quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Opinião do dia – José Serra

"Os problemas de ordem política estão postos. A oposição tem que combinar a crítica, vigilância e mobilização. Tem que estimular a mobilização da população em torno das questões nacionais. A oposição tem que agitar, ao mesmo tempo tem que debater as grandes questões nacionais. O PT não tem, nem dentro nem fora do governo, ideias a respeito do País. Eles não sabem o que fazer. Não sabiam antes e agora muito menos. O que a gente vê é um governo alienado."

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José Serra, senador (PSDB-SP) , em O Estado de S. Paulo, 2 de fevereiro de 2015.

Dilma acerta saída de Graça e toda a diretoria da Petrobrás

• Presidente da estatal esteve por cerca de três horas com a presidente da República e acertou sua saída e a troca da diretoria da estatal após a aprovação do balanço do 3º trimestre de 2014

Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA -A presidente Dilma Rousseff vai mudar toda a diretoria da Petrobrás. A saída da presidente da companhia, Graça Foster, é questão de dias e está atrelada apenas à aprovação do balanço do terceiro trimestre de 2014 da estatal. Dilma conversou ontem com Graça, durante pouco mais de duas horas, no Palácio do Planalto, e comunicou a decisão. O governo procura agora um nome do mercado para substituir a executiva.

Dilma quer repetir a solução “à Levy”, uma alusão ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que era diretor do Bradesco e foi chamado para o governo com a missão de resolver os problemas na economia e acalmar o mercado. Ontem, a expectativa pela mudança no comando da petrolífera impulsionou as ações da estatal – que encerraram com a maior alta dos últimos 16 anos – e ofuscou as notícias de rebaixamento do rating (classificação da qualidade de crédito de uma empresa) da estatal, anunciada pela agência Fitch.

Na avaliação da presidente, depois da Operação Lava Jato, que escancarou um esquema de corrupção na Petrobrás, a companhia precisa de um nome de peso para limpar sua imagem.
Cotados. Na lista dos cotados para substituir Graça estão o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ex-presidente da BR Distribuidora Rodolfo Landim, que trabalhou com Eike Batista na OGX, e o ex-presidente da Vale Roger Agnelli.

Além da espera da aprovação do balanço, a substituição do comando da estatal esbarra nas dificuldades do governo para encontrar quem queira ocupar a presidência de uma empresa em crise, alvejada por denúncias de corrupção. Por isso, a decisão de condicionar o afastamento da atual diretoria à aprovação do balanço. Nesse cenário, a nova diretoria assumiria com o “terreno limpo”, livre de ser responsabilizada por desvios de dinheiro praticados por gestões anteriores.

Desde que veio à tona o escândalo envolvendo a Petrobrás, no ano passado, Graça chegou a pedir para sair do cargo três vezes. Dilma a segurou, embora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregasse sua demissão. A permanência de Graça à frente da companhia sob investigação sempre foi um anteparo para Dilma.

Agora, o impasse contábil da Petrobrás aflige o governo. O balanço não foi auditado ainda pela PriceWaterHouse Coopers. A empresa evita assinar o balanço enquanto a estatal não apontar quais foram as perdas com as fraudes que estão sendo investigadas na Lava Jato.

Graça sofreu forte desgaste político ao divulgar que os ativos da empresa foram inflados em R$ 88,6 bilhões. Sua imagem piorou ainda mais com declarações de que a exploração de petróleo cairá “ao mínimo necessário” e de que haverá corte de investimentos e desaceleração de projetos.

No governo a divulgação dos ativos inflados de R$ 88,6 bilhões foi considerada uma “trapalhada” da atual presidente. Ao citar o número em entrevista da semana passada, ela deu a entender que a cifra poderia ser prejuízo da empresa, embora depois tentasse explicar que ali estavam incluídos projetos mal planejados e até mesmo a variação em dólar do preço do petróleo, além dos desvios por corrupção.

Em Brasília, Graça não esteve apenas no Planalto. Antes de conversar com Dilma, ela se reuniu com o ministro da Fazenda, que fora incumbido pela presidente de procurar nomes do mercado para o comando da Petrobrás. Nesse intervalo, voltou ao escritório da empresa para conversar com a diretoria, que estava no Rio de Janeiro, por videoconferência.

No encontro com Dilma, Graça deu demonstrações de que está esgotada. O fogo amigo contra ela foi desencadeado com a decisão de não poupar mais o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli, amigo de Lula, dos problemas da administração anterior.

Dilma decide tirar Graça e toda a diretoria da Petrobras

Demitida no cargo

• Dilma muda de opinião e concorda com saída de Graça e de toda a diretoria da estatal

Simone Iglesias, Martha Beck, André Coelho, André de Souza e Alexandre Rodrigues – O Globo

BRASÍLIA.- Quase um ano após o início da Operação Lava-Jato, que revelou um esquema de corrupção na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff decidiu afastar Maria das Graças Foster do comando da estatal. Ela e todos os diretores da companhia deverão deixar os cargos em março, quando será apresentado ao Conselho de Administração o balanço financeiro referente a 2014. 

Apesar dos conselhos de aliados e auxiliares - como o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante -, Dilma se recusava a abrir mão de Graça, considerada uma indicação de sua cota pessoal para presidir a Petrobras em 2012. A gota d"água foi a cifra de R$ 88 bilhões de perdas estimadas pela estatal na divulgação, semana passada, de seu balanço não auditado.

A decisão de substituir Graça teria sido tomada semana passada, em reunião do conselho político do governo, no Palácio da Alvorada, quando Dilma mudou de opinião. No entanto, só ontem a informação foi admitida por auxiliares da presidente. Ela combinou com Graça, que já havia posto o cargo à disposição duas vezes, que a executiva permaneceria no posto para assinar o balanço. Isso porque nenhum novato aceitaria neste momento se responsabilizar pelas contas da companhia.

A empresa de auditoria externa, PwC, recusa-se a avalizar as contas da estatal por causa da dificuldade de a empresa calcular as perdas com o superfaturamento de investimentos. Até políticos e técnicos ligados ao PT com perfil para o cargo resistem às sondagens.

A substituição da diretoria foi detalhada ontem à tarde em uma reunião de Graça com Dilma no Palácio do Planalto. A data da substituição pode ser antecipada, segundo um interlocutor da presidente, se Graça alegar desgaste físico e emocional. Ela vem dando sinais de estresse causado pela série de problemas na estatal. Nesse cenário, assumiria a presidência um interino que esteja hoje na direção da empresa.

Tentativa de recuperar credibilidade
Ano passado, Graça tomou iniciativas para se credenciar como responsável por recuperar a credibilidade da estatal. Determinou investigações internas e criou uma Diretoria de Governança, Risco e Conformidade para coibir irregularidades, sem sucesso. Ao pedir a prisão do ex-diretor Nestor Cerveró, em janeiro, o Ministério Público Federal afirmou que "não há indicativos de que o esquema criminoso foi estancado". Os procuradores afirmaram ter notícias de propinas pagas por empresas a diretores da Petrobras em 2014.

Embora as denúncias de corrupção na Petrobras investigadas na Operação Lava-Jato tenham ocorrido na gestão de José Sérgio Gabrielli, Graça integrava a diretoria da estatal desde 2007 e participou de decisões tomadas na gestão do antecessor. A situação dela ficou mais delicada quando a geóloga Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento, revelou e-mails que teria enviado a Graça entre 2009 e 2011, nos quais relata irregularidades em contratos que eram de responsabilidade do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Graça levou quatro dias para responder claramente às acusações de Venina, argumentando que as mensagens "não explicitaram" irregularidades.

Ontem, no aeroporto de Brasília, ao embarcar para o Rio após reunião no Planalto, Graça foi lacônica ao ser indagada pelo GLOBO se deixaria a estatal. Não respondeu e apenas sorriu.

- A reunião foi boa, como sempre - disse.

