sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

A imprensa revelou as providências que a presidente Dilma pretende tomar diante da grave realidade do Brasil, fruto da herança maldita que seu primeiro governo deixou para os brasileiros e que sinaliza um PIB de 0% e uma inflação de 7,15%: convocar uma rede de rádio e TV e se reunir com o seu marqueteiro.

Na prática, vai repetir a receita que trouxe o governo ao atual descrédito diante da população.

A presidente não considerou convocar a rede de rádio e TV para prevenir a população sobre medidas que teriam um impacto imediato na vida de milhões de famílias. Não cogitou informar o país sobre o aumento de impostos e o corte de direitos traballhistas. Nem sobre o tarifaço de energia elétrica.

Ao invés de demonstrar respeito pela população, vai repetir a receita e, de novo, utilizar um instrumento de Estado para a conveniência política do governo e apelar para a propaganda, na tentativa de maquiar a crise.

Já vimos esse filme. Não vale a pena ver de novo.

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Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB, em seu perfil no Facebook, 12 de fevereiro de 2015.

Após encontro de mais de duas horas, Dilma e Lula evitam a imprensa

• Petistas se reuniram em meio às sucessivas derrotas do governo no Congresso; ambos saíram de hotel sem falar com jornalistas

Carla Araújo e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiveram um encontro reservado de pouco mais de duas horas em São Paulo. Dilma seguiu para Brasília. Tanto Lula quanto a presidente deixaram o hotel onde se encontraram, na zona Sul da Capital, por saídas onde a imprensa não teve acesso.

O encontro aconteceu em um momento em que a presidente tem visto o governo sofrer algumas derrotas na Câmara, desde a eleição do peemedebista Eduardo Cunha. Além disso, recentes denúncias da Operação Lava Jato aumentam suspeitas do envolvimento do PT no esquema de corrupção da Petrobrás.

A reunião de Lula com sua afilhada política ocorre também após a recomendação de melhora na comunicação do governo. Apesar disso, tanto Dilma quanto Lula evitaram a imprensa. Durante reunião ministerial no final do mês de janeiro, Dilma pediu aos seus ministros que falassem mais e travassem uma "batalha de comunicação" para defender o seu governo.

Na quarta, 11, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, Pepe Vargas, confirmou ao Broadcast que os dois teriam este encontro em São Paulo. Ele negou, no entanto, que o encontro seria para Dilma pedir "socorro" ao ex-presidente para vencer o isolamento em que ela se encontra ou tentar ajudar a contornar os problemas enfrentados pelo governo seja na área política, seja econômica.

Exames. Pela manhã, Dilma realizou exames de rotina no hospital Sírio Libanês. Segundo Boletim médico, todos os exames apresentaram resultados dentro da normalidade", diz boletim médico. O cardiologista e médico de Dilma Rousseff, Roberto Kalil Filho, afirmou que a presidente realizou uma tomografia de corpo inteiro como "rotina". "Ela está ótima, melhor do que eu", afirmou aos jornalistas. A presidente teve, em 2009, um câncer linfático e passou por cirurgia e quimioterapia.

Após atritos, Lula tenta refazer pontes do PT com PMDB e PSB

• Ex-presidente e Dilma se reuniram por três horas nesta quinta

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na tentativa de melhorar a relação do governo com o PMDB, o ex-presidente Lula esteve nesta quarta-feira (11) com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e com o ex-governador Sérgio Cabral.

Paes e Cabral são peemedebistas e conterrâneos de Eduardo Cunha, que se elegeu presidente da Câmara dos Deputados à revelia da presidente Dilma Rousseff.

Lula também se reuniu recentemente com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que derrotou o PT na eleição no Estado. Segundo aliados, o ex-presidente busca uma reaproximação com os partidos contra quais o PT concorreu na eleição.

Nesta quinta (12), Lula almoçou com Dilma em São Paulo, encontro que durou cerca de três horas. O objetivo era discutir o cenário político e o impacto da Operação Lava Jato no destino do PT.

A aliados o ex-presidente tem manifestado sua apreensão com os rumos do governo Dilma e se mostrado pouco confiante quanto à disposição da presidente de atuar mais incisivamente para debelar a crise. A caminho do encontro, chegou a lamentar, segundo interlocutores, que "não há nada tão ruim que não possa piorar".

A conversa foi marcada na sexta (6), quando os dois participaram, em Belo Horizonte, da festa do aniversário de 35 anos do PT. Foi o primeiro encontro público entre os dois desde a que ela tomou posse para o segundo mandato.

Há relatos de um certo afastamento entre Lula e Dilma. Antes do encontro, a presidente foi ao Hospital Sírio-Libanês, onde fez um checkup.

Para controlar PMDB, Dilma recorre a Lula

• Partido agora tenta impedir que petista ocupe relatoria da CPI da Petrobras

Chico de Gois, Silvia Amorim eTatiana Farah – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Para tratar da crise política, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se ontem à tarde com o ex-presidente Lula em São Paulo. Foi a primeira reunião entre os dois desde o início do segundo mandato. Na véspera, Lula já demonstrara o papel que terá para tentar neutralizar a crise com o PMDB: no Rio, se encontrou com o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral. A viagem indica o papel que Lula deve desempenhar neste momento de crise do PT e do governo: o de articulador com os partidos e com os setores da sociedade.

A rebelião do PMDB tem dado trabalho a Dilma na Câmara, presidida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). . Após ganhar a presidência da Câmara, de colocar na presidência da comissão especial da reforma política um representante do DEM e de escolher como líder um deputado que fez campanha para Aécio Neves (PSDB), o PMDB se prepara agora para impor mais uma derrota ao PT. À frente do bloco com o maior número de parlamentares na Casa, o partido pretende ter não só o presidente da CPI da Petrobras, mas também indicar para a relatoria um aliado não petista.

Três parlamentares do bloco do PMDB (SD, PP, PTB, PSC, PHS, PEN, PRB, PTN, PRP, PSDC, PRTB) confirmaram negociações nesse sentido.

- Somos o maior bloco, e a relatoria deve ficar conosco também - afirmou.

Os peemedebistas já conversam com as outras siglas para ver quem aceitaria a missão. O PP, embora com bancada com 40 deputados, deve sair do páreo porque foi citado como beneficiário do esquema criminoso investigado na Operação Lava-Jato. O PTB é uma possibilidade, mas o líder Jovair Arantes (GO) nega que isso esteja em pauta.

O PT, no entanto, não está disposto a abrir mão facilmente da relatoria. O líder Sibá Machado (AC) avisou que lutará para que seu partido tenha lugar de destaque na CPI.

- Vamos lutar para ficarmos com a relatoria. O PT não abre mão - disse.

Após uma semana agitada na Câmara com a aprovação de medidas indigestas para o governo, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resumiu ontem numa frase suas atitudes neste início da gestão dele. Entre as medidas que desagradaram ao governo estão a aprovação do orçamento impositivo e o convite aos 39 ministros de Dilma para que prestem esclarecimentos aos deputados. Para ele, o governo não tem motivos para reclamar.

- Não sei se o governo gostou ou não gostou. Mas também não estamos lá para agradar ou desagradar a quem quer que seja - afirmou.

Jungmann aponta isolamento de Dilma

• Parece que somos governo e o Palácio do Planalto é a oposição, ironizou o parlamentar

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) apontou o isolamento do Palácio do Planalto como causa de “momentos difíceis” que o país pode vir a viver. A base aliada do governo, disse ele, “em larga escala, acompanha e trabalha com a oposição, que vem obtendo sucessivas vitórias e sucessivas maiorias”.

Jungmann avaliou que o Poder Executivo perdeu o controle da agenda política do país, o que ficou claro com a derrota que sofreu no embate pela presidência da Câmara, e vive um divórcio com as ruas desde as manifestações de junho de 2013.

“Todas as vezes que eu vi esse isolamento, com o Congresso caminhando em uma direção oposta à do Executivo, vivemos momentos difíceis. Me refiro a Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor”, afirmou o parlamentar, que é vice-líder da Minoria na Câmara.

O deputado pernambucano disse não ser “esse tipo de pessoa que se posiciona contra ou a favor do impeachment porque me parece tão desnecessário e supérfluo quanto ser a favor das fases da lua ou das marés”. Apesar de estar sendo colocado de modo açodado, salientou, o procedimento é constitucional e está previsto em determinadas situações, que ainda não estão dadas.

“Parece que somos governo e o Palácio do Planalto é a oposição, que vivemos uma situação absolutamente inusitada, um parlamentarismo de fato, pois a agenda política é comandada por uma parte da base que se descolou do governo e pela oposição que saiu das urnas nessa condição”, disse Jungmann, ao ironizar as fragilidades do governo.

“E de nada adiantou a composição (partidária) do governo Dilma Rousseff para manter o controle da base e da Câmara dos Deputados, pois ela o perdeu”, observou Jungmann.

