sábado, 21 de novembro de 2015

Igor Gielow: O Brasil e o terror

- Folha de S. Paulo

Escrevendo mais um capítulo de sua antologia filosófica, Dilma Rousseff cravou que o Brasil não tem de se preocupar com o terrorismo na Olimpíada do Rio, no ano que vem. "Estamos muito longe", disse a mandatária, que estava também distante do bom senso.

Dilma, que já havia sugerido "conversar com o Estado Islâmico" no passado, por prudência d06everia voltar atrás igualmente nesse vaticínio.

Como colocou o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), o Brasil não tem histórico de terror –seja em células, seja com "lobos solitários".

Falta caldo cultural; Foz do Iguaçu não fica na periferia pobre de Paris. Exceto por algum internauta louco, o EI não tem apelo ideológico aqui.

Teoricamente, algum terrorista poderia se infiltrar na onda de refugiados sírios acolhidos, é claro, mas isso é mais facilmente detectável pois não são massas atravessando a pé a fronteira. De resto, a maioria deles está a fugir da barbárie.

O que a área de inteligência sempre monitorou foram os passos de gente ligada ao Hizbullah libanês, esses sim assíduos frequentadores da chamada Tríplice Fronteira.

Eles costumam vir, contudo, para se esconder, em que pese a suspeita de terem participado do maior ataque por essas bandas, contra uma entidade judaica argentina em 1994.

Há também pontualmente suspeitas sobre a Al Qaeda, mas novamente falamos de terroristas de passagem.
A questão que escapou a Dilma é que se há um momento em que o perigo se coloca é durante os Jogos Olímpicos, evento internacional de máxima exposição e alvos vulneráveis tentadores politicamente, como Munique-72 deveria fazer recordar.

Além disso, a fase de ações externas do EI revelou gosto por eventos esportivos. Com o Congresso titubeando sobre legislação específica e com cerca de 50% da verba da Defesa para os Jogos em 2014-15 ainda a gastar, talvez o país esteja brincando com um azar bem próximo.

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