À tarde, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Thomas Traumann, disse que a reunião durou quase duas horas. Questionado se Graça continuaria à frente da Petrobras em 2015, respondeu apenas:

- O que posso dizer é que essa questão não foi decidida na reunião entre ela (Dilma) e Graça Foster.

À noite, a secretaria informou que não comentaria o assunto. Nas próximas semanas, Dilma precisará encontrar um nome de peso que aceite assumir o comando da Petrobras neste momento. Isso vale também para a composição do Conselho de Administração, que Dilma quer preencher com nomes respeitados pelo mercado. Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, além de Mercadante, foram incumbidos de buscar esses nomes.

Estimativa de rombo irritou planalto
Boatos sobre a saída de Graça já circulavam nos corredores da Petrobras na manhã de ontem, antes de a decisão de Dilma ser confirmada. Com Graça em Brasília, a diretoria da estatal se refugiou nos gabinetes, deixando os subordinados sem informações. Nos corredores, a queda de Graça foi atribuída à estimativa de prejuízos de R$ 88 bilhões no balanço da semana passada. O número desagradou ao governo porque foi considerado superestimado até pelos técnicos da empresa.

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli endossou essas críticas. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico" na segunda-feira, ele criticou essa contabilidade. Para ele, é impossível separar, nas demonstrações contábeis da Petrobras, o custo da corrupção de outros fatores de depreciação de investimentos, como câmbio, preço do petróleo e alterações nas condições de mercado. "Tem uma série de coisas misturadas aí nesses números", disse Gabrielli.

Colaborou para o clima de informações desencontradas a licença do gerente executivo do Departamento Jurídico da Petrobras, Nilton Maia, na segunda-feira. Uma fonte disse ao GLOBO que ele foi afastado do cargo, mas a Petrobras informou que ele pediu para tirar férias atrasadas para um tratamento de saúde. Nos últimos meses, Maia era um dos responsáveis pelas Comissões Internas de Apuração (CIAs) abertas pela estatal para investigas denúncias de corrupção da Lava-Jato.

Dilma acerta saída de Graça e de diretores da Petrobras

• Demissões devem ocorrer até o fim do mês, após anúncio de perdas com desvios

• Murilo Ferreira, da Vale, está entre os cotados; Lula vai defender o nome de Henrique Meirelles

Natuza Nery, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após meses de resistência, a presidente Dilma Rousseff decidiu trocar o comando da Petrobras e acertou com a chefe da estatal, Graça Foster, a demissão de toda a diretoria da empresa.

A substituição só não ocorreu ainda por falta de um sucessor imediato para a presidência da petroleira. Alguns dos cotados mostraram resistência em assumir o cargo antes da atual diretoria resolver os problemas do balanço financeiro da empresa.

Dilma e Graça se reuniram nesta terça-feira (3) em Brasília, após a Folharevelar a decisão presidencial de deflagrar a alteração da cúpula da petroleira. No encontro, ambas combinaram um cronograma de saída que deve ocorrer até o fim do mês.

Ficou acertado que, enquanto a presidente tenta encontrar novos nomes, Graça buscará concluir neste período o cálculo do impacto dos desvios de recursos investigados na Operação Lava Jato.

Trata-se de uma exigência para que o balanço da companhia seja finalmente auditado. A divulgação do valor também teria, aos olhos do governo, o efeito colateral de reduzir o desgaste de Graça.

Oficialmente, o Planalto negou que a saída de Graça tenha sido definida durante o encontro. "O que posso dizer é que essa questão não foi decidida na reunião entre ela [Dilma] e Graça Foster", afirmou o ministro Thomas Traumann (Comunicação Social).

O Palácio do Planalto procura um nome de fora da companhia, de preferência do mercado, que dê um choque de credibilidade à empresa, mas tem enfrentado dificuldades para encontrar um executivo que se disponha a assumir o controle da estatal em meio ao maior escândalo de corrupção de sua história.

Na sexta (30), Graça Foster reclamou com a presidente sobre a pressão que vem sofrendo e colocou, novamente, seu cargo à disposição.

Ao contrário das negativas anteriores, desta vez Dilma concordou com a saída da auxiliar, de quem é amiga. A posição de Dilma só mudou depois que o Conselho de Administração da empresa divulgou, na semana passada, uma baixa em seus ativos da ordem de R$ 88 bilhões, fruto de desvios e ineficiência na execução de projetos.

O número acabou fora do balanço não auditado referente ao terceiro trimestre de 2014, mas enfureceu Dilma, que considerou a conta descabida e superestimada. Para ela, conforme definiram assessores, a sua mera divulgação foi um "tiro no pé."

Na opinião de ministros, a chefe da empresa jamais poderia ter deixado que os consultores contratados para fazer o cálculo chegassem a um número tão alto sem contestação da metodologia.

O episódio acabou deteriorando ainda mais a situação financeira da Petrobras, que perdeu quase 3/4 de seu valor de mercado nos últimos anos devido à política de investimentos considerada inflada e à corrupção.

Dilma deflagrou no fim da semana passada, como revelou a coluna Painel, o processo de escolha de possíveis substitutos para o comando da Petrobras. A operação ficou a cargo do ministro Joaquim Levy (Fazenda).

Na próxima sexta (6), o ex-presidente Lula deve sugerir à sucessora o nome de Henrique Meirelles para a vaga. Ele e Dilma se encontrarão em Belo Horizonte no evento de comemoração dos 35 anos do PT. Assessores presidenciais ponderam que ela não simpatiza com Meirelles.

Outro que está no radar de auxiliares presidenciais é Murilo Ferreira, da Vale. Um ministro considera, no entanto, arriscada a indicação do executivo. O mercado espera uma opção menos identificada com Dilma, assim como foi feito na Fazenda.

Executivos foram sondados para ocupar o Conselho de Administração da Petrobras, mas a não divulgação do prejuízo com a corrupção adiou a definição do "grupo de notáveis".

Colaborou Catia Seabra, enviada especial a Brasília

Aécio: Ser amigo de Dilma, hoje, é muito pior do que ser seu adversário

• "O que ela [Dilma] fez com a presidente Graça Foster não se faz com um inimigo", comentou o presidente nacional do PSDB

- O Estado de S. Paulo

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), considerou nesta terça-feira (3) que a manutenção de Graça Foster na presidência da Petrobras foi útil, até o momento, para que a presidente Dilma Rousseff pudesse se "anistiar de suas responsabilidades".

As declarações de Aécio ocorreram logo após Foster deixar o Palácio do Planalto, onde se reuniu reservadamente com a presidente Dilma. Elas conversaram por cerca de duas horas, o que fez crescer os rumores sobre a saída da executiva do comando da estatal. Mas, até agora não houve qualquer comunicado do Planalto.

"Certamente ser amigo da presidente da República, hoje, é muito pior do que seu adversário. O que ela fez com a presidente Graça Foster não se faz com um inimigo. Permitiu que assumisse um desgaste enorme nesse último período, como isso pudesse defendê-la, ou anistiá-la das suas responsabilidades. E no momento em que fica insustentável a presença da Graça Foster, ela anuncia ou pelo menos sinaliza com a sua saída", afirmou o tucano.

Na avaliação do senador, Foster permaneceu no comando da estatal para "tentar limpar a cena do crime". Levantamento divulgado pelo Ministério Público Federal (MPF) aponta que os crimes investigados pela Operação Lava Jato, que apura um esquema de desvios de recursos públicos e lavagem de dinheiro, desviaram ao menos R$ 2,1 bilhões da Petrobras. Até o momento, a procuradoria apresentou 18 acusações criminais contra 86 pessoas, por crimes como corrupção, contra o sistema financeiro, tráfico internacional de drogas, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

"A presidente Dilma, num gesto até de pouca generosidade com a sua amiga, permitiu que ela assumisse sozinha uma responsabilidade que não é só dela. A responsabilidade pelos desmandos e pela corrupção na Petrobras começa muito antes da presidente Graça Foster. E ela, ao aceitar a missão e tentar limpar a cena do crime, passa a ser parte do mais triste momento da história da maior empresa brasileira", afirmou Aécio Neves. O senador lembrou ainda que o partido trabalha para a coleta de assinaturas para a instalação de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar desvios ocorridos na estatal.

