta de correção da tabela, vetada por Dilma, foi aprovada no final do ano passado com o apoio de partidos da base, inclusive do PT. Autor da emenda, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), ainda acredita que o veto pode ser derrubado, porque os parlamentares não vão querer arcar com a penalização do trabalhador contribuinte compulsório.

- O Democratas e o PSDB esperam contar com apoio de outros partidos da base. O que o governo está fazendo com o trabalhador é confisco - disse o presidente do Democratas, senador José Agripino Maia (RN).

O líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também rechaçou a proposta do governo de reajuste escalonado da tabela do IR:

- Não é certo, diante desse quadro de corrupção, o governo empurrar mais essa cota de sacrifício ao povo. Os brasileiros estão sendo penalizados pela omissão do governo nesses três primeiros meses do ano. Esse atraso em conceder o reajuste da tabela do IR, prometido desde o ano passado, penaliza o trabalhador que em janeiro, fevereiro e março teve seus salários debitados sem nenhuma correção.

Com acordo, salário maior terá correção menor na tabela do IR

• Proposta é elevar as faixas mais baixas em 6,5% e reduzir gradualmente até 4,5%; arrecadação será menor

• Governo cedeu a pressão da base aliada no Congresso, para evitar que todas as faixas subissem 6,5%

Gabriela Guerreiro, Sofia Fernandes, Andréia Sadi, Natuza Nery e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Diante de uma derrota praticamente certa, o governo Dilma cedeu nesta terça-feira (10) às pressões de sua base aliada no Congresso e aceitou reajustar de forma escalonada a tabela do Imposto de Renda na fonte, garantindo uma correção de 6,5% para os salários mais baixos.

Enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) fechou uma proposta com o PMDB como contrapartida para evitar a derrubada do veto presidencial ao projeto aprovado no Congresso que corrigia em 6,5% todas as faixas da tabela do Imposto de Renda da fonte.

O governo queria aplicar uma correção de apenas 4,5%, para perder menos arrecadação neste ano de ajuste fiscal. Segundo Levy, com a nova proposta, a perda será de no mínimo R$ 6 bilhões --acima dos R$ 5,3 bilhões estimados com os 4,5%.

"Nós vamos encontrar recursos ao longo do ano sem deixar de cumprir a meta fiscal, que foi aprovada na LDO", afirmou o ministro.

Em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Levy acatou parte da proposta feita pelos peemedebistas, que faz duas correções de 6,5% na tabela do IR na fonte: na faixa isenta, que vai subir de R$ 1.787,77 para R$ 1.903,98, e na faixa tributada em 7,5% --que irá de R$ 1.787,78 a R$ 2.679,29 para R$ 1.903,99 a R$ 2.826,65.

A única mudança em relação à proposta feita pelo PMDB ocorreu na faixa tributada com alíquota de 15% de Imposto de Renda. Os peemedebistas queriam correção de 6%, mas a equipe econômica conseguiu baixar a porcentagem para 5,5%. Nas outras duas faixas, o reajuste acertado foi de 5% e 4,5%.

Ou seja, o acordo definiu que as faixas de renda mais baixa terão correção maior, enquanto as de maior renda terão reajuste menor. As novas faixas valem para os salários de 2015, ou seja, serão usadas na declaração de renda a ser feita em 2016.

Antes da votação
A tabela definida ontem com o Congresso começa a vigorar a partir de abril e estará publicada em medida provisória no "Diário Oficial" nesta quarta (11), exigência do PMDB para que esteja em vigor quando o Congresso analisar o veto presidencial --o que é previsto para hoje.

O recuo do governo foi informado a Renan logo pela manhã, durante encontro com o ministro Joaquim Levy no Senado. No início da noite, o titular da Fazenda voltou ao Senado para fechar o acordo.

A fragilidade política do governo, que entrou em conflito com o PMDB, forçou o recuo do Palácio do Planalto.

A derrubada do veto, que corrigiria todas as faixas em 6,5%, era tida como certa por aliados havia, pelo menos, duas semanas. O próprio PT já havia avisado reservadamente que votaria pela derrubada caso o Planalto mantivesse a correção de 4,5%.

Câmara mantém ganho real para salário mínimo

• Reajuste para benefícios da Previdência ainda será votado

Isabel Braga e Geralda Doca – O Globo

BRASÍLIA - A Câmara aprovou ontem à noite projeto que mantém a atual política de valorização de longo prazo do salário mínimo, mas adiou a decisão sobre emenda que estende o ganho real para os benefícios previdenciários acima do mínimo. Pelo texto aprovado, a atual política, que garante ganho real ao mínimo, será estendida até 2019.

Parte da base aliada, com o apoio da oposição, articula para votar emenda estendendo o ganho real aos demais benefícios previdenciário e impor uma derrota ao governo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou a aprovação do texto principal e avisou que os destaques ao texto serão votados hoje. Após passar pela Câmara, o projeto irá para o Senado e, se aprovado, vai à sanção da presidente Dilma Rousseff.

- Essa emenda (que estende o ganho real aos benefícios acima do mínimo) é a única que não pode passar. É garantir o ajuste fiscal com uma mão e tirar com a outra. Vamos trabalhar para manter a espinha dorsal do aumento real para o mínimo - disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Pela regra atual, o salário mínimo é reajustado pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) registrado dois anos antes. Desde 2006, os benefícios pagos pela Previdência Social com valores acima do salário mínimo são corrigidos anualmente apenas pelo INPC, na mesma data do reajuste do mínimo. Segundo cálculos do governo, para cada 1% de aumento nos benefícios acima do piso, o impacto é de R$ 1,88 bilhão por ano.

Rombo de R$ 56,7 bi em 2014
A medida é vista no governo como uma "bomba" e, se aprovada, poderá colocar o déficit da Previdência Social em uma trajetória explosiva ou até inviabilizar a política de reajuste do salário mínimo. Em 2013, o rombo foi de R$ 50 bilhões; em 2014, subiu para R$ 56,7 bilhões (em valores nominais, sem considerar a inflação).