Autor do pedido da chamada CPI dos sanguessugas e da Comissão Parlamentar de Inquérito que desaguou no mensalão, Jungmann disse que o processo de corrupção dos governos do PT está alcançando seu ápice com a descoberta do propinoduto na Petrobras. “São escândalos que se transformaram em sistêmicos”.

O parlamentar do PPS defendeu a reforma política porque, “imerso na cidade, eu vi o distanciamento da sociedade do estamento político”, ressaltou. Acrescentou que a reforma será o reinício da credibilidade na política, da qual o país precisa.

Manobra do PMDB-RJ garantiu vitória de Picciani na liderança da Câmara

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA, - Uma "engenharia" política do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, garantiu a vitória do deputado Leonardo Picciani (RJ) para a liderança do PMDB na Câmara. Filho do presidente do diretório fluminense do partido, Jorge Picciani, Leonardo venceu Lúcio Vieira Lima (BA) na última quarta-feira, 11, por apenas um voto de diferença e consolidou a hegemonia do PMDB do Rio de Janeiro na Casa.

O placar terminou 34 a 33. Reservadamente, o grupo derrotado culpa a interferência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pelo resultado.

Paes nomeou dois secretários "tampões" para a administração municipal para que suplentes do PMDB assumissem seus mandatos e votassem em Picciani. O deputado Sérgio Zveiter (PSD) ocupou por apenas quatro dias a secretaria de Coordenação de Governo do Rio de Janeiro e abriu vaga para Marquinho Mendes exercer o mandato de deputado federal e depositar um voto em Picciani.

Ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, Zveiter disse que atendeu a um pedido do próprio Picciani. "Eu aceitei para ajudar o Rio de Janeiro, pela importância de termos (na Câmara Federal) um líder do PMDB do Estado", afirmou o parlamentar, que reassume na Câmara nesta sexta-feira, 13.

O PMDB e o PSD participaram da mesma coligação no Rio nas últimas eleições. Por isso, um parlamentar de uma das siglas pode abrir espaço para o da outra quando se afasta temporariamente do mandato.

Foi o que aconteceu também com Alexandre Serfiotis (PSD), que foi secretário especial de Promoção e Defesa dos Animais da cidade do Rio também por quatro dias. Sua licença abriu espaço para que Celso Jacob (PMDB) participasse do pleito e garantisse mais um voto para Picciani.

"Não tinha sentido eu votar em outro. Eu conheço o Picciani e sei do trabalho que ele vai fazer", afirmou Jacob.

O secretário de Coordenação de Governo do município do Rio, Pedro Paulo (PMDB), reassumiu seu mandato de deputado federal na segunda-feira (9) para participar da eleição da bancada. Ele e Picciani devem disputar a candidatura da legenda para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2016.

Sequelas
A articulação do PMDB fluminense - que tem agora a prefeitura, o governo estadual, a presidência da Câmara e a liderança da bancada - abriu um racha entre os deputados, que queria a neutralidade de Cunha na eleição.

Inicialmente, havia quatro deputados do Nordeste que se colocaram como candidatos a líder: Danilo Forte (CE), Marcelo Castro (PI), Manoel Júnior (PB) e Vieira Lima (BA). Eles decidiram apoiar o deputado da Bahia, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, para evitar o que chamaram de "hegemonia" do Rio de Janeiro.

Embora Cunha negue que tenha atuado para beneficiar Picciani, o resultado gerou sequelas. Vieira Lima, por exemplo, se recusou a assumir a presidência ou a relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar denúncias de corrupção na Petrobras, oferecido a ele como um "prêmio de consolação".

Forte afirmou que, passada a eleição, é preciso "reconstruir a unidade partidária". "É hora de juntar os cacos e bola pra frente."

Dirceu sabia de propina paga ao PT, afirma doleiro

• Youssef liga ex-ministro condenado no mensalão a esquema de corrupção

• Delator diz que petista e ex-ministro Palocci tinham ligação com empresário que admitiu ter pago propina

Aguirre Talento, Flavio Ferreira, Gabriel Mascarenhas, Mario Cesar Carvalho e Rubens Valente – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA -O doleiro Alberto Youssef afirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que cumpre pena por participação no escândalo do mensalão, sabia que o PT recebia recursos de empreiteiras que pagaram propina para fazer negócios com a Petrobras.

De acordo com Youssef, Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tinham "ligações" com um dos empresários que admitiram ter pago suborno a diretores da estatal.

O depoimento de Youssef foi prestado aos procuradores da Operação Lava Jato em caráter sigiloso em 10 de outubro e tornado público pela Justiça Federal nesta quinta (12).

Youssef, que decidiu colaborar com a Justiça em troca da redução de pena, disse que Dirceu era "amigo" do empresário Julio Camargo, que também fez acordo de delação premiada. Camargo não citou Dirceu em seus depoimentos.

Dirceu repudiou as declarações de Youssef. A assessoria de Palocci disse que ele não comentaria o depoimento.

O doleiro disse que recebeu recursos de Camargo no exterior e distribuiu valores equivalentes para escritórios do empresário no Rio e em São Paulo, destinados ao PT.

Antes do repasse ao partido, Youssef descontou a sua parte do surborno e de outros funcionários da Petrobras.

"O dinheiro entregue pelo declarante [Youssef] em São Paulo servia para pagamento da [empreiteira] Camargo Corrêa e da Mitsui Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu", disse o doleiro, referindo-se também ao tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.

Youssef afirmou ainda ter visto, em poder de um operador de Camargo, uma planilha de pagamentos de propina e caixa dois com diversos apelidos e valores. Dirceu, segundo o doleiro, era identificado como "Bob", apelido de um ex-assessor de Dirceu.

Em relação ao papel do ex-ministro, o doleiro não apresentou à PF provas documentais de suas afirmações nem explicou como teria conhecimento da eventual participação de Dirceu no esquema.

As autoridades já haviam descoberto que Dirceu recebeu, por meio de sua consultoria, R$ 4,6 milhões das empreiteiras UTC, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e OAS. Executivos dessas empresas estão presos desde novembro sob acusação de envolvimento no esquema.

Segundo Youssef, Dirceu usou "em diversas oportunidades", depois que deixou o governo Lula, em 2005, um jatinho modelo Citation Excel pertencente a Camargo e que ficava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

O doleiro disse não saber quantas vezes o avião foi utilizado nem a razão dos voos.

Youssef também relatou que entregou R$ 800 mil a Vaccari e à sua cunhada, Marice Corrêa Lima, a mando da Toshiba Infra-Estrutura, que faz parte do grupo japonês. A empresa foi contratada para fazer subestações de energia elétrica no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) por R$ 117 milhões.

Em outro depoimento, Youssef afirmou que a Odebrecht e a UTC pagaram propina de R$ 20 milhões ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, e a João Cláudio Genu, assessor do partido que foi absolvido no julgamento do mensalão.

O doleiro citou mais dois congressistas do PP. Ele afirmou que um deputado federal chamado "Luis Fernando" influenciou a contratação de uma empresa pela Petrobras. O depoimento não cita o sobrenome do congressista.

Youssef confirmou ainda que o ex-deputado federal Luiz Argôlo, hoje no Solidariedade, era um dos parlamentares que recebiam propina do esquema de corrupção na Petrobras, com "repasses mensais a partir dos contratos da Diretoria de Abastecimento". Argôlo deixou o PP em setembro de 2013.

O ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que também colabora com as autoridades, disse que ouviu de um lobista que o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) teria recebido R$ 400 mil de uma empresa. Vaccarezza disse que a acusação vaga equivale a uma absolvição.

'Já era esperado", diz tucano sobre envolvimento de Dirceu na Lava Jato

O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA,- O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou nesta quinta-feira, 12, que a notícia de que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi citado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef já era esperada.

"É uma suspeita que se confirma. O Brasil sempre suspeitou do envolvimento daqueles que foram os atores principais do mensalão no petrolão", disse em referência à forma como escândalo na Petrobrás vem sendo chamado pela oposição.

Cunha Lima acusou o PT de montar uma "estrutura criminosa" nos órgãos públicos para perpetuar o projeto de poder da sigla e que, por isso, é natural que os personagens envolvidos em escândalos se repitam.

"A cada investigação que for feita, seja na Petrobras, seja no BNDES, provavelmente nós encontraremos as mesmas figuras carimbadas", disse.

Personagem central da Lava Jato, o doleiro envolveu Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci a um suposto recebimento de propina em outro trecho de sua delação. Atualmente, Dirceu cumpre pena em regime aberto por envolvimento no mensalão. Ele foi considerado, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como o "chefe da quadrilha" do esquema de compra de apoio político no Congresso em troca de apoio durante o primeiro mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

CPI. O líder tucano afirmou ainda que não vê problemas em a CPI da Petrobrás na Câmara ser ampliada e apurar também fatos ocorridos no período do governo de Fernando Henrique Cardoso, como querem os petistas.

