segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eleição terá recorde de prefeitos candidatos a novo mandato

• Somente nas capitais serão 22; para partidos, crise não atrapalha

Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- Em meio a um dos cenários eleitorais mais adversos dos últimos anos, o país deverá ter em 2016 um número recorde de prefeitos candidatos à reeleição. Ao menos nas capitais, estarão aptos a disputar um segundo mandato 22 dos 26 chefes de Executivo municipal. Nem mesmo com a derrocada dos índices de popularidade, que atormenta metade dos prefeitos avaliados até agora, há sinais de desistência. Na avaliação dos partidos, a situação ruim é generalizada e, assim, não há razão para planos alternativos.

Prefeitos só não poderão se lançar à reeleição no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Goiânia e em Belo Horizonte. Nos demais estados, as negociações estão a pleno vapor. Desde a criação da reeleição, a disputa municipal com maior número de prefeitos concorrendo ao segundo mandato foi em 2008, quando 20 se candidataram. Em 2012, foram apenas oito.

Para boa parte dos candidatos ao segundo mandato nas capitais em 2016, o cenário eleitoral se mostra pouco favorável. Nas capitais que tiveram pesquisas divulgadas nos últimos meses, metade dos prefeitos está com baixo índice de aprovação ou fraco desempenho nas sondagens. São Paulo é o exemplo mais visível dessa baixa aceitação dos atuais governantes, mas ele se repete também em Florianópolis, Fortaleza, Curitiba, São Luís, Belém, Teresina e Porto Velho. A situação atinge indiscriminadamente políticos de todos os grandes partidos (PT, PSDB, PMDB e PSB).

Estão em condições um pouco melhor os prefeitos de Salvador, Recife, Vitória, Manaus, Maceió, Cuiabá, João Pessoa, Natal e Aracaju. O GLOBO não encontrou levantamentos eleitorais, ou de avaliação de gestão, em Campo Grande, Boa Vista, Palmas, Rio Branco e Macapá.

No grupo dos que não podem mais se reeleger, o cenário também não está fácil. Nenhum prefeito tem seu candidato à sucessão como favorito nas sondagens até agora. No Rio, um ingrediente a mais está aumentando as incertezas sobre o quadro eleitoral de 2016. O secretário de Governo, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), está envolvido em casos de agressão à ex-mulher.

Os partidos estão convencidos de que a eleição de 2016 será diferente de tudo o que foi experimentado até agora nessa matéria. Da crise econômica, que, segundo projeções, levará a mais um ano de dificuldades, às novidades do sistema eleitoral, passando pela crise de credibilidade das instituições, muitos fatores externos à disputa entre candidatos propriamente dita tendem a contaminar o debate eleitoral.

— O problema que existe para nós existe para os outros também. Isso é igual a jogo de futebol. Quando o campo é ruim, ele é ruim para todo mundo. Não existe no PT esse debate de não ir para a reeleição — afirma o secretário de Organização Nacional petista, Florisvaldo Souza.

— Hoje não tem prefeito nenhum no Brasil que esteja bem. A situação está crítica e continuará. O cenário de dificuldades é generalizado, mas as pesquisas têm indicado que o PT vai perder muito mais. Então, de certa forma, isso nos ameaça menos — disse o secretário-geral nacional do PSDB, Silvio Torres.

‘Cenário pouco favorável a reeleições’
Para o cientista político da PUC-Rio Eduardo Raposo, a onda de insatisfação popular marcará o comportamento do eleitorado em 2016, e isso se traduzirá num clima desfavorável a reeleições.

— Esse cenário que temos colocado para 2016 é muito pouco favorável a reeleições. Essa dificuldade generalizada mostra que a insatisfação é geral e que eles (os prefeitos), por estarem no poder, vão carregar o ônus de serem situação. Uma das maiores reclamações da população, que ficaram evidentes nos protestos de 2013, é a insatisfação com os serviços públicos. Os prefeitos são os titulares do poder mais próximos do povo. Existe um acúmulo extraordinário de insatisfação, e isso vai desembocar em 2016 — avaliou Raposo.

Fora a crise politica e econômica, 2016 terá ainda o desafio de testar regras novas para o processo eleitoral, como campanhas mais curtas e restritivas e o fim das doações por empresas. As mudanças têm gerado preocupação nos partidos. O PSDB marcou para o início de dezembro a análise de um relatório que está sendo elaborado por deputados sobre a situação das candidaturas do partido nas cidades com mais de cem mil habitantes em todo o país. A ideia é, a partir do levantamento, definir estratégias e resolver eventuais impasses.

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