A vigência da regra atual de valorização do mínimo termina em 31 de janeiro deste ano. Logo após tomar posse, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que iria propor uma nova regra de reajuste do mínimo de 2016 a 2019, garantindo aumento real. Dilma não gostou e mandou o ministro soltar nota afirmando que a política atual seria mantida.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), quer discutir com o governo o impacto da extensão do reajuste acima da inflação aos que ganham mais de um mínimo. A decisão de votar ontem o projeto, contrariando a posição do governo, foi tomada em almoço de Cunha com líderes de partidos que apoiaram sua eleição.

- Concordamos em manter a política atual do mínimo, mas achamos justo garantir também o ganho real aos aposentados que ganham mais que um salário mínimo. Queremos, no entanto, discutir o impacto dessa decisão, antes de aprovar - disse Picciani.

A oposição aproveitou para provocar o PT, por escolher votar um projeto de autoria dos deputados Paulinho Pereira da Silva (SD-SP) e o tucano Antônio Imbassahy (BA).

- Acho muito bom ver aqui o PT aproveitando um projeto da oposição, do Paulinho da Força e do Imbassahy, para garantir a manutenção da política do salário mínimo - alfinetou o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).

Governo não se troca como camisa, diz Marina em Harvard

• Em conversa com estudantes da universidade norte-americana, ex-ministra afirma que País vive 'grave problema com a corrupção'

Roberto Fonseca – O Estado de S. Paulo

CAMBRIDGE (EUA) - A candidata derrotada à Presidência da República e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou ontem, durante uma conversa com estudantes da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, que "as pessoas devem ter maturidade com suas escolhas". Falando indiretamente sobre o governo, disse que "não é como uma camisa que se troca todo dia".

As declarações foram dadas em um evento fechado com os alunos de Harvard e informadas ao Estado por participantes. Marina não quis falar com a imprensa sobre temas como a Operação Lava Jato, os protestos contra o governo ocorridos no último domingo e os marcados para o dia 15. Aos alunos, ela disse que deve se pronunciar em breve e que está ouvindo muitas pessoas e conversando com políticos, acadêmicos, jovens, mulheres e comunidades.

Marina afirmou que o País vive um "grave problema com a corrupção". Segundo ela, "a corrupção não é um problema da Dilma, do Lula, do Fernando Henrique, nem do Collor, nem do Sarney. É um problema nosso (da sociedade). E que, "enquanto se achar que o problema é deles, vamos continuar tendo esse problema". A ex-ministra comparou a questão com a escravidão e a ditadura, que, segundo ela, só acabaram quando a sociedade encarou o problema e agiu para solucioná-lo.

Marina, no entanto, criticou o atual governo de Dilma Rousseff e o do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, do qual fez parte. Ela disse ficar "triste de ver o mundo se recuperando e o Brasil em recessão, se estagnando". Para ela, se "o governo não tivesse tratado a crise em 2008 como 'marolinha', talvez o País estivesse melhor". A ex-presidenciável ainda voltou a defender o fim da reeleição.

Mulher. Marina foi a Harvard também para receber uma homenagem pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado no domingo passado, junto com outras escolhidas que se destacaram em seu trabalho na política e na formulação de leis e ações que tratam da igualdade de gênero.

Senado vota fim das coligações proporcionais

• Na Câmara, medida deve enfrentar resistência dos pequenos partidos

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Depois de aprovar semana passada o projeto de lei que dificulta a fusão de partidos, o Senado avançou na reforma política com a aprovação da emenda constitucional que acaba com as coligações para as eleições proporcionais: deputados federais, deputados estaduais e vereadores. A mudança permite coligações apenas para eleições majoritárias: presidente, governador, senador e prefeito. O objetivo é fortalecer os partidos, acabar com as coligações fisiológicas, com as legendas de aluguel e reduzir a barganha de partidos em troca de tempo de TV e rádio nas campanhas.

A ideia é impedir, por exemplo, que o eleitor vote em um candidato celebridade de um partido, cuja votação extraordinária eleja outros candidatos, de partidos diferentes, com votação insignificante. Foi o que aconteceu com a eleição do deputado Tiririca (PR-SP) em 2010, que com 1.350 milhão de votos ajudou a eleger outros três deputados da coligação, inclusive Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), com apenas 94,9 mil votos.

- Acabamos com o engodo de o eleitor votar em um candidato e eleger outro - disse a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO).

Semana que vem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) prometeu colocar em votação a emenda do financiamento de campanha.

- Estamos diante de uma encruzilhada. Ou votamos isso ou os partidos continuarão se desgastando diante da opinião pública. Isso pode dar o que os partidos não tem: identidade e nitidez programática que possa se identificar com os eleitorado - ponderou o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

A emenda teve o apoio de todos os partidos: 61 votos sim, sete não e duas abstenções. Mas alguns senadores alertaram que a PEC dificilmente será aprovada na Câmara.

- Essa emenda não passará na Câmara, onde os 28 pequenos partidos se oporão a ela. E se passar o Supremo vai derrubá-la - disse o senador Marcelo Crivela (PRB-RJ).

CUT marca ato 'Blinda Dilma' em 24 capitais

Claudia Rolli – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A manifestação convocada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e por nove entidades ligadas a movimentos sociais, como MST e UNE, com o apoio de cinco centrais sindicais, promete atingir 24 capitais na sexta (13).

Passeatas estão marcadas a partir das 8h para defender direitos trabalhistas, a Petrobras, a democracia e a reforma política.

Nos bastidores, o ato é chamado de "Blinda Dilma", porque ocorrerá dois dias antes da manifestação que pedirá o impeachment.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse, em nota, que "não é um ato nem pró nem contra o governo". "Só não achamos que se justifique, em um governo com 69 dias de existência em que não ocorreu nada, um pedido de impeachment."

"Quem quiser uma pauta conservadora, que espere 2018", afirmou Freitas.

Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adílson Araújo diz que o plano é reunir 40 mil pessoas em São Paulo e 100 mil no país. Na capital paulista, o ato deve se concentrar a partir de 15h em frente ao escritório da Petrobras, na avenida Paulista, e seguir até a praça da República, no centro.