"Nós somos a favor de qualquer forma de investigação. Vamos investigar tudo, passado e presente, para que possamos ter um futuro livre da corrupção", disse.

Doleiro acusa Dirceu de receber propina para PT

Delação incrimina Dirceu

• Doleiro acusa ex-ministro da Casa Civil e Vaccari de receberem propinas em nome do PT

Renato Onofre e Cleide Carvalho* - O Globo

SÃO PAULO E CURITIBA - Nos depoimentos que prestou à Justiça Federal como parte das investigações da Operação Lava-Jato, o doleiro Alberto Youssef acusou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - condenado pelo mensalão - de participar do esquema de recebimento de propina instalado na Petrobras. Segundo Youssef, Dirceu teria o mesmo papel do atual tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Os dois seriam os responsáveis por receber, em nome do PT, vantagens indevidas oriundas de contratos firmados por diversas empreiteiras com a estatal.

Segundo documentos divulgados ontem pelo juiz Sérgio Moro, Youssef reforça as acusações do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, e volta a pôr o PT no centro do esquema de corrupção.

Em seus depoimentos, Youssef chegou a dizer que havia intermediado o pagamento de R$ 27 milhões em propina a agentes políticos entre 2005 e 2012. A transcrição oficial registra: "o dinheiro entregue pelo declarante (Youssef) em São Paulo servia para pagamento da Camargo Corrêa e da Mitsue Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu".

Em outra parte, a Justiça anotou que, segundo Youssef, parte do dinheiro ia para o PT. "Os valores entregues em espécie pelo declarante eram destinados ao Partido dos Trabalhadores e à Diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque e outros gerentes da referida diretoria. Que o valor total operado por este modus operandi foi desenvolvido do final de 2005 até meados do ano de 2012".

Contabilidade cita "Bob"
Ainda segundo Youssef, a ligação entre Dirceu e o consultor Júlio Camargo, que prestava serviços para diversas empreiteiras e que também faz delação premiada na Lava-Jato, era pessoal. O ex-ministro, afirmou o doleiro, usava o jatinho dele com frequência. E, na contabilidade de Camargo, aparece como "Bob". Sabe-se que Dirceu foi assessorado por uma pessoa com esse apelido durante anos.

Documentos anexados à investigação da Lava-Jato e revelados recentemente mostram que a JD Consultoria, empresa de Dirceu, recebeu, entre 2009 e 2013, quase R$ 4 milhões de empreiteiras denunciadas no esquema de corrupção. Entre elas, a Galvão Engenharia, a OAS e a UTC, cujos executivos estão presos em Curitiba. Por conta disso, os sigilos bancário e fiscal de sua empresa foram quebrados. Em sua defesa, Dirceu disse que prestava consultoria. A suspeita da PF é de que as consultorias eram fictícias.

Segundo Youssef, Dirceu e Vaccari frequentavam um edifício na Rua Joaquim Floriano, no Itaim Bibi, em São Paulo, que serviria de base para os pagamentos de propina. O doleiro diz ainda que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tinha ligação com o consultor Julio Camargo, de quem Youssef garante ter ouvido acusações contra Dirceu e Vaccari.

Ontem, a Justiça Federal também liberou para leitura os depoimentos prestados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ao justificar a divulgação das duas delações, Moro foi enfático. Disse que o processo não corre sob sigilo e que não cabe ao Judiciário "ser o guardião de segredos sombrios".

"Ligações familiares"
Em seus depoimentos, Costa também citou Dirceu. Segundo ele, o ex-ministro indicou Renato Duque para a área de Engenharia e Serviços da Petrobras. Segundo Costa, os dois têm ligações familiares. Duque foi preso, acusado de receber propina, mas está solto.

Segundo o ex-diretor de Abastecimento, o PT abocanhava também propinas na área de maior investimento da Petrobras: a de Exploração e Produção, que responde por entre 60% e 70% dos investimentos da empresa. Esse setor foi comandado pelo diretores Guilherme Estrela e José Formigli, ambos indicados pelo PT. Até agora, havia indícios de pagamento indevidos nas diretorias de Abastecimento, Internacional e Serviços.

Segundo Costa, o PT ainda recebia todo o dinheiro de contratos firmados na área de Gás e Energia, que foi comandada pela ex-presidente da estatal Graça Foster.

O delator citou o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Disse que ele indicava o diretor da Área Internacional, apesar de PT e PMDB dividirem as comissões dos contratos firmados pela área, geralmente descritos como de "valores gigantes". Atuaram no setor os ex-diretores Nestor Cerveró e Jorge Zelada.

Por fim, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras frisou que nunca se reuniu com Vaccari, mas afirmou que Youssef e o tesoureiro do PT se conheciam bem e mantinham contato frequente. Certa vez, disse ele, viu o doleiro acenando para Vaccari num restaurante de São Paulo e ouviu de Youssef um explicação: que ele era o responsável por distribuir a propina do PT. Segundo Costa, "todos os valores para uso político eram repassados a João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, quando se tratassem de recursos destinados ao Partido dos Trabalhadores" .(*Enviado especial)

Outro lado
José Dirceu.
Em nota, ele diz que repudia "com veemência" as declarações de Alberto Youssef, nega ter recebido recursos ilícitos de Julio Camargo ou de qualquer outra empresa e afirma que nunca representou o PT em negociações. Dirceu diz que sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo e que as acusações são mentirosas.

João Vaccari Neto.
Em nota, o tesoureiro nega ter recebido quantia por parte de Alberto Youssef e afirma serem "absolutamente mentirosas" as afirmações do doleiro.

Antonio Palocci.
Ex-ministro comunicou que não se manifestaria.

Delcídio Amaral.
Por meio de sua assessoria, o senador classificou como "bizarro" o que foi dito por Paulo Roberto Costa e afirmou que sua divulgação é "irresponsável".

Cândido Vaccarezza.
O ex-deputado diz que recebeu as afirmações de Paulo Roberto Costa como uma defesa a ele porque não é acusado de nada "concretamente".

Fernando Baiano.
A reportagem deixou recado para o advogado Mário de Oliveira Filho, mas não teve retorno.

Luiz Argôlo.
A reportagem tentou localizar o advogado Aluísio Lundgren Corrêa Regis, mas não teve sucesso.

Camargo Correa.
A empresa repudiou as acusações e reiterou que segue à disposição das autoridades e que tem prestado as informações solicitadas.

Toyo Setal.
Empresa informou que não comentaria.

Julio Camargo
. Em nota, a advogada Beatriz Catta Preta disse que as afirmações de Alberto Youssef são "temerárias porque são absolutamente inverídicas".

Youssef diz que Dirceu e Palocci eram ligação de lobista com PT

• Doleiro afirmou também, em delação premiada em outubro, que ex-ministro da Casa Civil e tesoureiro do PT eram pessoas indicadas para ‘efetivar

Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - Alberto Youssef revelou em sua delação premiada que os ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci eram “as ligações” do lobista e operador de propina na Petrobrás Julio Gerin Camargo com o PT. O doleiro – alvo central da Operação Lava Jato – apontou que o nome José Dirceu consta no registro de contabilidade de propina com a rubrica “Bob” – suposta referência ao apelido de um ex-assessor do ex-ministro da Casa Civil.

“Julio Camargo possuía ligações com o Partido dos Trabalhadores, notadamente com José Dirceu e Antonio Palocci”, afirmou Youssef.

Personagem central da Lava Jato, o doleiro envolveu Dirceu a um suposto recebimento de propina em outro trecho de sua delação. Atualmente, o ex-ministro da Casa Civil cumpre pena por envolvimento no Mensalão.

“Que o dinheiro entregue pelo declarante em São Paulo servia para pagamento da Camargo Corrêa e da Mitsue Toyo ao Partido dos Trabalhadores, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu”, disse.

Segundo o doleiro, o lobista tinha uma pessoa que era responsável pela contabilidade das propinas operadas por ele na Petrobrás, em nome de empreiteiras do cartel. Trata-se de Franco Clemente Pinto.

“Franco é homem de confiança de Julio Camargo e o responsável pela contabilidade de pagamentos ilícitos a título de propina e caixa 2″, afirmou Youssef. Segundo o doleiro, Franco armazenava toda movimentação de propina em um “pen drive”, acessado com senha.

“Eram utilizadas siglas em tal contabilidade ilícita”, explicou o doleiro. “A de José Dirce era ‘Bob’.” Para a PF, pode tratar-se de Roberto Marques, um ex-assessor. Youssef diz ter visto várias vezes o registro de contabilidade.

O doleiro afirmou ainda não sabe sobre valores que teriam sido repassados a Dirceu, mas contou que o ex-ministro, depois de deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva, utilizou o jato Citation Excel que pertence ao lobista Julio Camargo.