"Eu disse há várias semanas que era insustentável a permanência da Graça Foster, não porque eu acredite que ela tenha se beneficiado com a corrupção, mas foi leniente ou não teve capacidade de administrar a nossa empresa. O maior problema da Petrobras, além da corrupção, é um problema gravíssimo de governança, com prejuízos sucessivos, agravados agora por esses referentes às refinarias iniciadas no Nordeste, que já contabilizam agora prejuízos em torno de R$ 2 bilhões. E quem responde por isso? Ninguém. Não. É por isso que nós já estamos iniciando a coleta de assinaturas para que a nova CPMI seja instalada", ressaltou.

Oposição condena 'fritura' de Graça Foster

• Aécio acusa Dilma de desgastar a 'melhor amiga'. Parlamentares pedem aprofundamento das investigações com criação de nova CPI e sugerem que Graça Foster faça delação premiada

Amanda Almeida , Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense 

BRASÍLIA – A oposição no Congresso afirmou ontem que a demora da presidente Dilma Rousseff em promover mudanças no comando da Petrobras provoca um processo de “fritura” da presidente da estatal, Maria das Graças Foster. Ontem, Dilma e ela se reuniram duas vezes no Palácio do Planalto mas, oficialmente, a demissão de Foster não foi anunciada.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), acusou a presidente de desgastar a “melhor amiga” para substituí-la ao perceber que a manutenção de Foster no comando da estatal se tornara insustentável. “Em um gesto de pouca generosidade com sua amiga, a presidente permitiu que ela (Graça) assumisse uma responsabilidade que não é dela. Ela não teve condições de administrar a empresa. Ser amigo da presidente é pior do que ser seu adversário”, declarou o senador tucano.

Aécio lembrou que a crise na Petrobras antecede a atual gestão. “A responsabilidade pelos desmandos e pela corrupção na Petrobras começa muito antes da presidente Graça Foster. E, obviamente, ela, ao aceitar a missão (de assumir a diretoria), tenta limpar a cena do crime. Essa expressão não é minha, obviamente, passa a ser parte do mais triste momento da maior empresa brasileira”, completou ele.

Para o senador mineiro, a Petrobras vive, acima de tudo, um problema de governança. “Assistimos isso com os prejuízos sucessivos agravados, agora, por esses referentes às refinarias iniciadas no Nordeste e que já contabilizam, no prejuízo da Petrobras, alguma coisa em torno de mais de R$ 2 bilhões. E quem responde por isso? Ninguém?”, questionou ele

Recém-empossado senador por São Paulo, José Serra (PSDB) afirmou que a presidente da Petrobras deveria ter se afastado no momento em que as primeiras denúncias de corrupção na empresa foram reveladas, como desdobramento das investigações da Operação Lava-Jato. Para ele, deixar a substituição para este momento agrava o problema e torna necessária a substituição de toda a diretoria. “Não digo que ela é culpada, não sei o seu grau de responsabilidade. Mas o ideal é trocar toda a diretoria e colocar gente profissional”, afirmou Serra.

Ele se disse favorável a uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras por acreditar ser função do parlamento investigar uma empresa pública suspeita de denúncias de corrupção. A oposição já iniciou a coleta de assinaturas para a criação da Comissão. Opinião corroborada por Aécio. “É por isso que já estamos iniciando a coleta de assinaturas para que a nova CPMI seja instalada. Queremos saber quem foram os responsáveis diretos ou indiretos por todas essas irresponsabilidades, além das falcatruas que ocorreram na Petrobras.”

No fim do ano passado, o Estado de Minas publicou que a bancada de senadores e deputados do PT levou ao chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante, e ao então ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ricardo Berzoini, a cobrança para que Foster fosse substituída. A pressão aconteceu após as denúncias feitas pela ex-gerente Venina Velosa da Fonseca de que avisara a presidente da Petrobras sobre as irregularidades cometidas na estatal e nada foi feito.

O líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado (GO) ressaltou que a demissão de Graça não retira a funcionária de carreira da estatal do olho do furacão da Operação Lava-Jato. “O anúncio de demissão de Graça Foster veio corroborar o que todo mundo já sabia. Ela estava lá para fazer um balanço que não foi auditado por nenhuma empresa séria pois não incluía os gastos com corrupção. Infelizmente, para ela, a renúncia não é o suficiente neste momento. Só a delação premiada pode salvar a Graça Foster”, afirmou Caiado.

Oposição protocola novo pedido de CPI da Petrobras na Câmara

• Presidente da Casa, Cunha sinaliza que irá decidir pela abertura

Márcio Falcão e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o apoio de deputados governistas, a oposição protocolou nesta terça-feira (3) um requerimento para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara para investigar irregularidades na Petrobras.

A abertura da comissão depende do novo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que sinalizou que irá autorizar a investigação. "Não há o que fazer. As cinco primeiras CPIs que forem protocoladas, elas são instaladas. Isso é regimental", disse.

O pedido tem apoio de 186 deputados do PSDB, DEM, PPS, PSB, PDT, PR, PMDB, PSD, PP e SD.

A oposição apresentou o pedido de investigação na noite de terça para evitar que o PT barrasse a CPI. Como apenas cinco comissões de inquérito podem funcionar simultaneamente, o partido tentaria bloquear a fila.

Para que a CPI da Petrobras seja viabilizada, é preciso um número mínimo de 171 assinaturas de apoiamento.

A oposição disse que o novo pedido de CPI é uma "homenagem a Graça Foster", presidente da Petrobras que acertou nesta terça com a presidente Dilma Rousseff um cronograma de demissão de toda a diretoria da estatal.

No fim de 2014, líderes da oposição já anunciavam que tentariam criar uma nova comissão. O argumento era que a CPI mista em vigor até dezembro, controlada pelo governo, não chegou aos políticos que receberam propina.

Um ponto contra a CPI é a chance de número elevado de congressistas estarem implicados no caso, o que elevaria a pressão interna contra a investigação. O Ministério Público deve tornar esses nomes públicos ainda em fevereiro.

Eduardo Cunha derrota PT e aprova comissão especial para reforma política

• Petistas partiram para a obstrução com o apoio de outros partidos, mas, isolado, partido decidiu recuar

Isabel Braga e Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) venceu o primeiro embate contra o PT e, com a base que ajudou a elegê-lo para a Presidência da Câmara, além do apoio da oposição, conseguiu na noite desta terça-feira garantir a criação de uma comissão especial para a apreciação de uma reforma política.

A disputa entre PT e PMDB na eleição para a presidência da Câmara foi transportada para o plenário da Casa, na discussão da proposta. Diante da decisão de Eduardo Cunha de acelerar a criação de uma comissão especial de uma emenda constitucional de reforma política em plenário, o PT partiu para a obstrução com o apoio de partidos como PCdoB, PRB, PV e PSOL, entre outros. Mais tarde, isolado na obstrução, somente depois das 23h, o PT decidiu recuar.

– De novo, o PT quase assumiu mais uma derrota daquilo que não precisava. A posição do partido estava contraditória com quem quer votar uma reforma política – criticou Cunha.

A PEC da reforma política estava parada, há mais de um ano, na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, por obstrução do PT. A PEC contraria o modelo defendido pelo partido. O principal ponto de divergência é quanto ao financiamento de campanha. O PT defende o fim das doações de empresas privadas. A proposta quer incluir essa fonte de contribuição financeira na Constituição, no momento em que a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal já votou pela proibição das doações de empresas. O placar está 6 a 1 e ainda faltam os votos de quatro magistrados.

A votação provocou debates acalorados e troca de farpas entre deputados e o presidente da Câmara.

– Foi crescendo a percepção de isolamento e o PT percebeu que teria outra derrota política, no dia seguinte à eleição para a Presidência da Câmara – afirmou o líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).