Planalto vê risco em protesto da CUT

• Central mantém ato em defesa dos direitos da classe trabalhadora

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

Para evitar que os ânimos fossem acirrados para os protestos marcados para domingo, o governo pediu à Central Única dos Trabalhadores (CUT) que adiasse ou cancelasse a manifestação de sexta-feira em defesa dos direitos da classe trabalhadora, da Petrobrás e da reforma política. A ideia de pedir que o ato não fosse realizado foi encampada pela própria presidente Dilma Rousseff e por ministros do governo, que defenderam que emissários procurassem a central sindical para conversar, mas não obtiveram sucesso. A CUT avisou que o protesto está mantido.

A Secretaria-Geral da Presidência, encarregada de entendimento com os movimentos sociais, negou que tivesse feito tal pedido. O governo quer evitar que haja comparação entre o número de presentes no ato que em última instância é pró-governo com um contra. Ontem, o Planalto se surpreendeu com as vaias contra Dilma, em São Paulo. A Secretaria-Geral pretende intensificar as buscas em redes sociais de focos de insatisfação para fazer previsões mais realistas. Embora Dilma sempre reitere que manifestações pacíficas são da regra democrática, ela ficou muito incomodada de ter sido submetida àquele constrangimento, considerado desnecessário.

Rio terá prévia dos protestos nesta quarta

• Quatro grupos planejam marcha contra Dilma Rousseff pelas ruas do centro da cidade nesta tarde

Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O Rio de Janeiro deve ter nesta quarta-feira, 11, uma prévia dos protestos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff marcados para o próximo domingo, 15, em ao menos 25 cidades brasileiras. Organizada por quatro grupos (Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre (RJ), Carioca Direitos e O Pesadelo dos Políticos), a manifestação está marcada para ter início por volta das 15 horas. Acompanhados de carro de som, manifestantes planejam marchar por um trajeto de pouco mais de um quilômetro pela avenida Rio Branco, da Praça da Candelária à avenida República do Chile, no centro.

A expectativa dos organizadores é que a marcha comece com cerca de 600 pessoas e ganhe corpo no caminho. "Vamos pegar toda aquela gente que estará saindo do trabalho àquela hora. Acreditamos que a manifestação deva receber apoio de quatro a cinco mil pessoas ao todo", afirma o empresário Rodrigo Brasil, organizador do Revoltados on Line no Estado. Dos 24 mil convidados na página do grupo na internet 5,2 mil confirmaram presença.

O protesto foi antecipado porque os organizadores não conseguiram registrar para o dia 13 a manifestação junto à Polícia Militar.

São Paulo. Na sexta-feira, na capital paulista, o Revoltados On Line vai fazer um protesto em frente à sede da Petrobrás, na Avenida Paulista, a partir das 15h. Será um contraponto à manifestação que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) planejam realizar em defesa da Petrobrás e contra o impeachment. Os sindicalistas devem se concentrar uma hora mais cedo, às 14h, também em frente à sede da estatal, na Paulista. Para evitar confronto, ficou acordado com a Polícia Militar que os apoiadores de Dilma marcharão em direção à avenida Consolação a partir das 15h para que o grupo de opositores ocupem o local.

No domingo, dia 15, a manifestação anti-Dilma será reforçada por outros grupos que vêm liderando protestos desde o ano passado, como o Vem pra Rua e Movimento Brasil Livre. Em São Paulo a expectativa é que os grupos levem pelo menos seis carros de som que ficarão espalhados entre as avenidas Brigadeiro Faria Lima e a rua da Consolação.

Para cumprir a meta de "fazer sumir o chão da Paulista", os grupos intensificaram nos últimos dias a campanha de mobilização. Além da convocação via redes sociais, o Movimento Brasil Livre vem colando cartazes em diversos pontos da cidade chamando para o protesto. "Entendemos que a divulgação da internet já foi feita. Agora vamos atrás de quem está nas ruas, nos pontos de ônibus", disse Renan Santos, um dos líderes do Movimento Brasil Livre.

O grupo já colou cartazes por ruas de Pinheiros, na região da avenida Brigadeiro Faria Lima e em bairros da Zona Sul. Na noite desta terça-feira, 10, os manifestantes espalharam material pelas ruas do centro, inclusive onde fica a sede do diretório estadual do PT.

Segundo Santos, o custo dessas ações é coberto por doações e pela venda de adesivos "fora Dilma". "Uma manifestação custa em torno de R$ 9 mil. Já conseguimos R$ 5 mil", relata.

Luiz Carlos Bresser-Pereira - Em 2018, não agora

- O Globo

O Brasil vive um momento cheio de contradições. No curto prazo há um grave problema econômico causado por um enorme e crescente déficit em conta-corrente, que está aumentando o endividamento do país e o ameaça com uma crise de balanço de pagamentos, e uma crise de confiança interna que resulta do superávit primário que se tornou negativo e da inflação que aumentou.

No longo prazo, o quadro econômico é mais grave. Um país cujo crescimento per capita foi de 4,1% ao ano entre 1950 e 1980, passou a crescer menos do que 1% desde 1980. Está quase estagnado.

Igualmente preocupante é a crise política que está paralisando o governo. Essa crise começou em 2013, quando aos erros do governo na área econômica e ao baixo crescimento somou-se o mensalão. A partir desse momento, os ricos, inclusive a alta classe média, que não estavam satisfeitos com a clara preferência pelos pobres revelada pelo governo em um tempo de baixo crescimento, passaram a olhar o PT e a presidente não mais como adversários, mas como inimigos, e nos vimos diante de uma coisa surpreendente: o ódio substituindo o desacordo e a crítica.

Entretanto, não obstante o desgaste que estava sofrendo por boas e más razões, a presidente foi reeleita. Ganhou por uma pequena diferença, contando principalmente com o apoio dos pobres. Contou, portanto, com o apoio daqueles que têm um voto - e não com o apoio da sociedade civil, ou seja, da soma daqueles cujo poder é ponderado pelo dinheiro, pelo conhecimento e pela capacidade de comunicação e organização que cada um tem.

Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada. A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota nas eleições e voltar a ajudar o país a ser governado, em vez de falar em impeachment ou em tentar inviabilizar o governo. O próximo embate eleitoral é em 2018, não é agora.

Ricardo Noblat - Branco, rico e golpista

- O Globo

Rico não pode se manifestar. A não ser por escrito. Ou dentro de casa. Ou em pequenas reuniões com amigos. Sem fazer alarde. Caso resolva aderir a uma manifestação de massa, saiba que a desqualificará. Seu lugar não é na rua protestando.

Se for visto na rua protestando poderá ser acusado pelo PT de ser golpista. Certamente o será.

Não há nenhum dispositivo na Constituição que proíba o rico de pensar e de dizer o que pensa, mas ele que suporte as consequências. Da mesma forma o branco. Pior ainda se ele for branco e rico.

É fato que a elite branca e rica lucrou uma enormidade com os governos de Lula e de Dilma. E que os mais ricos e brancos da elite pressionaram Lula para que ele voltasse a ser candidato no ano passado. Não importa. A eles deve apenas ser assegurado o direito de apoiar o PT. De preferência sem condições. E de financiar o PT, tirando dinheiro do seu próprio bolso ou desviando recursos públicos.

Quantos negros e pobres você vê no comando das maiores empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras?

Só vê ricos e brancos. E todos parceiros do PT. Deram mais dinheiro para o PT ganhar as eleições do ano passado do que para outros partidos.

Bem, se além de rico e de branco, o cidadão morar em São Paulo, aí qualquer margem de tolerância com ele deve ser abolida.

Dilma e o PT perderam feio em São Paulo. O candidato de Lula ao governo colheu ali uma votação humilhante. O que venha de lá, portanto, não deve ser levado em consideração. Antigamente foi a saúva. Agora, o paulista rico e branco é a praga que mais infelicita o Brasil.

Quem sabe o Congresso não aprova alguma lei que desconsidere o voto de São Paulo na hora de se contar os votos para presidente da República? O radicalismo da proposta talvez possa ser suavizado com a restrição ao voto apenas nos bairros povoados por uma maioria branca, rica e golpista.

Burgueses!

Há quanto tempo eu não enchia a boca para chamar de "burgueses" os adversários das mudanças sociais, que só fazem enriquecer à custa dos miseráveis.

É verdade que a maioria dos miseráveis ascendeu socialmente e compra o que os brancos e ricos lhe oferecem. E que quanto mais ascenderem e comprarem, mais os brancos e ricos se tornarão mais ricos. Mas esse é um dilema que a esquerda corporativa, ávida por emprego público e órfã de ideologia, não sabe ainda resolver.

Merval Pereira - Popularidade de Dilma no chão

- O Globo

As vaias de ontem no 21º Salão Internacional da Construção, no pavilhão do Anhembi, em São Paulo, e o panelaço de domingo são exemplares do sentimento generalizado de rejeição ao governo Dilma que pesquisas de posse do Palácio do Planalto mostram com exatidão.

Lendo-as, não é possível continuar dizendo que as manifestações públicas contra o governo refletem apenas a posição dos ricos. O mesmo autoengano foi cometido pelo governo durante a Copa do Mundo, quando as vaias no jogo inaugural foram inicialmente atribuídas aos setores mais abastados da população.

As medições diárias indicam que o índice de avaliação boa/ótima do governo chegou a um dígito nesta semana, jogando no chão a popularidade de Dilma, que despencou de 42% em dezembro de 2014, depois da eleição, para 23% em fevereiro, segundo o Datafolha.

E agora chega a um dígito, menor do que o índice de popularidade do ex-presidente Collor seis meses antes de a Câmara dos Deputados autorizar o processo de impeachment. Naquela ocasião, Collor chegou a 15% de avaliação positiva, depois de ter tido, no início do seu governo, a expectativa de 71% da população de que faria um governo bom/ótimo. Três meses depois, no entanto, só 36% mantinham a avaliação, percentual que caiu para 24% no primeiro ano e, ao final de dois anos apenas 15% mantinham esta avaliação positiva.

A trivialização do roubo
Espanta tanto a vulgarização da roubalheira no relato do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, ontem na CPI, quanto a normalização do fato feita pelo relator petista deputado federal Luiz Sérgio, que não viu "dados novos" no depoimento do delator.

Ora, a repetição de dados antigos que abrangem sempre milhões de dólares, o tratamento banal dado às negociações sobre as propinas, tudo isso é escandaloso demais para que se procure tratar dentro do terreno da normalidade o que Barusco descreveu.

Foi um verdadeiro circo de horrores o desfiar de detalhes do esquema que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, e o raciocínio de Barusco é cartesiano: se ele, que era gerente, ganhou os milhões de dólares que ganhou, por que seu superior imediato Renato Duque e o tesoureiro do PT João Vaccari, com quem se reunia para fazer a divisão do butim, deixariam de receber o que estava previsto nas planilhas?

É claro que Barusco não pode afirmar quanto Vaccari levou para o PT, só estimar, pois não era ele quem dava o dinheiro, e sim Duque. Mas pelas porcentagens acertadas, é fácil estimar que entre US$ 150 a 200 milhões de dólares entraram no cofrinho petista.

Assim como foi patético o esforço do relator e de alguns deputados petistas de tentar fazer Barusco dizer que o esquema criminoso começou no governo de Fernando Henrique. O ex-gerente da Petrobras foi até involuntariamente cômico quando reagiu com veemência dizendo que até 2003-2004, o que ganhava de propina era de sua atuação pessoal, sem que ninguém soubesse.

Essa propina própria está misturada à propina institucionalizada pela gestão petista a partir do momento em que o partido chegou ao poder central com Lula, em 2003, e Barusco quase lamentou que, não podendo definir o que era, resolveu devolver os US$ 97 milhões, depois de sua colaboração premiada ter sido homologada pelo Supremo.

Pelo seu relato, confirmando a informação dada por Paulo Roberto Costa em outro depoimento, a campanha de Dilma de 2010 está maculada pelas doações ilegais, desviadas dos cofres da Petrobras e muitas vezes lavadas no Tribunal Superior Eleitoral como doações legais.

