quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Indefinição política derruba investimento

• Queda de 15% é a maior desde 1996. Lava-Jato influencia

Cássia Ameida, Daiane Costa, Lucas Moretzsohn Lucianne Carneiro - O Globo

Uma das principais contribuições para a queda de 4,5% do Produto Interno Bruto, pelo lado da despesa no terceiro trimestre deste ano, foi a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador do nível de investimento no país. A taxa despencou 15% entre julho e setembro, frente a igual período do ano anterior. Foi a maior retração da série histórica iniciada em 1996. O recuo é explicado pelo desempenho negativo das importações, da produção de bens de capital e da construção civil. Na comparação com o segundo trimestre, os investimentos caíram 4,0%, pela nona vez consecutiva.

A queda acentuada indica que os níveis de confiança dos empresários no país estão baixos e que há pouco incentivo para aplicação de capital. Para Paulo Gomes, economista da Azimut Brasil Wealth Management, quase todos os fatores estão inibindo os investimentos no país: inflação alta, taxa de juros elevada e crédito escasso. Ele afirma que os investidores estão em compasso de espera, porque não veem crescimento da demanda. Além disso, ele afirma que há uma indefinição tanto no cenário macroeconômico, como o ciclo de aumento de juros de acordo com a demanda, quanto político.

— Quando você tem esse cenário nebuloso, você prefere não arriscar. Você tem que ir freando para não correr riscos. O investimento é como se fosse uma prévia do PIB de amanhã. Se não investimos hoje, não vamos ter PIB amanhã. Então, está diminuindo a capacidade produtiva brasileira. É preocupante — afirma. — É preciso uma política fiscal mais previsível, que traga mais estabilidade das contas públicas e que gere uma demanda de investimentos.

Menos crescimento
De acordo com Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, a contração do investimento “mina os alicerces do crescimento". Com isso, ele sustenta que a retomada pode ser muito lenta e débil.

— O que é extraordinário é que o setor privado está fazendo um ajuste brutal, e o gasto público cresceu nos dois últimos trimestres. O ajuste fiscal não está se materializando. O pouco que foi feito até hoje foi de péssima qualidade. É um arrocho no investimento público e um aumento na carga tributária. É um corte no investimento, e não no gasto corrente — ressalta.

A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2015 foi de 18,1% do PIB, inferior à do mesmo período de 2014 (20,2%) e a menor para um terceiro trimestre desde 2007, quando foi de 18,8%. Na comparação com o trimestre anterior, o investimento já cai há nove trimestres seguidos.

Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, explica que o cenário no país é afetado pela operação Lava-Jato, tendo em vista que há uma piora para investimentos produtivos, já que as maiores empreiteiras estão ligadas ao escândalo de corrupção. De acordo com Gomes, hoje, só não entra mais capital externo ao Brasil, dado que a situação cambial é vantajosa para investidores estrangeiros, porque o Brasil já perdeu o grau de investimento em uma das agências de classificação de risco, a Standard & Poor’s. Isso, diz o especialista, acaba por criar um ambiente de mais incertezas para os investidores e, assim, dificultar a atração de mais recursos para o país.

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