“Não sabe dizer quantas vezes o avião foi utilizado por José Dirceu e nem a razão do uso. Mas pode afirmar que Julio Camargo e José Dirceu são amigos”, registraram os investigadores da Lava Jato no termo de delação 11 do doleiro.

A PF anexou a foto do homem de confiança do lobista que fazia a contabilidade da propina em em seu nome.

O advogado que defende Palocci foi procurado, mas ainda não se manifestou. Roberto Marques foi procurado na Assembleia Legislativa de São Paulo. A reportagem foi informada que ele não estava e não poderiam ser passados celular ou e-mail.

Com a palavra, José Dirceu. “O ex-ministro José Dirceu repudia, com veemência, as declarações do doleiro Alberto Youssef de que teria recebido recursos ilícitos do empresário Julio Camargo, da Toyo Setal, ou de qualquer outra empresa investigada pela Operação Lava Jato.

O ex-ministro também afirma que nunca representou o PT em negociações com Julio Camargo ou com qualquer outra construtora. As declarações são mentirosas. O próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu. O ex-ministro também esclarece que, depois que deixou a chefia da Casa Civil, em 2005, sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo.”

Com a palavra, a defesa de Julio Camargo. O executivo Julio Gerin de Almeida Camargo classificou de “ilusória e absurda” a afirmação do doleiro Alberto Youssef sobre suposto relacionamento dele com o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). Em nota intitulada “Fato Relevante”, a advogada criminal Beatriz Catta Preta, que defende Camargo na Operação Lava Jato, afirma que as declarações de Youssef em delação premiada “são temerárias porque absolutamente inverídicas”.

Com a palavra, a Camargo Corrêa. “A Construtora Camargo Corrêa repudia as acusações sem comprovação e reitera que segue à disposição das autoridades e tem prestado as informações solicitadas pelas autoridades para esclarecer os fatos e demonstrar que estas acusações são improcedentes.”

Ex-gerente da Petrobrás entregou contabilidade de propina de Vaccari

• Pedro Barusco, delator da Lava Jato, disse que anotação de US$ 4,5 milhões com a sigla “Moch”, de mochila, refere-se a valor de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

Ricardo Brandt e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco – primeiro integrante do esquema do PT no escândalo de corrupção da Petrobrás a fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato – entregou à Justiça registro da contabilidade de US$ 4,5 milhões de propina do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O dinheiro estaria em uma conta na Suíça, em abril de 2013.

“João Vaccari é identificado pela sigla ‘Moch’, que significa mochila”, afirmou Barusco, ao depor à Polícia Federal, no dia 21 de novembro de 2014. Segundo o delator, a sigla foi criada porque “quase sempre presenciava João Vaccari usando uma mochila”. No dia 5, quando foi alvo da nona fase da Lava Jato – Operação My Way -, o tesoureiro estava com a mochila. Nela, policiais federais encontraram apenas um caderno, em branco, e uma agenda pequena com poucas anotações.

Metódico, o delator impressionou os investigadores por sua disciplina e organização. Braço direito do ex-diretor de Serviços e Renato Duque – principal canal do PT, via Vaccari, no esquema de corrupção -, ele lançava em seu computador dados relativos a cada contrato, incluindo datas, valores dos negócios e quanto cabia a cada beneficiário da máquina de propinas.

Na mesma planilha de contabilidade estão registrados valores de Duque – indicado ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu. A sigla para o ex-diretor era “MW” – referência à My Way, música de Frank Sinatra usada por ele para tratar do ex-chefe.

Barusco operava a contabilidade da propina na diretoria, segundo confessou. Por meio da área de Serviços, o PT arrecadava de 1% a 2% de propina em contratos das demais diretorias da Petrobrás, por ser ela quem passou a concentrar as contratações e fiscalizações de obras a partir de 2003. As diretorias de Abastecimento e Internacional seriam cotas do PP e do PMDB na estatal.

O valor de Vaccari dos US$ 4,5 milhões entrou para a contabilidade de Barusco, à partir de 2013, segundo ele diz, quando passou a registrar os valores arrecadados com estaleiros em contratos de navios-sondas. A quantia do tesoureiro do PT seria de pagamentos do Keppel Fels, de Singapura.

Segundo registro da Polícia Federal, quando Barusco começou a “contabilizar o pagamento de propinas referentes a Keppel Fels, verificou que João Vaccari já havia recebido até aquela data” o valor de US$ 4.523.000.

Barusco afirmou ainda que a propina paga entre 2003 a 2013 a “João Vaccari foi adiantada pelo Keppel Fels, pois até tal data (março de 2013) o faturamento não havia sido atingido pelo estaleiro”.

Investimento público. O negócio envolveu contratos que somaram US$ 22 bilhões para construção de 28 navios-sondas pela Sete Brasil para a Petrobrás. Barusco diz ter participado diretamente da constituição da empresa em 2011, que teve “como principal financiador o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”.

A Sete Brasil, segundo ele, foi constituída com capital privado e de investidores, entre eles três fundos de pensão de servidores federais – Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal) -, a Petrobrás e os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander.

Barusco afirma que a esse foi “o maior contrato do mundo interior de sondas de uma só vez”. Ele disse que a licitação foi “dura” e vencida sem acertos. A única concorrente foi a Ocean Ring – que já foi representada no Brasil pelo lobista e operador do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano.

O ex-gerente de Engenharia explicou que para vencer o contrato da Petrobrás, a Sete Brasil negociou com cinco estaleiros a construção das sondas (todos com empresas do cartel integrando a sociedade).

“Havia uma combinação de pagamento de 1% de propina para os contratos firmados entre a Sete Brasil e cada um dos estaleiro”, revelou Barusco. Essa combinação de propina teria envolvido o tesoureiro do PT “João Vaccari Neto”, o próprio delator e “agentes de cada um dos estaleiros”.

Barusco disse que a divisão da propina era feita da seguinte forma: ”2/3 para João Vaccari e 1/3 para a ‘Casa 1′ e ‘Casa 2′”. O ex-gerente explicou que a terminologia “Casa 1″ era referente aos valores de propina para agentes da Petrobrás. “Especificamente para o Diretor de Serviços Renato Duque e Roberto Gonçalves (que sucedeu Barusco na gerência de Engenharia).”

Já o termo “Casa 2″ era referente aos pagamentos de propina para executivos da Sete Brasil, em especial o presidente João Carlos de Medeiros Ferraz, e o diretor de Participações, Eduardo Musa.


Planilha com registros de propina de Vaccari (“moch”), Renato Duque (“MW”) e outros, entregue por delator

Barusco identificou na tabela Ferraz como “Mars”, de marshall, “MZB” era a sigla de “muzamba”, para referir-se a Musa, e “Sab”, era sua própria rubrica, referência à Sabrina, nome de uma ex-namorada.

O ex-gerente de Engenharia disse ainda que “achava injusta a distribuição estabelecida por João Vaccari”. “Isso o motivou a negociar por fora o pagamento em seu favor de 0,1%.”


Com a palavra, João Vaccari Neto
O secretário Nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, negou veementemente ontem que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro fruto de propina.

Em nota, na semana passada, Vaccari “esclareceu (à PF), em especial, que enquanto secretário de Finanças do PT jamais recebeu dinheiro em espécie”.

“O PT não tem caixa 2, o PT não tem conta no exterior”, diz o texto divulgado por Vaccari. “Todas as contribuições ao partido, vindas pela Secretaria de Finanças por mim, foram absolutamente dentro da lei.”

Veja nota completa:
“João Vaccari Neto, secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores – PT, por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome.

Reitera, mais uma vez, que o Partido dos Trabalhadores – PT, não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes.

Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo, que o Sr. Vaccari comparece e presta todas as informações solicitadas, colaborando com as investigações da operação “Lava Jato”, como sempre o fez.

'Destruição' de legado na política externa incomoda ex-presidente

• Lula se queixa do fato de Brasil ter perdido espaço no cenário internacional após redução de prestígio do Itamaraty com Dilma

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

Além de criticar duramente o desempenho da economia e a condução da política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem focado sua irritação contra a sucessora e pupila Dilma Rousseff na política externa.

Cada vez mais desenvolto nas críticas, Lula reclama que Dilma está "destruindo" seu legado na política externa, área da qual tem especial orgulho. Ele julga que nos seus dois mandatos o Brasil virou uma estrela disputada e agora vem perdendo precioso espaço no cenário internacional e nos foros de grandes decisões setoriais ou multilaterais.

Na avaliação que Lula faz e os lulistas disseminam, essa perda de importância ocorre principalmente pelos resultados da economia no primeiro mandato de Dilma e porque a presidente descuidou da interlocução com os países ricos, não deu continuidade à aproximação com os emergentes, não tem paciência para reuniões multilaterais e desdenha da política de "soft power" iniciada na gestão do chanceler Celso Amorim na era Lula.