Eliane Cantanhêde - Menos líderes, mais povo

- O Estado de S. Paulo

Uma das grandes dificuldades num momento tão grave é a falta de lideranças para discutir saídas e construir consensos contra a crise. Negociar o quê? Com quem?

No Congresso, até o presidente da Câmara e o do Senado, segundo e terceiro na lista de sucessão, estão sendo investigados pelo Supremo. Cadê os Ulysses Guimarães?

Na Igreja, foram-se os tempos de d. Paulo Evaristo Arns, d. Luciano Mendes de Almeida, d. Eugênio Sales, d. Lucas Neves. Que cardeal tem hoje essa dimensão? (E o bispo Macedo se dando bem...)

Na OAB, na ABI, onde se escondem os Barbosa Lima Sobrinho, os Raymundo Faoro, os Evandro Lins e Silva? Bem, na UNE nem se fala mais.

Nas centrais sindicais, sobram o alinhamento automático da CUT ou o histrionismo imprudente da Força Sindical. Não se fazem mais Lulas como antes.

E no empresariado? Um Jorge Gerdau, que poderia ser de grande valia numa roda de negociações, confundiu-se com o governo. Um Paulo Lemann está olhando mais para fora do que para dentro do País. Paulo Skaf tem estatura para o momento?

Até nas Forças Armadas falta um general Leônidas Pires Gonçalves que ouça acertos democráticos e propague para seu público interno. Está cada um na sua.

Sem líderes que apontem o futuro, destacam-se Fernando Henrique Cardoso, o maior líder da oposição, e Luiz Inácio Lula da Silva, o patrono do governo Dilma Rousseff, que faz água para todo lado.

O pronunciamento de domingo foi uma tragédia no conteúdo e na forma. Usar o Dia da Mulher, com um blazer verd- bandeira e sorrindo como se estivesse tudo na santa paz, para repetir o blá-blá-blá de crise internacional e pedir paciência? Com o grau de irritação da sociedade, é claro que haveria um panelaço, servindo como convocação para a manifestação de 15 de março.

Nessa crise, só falta um fator: a rua. Sociólogo, ex-presidente e ex-senador, FHC diz que é hora de os líderes, ou o que resta deles, observarem e analisarem. "A rua, neste momento, não é dos partidos, é do povo."

É um equilíbrio delicado. Os partidos de oposição nem podem capitanear o "Fora, Dilma" nem podem virar as costas para o protesto popular. E se as manifestações encorparem?

Assumir a dianteira do "Fora, Dilma" seria leviano, porque não se parte para uma aventura dessas sem ter o "day after" predefinido e não há líderes (no Congresso e na sociedade) com dimensão para articular consensos. Empurrar Dilma rampa abaixo para pôr quem e o que no lugar?
Mas também não dá para assistir ao estouro da boiada de camarote e lavar as mãos. A sociedade passaria por cima dos líderes e dos partidos, com risco de uma guerra campal entre os contra e os a favor de Dilma.

Atenção a um trecho da entrevista de FHC ao Estado. Depois que ele descartou o afastamento já de Dilma, perguntei: "E se as manifestações forem num crescendo, o sr. não vê horizonte de impeachment?" Ele deixou implícito que a coisa pode mudar de figura: "Eu não posso dizer que seria impossível, porque as coisas não são assim em política". Leia-se: depende do "povo".

Cada um com seus dilemas. Se pudesse, Lula também teria ido para a janela bater panela, reclamar da economia, da desagregação política, da desconstrução do seu legado. Mas Dilma é o PT no poder e o que interessa para Lula é o PT.

FHC e Lula já ensaiaram algumas conversas, mas os emissários, como o ministro José Eduardo Cardozo e o faz-tudo do PT Sigmaringa Seixas, vão e voltam de mãos vazias. Se não dá para conversar com Lula, talvez FHC pudesse conversar com Dilma. Mas, se ela não ouve nem Lula, por que ouviria FHC?

Moral da história: faltam líderes e os que sobram não se entendem. A crise continua.

Dúvida. Quer dizer que os mais bem informados, com mais noção da crise, não podem se manifestar? Só os "cumpanheiros" podem?

Bernardo Mello Franco - A negação e a gargalhada

- Folha de S. Paulo

O depoimento de Pedro Barusco à CPI da Petrobras acrescentou mais um círculo ao inferno do PT. O ex-gerente da estatal, que já havia relatado o pagamento de propinas ao partido, disse nesta terça ter repassado US$ 300 mil à campanha de Dilma Rousseff em 2010.

Segundo o delator, o dinheiro foi pedido pelo tesoureiro João Vaccari e liberado pela empresa holandesa SBM Offshore em contrapartida a um contrato com a petroleira. A declaração agrava a crise em duas frentes: aumenta a pressão sobre a cúpula petista e liga o petrolão à campanha que levou a presidente ao Planalto.

Barusco também frustrou o PT ao confirmar que começou a pedir propinas no fim da década de 1990, mas "por iniciativa pessoal". De acordo com ele, a corrupção só foi "institucionalizada" após 2003, ano em que o ex-presidente Lula subiu a rampa.

A versão jogou por terra o esforço petista para associar as origens do esquema ao governo FHC. Restou aos deputados do PT atacar o depoente, um réu confesso que delatou cúmplices para escapar da cadeia.

A direção do partido adotou a mesma linha, em nota que classificou Barusco como "delator que busca agora o perdão judicial envolvendo outras pessoas em seus malfeitos".

O texto acrescentou que Vaccari "nunca tratou de finanças ou doações" com o depoente. "O PT só recebe doações dentro dos parâmetros legais, que são declaradas na prestação de contas ao TSE", concluiu.

Em 2010, a então candidata Dilma tentou dizer o mesmo durante um debate na TV Globo, mas se atrapalhou com as palavras. "Eu gostaria de dizer que nós registramos todas as doações oficiais... as doações que são oficiais à minha campanha, todas elas, no TSE", afirmou.