- Alguns querem empurrar goela abaixo essa reforma política. Mais de 80% do povo brasileiro defendem que as empresas saiam do financiamento de campanhas. Vamos sair do debate maniqueísta de que alguns querem a reforma política porque querem essa emenda constitucional. Não é razoável - defendeu o deputado Henrique Fontana (PT-RS), antes do partido ceder à criação da comissão especial.

Antes do acordo, a líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ) chegou a cobrar de Cunha imparcialidade na condução da sessão.

- Vossa Excelência é presidente da Casa, não é líder de partido - cobrou Jandira.

- Não estava tomando parte, estava respondendo. Não poderia ouvir uma acusação desta sem responder - retrucou Cunha.

Contra o governo, Cunha agora tenta impedir fusão de legendas

• Medida frustra Kassab, que articula redução de poder do PMDB

Isabel Braga e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Para tentar frear a articulação de criação de novos partidos que ameaça enfraquecer o PMDB, o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uniu-se à oposição para viabilizar a votação de um projeto que cria uma quarentena para a fusão de legendas. A medida vai na contramão da estratégia que está sendo articulada pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades), do PSD, para diminuir a dependência que o governo Dilma Rousseff tem do PMDB.

De acordo com a proposta, somente poderão fazer a fusão com outras legendas já existentes partidos que tenham pelo menos cinco anos de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A proposta altera a Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995) ao estabelecer um mínimo de vida política às legendas antes de elas se juntarem.

Alvo principal é o PL
O alvo da proposta é o processo de recriação do Partido Liberal (PL), que vem sendo urdido com patrocínio de Kassab. Para convencer os atuais detentores de mandato a migrarem para a legenda, aliados do ministro prometem que ela será fundida ao PSD e, assim, terá tempo de TV e fundo partidário.

Depois da criação de PSD, PROS e Solidariedade, o Congresso aprovou lei impedindo que legendas surgidas após as eleições pudessem levar o tempo de TV e o fundo partidário relativo aos deputados que deixassem seus partidos e migrassem para os novos.

Autor do projeto, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), conseguiu o apoio de 17 partidos, entre eles o PSD, para votar o requerimento de urgência da matéria. Só não foi votado ontem porque a pauta da Casa está trancada. A pressão no Congresso, porém, é para votar até a próxima semana.

Em jantar realizado com a cúpula do PMDB na noite de segunda-feira no Palácio do Jaburu, o desconforto com a articulação atribuída a Kassab, e que teria o apoio do governo, predominou nas conversas. Foram discutidas alternativas de reação, entre elas o apoio ao projeto do DEM. A ação poderá prejudicar o PMDB não só em nível federal, mas atingir também bancadas estaduais e municipais, já que a migração para uma nova legenda não implica na perda do mandato conquistado nas urnas. Ou seja, não seria interpretada como infidelidade partidária.

- Com esse projeto buscamos evitar a criação de partidos que, logo após obterem o registro ao Tribunal Superior Eleitoral, se fundem com outras legendas, driblando a fidelidade partidária. Evita a criação da indústria de partidos - justificou Mendonça Filho.

Em seu Twitter, Kassab não passou recibo. Definiu como "excelente" a iniciativa da Câmara de estabelecer limites para a criação de partidos. O líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), reforçou o apoio da bancada à proposta e classificou de mito a tese de que estaria sendo criada uma legenda para se fundir com o PSD:

- Apoiar a criação não significa concordar com a fusão. É mito, nunca houve manifestação formal do partido. Há que se criar regras para que não tenhamos novos partidos todos os dias.

Após derrota, Dilma troca líder do governo na Câmara

- Estado de Minas

BRASILIA – Sob pressão do campo majoritário do PT e ciente de que o quadro de isolamento de seus aliados no Legislativo era crítico, a presidente Dilma Rousseff substituiu o deputado Henrique Fontana (PT-RS) na liderança do governo na Câmara pelo também petista José Guimarães (CE). A avaliação no Planalto é de que Fontana não tinha como permanecer no cargo, uma vez que ele fora barrado pelo próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Durante a campanha, o peemedebista chamou o petista de “fraco” e “desagregador” e anunciou que nem ele nem o PMDB o reconheciam mais como interlocutor do governo.

Mais pragmático e do campo majoritário do PT, o mesmo do ex-presidente Lula, Guimarães foi escalado para tentar uma reaproximação com Cunha, considerado um desafeto de Dilma. Na manhã de ontem, ele procurou o novo presidente em seu gabinete e, logo após ser confirmado na liderança, teve uma nova reunião com ele. Reconhecendo que o PT foi derrotado na eleição, Guimarães disse que vai trabalhar para “recompor as pontes” e a base. “Para mim a eleição da Câmara é uma página virada”, disse. Também negou que Cunha esteja sinalizando com uma pauta de “oposição”.

Como seu primeiro ato no comando da Câmara, no entanto, o novo presidente decidiu acelerar a tramitação de uma proposta de reforma política que é rejeitada pelo PT. E editou um ato que tira a admissibilidade do projeto da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e transfere essa etapa do processo legislativo para o plenário. Os termos da reforma política que estava “engavetada” há mais de um ano na CCJ (nas mãos de um petista, mas que será presidida pelo PP nesta legislatura) são rechaçados pelo PT, entre eles a unificação das eleições a cada quatro anos, o fim da reeleição para cargos do Executivo e a instituição do voto facultativo no país.

Líder do governo teve assessor preso com dólar na cueca

• Com relação entre Cunha e Fontana esgarçada, Guimarães assume o cargo na Câmara

Fernanda Krakovics, Júnia Gama e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - Dois dias depois de o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ser eleito presidente da Câmara, o líder do governo na Casa, Henrique Fontana (PT-RS), admitiu ontem que perdeu as condições políticas para continuar nessa função e foi substituído pelo deputado José Guimarães (PT-SP). No auge do escândalo do mensalão, em 2005, um assessor de Guimarães, então deputado estadual no Ceará, foi preso em Congonhas com US$ 100 mil escondidos na cueca. Ele é irmão do ex-presidente do PT José Genoino, que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do mensalão e cumpre prisão domiciliar.

- Eu atuei muito pela eleição do Arlindo (Chinaglia). A função de líder do governo demanda conversas diárias, às vezes duas, três vezes por dia, com o presidente da Casa. E entendi que a circunstância política atual indica que o meu não é o melhor nome para esse momento - afirmou Fontana.

A relação entre Fontana e Cunha esgarçou de vez quando o então líder do governo classificou como "inaceitável" o peemedebista ter se declarado vítima de uma armação supostamente orquestrada pela Polícia Federal. Cunha, por sua vez, respondeu que não dialogaria mais com Fontana.

Desde anteontem, o governo Dilma tenta pacificar a relação com Cunha. Mas apenas a saída de Fontana pode não resolver o problema. Ontem, Cunha insinuou ao GLOBO que o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, estaria na mesma situação de Fontana, por ter pressionado parlamentares para que aderissem à candidatura de Chinaglia.

- Na medida em que ele (Pepe) constrange, ele vai acabar se inviabilizando politicamente com os partidos. São eles que têm que falar - afirmou Cunha.

A propina fantasiada de doação para o PT

• Em meio à crise envolvendo a demissão de Graça Foster em Brasília, recibos em poder da Polícia Federal em Curitiba comprovariam suborno pago a diretório do partido a mando de ex-diretor da Petrobras

- Correio Braziliense

O executivo da Toyo Setal Augusto Ribeiro de Mendonça Neto entregou à Polícia Federal documentos que, segundo ele, comprovam que pagou propinas sob a forma de doações eleitorais oficiais para o Partido dos Trabalhadores. Segundo ele, o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque ordenou que os valores fossem pagos em troca dos contratos que a construtora obteve com a estatal. Nesta terça-feira (3), a presidente Dilma Rousseff se reuniu com a comandante da Petrobras, Graça Foster, para discutir mudanças na direção da empresa. Entre as causas da demissão está a controvérsia sobre a divulgação das perdas da Petrobras com as denúncias de corrupção.