Lula se queixa particularmente do descaso de Dilma com uma das prioridades de sua política externa: a África. Em seu governo, ele promoveu a aproximação econômica, política e humanitária com o continente africano, levando grandes empresas nacionais a operarem em especial nos países de língua portuguesa e também por meio de programas de cooperação em saúde, educação, agricultura, combate à pobreza e desenvolvimento sustentável.

"Agora, quando chego num país africano e pergunto como vai o programa esse ou aquele, a resposta é sempre assim: ou acabou, ou o dinheiro não chegou", reclamou Lula a interlocutores, lembrando que, mesmo após deixar o Planalto, continua viajando com certa frequência à África e apadrinha obras e investimentos brasileiros no continente, principalmente na área de construção pesada e equipamentos.

'Dilminha'. Perplexo diante da perda de prestígio e de influência do Itamaraty - que está no terceiro chanceler desde 2011 -, Lula convidou para uma conversa o então ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e assessores petistas em São Paulo.

"O que está acontecendo? Por que o Brasil saiu do radar?", perguntou Lula ao ministro, sem meias-palavras. Com uma cautela que lhe é característica e que foi lapidada pela carreira diplomática, Figueiredo ainda tentou tergiversar. Lula insistia, Figueiredo desconversava. Até que o ex-presidente foi ao ponto: "É a Dilma, não é?".

O chanceler concordou, mas medindo cada palavra: "A presidenta não dá muita prioridade à política externa, à diplomacia..." Lula tentou ensinar, então, que, "com a Dilminha é assim: você fala a primeira vez, fala a segunda vez, fala a terceira vez, até ela te ouvir e decidir fazer".

Figueiredo não teve tempo para testar a fórmula Lula de tratar com a sucessora e ex-chefe da Casa Civil. Pego de surpresa, o chanceler foi demitido por Dilma menos de 30 horas antes da posse do segundo mandato, quando tinha tudo pronto para recepcionar autoridades estrangeiras, incluindo o vice-presidente norte-americano, Joe Biden, e para tirar a foto com o novo ministério.

Calote. Com uma intensa pauta internacional, inclusive a urgente recomposição das relações com os Estados Unidos, o novo chanceler, Mauro Vieira, está sendo obrigado a consumir um tempo precioso para resolver um grave problema numa seara bem menos nobre: a falta de dinheiro nas representações brasileiras mundo afora.

Até jovens diplomatas consideram que esse é mais um resultado direto do descaso de Dilma com o Itamaraty, que se reflete em questões comezinhas como o pagamento das contas de embaixadas e consulados. Funcionários vêm sendo compelidos a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar despesas como telefone, luz e água.

Economia teve retração de 0,15% em 2014, segundo índice do BC

• No 4º trimestre, queda foi de 2,39%. dado reforça expectativa negativa sobre PIB

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - A economia encolheu 0,15% em 2014, segundo os cálculos do Banco Central (BC). Nem mesmo os gastos excessivos do governo, que provocaram um rombo das contas públicas, conseguiram fazer o Brasil crescer no ano passado. Segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, os estímulos não surtiram efeito por causa da baixa confiança de empresários e famílias, em um cenário de esgotamento do modelo de crescimento econômico.

Mesmo com retração da economia, o resultado do IBC-Br, o índice de crescimento criado pelo BC, veio um pouco acima das expectativas dos economistas do mercado financeiro. Eles apostavam que o indicador mostraria retração de 0,2%.

- O número é bom porque surpreendeu todo mundo que esperava um dado pior. Mas é ruim porque reforça a desaceleração da economia - frisou o economista-chefe da Votorantim Asset, Roberto Padovani.

Os dados do BC mostram uma queda da economia de nada menos que 2,39% no último trimestre do ano passado. Pelas contas da autoridade monetária, a atividade econômica encolheu 0,55% em dezembro. Para o diretor de Pesquisas e Estudos do Bradesco, Octavio de Barros, esse desempenho reforça a aposta de uma retração da economia de 0,2% no quarto trimestre pelos dados oficiais, que serão divulgados pelo IBGE no mês que vem.

Há grandes diferenças metodológicas entre o Produto Interno Bruto (PIB) do BC e o oficial. O cálculo da autoridade monetária é mais simples e divulgado mais rapidamente. O indicador é usado para calibrar a política de controle de preços e definir a taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,25% ao ano. É para o IBC-Br que o Comitê de Política Monetária (Copom) olhará para definir os juros no dia 4 de março. Os dados antecipados até agora reforçam o cenário de desaceleração da economia.

PMDB age para isolar PT na CPI da Petrobras

• Peemedebistas, que vão presidir comissão, tentam impedir que um petista seja relator

Chico de Gois, Silvia Amorim e Tatiana Farah – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Após ganhar a presidência da Câmara, de colocar na presidência da comissão especial da reforma política um representante do DEM e de escolher como líder um deputado que fez campanha para Aécio Neves (PSDB), o PMDB se prepara para impor mais uma derrota ao PT. À frente do bloco com o maior número de parlamentares na Casa, o partido pretende ter não só o presidente da CPI da Petrobras, mas também indicar para a relatoria um aliado não petista.

Três parlamentares do bloco do PMDB (SD, PP, PTB, PSC, PHS, PEN, PRB, PTN, PRP, PSDC, PRTB) confirmaram negociações nesse sentido.

— Somos o maior bloco, e a relatoria deve ficar conosco também — afirmou.

Os peemedebistas já conversam com as outras siglas para ver quem aceitaria a missão. O PP, embora com bancada com 40 deputados, deve sair do páreo porque foi citado como beneficiário do esquema criminoso investigado na Operação Lava-Jato. O PTB é uma possibilidade, mas o líder Jovair Arantes (GO) nega que isso esteja em pauta.

O PT, no entanto, não está disposto a abrir mão facilmente da relatoria. O líder Sibá Machado (AC) avisou que lutará para que seu partido tenha lugar de destaque na CPI.

— Vamos lutar para ficarmos com a relatoria. O PT não abre mão — disse.

Após uma semana agitada na Câmara com a aprovação de medidas indigestas para o governo, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resumiu ontem numa frase suas atitudes neste início da gestão dele. Entre as medidas que desagradaram ao governo estão a aprovação do orçamento impositivo e o convite aos 39 ministros de Dilma para que prestem esclarecimentos aos deputados. Para ele, o governo não tem motivos para reclamar.

— Não sei se o governo gostou ou não gostou. Mas também não estamos lá para agradar ou desagradar a quem quer que seja — afirmou.

Para tratar da crise política, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se ontem à tarde com o ex-presidente Lula em São Paulo. Foi a primeira reunião entre os dois desde o início do segundo mandato. Lula chegou do Rio, onde cumpriu uma missão de retomar a relação do governo e do PT com o PMDB.

O ex-presidente viajara na véspera para o Rio, onde conversou com o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral. A viagem indica o papel que Lula deve desempenhar neste momento de crise do PT e do governo: o de articulador com os partidos e com os setores da sociedade.

Entrevista - Luiz Werneck Vianna. ‘Segundo governo Dilma. Guinada à direita? Não! Um ‘cavalo de pau'.

• “A pior coisa que ocorreu foi o desencanto e o fato de o país olhar em torno e ver que não há nenhum projeto de futuro que seja persuasivo, que mantenha capacidade de encantamento; estamos sem rumo”, lamenta o sociólogo.

Por Patricia Fachin. Colaboração de César Sanson - IHU On-Line

“O governo está perdido e confuso. A situação é preocupante”. A resposta direta e sem rodeios é do professor Luiz Werneck Vianna, sociólogo brasileiro que acompanha com inquietação as medidas anunciadas pela presidente Dilma nos primeiros 50 dias de seu segundo mandato. Embora enfatize que “o rumo dos acontecimentos no primeiro mandato dela apontava para uma direção de retorno da inflação e baixo crescimento”, para o eleitor há surpresas no segundo governo, “porque foi dito uma coisa e outra coisa foi feita”, pontua.

De acordo com o sociólogo, embora na campanha eleitoral PT e PSDB fizeram esforços para aparesentar programas políticos e econômicos distintos, há uma coalização entre os partidos, que se expressa na nomeação do Levy. "Um diálogo que está implícito aí é o Levy e o seu programa econômico, que é o programa econômico do PSDB. Então, num certo sentido, há uma coalizão aí não declarada".

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, Werneck Vianna identifica ainda mais dois problemas centrais que estão por trás do atual momento político e econômico do país. O primeiro, esclarece, é a aposta da presidente no “caminho do nacional desenvolvimentismo. Esse caminho está exausto. Ele teve seu momento décadas atrás, mas agora não há como continuar. O mundo evoluiu e não há mais folego para uma política desse tipo”.

Segundo ele, "faltou coragem intelectual e competência também para admitir que as circunstâncias foram outras. Então, levou-se até o fim essa possibilidade esgotada na campanha eleitoral, mas com o fim da campanha eleitoral, não havia prerrogativa se não mudasse”.
O segundo problema diz respeito à relação da presidente com o PT. “Que está havendo atritos e ruídos na relação da presidente com o PT, que é o partido dela, é evidente. Isso está presente no cotidiano, estampado nos jornais. E isso é muito perigoso, porque a presidente precisa de um partido que a sustente”, enfatiza.