O ato falho motivou risadas no estúdio da emissora. Irritada, Dilma fechou a cara e insistiu: "Gostaria de deixar claro que todas as doações são oficiais. Todas". A plateia, na qual os petistas eram minoria, explodiu em uma sonora gargalhada.

Luiz Carlos Azedo - O coro dos coxinhas

• Duas crises estão combinadas e podem levar o governo ao nocaute, mas se desenvolvem de forma desigual

- Correio Braziliense

O repertório de definições de crise é bastante sortido, tem para todos os gostos.

Das "revolucionárias", nas quais os de baixo já não obedecem e os de cima não conseguem governar; e de "renovação política", em que o velho está morrendo e o novo ainda não nasceu; às "crises econômicas", que são uma ameaça e uma oportunidade para os capitalistas, como no ideograma chinês que representa as duas palavras de uma só vez.

Em bom português, a palavra crise vem do grego krisis (decisão, julgamento), prima do verbo krinein, que quer dizer julgar, decidir, separar — na língua dos pais da filosofia e da democracia. No Dicionário Houaiss, há cinco definições: 1) estado de manifestação aguda ou agravamento de doença, física, mental e emocional; 2) manifestação repentina de um sentimento (ciúme, amabilidade); 3) estado de incerteza e vacilação (fé); 4) fase crítica de uma situação; e 5) momento de desequilíbio emocional.

O marketing ampliou esse espectro: uma crise pode envolver consumidores, clientes e usuários; públicos interno e externo; investidores, comunidades e poder público, além, é claro, das autoridades propriamente ditas, que, para isso, contratam marqueteiros e organizam gabinetes de crise para gerenciar sua imagem.

A presidente Dilma Rousseff, que ontem foi vaiada em São Paulo, ainda não se achou diante da crise que o país e seu governo atravessam. "O Brasil passa por um momento difícil, mais difícil do que tivemos em anos recentes, mas nem de longe estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns dizem que estamos vivendo", minimizou, na 21ª Edição do Salão Internacional da Construção, em São Paulo.

Dilma acabara de receber uma bruta vaia ao seguir para o anfiteatro do centro de eventos. Foram cinco minutos de apupos, disparados por trabalhadores que montavam a exposição. Sua reação foi dar meia volta e se afastar, irritada, do local.(https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=M-J-KTWH1I4 )

Depois, a Secretaria de Imprensa da Presidência divulgou nota na qual reiterou que as manifestações contra o governo são legítimas e fazem parte do "jogo democrático", mas criticou atos violentos. Não houve isso.

Durante o evento, a presidente da República minimizou os problemas da economia, disse que seus fundamentos são sólidos e que as medidas de ajuste que o governo tem adotado nos últimos dias não vão comprometer as conquistas sociais, "tampouco vão fazer o Brasil parar".

O grande salto para frente, apregoado na campanha eleitoral, voltou a ser anunciado: "A conjuntura atual é muito mais difícil do que nos últimos anos, mas ela não pode ofuscar os avanços nem tampouco obscurecer que hoje temos as bases, o aprendizado para ir muito mais além do que já fomos, para dar saltos de produção e de competitividade ainda maiores". Quem acredita nisso?

Para justificar o rombo nas contas públicas, Dilma disse que a União absorveu "parte importante" da crise entre 2008 e 2014. "Estamos fazendo ajustes, mas não abdicamos nem abdicaremos em estabelecer as condições para que, o mais rápido possível, tenhamos uma economia competitiva e mais dinâmica."

Trata-se a União na ótica das velhas elites do Império, que organizaram o Estado brasileiro antes da formação da nação. Só que os recursos do Tesouro não vêm dos donos do poder, vêm dos impostos pagos pelos contribuintes, que deixam de consumir e poupar para tapar o buraco da gastança que garantiu a reeleição de Dilma. Esse é o grande "estelionato eleitoral" em curso.

Desigual e combinada
Não é à toa que, desde a viagem a Campo Grande, em 3 de fevereiro, Dilma não pode pôr os pés nas ruas sem levar uma vaia; só é aplaudida em ambientes fechados, previamente monitorados por sua "equipe precursora", que já foi muito melhor nesse trabalho.

O problema é que o coro dos "coxinhas", como os petistas chamam os que fazem oposição ao governo, está aumentando com a deriva dos eleitores da presidente da República frustrados porque suas promessas não correspondem aos fatos, diante da situação da economia e do escândalo da Petrobras.

A crise é desigual e combinada. Vamos por partes. Primeiro, há uma crise econômica decorrente mais do desequilíbrio das contas públicas do que da economia mundial, caso contrário, todos os países do continente estariam na situação da Argentina, da Venezuela e do Brasil, o que não é o caso. Graves problemas de infraestrutura, o desequilíbrio da balança comercial e a queda do preço do petróleo dificultam uma saída de curto prazo.

Segundo, instalou-se uma crise de governabilidade, catalisada pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga as principais lideranças do Congresso suspeitas de receberem propina do esquemas de corrupção na Petrobras.

Essas duas crises podem levar o governo ao nocaute, mas se desenvolvem de forma desigual no tempo e no espaço. A crise econômica demanda que a base política, acuada pelas denúncias, aprove um conjunto de medidas impopulares a toque de caixa. A crise política, para se resolver no curto prazo, exigiria um haraquiri coletivo das principais lideranças da base do governo no Congresso.

Como as duas coisas não vão acontecer, a crise de representação política e de imagem do governo transbordou para as ruas, que reagem à inflação, ao desemprego, o aumento de impostos, aos apagões, à falta d’água, ao aumento dos combustíveis e da conta de luz, tudo junto e misturado à corrupção na Petrobras e em outras empresas e órgãos públicos. Dilma sintetiza tudo isso.

José Nêumanne - Desgoverno já acaba quando mal começou

- O Estado de S. Paulo

Dilma perdeu uma oportunidade, se não boa, no mínimo razoável, de se levantar do banquinho no córner, onde está acuada pela crise política e pelo péssimo desempenho da economia, e, pelo menos, voltar ao ringue, no pronunciamento à Nação por TV e rádio no Dia Internacional da Mulher, domingo. Seu discurso inócuo, boboca e incompreensível teve o que merecia: panelaço, vaias e xingamentos pelo País inteiro. Só não se decepcionou com ela quem não viu.