Em Curitiba, o executivo Mendonça relacionou 34 páginas de recibos do PT e transferências bancárias com 29 doações eleitorais ao partido entre 2008 e 2012. Ao todo elas somam R$ 4,26 milhões, sendo quase 80% em 2010 e 2011, após as eleições em que Dilma Rousseff foi eleita presidente pela primeira vez. Os pagamentos foram feitos por meio de três empresas ligadas à empreiteira e ao próprio executivo.

A maioria dos comprovantes se refere a financiamento para o Diretório Nacional do PT. Porém, em 8 de março de 2012, meses antes das eleições municipais, o diretório municipal de São Paulo recebeu R$ 250 mil da Setal Óleo e Gás. Naquele ano, o prefeito Fernando Haddad conseguiu se eleger na maior cidade do país.

Em 23 de outubro de 2008, dias após o primeiro turno das eleições municipais, foi feita uma doação de R$ 100 mil do caixa da empresa Setec, do grupo da Setal. O destino foi o diretório petista da Bahia. Naquele ano, o candidato a prefeito da capital do PT era o senador Walter Pinheiro, que chegou ao segundo turno, mas não venceu a disputa.

Em 12 de dezembro de 2011, meses antes das disputas municipais, o diretório municipal de Porto Alegre recebeu R$ 250 mil da SOG. Nas eleições seguintes, o candidato dos petistas foi Adão Villaverde, que não se elegeu. Como mostrou o Correio ontem, Mendonça apresentou contratos que, segundo ele, mascaravam o envio de subornos para envolvidos no esquema de desvio de dinheiro.

“Preconceito”
A assessoria do Partido dos Trabalhadores afirmou ao Correio que não comentará o assunto. A reportagem questionou quais são os controles que a legenda eventualmente utiliza para saber se o dinheiro que recebe é lícito, mas também não houve resposta.

O advogado de Renato Duque afirmou ao jornal que as acusações não procedem: “Renato Duque considera isso uma grande inverdade”, disse seu defensor, Renato Ribeiro de Moraes. Segundo Moraes, Duque e Mendonça só tinham relacionamento profissional e jamais houve qualquer conversa com o executivo da Toyo Setal ou qualquer outra pessoa sobre doações a partidos políticos. “Nunca houve qualquer interferência de Renato Duque para campanhas, para propinas e para contratos simulados”, disse o advogado.

Segundo Moraes, há um “interesse” dos procuradores e delegados da Operação Lava-Jato em envolver Duque e, para “agradar” os investigadores e obter benefícios de redução de pena, Mendonça cria “fatos não verdadeiros”. “É um interesse político. Na ótica dos investigadores, Duque representa o braço do PT na Petrobras, essa ideia preconceituosa.” O advogado garante que seu cliente não foi indicado por partido algum para o cargo e que ele trabalhou lá exclusivamente por seu mérito.

Merval Pereira - Quem dita a regra

- O Globo

Diante dos detalhes que diariamente vêm sendo divulgados do que se passou nos bastidores da Petrobras nos anos petistas, especialmente nas gestões de José Eduardo Dutra e Sérgio Gabrielli, de espantar é que ainda permaneçam soltos alguns dos principais responsáveis pelos desvios, e em seus postos os atuais diretores da estatal, que não dão conta de superar os menores obstáculos, como publicar o balanço da companhia minimamente confiável.

A simples notícia de que a presidente Graça Foster poderia ser substituída já elevou em cerca de 15% o valor das ações, numa demonstração de que o mercado anseia por uma decisão que dê início à recuperação da estatal, paralisada em meio ao mar de denúncias.

A tese levantada pelo jurista Ives Gandra Martins de que o impeachment da presidente Dilma pode ser pedido por improbidade administrativa com base na sua culpa, por negligência ou irresponsabilidade, quando presidente do Conselho de Administração da Petrobras, gera um debate político que bota para girar a roda da História.

"Quando, na administração pública, o agente público permite que toda a espécie de falcatruas sejam realizadas sob sua supervisão ou falta de supervisão, caracterizam-se a atuação negligente e a improbidade administrativa por culpa. Quem é pago pelo cidadão para bem gerir a coisa pública e permite seja dilapidada por atos criminosos é claramente negligente e deve responder por esses atos", afirma o jurista.

O novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já aproveitou a oportunidade para demonstrar que é bom político, e, em vez de confirmar que está lá para perseguir Dilma, deu sua opinião de responsável por eventual encaminhamento do processo: acha indevido que problemas ocorridos no mandato anterior sirvam de pretexto para impedimento em novo mandato.

É uma tese que tem muitos adeptos no meio jurídico, mas encontra também contestações e exemplos históricos, como o do impeachment de Richard Nixon nos Estados Unidos, com base em fatos que começaram em seu primeiro mandato e prosseguiram com sua reeleição. O mesmo Ives Gandra comenta que a manutenção da atual diretoria da Petrobras caracteriza, na sua visão, "um crime continuado" por parte de Dilma "quer como presidente do Conselho da Petrobras, representando a União, principal acionista da maior sociedade de economia mista do Brasil, quer como presidente da República, ao quedar-se inerte e manter os mesmos administradores da empresa".

O interessante é lembrar que Ives Gandra Martins, um dos grandes juristas da atualidade, é acusado por petistas e simpatizantes por defender o impeachment, como se estivesse dando base legal para um golpe - mas, quando meses atrás escreveu artigo dizendo que o ex-ministro José Dirceu foi condenado sem que houvesse prova contra ele, foi muito aplaudido pelos mesmos que o criticam agora.

A questão administrativa da Petrobras é de uma complexidade gigantesca, e erros estratégicos certamente foram cometidos por ineficiência, mas na raiz de todos os erros está a ação política. As decisões erradas na estatal - reconhecida como de alto valor estratégico não apenas por suas reservas de petróleo, mas principalmente por seu know-how tecnológico e pela expertise de seus técnicos - que geraram muitos dos R$ 88 bilhões registrados como perdas, mas não contabilizados no balanço da empresa por pressão do Planalto, foram tomadas por questões políticas, e aí está o cerne da questão.

Augusto Ribeiro Mendonça Neto, proprietário do grupo Toyo Setal, confirmou em audiência na 13ª Vara Federal de Curitiba, na segunda-feira, que o então diretor da área de Engenharia e Serviços da Petrobras, Renato Duque, mandou pagar parte da propina negociada nos contratos fechados com a Petrobras em forma de doação oficial ao PT, e entregou à Polícia Federal depósitos realizados ao PT no valor de R$ 4,26 milhões.

Ele confirmou que o pagamento de propina nos contratos era a "regra do jogo" na Petrobras. É evidente que dois ou três diretores que estivessem fazendo esse tipo de delinquência sem o conhecimento de seus superiores seriam logo descobertos. Se "a regra do jogo" não fosse definida acima de suas responsabilidades, eles não teriam ficado em campo durante tanto tempo.

Dora Kramer- Sob signo de mercúrio

- O Estado de S. Paulo

De Itamar Franco dizia-se que era um presidente da República mercurial: tomava decisões de acordo com o que lhe aconselhava o temperamento. A sorte para o país é que sabia ouvir. Em momento crucial, soube escolher e ceder a um conselheiro mais ponderado para permitir o início de um processo que levou o Brasil ao prumo.

O mesmo já não se pode dizer da presidente Dilma Rousseff que, exibindo característica semelhante de alterações abruptas de humor, não abre mão do uso da irritação pessoal como critério para tomada de decisões. Trata-se de uma temperamental convicta. E inflexível ao limite da insensatez.

Exemplos do método confuso, desprovido de lógica, errático e não raro de resultados desvantajosos para o governo não faltam. Foram vários ao longo dos últimos anos. Vamos, no entanto, nos ater aos dois últimos, começando pelo mais recente, o comentado afastamento de Graça Foster da presidência da Petrobras.