Diante da queda de popularidade da presidente Dilma pouco mais de um mês depois de assumir o segundo mandato, o sociólogo é enfático: “Agora é difícil para ela, porque ela fez uma campanha política dizendo que estava tudo bem. Mas de qualquer forma, ela tem de dizer que se antes estava tudo bem, agora a situação é outra e é preciso fazer mudanças, ou seja, que neste momento ela precisa fazer uma mudança de rumo no que se refere a aspectos da sua política. Mas ela não fez nada: mudou e não falou nada; ficou muda”.

Nos últimos dois anos, Werneck Vianna esteve entre os sociólogos brasileiros que acompanharam as causas e as consequências das manifestações de massa que iniciaram em 2013 e assegura que embora não tenha havido um retorno de manifestações massivas no país, “a insatisfação agora é mais funda. Se ela vier à tona vai ser muito difícil domesticá-la, porque aí diz respeito aos rumos do país e não a políticas setoriais como foi em 2013, quando as manifestações foram organizadas em torno de políticas públicas específicas, como da saúde, do transporte. Agora, se vier, virá por uma agenda geral”.

Ele sugere que em algum momento os partidos políticos “mais responsáveis e presentes” terão de encontrar uma “saída para o impasse que aí está para evitar o terremoto que pode abalar as estruturas políticas do país, ameaçando as conquistas que fizemos ao longo desse tempo”.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012).

Confira a entrevista. 

IHU On-Line - Sendo sociólogo, como o senhor está enxergando o Brasil hoje, considerando que há dois anos ocorreram manifestações em massa, depois a presidente Dilma foi reeleita, e já no primeiro mês do segundo mandato, a popularidade dela caiu por conta dos ajustes anunciados, entre eles, as medidas de austeridade, como o aumento dos impostos, o aumento da energia, o aumento da gasolina, a crise da Petrobrás? O que está acontecendo?

Luiz Werneck Vianna – O governo está perdido e confuso. A situação é preocupante.

IHU On-Line - O senhor percebe mudanças no governo Dilma em relação ao discurso que levou à reeleição da presidente e o primeiro mês e meio de sua gestão? Concorda com as teses de que o governo deu uma guinada à direita ou pode-se dizer que se trata de um governo de continuidade?

Luiz Werneck Vianna – Uma guinada à direita não é bem o caso; ela deu um “cavalo de pau”. O rumo dos acontecimentos no primeiro mandato dela apontava para uma direção de retorno da inflação e baixo crescimento econômico – tudo isso estava no radar. Aliás, as candidaturas de oposição batiam exatamente nessa direção, na necessidade de mudança na orientação.
O problema da Dilma é que ela pensa que é economista; ela pode ser tudo, mas ela não é a economista que ela pensa que é. Tanto que quando ela assumiu as rédeas da economia, junto com o Mantega, ela enfiou o país num beco sem saída. Então, não tinha jeito, tinha de mudar.

IHU On-Line – Considerando esse cenário previsto anteriormente de baixo crescimento para este ano, então não há surpresa em relação às mudanças anunciadas no segundo mandato ou há?

Luiz Werneck Vianna – Não, certamente. Mas para o eleitor há, porque foi dito uma coisa e outra coisa foi feita. Agora, o caminho em que a situação se encontrava não permitia a reiteração, porque era o caminho errado. E não à toa Dilmafoi chamar economistas que na verdade perfilavam o programa do adversário.

IHU On-Line – Foi acertada a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda?

Luiz Werneck Vianna – Acho que foi, porque se ela continuasse no caminho em que estava, a crise seria maior ainda.

IHU On-Line - Quais são as principais crises e contradições do atual governo Dilma?

Luiz Werneck Vianna – Ela apostou no caminho do nacional desenvolvimentismo. Esse caminho está exausto. Ele teve seu momento décadas atrás, mas agora não há como continuar. O mundo evoluiu e não há mais folego para uma política desse tipo. A globalização e a internacionalização da economia são um fato, são uma realidade.

IHU On-Line – O governo Lula iniciou seu mandato com o projeto nacional desenvolvimentista. Em que momento o governo Dilma, como continuidade do governo Lula, deveria ter mudado de projeto ou deveria ter percebido que este projeto estava esgotado, como o senhor está dizendo?

Luiz Werneck Vianna – Faltou coragem intelectual e competência também para admitir que as circunstâncias foram outras. Então, levou-se até o fim essa possibilidade esgotada na campanha eleitoral, mas com o fim da campanha eleitoral, não havia prerrogativa se não mudasse.

IHU On-Line - As circunstâncias das quais o senhor fala, que deveriam ter levado a uma mudança de projeto, foram consequência de fatores internos ou externos? Pode exemplificar alguns?

Luiz Werneck Vianna – As duas coisas. Os internos são a baixa capacidade de investimento, o afastamento do empresariado do governo Dilma, e o desencanto com uma proposta que já estava claro que já tinha dado o que tinha que dar.

IHU On-Line - Qual é o significado da eleição de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados e de Renan Calheiros no Senado?

Luiz Werneck Vianna – A eleição de Renan Calheiros era muito esperada, inclusive porque ele é muito confiável do ponto de vista do governo. Por outro lado, Cunha vinha acumulando forças em nome de algumas coisas até importantes, como a independência do Poder Legislativo, e ele foi capaz de galvanizar em torno dele o baixo clero e setores inconformados com a política do governo, inclusive da própria base aliada, conforme se viu.

IHU On-Line - Que papel jogará o PMDB no segundo mandato de Dilma?

Luiz Werneck Vianna – O PMDB é chave. Ele está mais encorpado e autonomizado agora em relação ao governo. OPMDB percebeu que estava sendo alijado pelo governo e esse foi um dos motivos, inclusive, que propiciou a maciça adesão, por parte do PMDB, à candidatura de Eduardo Cunha. Enfim, as urnas apontavam para o fato de que o PMDB tinha se fortalecido, mas a presidente, que tem um vice-presidente do PMDB, não reconhece o fato e montou um ministério com uma influência reduzida do PMDB, e o PMDB reagiu. Além do fato de o Eduardo Cunha agrupar em torno dele todas as demandas corporativas na classe política e também de agrupar a reação a essa agenda comportamental, digamos, libertária, de alguns setores, como o tema da sexualidade, do aborto. Então, ele se tornou um candidato muito poderoso por vários motivos. Ele tem uma agenda política, uma agenda corporativa e uma agenda das questões comportamentais. Agora a presidente vai ter de saber coexistir e conviver bem com ele. A situação é preocupante.

IHU On-Line – O senhor concorda com a tese de que o governo Dilma está muito isolado neste segundo mandato? Se sim, quais são as razões e os possíveis riscos disso?

Luiz Werneck Vianna – Que está havendo atritos e ruídos na relação da presidente Dilma com o PT, que é o partido dela, é evidente. Isso está presente no cotidiano, estampado nos jornais. E isso é muito perigoso, porque a presidente precisa de um partido que a sustente.

IHU On-Line – Quais são as razões dos atritos entre ela e o partido? Isso representa uma crise ainda maior do próprio partido?

Luiz Werneck Vianna – Um dos motivos é que tal como o PMDB, as facções majoritárias do PT foram deslocadas na hora da composição do governo: os homens da democracia socialista passaram a ter uma posição mais encorpada do que as correntes majoritárias do PT. Então isso também pesa. Além do fato de que a presidente não é capaz de justificar, de forma clara, para o mundo da política, para os eleitores, para os cidadãos em geral, qual é o sentido da política dela, ou seja, por que ela adotou a linha, em termos de programa econômico, do seu adversário. Isso tem de ser dito e explicado. Ela tem de apresentar um diagnóstico. Agora é difícil para ela explicar, porque ela fez uma campanha política dizendo que estava tudo bem. Mas de qualquer forma ela tem de dizer que se antes estava tudo bem, agora a situação é outra e é preciso fazer mudanças, ou seja, que neste momento é preciso fazer uma mudança de rumo no que se refere a aspectos da sua política. Mas ela não fez nada: mudou e não falou nada; ficou muda.

IHU On-Line - É possível identificar um núcleo duro hoje no governo?

Luiz Werneck Vianna – É o pessoal do teu estado, a Democracia Socialista do Rio Grande do Sul, a Dilma, Aloizio Mercadante, que não é o “Ás” da política que dizem que ele é.
Tudo vai depender do que o PT vai fazer, especialmente o Lula. A presidente precisa ter um partido que a sustente. Se ela ficar sem partido, vamos repetir o caso do Collor e aí o impeachment seria inevitável. A pior coisa que ocorreu foi o desencanto e o fato de o país olhar em torno e ver que não há nenhum projeto de futuro que seja persuasivo, que mantenha capacidade de encantamento; estamos sem rumo e não podemos ficar assim.