De fato, não havia muito espaço para manobra. Mas pedir paciência a uma plateia que dela só tem ouvido mentiras autoindulgentes não poderia deixar de soar tolo, inútil, arrogante e alienado.

Poderia ter começado com um pedido de desculpas por tudo quanto prometeu na campanha e começou a descumprir quando foi divulgada a vitória na reeleição. A continuação inevitável poderia ser uma demonstração de que a paciência exigida dos cidadãos, que ela trata como súditos, seria compensada por algum sacrifício: redução de ministérios, cujo número é absurdo, por exemplo. Nem fez a velha proposta de pacto. Talvez porque padim Lula se tenha recusado a apertar as mãos estendidas na eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, no apoio à Constituição, que o Partido dos Trabalhadores (PT) assinou amargamente constrangido, e no governo de união nacional de Itamar Franco, depois da queda de Fernando Collor.

Em vez disso, preferiu adotar a tática stalinista de reescrever o passado para garantir as boquinhas por um tempo longe de ser promissor para ela, seu governo e, sobretudo, para o País. Atribuiu a conjuntura "à maior crise econômica desde a recessão de 1929", a de 2008, que, para Lula, passaria por aqui feito uma "marolinha" e ela jura que paira sobre nós há sete anos, como nos sonhos das vacas magras de José do Egito. E à seca, desgraça perene do Nordeste, que, ela esquece, faz parte do Brasil, apesar de ter-lhe garantido, com milhões de votos, a permanência no trono. Lá se sabe que a chuva é incerta e caprichosa.

Os tomates imaginários jogados pelos "podres burgueses golpistas" partem do pressuposto de que a piada do barítono que anuncia um tenor pior à plateia que o apupa nem sequer servirão de metáfora para a crônica de seu desgoverno abortado: este, ao contrário do Cassino do Chacrinha, já acaba quando mal começou. Tudo indica que a militância armada contra a ditadura a impediu de frequentar aulas de História do Brasil, cujo aprendizado lhe faz falta. E mais ainda ao populacho, que verga sob sua inépcia. O desastrado discurso em que a mulher, festejada domingo no mundo todo, foi aqui celebrada às avessas evidencia que nossa experiência da dona da casa no poder será apenas um "duela a quién duela" coletivo.

Reconheça-se que os citados episódios históricos têm algumas diferenças em relação aos eventos destes idos de março em que o cego Tirésias teria a bendizer os temporais eventuais, prenunciados pelo cheiro. Nestes 61 anos foram aplicadas três soluções pessoais para resolver crises políticas. Em 1954, Getúlio Vargas disparou contra o próprio peito para não morrer afogado no "mar de lama" de uma corrupção de aprendiz, comparada com o caso Celso Daniel, o mensalão e as petrorroubalheiras - o crime continuado que ora corrói as bases da republiqueta sob os petralhas. Sabe-se que Getúlio era um suicida vocacional. O tiro foi o único jeito que teve para abortar o golpe dos militares da geração dos tenentes de 1930. Ao "sair da vida para entrar na História" adiou o golpe, sim, mas por apenas dez anos.

Contra o manhoso estancieiro de São Borja havia também a oratória inflamada e eficiente da UDN de Affonso Arinos de Mello Franco e de Carlos Frederico Werneck de Lacerda. A retórica, a ação parlamentar e a capacidade de construir caminhos para desviar o País da crise a que foi levado pela insana gula petista passam longe do perfil da oposição de hoje, indigna até dessa denominação.
Seis anos após o suicídio no Catete, um presidente popular, eleito acima dos partidos, com a vassoura feita símbolo e a faxina como missão, renunciou para livrar-se das dificuldades impostas por um Congresso dominado por partidos que desprezava. A renúncia de Jânio Quadros foi um autogolpe que falhou por conta da fé cega em si mesmo. "Renuncia, Dilma", prega quem lhe atribui idêntico defeito. 

Mas ela não tem a persistência suicida revelada nos Diários de Getúlio, nem o perfil nobre de quem renuncia para facilitar a saída pela qual um governo de união nacional possa impedir a tragédia que se prenuncia com as fraturas da Nação, expostas na disputa eleitoral e agravadas com a determinação do grupo no poder de se agarrar ao que restar de bife no osso descarnado.

Fala-se ainda mais em deposição, repetindo a solução dada em 1992, 31 anos após os nove meses de Jânio, com 20 anos de ditadura militar no meio. Lá se vão apenas 23 anos, mas urge lembrar que o impedimento inevitável cedeu lugar à renúncia consentida do presidente, que, como Jânio, tentou em vão pôr de joelhos o Congresso (de 300 "picaretas" de Lula e 400 "achacadores" de El Cid Gomes?). Ao contrário de Dilma, a cujos propósitos ele serve, o ex-presidente tentou o lance do "Ministério ético". Mas foi defenestrado sem dó.

Sábado O Globo informou que, conforme delação premiada, Mário Negromonte foi trocado no Ministério das Cidades por Aguinaldo Ribeiro por pressão de seus correligionários acusados de se abastecerem no propinoduto da Petrobrás. Foi Dilma quem assinou nomeações e demissão de ambos. Dizer que era assunto interno de aliados e não lhe diz respeito em nada vai ajudar a suspender a queda de sua reputação. Para piorar, a dupla protagoniza a mesma investigação, na qual ela não figura.

Mas, com os militares de 1930 mortos e sepultados e a oposição incapaz de apunhalá-la politicamente, Dilma depende do Imponderável da Silva nas ruas para escapar aos idos de março - chova ou faça sol.

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*José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor

Míriam Leitão - Anatomia do crime

- Globo

O país veio sendo informado aos poucos. Mesmo assim, ouvir o depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco na CPI chocou pela naturalidade com que certos fatos aconteciam. A cobrança de propina passou a ser institucionalizada, endêmica, sistêmica a partir do começo do governo Lula. Para explicar melhor, ele disse: "esse era o Modus operandi A partir de 2003."