Ninguém discorda, aliás, era quase unanimidade que a atual diretoria da empresa havia perdido há muito as condições objetivas e subjetivas para seguir no comando. A Procuradoria-Geral da República havia aconselhado o afastamento coletivo e a própria Graça Foster, como é de conhecimento geral, pedido à presidente diversas vezes para sair.

Dilma negou, manifestando sempre total confiança na lisura da executiva e amiga. Portanto, imagina-se que a presidente queria evitar que a demissão fosse interpretada como suspeição do envolvimento (por ação ou omissão) de Graça no esquema de corrupção da Petrobras. Uma escolha desgastante, mas uma escolha.

Agora circula no governo a notícia de que Dilma Rousseff mudou de ideia. Por quê? Como é de praxe, ninguém no Palácio do Planalto se sente na obrigação de dar uma explicação clara. Nega-se no oficial e no paralelo prosperam as versões. Fica a suposição de que o motivo seja a dita “irritação” da presidente com a divulgação do balanço (não auditado) da companhia onde se revelava a perda de R$ 88,6 bilhões em ativos.

Segundo consta, Dilma considerou os números “descabidos”, “mal calculados” e, por isso, não deveriam ser dados a conhecer. De onde, talvez, a decisão de substituir Graça Foster. Algumas coisas não combinam nessa história: se houve erro de cálculo, não seria o caso de corrigir e divulgar o número correto? Quem deu o respaldo para a divulgação? Ou não houve respaldo? Se não houve, ocorreu evidente descontrole de informação e, por consequência, de administração, de governança.

Resta ainda a hipótese de o balanço ter sido mero pretexto para justificar uma decisão que já se desenhava óbvia até pela própria atingida, mas que a presidente insistia em não tomar sabe-se lá qual a razão. Teimosia? Dificuldade de perceber as circunstâncias, de reconhecer equívocos?

Se o plano era para demitir a presidente da Petrobras, não se justifica a demora. Politicamente, o que Dilma ganhou foi ver a oposição e o PMDB ontem comemorando por interpretarem o desfecho como derrota dela, considerando o aval anterior à permanência da amiga.

Para efeito do escândalo em si, a saída de Graça não muda nada, pois os desdobramentos dependem da Justiça. Há como demonstrado pela reação do mercado, imediatos de percepção para a empresa, embora não se saiba ainda o que vem pela frente. Isso inclui o decorrer das investigações e o processo de escolha da troca de comando da Petrobras. Este não afastado do risco de ser conduzido sob o signo de mercúrio.

Aqui volto ao segundo dos dois exemplos recentes, citados no início, do critério de irritação aplicado pela presidente a decisões de governo: a derrota para Eduardo Cunha na Câmara. Obra de sua “irritação” com o deputado que virou presidente.

Bernardo Mello Franco - Graça é o novo Mantega

- Folha de S. Paulo

Nos Estados Unidos, os presidentes em fim de mandato são chamados de "patos mancos". O apelido descreve os líderes que já deixaram de liderar: apenas esquentam a cadeira para o sucessor. No Brasil, o governo Dilma criou a figura dos ex em atividade. São dirigentes que já perderam o cargo, mas precisam manter as aparências até que o substituto seja nomeado.

A fórmula foi inaugurada no ano passado com Guido Mantega, o ex-ministro da Fazenda. Agora volta a ser aplicada com Graça Foster, a (ainda) presidente da Petrobras.

Dilma avisou à praça que Mantega estava fora dos planos em setembro de 2014, a um mês do primeiro turno. Ele foi atacado e ridicularizado na campanha, mas teve que resistir impassível até o fim do primeiro mandato da chefe. Magoado, tomou o avião para casa sem transmitir o cargo a Joaquim Levy.

Graça é o novo Mantega. Sua presença na estatal era insustentável havia meses, mas Dilma insistia em mantê-la no posto. A atitude estimulou a especulação com as ações da empresa e retardou o esforço para recuperar sua credibilidade.

Agora que a sensatez venceu a teimosia, a presidente da Petrobras foi avisada de que terá que esperar mais algumas semanas no cargo. Até os ascensoristas da empresa sabem que seu café esfriou, mas ela continuará a perambular como morta-viva. Será o zumbi da avenida Chile, endereço da estatal no centro do Rio. Como consolo, restarão mais um mês de salário e o conforto do gabinete refrigerado com vista para a entrada da baía de Guanabara.
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O sorriso irônico de Eduardo Cunha ao apertar a mão do abatido Aloizio Mercadante resume a humilhação que o peemedebista impôs ao Planalto. Na foto de Sérgio Lima, que estampou a capa da Folha nesta terça-feira (3), o deputado parece um jogador alemão cumprimentando um brasileiro depois do 7 a 1.

Luiz Carlos Azedo - Entre boatos e fatos

• O que parecia um esforço de Sísifo da oposição, agora é do governo, pois o trabalho para viabilizar uma nova CPI da Petrobras avançou

- Correio Braziliense

Bastaram os rumores sobre a saída da presidente da estatal, Graça Foster, para as ações de Petrobras subirem na Bovespa. A informação divulgada cedo, e corroborada por dois encontros da presidente Dilma Rousseff com a presidente da estatal, alavancou em R$ 16,59 bilhões o valor de mercado da companhia. Para os investidores, com todos os desfalques e prejuízos já apurados e que chegam a R$ 88,6 bilhões, o maior problema da empresa é a governança.

Prisioneira de suas idiossincrasias, Dilma Rousseff descartou a amiga Graça Foster como quem joga fora o bagaço de uma laranja que não deu suco. Manteve-a no cargo porque sua prioridade era blindar sua administração e a própria atuação como presidente do Conselho de Administração. As denúncias de corrupção, porém, jorram da Operação Lava-Jato como se fossem um grande poço de petróleo. Mais valia uma amiga de fé e camarada matando a crise no peito do que um executivo independente e tarimbado, com carta branca para pôr a empresa nos trilhos.

Ontem, ao falar sobre, o assunto, Graça disse que a conversa foi boa, mas não confirmou a própria saída. Também não disse que continuaria, como das vezes anteriores. Segundo fontes palacianas, teria queimado o filme com Dilma na última reunião do Conselho de Administração, ao divulgar os números das perdas da companhia depois de examinados, caso e caso, todos os projetos em execução por empresas envolvidas na Operação Lava-Jato. Toda a diretoria deverá ser substituída até o final do mês.

O levantamento foi feito por uma empresa de auditoria independente, mas não foi incluído no balanço trimestral por orientação do Palácio do Planalto. Os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega, atual presidente do conselho, e do Planejamento Miriam Belchior detonaram Graça Foster na reunião. O balanço foi divulgado na madrugada, sem considerar as perdas, e provocou um desastre, com monumentais quedas nas ações da Petrobras nas bolsas.

Dilma Rousseff reiterou ontem que o governo trabalhará contra a instalação de uma nova CPI para investigar a empresa. O que parecia um esforço de Sísifo da oposição, agora é do governo, pois o trabalho para viabilizar a comissão avançou nos dois primeiros dias de legislatura. A CPI da Petrobras na Câmara já foi protocolada, com 186 a assinaturas, mas depende do novo presidente Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para ser instalada. A proposta de CPI Mista, cuja instalação é imediata, precisa do apoio de 171 deputados e 27 senadores. Não é uma missão impossível para a oposição, que já tem as assinaturas na Câmara.

A montagem da nova diretoria da Petrobras passou a ser a prioridade de Dilma para refrear o ímpeto da oposição, que conta com ampla simpatia da opinião pública porque a presidente da República, de prático, nada fez até agora para enfrentar a crise. Pelo contrário, nos bastidores ainda trabalha para abafá-la. A dificuldade está sendo encontrar um executivo que queira entrar nessa fogueira. Os nomes mais cotados no mercado ontem eram os do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, do ex-presidente da Vale Roger Agnelli e do Rodolfo Landim, ex-parceiro e hoje desafeto de Eike Batista, com passagens pela Eletrobras e BR Distribuidora.

