segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Macri vence, mas não terá maioria no Congresso

• Prefeito de Buenos Aires é o novo presidente da Argentina

Janaína Figueiredo - O Globo

O candidato da aliança opositora Mudemos, Mauricio Macri, 56 anos, foi eleito ontem presidente da Argentina, encerrando uma era de 12 anos de domínio da família Kirchner na Casa Rosada, conta Janaína Figueiredo. Apurados 93,8% dos votos, ele havia conquistado 51,9%, contra 48,1% obtidos pelo candidato do governo, Daniel Scioli, que reconheceu a derrota e parabenizou o adversário. 

Analistas responsabilizam a própria presidente Cristina Kirchner pela derrota. Assim que começaram a sair os primeiros resultados, os partidários do opositor foram às ruas celebrar. Sem maioria no Congresso, Macri governará um país em crise econômica. -BUENOS AIRES- Depois de ter ficado em segundo lugar no primeiro turno da eleição presidencial argentina, em 25 de outubro passado, o candidato da aliança opositora Mudemos, o prefeito portenho Mauricio Macri, protagonizou uma reviravolta na política argentina e se elegeu como sucessor da presidente Cristina Kirchner. Com 93,8% das mesas de votação apuradas, Macri tinha 51,9% dos votos, superando seu adversário, o candidato do kirchnerismo, Daniel Scioli, que alcançou 48,1%.

Por volta das 21h30m (hora local), o candidato do kirchnerismo, de 58 anos, atual governador da província de Buenos Aires, cumprimentou o oponente:

— Foi eleito um novo presidente, o engenheiro Mauricio Macri, com quem acabo de falar por telefone e parabenizar. Sou democrata e respeito a vontade popular. Pedimos que Deus o ilumine para melhorar o que o país avançou.

O clima em Buenos Aires e outras cidades era de euforia e seguidores de Macri celebravam nas ruas.
— Obrigado por terem acreditado que, juntos, podemos construir a Argentina que sonhamos. Estou aqui porque vocês decidiram — discursou o presidente eleito. — É uma mudança maravilhosa, que deve nos levar ao futuro e às oportunidades que precisamos para crescer.

Macri vai encarar problemas delicados, como irregularidades e escassez de reservas no Banco Central; recessão; aumento da pobreza e desemprego; necessidade de normalizar o mercado cambial (sob intervenção do governo desde 2011); isolamento dos mercados internacionais e falta de um acordo com os chamados fundos abutres, que estão litigando contra a Argentina em tribunais americanos e, assim, impedindo que o país possa sair da situação de calote de sua dívida pública.

— Vocês hoje fizeram possível o impossível, o que ninguém acreditava, com seu voto — agradeceu Macri à multidão que o prestigiava, e aproveitando para mandar um recado aos perdedores. — Esta vitória não pode se deter em revanches e ajustes de contas.

O presidente eleito iniciou sua carreira política na virada do século, após presidir o Boca Juniors, time mais popular do país, e ter comandado empresas do império fundado pelo pai, o magnata Franco Macri.

A grande expectativa da oposição era superar os votos conquistados por Cristina, quando foi reeleita em 2011. Na época, a presidente alcançou 54,11%, superando amplamente os 22% obtidos pelo segundo colocado, o socialista Hermes Binner, e se tornando a terceira chefe de Estado mais votada da História argentina. O primeiro lugar é ocupado pelo general Juan Domingo Perón, que nas presidenciais de 1951 obteve 63,4%. Hipólito Yrigoyen, líder histórico da União Cívica Radical (UCR), eleito em 1928, com 61,66%, ocupa o segundo lugar.

Para analistas, Cristina tirou fôlego de Scioli
No primeiro turno, em outubro, Macri ficou apenas três pontos percentuais abaixo de Scioli, desempenho que surpreendeu analistas e empresas de consultoria, que previram uma vantagem de até dez pontos percentuais para o kirchnerista. A aliança opositora se tornou um rival competitivo — até então se dizia que Macri não tinha chances de derrotar Scioli num segundo turno. E venceu disputaschave, como o governo da província de Buenos Aires e mais de 70 prefeituras.

Após ser eleito prefeito portenho em 2007, e reeleito em 2011, com mais de 60% dos votos, Macri se tornou o grande rival do kirchnerismo nas urnas graças à aliança de seu partido, o PRO, com a tradicional UCR. O entendimento, que nasceu no começo deste ano e provocou muito debate interno na UCR, deu a Macri a estrutura nacional que o PRO não tinha e que sempre representou o principal obstáculo para sua candidatura presidencial.

Para Macri, de perfil empresarial, a vitória representa o desafio de governar um país com parte do peronismo na oposição, um fantasma que, segundo seus colaboradores, não o assusta. Outros expresidentes que não eram peronistas não conseguiram completar os mandatos, como Raúl Alfonsín (1983-1989) e Fernando de la Rúa (1999-2001).

— Para quem esteve 14 dias sequestrado e superou essa situação, não existe o impossível — comentou um assessor.

Em 1991, a família Macri pagou US$ 6 milhões pelo resgate do então empresário, que demorou algum tempo em se recuperar. O candidato não fala muito sobre o episódio, mas quem o conhece bem garante que foi traumático.

Scioli, que decidiu fazer política na década de 90 com o respaldo do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), também teve de superar circunstâncias difíceis, como a perda de um braço na década de 80, quando era campeão de motonáutica. Após ter perdido fôlego na segunda etapa da campanha, segundo analistas, pela alta rejeição ao governo kirchnerista, o candidato apostou numa campanha do medo para tentar reverter a vantagem de Macri, sem sucesso.

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