Barusco explicou com a frieza de um médico diante de um corpo aberto para a cirurgia. Meio por cento do contrato era para ele; outro meio por cento, para seu chefe Renato Duque; outra parte era para o tesoureiro do PT, João Vaccari, que ainda nega sua participação. Segundo Barusco, tudo foi organizado de forma prática. Deu exemplo: nos estaleiros, para não dar muita confusão financeira, em um deles, o Jurong, pagava-se propina para ele e Duque. No outro, o Keppel, pagava-se ao Vaccari.

Era um roubo assim organizado, com método e técnica. E tudo isso só na diretoria de Serviços. Na de Abastecimento, também era organizado, mas ele não pode dizer os detalhes. Afinal, nada de bagunça com a propina alheia, aquele era o campo de extração de Paulo Roberto Costa. Cada um com sua sesmaria.

De vez em quando aparecia uma palavra animadora no longo depoimento de ontem, em que Barusco foi sempre cooperativo. Ele avisou que não havia cobrança de comissão em todos os contratos. Alguma coisa se salvou. Não havia em todas as diretorias. Partes do corpo não estão infectadas. A carreira na Petrobras é por mérito, as pessoas são promovidas naturalmente, só na diretoria e em cargos mais estratégicos é que são feitas as indicações políticas.

Aos petistas na sessão de ontem restou apenas repetir a mesma pergunta, insistentemente, sobre as propinas que ele recebeu em 97 e 98. Ele sempre respondia que naquele tempo era um "por conta própria". Depois de 2003, passou a fazer parte do grande empreendimento de tirar dinheiro nos contratos da Petrobras para interesses pessoais e para ser entregue aos operadores dos partidos.

Ele esclareceu, para não haver dúvidas, que foi dinheiro para a campanha da presidente Dilma em 2010. Foi pago pela SBM Offshore, empresa holandesa. É bom entender o contexto. O país estava no meio do julgamento do Mensalão, e o antigo tesoureiro do PT Delúbio Soares havia confessado ter recebido dinheiro por fora, não ter informado à Justiça Eleitoral na campanha de 2002, e, na época, era réu. João Vaccari, instalado pela então ministra Dilma Rousseff no conselho de administração de Itaipu, foi escolhido no pressuposto de que não repetiria os mesmos métodos escusos de arrecadação. Estava participando de esquema mais organizado, institucionalizado.

Os bancos sabiam? Diante da pergunta, ele disse que sim. O salário dele de R$ 1,2 milhão por ano não era suficiente para tanto dinheiro que entrava. O resultado do roubo nos contratos foi todo depositado na Suíça. Ele admitiu que esteve lá "para ver se dava para salvar alguma coisa", mas não foi possível. Está sendo repatriado tudo que recebeu, o que, segundo ele, é no montante de US$ 95 milhões a US$ 97 milhões, não sabe ao certo. E as empreiteiras eram achacadas? Não. Elas sabiam que era assim que as coisas funcionavam. "Já vinha no preço".

Houve até um momento que se pode definir como "swap de propina". Barusco tinha a receber uma propina na Schain, e Vaccari tinha a receber na MPE. Como Vaccari tinha mais facilidade na Schain, ele recebeu de lá, e Barusco recebeu da MPE. Essa modalidade de swap é um produto financeiro desconhecido.

Tudo é impressionante. A clareza do depoimento, a certeza da impunidade com que todos trabalhavam, apesar do julgamento do Mensalão no Supremo, o avanço do câncer sobre o corpo da empresa, as entranhas expostas da anatomia do crime.

Os representantes do Partido dos Trabalhadores protestavam dizendo de novo que antes deles havia "engavetadores gerais" e afirmando serem eles os investigadores da corrupção no Brasil.

Não são não. A Justiça é Federal, o Ministério Público é Federal. São poderes autônomos pela Constituição. A Polícia é órgão federal. Eles investigam, denunciam e podem processar. Poderes e órgãos que a República estabeleceu. Que não venha de novo o PT repetir palavras de Luiz XIV. O Estado não é o PT. O Estado é de todos nós.

Hélio Schwartsman - Criador x criatura

Embora esteja passando por uma fase difícil, é óbvio que o PT não desistiu de seu projeto de poder. O partido certamente disputará a eleição de 2018. Tem até um candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, que, em condições normais, seria muito difícil de derrotar.

A pergunta que não quer calar é se, em 2018, estaremos sob condições normais. É difícil, para não dizer impossível, prever. Em qualquer cenário, o partido precisará de um discurso plausível para vender ao eleitor. A crer numa corrente de pesquisadores que estuda as preferências políticas das pessoas, nossos cérebros fazem suas escolhas eleitorais aderindo a alguma das narrativas oferecidas pelos candidatos. E narrativas nada mais são do que encadeamentos de metáforas carregadas de conteúdo moral que produzem respostas emocionais no cidadão.

O plano A do PT é fazer agora um ajuste recessivo forte e rezar para que, a partir de 2017, o país esteja crescendo. Nesse caso, Lula disputaria a sucessão de Dilma como continuidade. A trajetória do PT de combate à pobreza, iniciada pelo metalúrgico em 2003, seria uma história de sucesso. A crise não passaria de um breve hiato, provocado por uma conjunção infeliz de problemas externos com conspirações internas.

O problema é que não há nenhuma garantia de que a economia brasileira responderá bem ao ajuste. Se, à medida que nos aproximarmos do pleito, a situação ainda for de crise, Lula precisará de uma narrativa diferente. Para posar de cavaleiro magnífico que vem resgatar a virtude perdida --uma imagem poderosa--, ele terá de oferecer alguma explicação de por que as coisas saíram de controle. Na versão light, põe-se a culpa nos tucanos ou na mídia. Se não convencer, Lula terá de rifar Dilma, dizendo que ela foi sequestrada pela direita ou coisa parecida. Assim, é possível que em breve comecemos a assistir a um clássico episódio de rompimento entre criador e criatura.