Novos líderes
O dispositivo parlamentar do governo na Câmara foi reestruturado ontem com a eleição do deputado Sibá Machado (PT-AC) para líder do PT e a indicação do deputado José Guimarães (PT-CE) para líder do governo, no lugar de Henrique Fontana (RS). A alteração sinaliza que a orientação política do governo seguirá sob comando do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, coadjuvado pelo ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Não tem risco de dar certo, diante do enfraquecimento do PT na Câmara, embora Guimarães tenha mais trânsito com os aliados e seja do grupo ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No PMDB, criou-se um vácuo de poder na bancada, com a eleição de Eduardo Cunha e a saída de alguns parlamentares influentes que foram eleitos para o Senado. Ontem, havia cinco candidatos lançados — Danilo Forte (CE), Leonardo Picciani (RJ), Lúcio Vieira Lima (BA), Manoel Júnior (PB) e Marcelo Castro (PI). Está decidido que haverá revezamento anual entre eles, o que facilita as composições. Cunha está numa saia justa, pois o nome de sua preferência é Manoel Junior, mas o prefeito carioca Eduardo Paes, que almeja ser candidato a presidente da República em 2018, pressiona para que apoie a eleição de Picciani.

Elio Gaspari - O janeiro negro do Planalto

• Se alguém planejasse, não armaria tantas trapalhadas para que tantas coisas dessem errado em tão pouco tempo

- O Globo

A eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara foi apenas um detalhe na trajetória de um governo que parece ter feito uma opção preferencial pela trapalhada. Vale a pena atrasar o relógio.

A doutora Dilma ainda estava de férias e, em seu nome, saiu do Planalto a bala perdida que acertou a testa do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Levou-o a um recuo público desnecessário, apenas humilhante, por causa de um comentário genérico sobre o salário-mínimo. Pouco depois, veio outra bala perdida, desta vez na direção do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por ter dito que os critérios do seguro-desemprego estavam ultrapassados, coisa já anunciada pelo seu antecessor. Isso num governo que pretende carregar a bandeira de uma “pátria educadora", e cortou verbas do Ministério da Educação. Deu-se um apagão no sistema elétrico e o ministro de Minas e Energia prontamente informou que foi um acidente. A área técnica do governo desmentiu-o no ato.

Nenhuma dessas coisas precisava ter acontecido. “Pátria educadora" é conversa fiada. O Planalto não precisa atirar nos seus próprios ministros. O doutor das Minas e Energia não precisava dizer o que disse. Finalmente, se Eduardo Cunha tinha uma “ascendência irreversível" na Casa, a doutora deveria ter percebido que iria para frigideira com o petista Arlindo Chinaglia. Quem seria preferível para presidir a Casa: um petista, ou qualquer um? Conseguiu-se o milagre de dar conteúdo oposicionista ao doutor Cunha. Se a desarticulação política do Planalto e do PT tornavam a derrota inevitável, o ronco de poder emitido pelo comissariado nas últimas semanas foi apenas uma opção preferencial pela trapalhada. Um miado de leão, rugido de gato.

Essas foram iniciativas equivalentes à do sujeito que resolve atravessar a rua para escorregar na casca de banana da outra calçada. Verdadeira mágica, porque do outro lado da rua havia só a banana de Cunha. Na calçada em que anda o Planalto há cachos. O ano de 2014 fechou com o maior déficit das últimas décadas, desmentindo 12 meses de sucessivas lorotas. A Petrobras teve seu crédito rebaixado e suas ações valem menos que dois cocos em Ipanema. Isso e mais a certeza de que a Operação Lava-Jato vai desentranhar as contas do PT. (A regulamentação da Lei Anticorrupção está engavetada há um ano.)

O governo resolveu inflar seus desastres porque, na batalha da comunicação, egocentrismo e megalomania abafam a rotina. Mesmo assim, nem tudo são espinhos. Esse mesmo governo mandou passear o lobby das concessionárias de energia que pretendia espetar na Viúva uma conta de R$ 2,5 bilhões. Mandou passear também os clubes de futebol com suas dívidas de pelo menos R$ 1,5 bilhão. Muito justamente reduziu o crédito estudantil para jovens com desempenho pouco acima do medíocre no Enem. Contrariou os barões das escolas privadas, mas conteve a privatização de seus recursos. Essa batalha ainda não terminou, como ainda não entrou em cena a das operadoras de saúde, começada nos dias das festas de fim de ano.

Resta à doutora Dilma um consolo. Na oposição, a única novidade é que Aécio Neves deixou a barba crescer.
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Elio Gaspari é jornalista

Ricardo Noblat - Dilma não ama as pessoas. e não é amada por elas

- O Globo

Por que o governo preferiu jogar todas as suas fichas para eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP) presidente da Câmara e derrotar Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Acreditou de fato que poderia ser bem-sucedido? Ou raciocinou com o estômago avaliando como superáveis as dificuldades que encontrou pelo meio do caminho?

Em resumo: foi um erro de cálculo muito comum em episódios como esse, resultado de má avaliação? Ou foi erro provocado por explosão de ira ou algo parecido?

Faltou alguém de cabeça fria ao lado da presidente Dilma para aconselhá-la a se compor com Cunha ou a se manter distante da eleição? Ou não faltou, e foi ela quem decidiu ir para o tudo ou nada?

Se foi decisão dela que contrariou vários dos seus conselheiros, menos mal. Prova, pelo menos, que há cabeças frias nas vizinhanças dela. Quem sabe não prevalecerão em outras ocasiões?

Caso a derrota colhida por Dilma tenha sido também uma derrota de quem a assessora, incapaz de enxergar o que por aqui se via com antecedência, bem... O governo vai mal, obrigado. Só tende a piorar.

O embate travado no último domingo pôs de um lado Cunha, acostumado a enfrentar o governo, e do outro, a presidente e uma dezena de ministros. Os dois combatentes foram esses.

É certo que Cunha contou com aliados na Câmara, mas o governo também. Notável é o fato de um parlamentar, como qualquer outro, ter conseguido vencer sozinho o governo.

À parte os atributos pessoais do novo presidente da Câmara, foi a pobreza de atributos por parte do governo a maior responsável pela sua própria derrota.

O que este governo tem a oferecer aos que se dizem seus aliados, mas que são capazes de largá-lo de mão na primeira oportunidade? Cargos? Favores? Miçangas do poder?

De que adiantou a presidente ter loteado o seu governo com os partidos, admitindo como ministro até quem tinha sido preso com malas de dinheiro no aeroporto de Belo Horizonte?

Quem poderá garantir que a eleição de Cunha não passou de caso isolado, e que os ruminantes da base do governo no Congresso voltarão a ruminar mansamente?

(Eu disse "mansamente". Não "mensalmente".)

O governo costuma ser um reflexo de quem o lidera.

Dilma não ama as pessoas e não é amada por elas. É simples assim.

Vinicius Torres Freire - Sob nova administração?

• Dilma cedeu ao tirar Graça da Petrobras, mas vai ceder a direção da empresa de fato?

- Folha de S. Paulo

Foi preciso A água acabar para que Dilma Rousseff decidisse mudar a direção da Petrobras. Apenas à beira do desastre terminal a presidente cedeu. Cedeu, mas não se sabe ainda quanto. O problema da Petrobras não se chama Graça Foster, mas o nacional-falimentismo ao qual o governo sujeitou a empresa.

A fim de reerguer a Petrobras, será preciso mudar de ideias, não apenas de nomes. Se por mais não fosse, bons nomes não vão colocar suas reputações e "ficha limpa" em risco sem reforma grande da empresa. Isto é, sem que ocorra pelo menos a redução drástica de programas que estão ruindo sob o próprio peso, como a reserva de mercado para fornecedores nacionais da Petrobras, para dar apenas um exemplo.

Trata-se de um programa que, além de exagerado no tamanho, foi pequeno em inteligência técnica e econômica. Isso está na cabeça de alguns "cotados" para assumir a empresa, entre outras reformas.

