quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Igor Gielow: Planalto teme revelações de presos, e votação no Senado toca corporativismo

- Folha de S. Paulo

O medo do tamanho da galinha a ser revelada a partir da pena puxada pela Lava Jato, para ficar na metáfora consagrada pelo ministro Teori Zavascki, definiu a reação no Planalto e no Senado nesta turbulenta quarta-feira (25).

No governo e no PT, teme-se o que podem falar Delcídio do Amaral e, principalmente, Nestor Cerveró.

O primeiro, inédito senador preso, tem extenso currículo de serviços prestados ao partido e ao governo. E livre trânsito, como demonstrou o constrangimento evidente de vários oposicionistas ao discutir seu caso no Senado.

Pode, se chegar ao ponto de considerar uma delação premiada, falar sobre seu período à frente da CPI que investigou o mensalão e isentou Luiz Inácio Lula da Silva.

Como influente político na área de energia, poderá discorrer sobre as ações da então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma Rousseff, em negócios como a polêmica compra da refinaria de Pasadena.

Mais poderá falar Cerveró, o ex-diretor da estatal indicado por Delcídio e mantido com apoio do PMDB do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), embora ambos neguem a paternidade.

A ser verdadeiro o teor da delação dele comentado pelo senador na gravação divulgada pelo Ministério Público, Cerveró sugere complicar Dilma no episódio.

É nitroglicerina pura no ambiente carregado de estática do Congresso, com o alquebrado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda com a mão no botão quedispara um processo de impeachment.

Já o Senado expôs outro aspecto do galináceo em análise no STF, de caráter corporativo. Foi costurada uma votação sobre o caso Delcídio, de resto direito e obrigação da Casa, que fosse secreta. Isso, para aliados de Renan, soltaria Delcídio e criaria um padrão. Só que o voto aberto prevaleceu, assim como amanutenção da prisão.

O motivo foi, novamente, o temor. Os senadores não queriam ver seus nomes numa lista que será associada, sem entrar no mérito, à impunidade pela opinião pública.

E há a aversão ao conflito institucional: é no STF que parlamentares são julgados, e a reação dura às citações de Delcídio a ministros deu a medida de como casos análogos serão tratados.

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