IHU On-Line – Essa falta de encantamento não é repentina. O que houve? Não foi diagnosticada a tempo?

Luiz Werneck Vianna – Sem dúvida, mas isso aconteceu por causa do pragmatismo. O pragmatismo é bom em política, mas ele não pode prescindir de um elemento de convicção. A ética da responsabilidade – essas categorias célebres da obra de Weber - é incontornável, mas ela não pode abdicar de uma ética de convicção. O que ocorreu ao longo desses governos foi que as convicções foram jogadas fora, postas embaixo do tapete. A ética de responsabilidade nos levou ao pragmatismo que só consultou as suas razões e pôs a marca maior no presidencialismo de coalizão que temos, que é uma forma degradada de política.

IHU On-Line - Assiste-se hoje a um crescente movimento interno no PT com a convocatória “Lula 2018” como tábua de salvação da continuidade do PT no poder. Como interpreta esse movimento?

Luiz Werneck Vianna – Isso a meu ver não ajuda porque apenas põe em parêntese quatro anos. Quatro anos é muito tempo. Como era o mundo há quatro anos? Como era o Brasil há quatro anos? Diferente e, em alguns casos, radicalmente diferente. As coisas não vão permanecer iguais até que chegue a hora da convocação da próxima sucessão presidencial. O que se tem de pensar é como garantir condições de operação do governo que aí está.

IHU On-Line - Parcela do movimento social brasileiro tem levantado a bandeira da reforma política. Como interpreta essa bandeira no contexto da atual conjuntura?

Luiz Werneck Vianna – O presidente da Câmara já assumiu o compromisso de levar a iniciativa legislativa que já existe a voto. Isso vai encontrar uma decisão, mas é claro que isso vai demorar porque o projeto de reforma que está no Congresso agrada apenas parcialmente, mas não agrada a todos. Vai ser difícil encontrar um consenso, mas como a opção foi de encaminhar a reforma política de modo “fatiado”, é possível que os aspectos de difícil aceitação sejam logo rejeitados e as partes, digamos, mais saudáveis da reforma persistam. Esse é um caminho possível.

IHU On-Line - Diante das manifestações que ocorreram em 2013 e no passado, vislumbra a possibilidade de novas manifestações por conta do aumento da tarifa de energia, do provável aumento da tarifa de água - já anunciado -, e do aumento da gasolina, que possivelmente irá gerar aumento no valor da passagem do transporte público e dos alimentos?

Luiz Werneck Vianna – Tem havido algumas movimentações, especialmente em São Paulo, mas elas não têm, pelo menos por enquanto, a mesma envergadura do que se encontrou em 2013. E as manifestações de massa, se vierem, virão por essa agenda que você mencionou, por conta do custo de vida, da inflação.

IHU On-Line – Há razões para ir às ruas hoje como se teve em 2013?

Luiz Werneck Vianna – A insatisfação agora é mais funda. Se ela vier à tona vai ser muito difícil domesticá-la, porque aí diz respeito aos rumos do país e não a políticas setoriais como foi em 2013, quando as manifestações foram organizadas em torno de políticas públicas específicas, como da saúde, do transporte. Agora, se vier, virá por uma agenda geral.

IHU On-Line – E se as manifestações vierem, poderá haver risco de impeachment?

Luiz Werneck Vianna – Penso nessa possibilidade com muita preocupação porque não gosto dessa saída institucional, mas, como disse o senador Cristovam Buarque, em declaração recente no Senado, isso já está nas ruas. Mas isso seria, a meu ver, um terremoto. A presidente tem de procurar dialogar. Um diálogo que está implícito aí é o Levy e o seu programa econômico, que é o programa econômico do PSDB. Então, num certo sentido, há uma coalizão aí não declarada.

Os principais protagonistas da política brasileira deviam propor uma saída suprapartidária no sentido de defender as instituições e a democracia brasileira. André Lara Rezende escreveu há poucos dias um artigo no Estadão em que os últimos parágrafos são dedicados precisamente a essa possibilidade de uma “quase que” – não estou dizendo “de” - união nacional.

Mas precisa de muita maturidade para realizar isso, porque do contrário essa crise pode se tornar infernal, especialmente se ocorrer a reiteração de movimentações massivas como aquelas de 2013, onde certamente o termo impeachment vai aparecer. É necessário evitar isso urgente. Mas está difícil ver quem seria um dos portadores dessa boa mensagem.

IHU On-Line - O governo em negociação com as centrais sindicais não voltou atrás e sequer negociou as medidas de redução do direito ao seguro-desemprego e de mudanças nas regras de pensão por morte e o auxílio-doença. Como interpretar esse endurecimento do governo?

Luiz Werneck Vianna – Essa foi também uma coisa mal conduzida. Que há distorções, há, que há fraude, há. Que isso tem de ser corrigido, tem, mas isso tem de ser dito. Isso tudo tinha de ser concebido de forma consensual, as centrais sindicais tinham de ser chamadas e a situação tinha de ser exposta para mostrar qual é o tamanho da fraude e do buraco que as distorções têm trazido para a política fiscal brasileira, e aí chegar a um consenso. Mas não, o assunto caiu como um relâmpago de cima para baixo.

IHU On-Line – Algumas notícias dos últimos dias informam que o ex-ministro Mantega havia dito aos representantes das centrais sindicais, no ano passado, que ajustes seriam feitos neste ano. Mas essa questão não foi informada nas eleições. Por quê?

Luiz Werneck Vianna – O debate eleitoral foi muito pobre. O tema da distribuição de renda, por exemplo, não apareceu nas eleições. Thomas Piketty fazendo um sucesso danado nas livrarias e na imprensa, mas esse tema passou ao largo nas eleições e ninguém quis se aventurar nele. Todas as questões polêmicas foram contornadas no debate eleitoral por falta de coragem política de apresentar as ideias com medo da perda de votos.

A presidente da República é claramente favorável ao aborto, mas essa é a última questão que ela irá trazer para o debate. Com essa covardia política, conforme denunciou o candidato do PV, Eduardo Jorge, de os candidatos não apresentarem de fato suas posições, elas não vêm à tona e não resulta em educação cívica, e a política fica uma coisa meio eleitoreira.

IHU On-Line - Outro movimento social, ao lado da CUT, que tem endurecido o discurso contra o governo é o MST, principalmente após a nomeação de Kátia Abreu. O governo corre o risco de perder apoio junto a bases tradicionais do movimento social?

Luiz Werneck Vianna – O MST é ambivalente; foi assim com Lula também. O MST é outro que não se assume, não sai do armário. O MST é o que: um movimento social ou um partido político?
Faz falta, no sistema político brasileiro, um partido que tenha mais representação agrária real. O MST poderia ter se tornado esse partido ou então, se não quisesse, que fosse uma facção de outro partido, como, por exemplo, do PT. Mas não quis; ele prefere atuar como movimento social, mas é muito dependente do governo. Quem dá dinheiro para o trabalho do MST, para as escolas do MST? De onde vem esse dinheiro? É do governo. Então, é um movimento muito ambivalente e não creio que o MST tenha esse poder de fogo.

IHU On-Line - Como o senhor está “lendo” a atual crise da Petrobras?

Luiz Werneck Vianna – Essa é uma crise terrível porque afeta uma empresa que é um símbolo do país, do desenvolvimento e da industrialização do país. A Petrobras cresceu demais, cresceu mais do que podia e com uma velocidade que não permitiu que os passos fossem bem calculados. Foi uma corrida vertiginosa contra o tempo à base de uma visão mágica de que com o pré-sal nós iriamos saltar para o mundo desenvolvido. Claro que o pré-sal é um recurso importante, mas isso tudo exigia mais ponderação, um cálculo mais refinado. Mas uma ambição desmedida tomou conta do governo. A empresa tem de ser defendida e tem de ser regenerada.

IHU On-Line – Como o avalia a renúncia coletiva da direção da empresa, na semana passada?

Luiz Werneck Vianna – Ao que tudo indica a Graça Foster desistiu, não suportou mais o curso dos acontecimentos. APetrobras foi muito mal administrada politicamente e não só politicamente, mas gerencialmente. A empresa precisa ter sua lógica própria. Rebaixar o preço da gasolina como se fez, penalizou a Petrobras. Vamos ver se a empresa consegue se recuperar agora.

IHU On-Line - Há possibilidades de um novo partido que preencha o vácuo do PT? Como vê a articulação em curso a partir do Rio e de São Paulo em torno da criação de um partido similar às experiências do ‘Syriza’ da Grécia e do ‘Podemos’ da Espanha?