Lula vai sugerir de novo Henrique Meirelles. Grande administrador, muito hábil, o bastante para, logo após eleito deputado tucano, assumir e presidir por oito anos um Banco Central conservador sob a gestão petista, deixando o posto com raros desafetos tanto no governo como na oposição.

Se Dilma chamá-lo, tirando-o de alguns blocos pré-carnavalescos em que têm saído em São Paulo, causará boa impressão, embora Meirelles nada saiba de petróleo (aliás, pouco sabia de BC, quando começou). Mas Dilma não gosta de Meirelles.

Há um boato recente sobre o nome de José Carlos Grubisich, que ora dirige o negócio de celulose do pessoal da Friboi. Grubisich presidiu por dez anos a Braskem (de Odebrecht e Petrobras). Tem vasta experiência de executivo.

Há o caso de Murilo Ferreira. Contra o presidente da Vale há o fato de que ele parece muito diplomático e "próximo" de Dilma, quando o momento seria de uma "solução Joaquim Levy", como se diz "no mercado" e entre cotados para o cargo: alguém que coloque a Petrobras em outra direção.

A mudança pode levar um mês. Antes disso, Graça Foster precisa fazer o rescaldo do incêndio, fazer as contas do desfalque da empresa e apresentar um balanço. Nesse tempo, Dilma Rousseff terá de convencer um nome bom e sério a dar um mergulho no atoleiro da Petrobras, quando ouvirá coisas de que não quer saber, mudanças profundas, das quais pode levar um tempo até ser convencida. Em geral, a presidente costuma mudar de ideia apenas à beira do abismo, como no caso da ruína das contas públicas.

No caso da Petrobras, parece além do mais que governo nunca entendeu o tamanho da encrenca em que metia a empresa. A presidente parece mesmo acreditar que coisas como restrição orçamentária e descrédito financeiro são ficções mercadistas.

O que mais se pode deduzir de um plano que asfixiava a receita da empresa, aumentava a despesa de modo ineficaz, quando não perdulário ou corrupto, aumentava a dívida, investia em projetos natimortos em termos de retorno e noutros que, talvez, viessem a render num prazo incompatível com o do acúmulo e do vencimento de dívidas?

Isso daria em besteira. Deu. Nem precisava dos excessos e das revelações do Petrolão. Os problemas viriam em câmera lenta, mas o final do filme era previsível.

Míriam Leitão - Encontro com a verdade

- O Globo

O que levou o governo a apontar a porta de saída para Graça Foster foi o mais errado dos motivos. Se houve um mérito no balanço da empresa divulgado na semana passada foi exatamente tornar público o que não podia ser escondido: os R$ 88 bilhões de rombo no valor dos ativos. Esse número foi encontrado pelas duas auditorias independentes contratadas. Era fato relevante. Tinha que estar lá.

No dia da longa reunião do conselho de administração, os ex-ministros Miriam Belchior e Guido Mantega não queriam que o número fosse divulgado. Deixá-lo registrado no demonstrativo financeiro, no entanto, foi o começo do encontro com a verdade. Foi justamente isso, um fato meritório, que levou a presidente Dilma a se enfurecer com Graça Foster. Não foram os erros que ocorreram na Petrobras. A presidente não gostou de Graça ter aceitado que fosse divulgado o que não poderia jamais ser escondido. Pelas leis do mercado de ações, se um elefante deste tamanho, encontrado pelas duas auditorias independentes em 31 ativos, fosse escondido, seria sonegação de informação.

A alta do valor das ações não deve ser entendida como sinal de que os analistas e investidores acreditam que a saída da presidente resolve o problema. A ação está com valor muito baixo, e o mercado opera no terreno especulativo. Da maneira que subiu pode cair. No mercado, em momentos assim, qualquer fato ou boato serve para alimentar movimentos dramáticos, para cima ou para baixo, que podem ser revertidos dias depois.

A coisa mais importante a se fazer para salvar a empresa não é encontrar outra pessoa para o lugar de Graça Foster, mas mudar a atitude do acionista controlador, dando um sinal forte de que começa um novo tempo. Se Belchior e Mantega forem mantidos como representantes do Tesouro no conselho será sinal de que o governo não quer, de fato, profissionalizar a empresa. Primeiro porque Mantega esteve lá durante todo o tempo em que houve decisões desastradas; segundo porque Miriam Belchior não representa a União, mas sim Dilma Rousseff. Está na empresa para defender o que pensa a presidente, e não o interesse dos contribuintes que são, no fim das contas, os verdadeiros donos da empresa.

O conselho é formado pelos representantes dos acionistas, mas não pode ser um órgão político. Tem que ser também uma instância de gestão, já que muitas decisões passam por lá, como se viu. É preciso profissionalizar a gestão e a direção da empresa para reconquistar a confiança dos investidores, dos credores, dos avaliadores, do país.

Uma mudança em toda a diretoria seria um bom momento para estabelecer o início de um tempo novo, com profissionais recrutados no mercado, com expertise de gestão de crise, mas não foi isso que aconteceu. Tudo depende de quem virá e de o governo se comprometer, de fato, em deixar a empresa ser administrada com o objetivo de ter mais transparência, mais prestação de contas aos acionistas.

É estapafúrdia a ideia de deixar a empresa com uma diretoria demissionária durante um mês, num momento em que a companhia está sob suspeição do mercado, auditores, credores, autoridades reguladoras do Brasil e exterior. Como a crise se arrasta há mais de ano, era tempo de o governo saber o que pretende fazer com antecedência e não criar mais uma crise que não sabe como gerir.

A presidente Dilma precisa demonstrar que entendeu o tamanho da crise da Petrobras e o risco que a empresa corre. A Petrobras precisa de um choque de confiança e uma mudança completa de rumos. Não pode ser administrada por mais um que dirigirá a companhia telefonando para a presidente da República.

Raphael Rabello & Alceu Valença - Igarassu (Capiba)

Manuel Bandeira - A canção das lágrimas de Pierrot

I

A sala em espelhos brilha
Com lustres de dez mil velas.
Miríades de rodelas
Multicores - maravilha! -

Torvelhinham no ar que alaga
O cloretilo e se toma
Daquele mesclado aroma
De carnes e de bisnaga.

E rodam mais que confete,
Em farândolas quebradas,
cabeças desassisadas
Por Colombina ou Pierrete

II

Pierrot entra em salto súbito.
Upa! Que força o levanta?
E enquanto a turba se espanta,
Ei-lo se roja em decúbito.

A tez, antes melancólica,
Brilha. A cara careteia.
Canta. Toca. E com tal veia,
com tanta paixão diabólica,

Tanta, que se lhe ensangüentam
Os dedos. Fibra por fibra,
Toda a sua essência vibra
Nas cordas que se arrebentam.

III

Seu alaúde de plátano
Milagre é que não se quebre.
E a sua fronte arde em febre,
Ai dele! e os cuidados matam-no.

Ai dele! e essa alegria,
Aquelas canções, aquele
Surto não é mais, ai dele!
Do que uma imensa ironia.

Fazendo à cantiga louca
Dolorido contracanto,
Por dentro borbulha o pranto
Como outra voz de outra boca:

IV

- "Negaste a pele macia
À minha linda paixão
E irás entregá-la um dia
Aos feios vermes do chão...

"Fiz por ver se te podia
Amolecer - e não pude!
Em vão pela noite fria
Devasto o meu alaúde...

"Minha paz, minha alegria,
Minha coragem, roubaste-mas...
E hoje a minh'alma sombria
É como um poço de lástimas..."

V

Corre após a amada esquiva.
Procura o precário ensejo
De matar o seu desejo
Numa carícia furtiva.

E encontrando-o Colombina,
Se lhe dá, lesta, . socapa,
Em vez de beijo um tapa,
O pobre rosto ilumina-se-lhe!

Ele que estava de rastros,
Pula, e tão alto se eleva,
Como se fosse na treva
Romper a esfera dos astros!...