segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

José Roberto de Toledo: Férias brasilienses

- O Estado de S. Paulo

O governo perdia e o cronômetro corria. Aos 45’ do primeiro tempo, pênalti para o time presidencial. O juiz apitou, cobrou e marcou. Um bandeirinha se retirou, em protesto. Tarde demais, a partida está empatada. Governistas descem para o intervalo comemorando o gol no último minuto. Vira-casacas e oposição amargam um isotônico vencido enquanto ansiavam por Dom Pérignon. Na política e no futebol, não se ganha o jogo na véspera.

No vestiário, a técnica troca um zagueiro econômico por um atacante famoso pelas pedaladas. Foi menos por convicção do que falta de opção. O banco está tão vazio quanto sua popularidade.

Nas arquibancadas, o público é decepcionante. Só as torcidas organizadas estão animadas. Gritam e tuítam com crédito pré-pago. O resto majoritário lamenta a cera, a catimba, mas assiste aos jogadores comerem bola, grama e uns aos outros, passivo.

Segundo tempo, só depois do carnaval, Semana Santa ou Corpus Christi. Após suarem togas e ternos, ministros, deputados e senadores vão pegar uma praia, aproveitar o câmbio favorável na Argentina pós-Kirchner ou lavar a sorte em Las Vegas. Suíça? Nem de jatinho. Lugar indiscreto, deu de prender e dedurar quem lá sempre depositou fé e francos. Ingratidão impagável.

Enquanto isso, no Brasil, crescem recessão e desemprego. Quanto pior, melhor? Quem responde sim costuma ter mandato, renda fixa ou estabilidade funcional. Está preocupado com a opinião do público, não com o público em si. Desde que o adversário leve a culpa merecida, o problema não é dele. No desfile do poder, essa é, desde sempre, a fantasia de toda oposição. Troca esperança por raiva e, quando perde, culpa o eleitor ou a urna eletrônica.

O jogo está suspenso, e os jogadores estão se lixando para quem empobrece ao largo do campo. É difícil prever hoje o vencedor, mas o perdedor a maioria reconhece quando se olha no espelho.

Placar móvel. Até a semana passada, Dilma Rousseff necessitava de seis votos no Supremo Tribunal Federal e que a oposição não chegasse a 342 votos na Câmara. Ao conseguir oito no STF, ela passou a precisar também de 41 votos no Senado. O governo comemorou porque acha mais fácil conseguir maioria de senadores do que um terço de deputados. A contabilidade, porém, é uma só.

Se os deputados volúveis acharem que o governo vai ganhar no Senado, a oposição nem deverá chegar a 342 votos na Câmara. Seria muito arriscado virar casaca e passar três anos afastado dos cofres governamentais. Como a votação deve ser nominal, um deputado a cada vez, tende a se repetir o que ocorreu com Collor: à medida que a maioria se consolida, os volúveis vão em manada para o lado vitorioso. A margem fica esmagadora.

Do mesmo modo, se o governo se fragilizar no Senado e ficar claro que não atingirá 41 senadores, será muito mais fácil para a oposição chegar e ultrapassar os 342 votos na Câmara. Hoje, exatamente 41 senadores votam com Dilma 75% das vezes ou mais.

Em qualquer cenário, porém, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tomou o protagonismo do deputado Eduardo Cunha. A ponto de mandar dizer a Dilma qual política econômica deve seguir. Não foi demonstração de força, só. Renan sabe que não dá para sustentar o governo por muito tempo sem reação da economia.

Segundo o Ibope, o medo do desemprego, a piora da situação financeira individual e a frustração do consumo explicam mais de 90% da perda de popularidade de Dilma. A reforçar isso, o instituto descobriu que metade é a favor que um político, mesmo que honesto, perca o mandato apenas por ser mau gestor.

Como dois terços são favoráveis ao impeachment da presidente, uma parte não confia na sua honestidade. Mas a maioria quer vê-la pelas costas por ela não conseguir acender uma luz no fim do túnel. Por isso Renan está dizendo: “É a economia, presidente”.

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