Luiz Werneck Vianna – Em primeiro lugar, fala-se disso (do surgimento de um partido como o Podemos no Brasil), mas não há esboço disso (da criação do partido no Brasil) nem de longe. Em segundo lugar, tanto o movimento grego como o espanhol são movimentos de jovens educados politicamente, com trajetórias políticas articuladas. A juventude brasileira não está nesse nível; ela está ainda viciada nos manuais revolucionaristas das décadas anteriores. Então não tem novidade política e intelectual nesses movimentos juvenis. Basta ver os black blocs; é um modelo exemplar disso. Uma das moedas correntes na juventude é o anarquismo, mas com o anarquismo não se faz o poder, oPodemos, não se faz o Syriza.

IHU On-Line – O anarquismo já está superado enquanto uma “possibilidade” para se chegar ao poder, ou uma reação ao poder instituído?

Luiz Werneck Vianna – O anarquismo tem lá os seus encantos poéticos, agora, para governar o mundo é preciso algo além disso. Mas voltando ao ponto, a juventude brasileira não está se educando para uma intervenção do tipo da que ocorre na Espanha e na Grécia; ela está olhando para o passado e é prisioneira de uma história que já passou, ainda vive no bovarismo. Os jovens não são modernos. Não estou vendo até agora algo que reitere a experiência espanhola e grega. Não vejo pistas e indícios disso.

IHU On-Line - O que o futuro reserva ao Partido dos Trabalhadores? Conseguirá recuperar a vitalidade que um dia teve com as “ruas” ou sobreviverá apenas de sua história?

Luiz Werneck Vianna – O futuro a Deus pertence, agora, o que o PT trouxe na época de sua formação está perdido. Se ele terá condições de encantar e reanimar de algum modo a sua vida e ter um discurso persuasivo para a população, vai depender dele. Ainda não deu os sinais disso. O PT hoje é um partido sem intelectuais.

IHU On-Line – Ao mesmo tempo alguns intelectuais estão tentando pensar novos rumos para a esquerda no Brasil. O que falta para eles?

Luiz Werneck Vianna – É, há, mas essas esperanças dos gregos e dos espanhóis, a meu ver, são muito ingênuas porque não há nada que esteja fermentando em nossa sociedade que indique essa possibilidade. Acho que vamos ter de contar com os partidos que estão aí. Inclusive, tentei sinalizar nesta entrevista, em algum momento, a necessidade de os partidos mais responsáveis e presentes encontrarem uma saída para o impasse que aí está e para evitar o terremoto que pode abalar as estruturas políticas do país, ameaçando as conquistas que fizemos ao longo desse tempo. O melhor instrumento que nós temos é a Carta de 88 e as suas instituições. Então, temos de vigiar essa crise com recursos institucionais que estão ao nosso dispor, como o Ministério Público, o Judiciário. Temos de impedir que essa crise desate uma situação incontrolável de todos contra todos.

Fernando Gabeira - Os suspeitos de sempre

- O Estado de S. Paulo

Escolheram mais um suspeito de sempre. Essa frase, de um jornalista americano, sobre o novo presidente da Petrobrás é precisa.

Certamente não se referia à trajetória pessoal de Aldemir Bendine. Ele ignora que o banqueiro guarda dinheiro no colchão ou que fez um empréstimo generoso à socialite Valdirene Aparecida Marchiori. Creio que queria apenas dizer que o governo arruinou a Petrobrás e dificilmente encontrará alguém, dentro dos seus quadros, capaz de reconstruí-la.

Era preciso um novo presidente com capacidade e autonomia. Se alguém com talento conseguisse sobreviver no governo, decerto seria alvejado pelos atiradores do PT ao revelar alguns vestígios de autonomia.

O PT completou 35 anos com festa. E de alguma forma lembrando a frase "cuidado com os idos de março". É uma data do calendário, talvez o dia 15, lembrada pelo assassinato de César. Os idos de março sempre evocam momentos trágicos para um governo.

No caso brasileiro, o grande adversário do PT é sua própria visão de mundo. O partido considera manobra golpista a enxurrada de dados sobre corrupção na Petrobrás e outros órgãos do governo. Por exemplo, um ex-gerente, em delação premiada, disse que o PT recebeu mais ou menos US$ 200 milhões em propinas, na área de abastecimento. O partido nega.

Usando o senso comum, parece-me absurda a controvérsia em torno de meio bilhão de reais. Se esqueço de pagar uma água de coco no bar do Baiano, no Flamengo, ele é o primeiro a me lembrar que faltam R$ 5. Se tenho direito a troco de apenas R$ 1, reclamo prontamente. Como é possível que uma verba de R$ 500 milhões, oriunda de contratos reais da empresa, transite tão etereamente a ponto de uma intensa investigação não determinar sua trajetória?

A decisão do PT de negar todas as evidências é a manobra mais perigosa que o partido já engendrou nos últimos anos. Dizem os jornais que na festa de aniversário, em BH, o PT prometeu manifestações públicas para defender o governo e isolar o golpismo. Isso é mais animador, pois pode precipitar a realidade. Bandeiras e camisas vermelhas acusando a Lava Jato de manobra golpista podem revelar ao partido um pouco da realidade.

Ando muito pelas ruas. Mas pode ser que ande pelas ruas erradas e tenha uma falsa impressão. Mas a pesquisa Datafolha mostrando a queda na aceitação de Dilma confirma minhas intuições. Não será fácil de novo desfilar com macacões laranja defendendo uma Petrobrás que a maioria acredita ter sido saqueada pelo PT e aliados. Com que palavras de ordem sairão às ruas? "A Petrobrás é nossa" não é um refrão aconselhável para as circunstâncias. Resta talvez a resistência a um golpe hipotético.

E talvez nisso esteja a grande esperança do PT. Um golpe seria sua redenção, a condição de vítima talvez sepultasse o peso dos bilhões roubados da Petrobrás. Mas não há golpe no horizonte. As próprias condições de inserção internacional do Brasil já sepultaram qualquer solução fora da lei. Resta o desenrolar implacável de um processo de corrupção gigantesco que atrai a atenção mundial, porque ocorreu numa empresa globalizada.

A tática de negar sua responsabilidade neste processo histórico será um dado decisivo na história do PT. Muitos já denunciam o medo de Lula e Dilma de discutir abertamente o que se passou na Petrobrás. Pode ser que Lula, Dilma e o PT analisem como coragem sua disposição de enfrentar o processo afirmando que tudo o que o partido recebeu foi doação legal. Mas de onde veio o dinheiro senão do saque da Petrobrás?

No momento é possível reunir a coragem para negar. Mas com o avanço das evidências seria preciso uma coragem muito maior para negar também a lucidez das instituições jurídicas e da opinião pública nacional.

Pela experiência, o que acontece nesses casos é sempre muito doloroso. O PT ainda está um pouco escondido, mas pode observar, por exemplo, o que aconteceu com Graça Foster e Nestor Cerveró: tornaram-se máscaras de carnaval; os vizinhos ergueram faixas contra Graça.

O partido, contudo, escolheu o caminho mais espinhoso para enfrentar o processo. Como no passado, tentará convencer as pessoas de que estão erradas e foram manipuladas pela imprensa.

Outro dia, um homem na rua me disse: "Às vezes me arrependo de ser consciente. Se fosse apenas desligado do Brasil, não sofreria tanto. É muito duro para as pessoas, presenciando um processo com números, nomes de contratos, delatores premiados e tudo o mais, assistirem a alguém dizer que tudo isso é uma grande manobra. Querem me convencer de que sou maluco". Disse ao homem que era um processo mais amplo e, no fundo, está em jogo isto mesmo: ou se pune a corrupção, prendem-se as pessoas e se obriga os partidos a pagarem um enorme preço político, ou então a tática do PT triunfou.

Será preciso enlouquecer todo um país. É uma jogada de alto risco. No mensalão, de punhos erguidos, descobriram a realidade dos presídios e trataram de sair fora, deixando nas grades as secretárias que fechavam envelopes.

Em caso de vitória, terão de governar um País enlouquecido. Em caso de derrota, as consequências são imprevisíveis. Desde a camisa de força até cumprir inversamente a profecia de Delúbio Soares de que o mensalão com o tempo será uma piada. É o próprio PT, com o tempo, que pode virar uma piada.

Se esse é o caminho escolhido, então que vengan los toros. Marqueteiros de todo o País, uni-vos em torno da grana que ainda está nos cofres e provem que essa montanha de dinheiro roubado é apenas miragem, que Pasadena foi um bom negócio e a Petrobrás vai bem, apenas ameaçada pelos inimigos externos.

Procurem fazer um bom trabalho. No mensalão, lembrem-se, sobrou para os marqueteiros. Milhões de dólares rolam pelos computadores num simples toque no teclado. Mas isso não significa que sejam invisíveis.

O empresário de Santa Catarina que tinha 500 relógios num cofre tem lá sua lógica. O tempo está contra a quadrilha, é preciso detê-lo de qualquer forma.
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*Fernando Gabeira é jornalista